Labirinto escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 1
Perdidos




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Como ela tinha ido parar ali? Suas lembranças estavam confusas e bagunçadas. Imagens desconexas iam e vinham constantemente sem, no entanto, formar nada que fizesse sentido. Nada ali fazia sentido.

Mônica corria entre os corredores, indo de um lugar para outro. Às vezes ela deparava com um beco sem saída e era forçada a dar meia volta. O lugar era escuro, as paredes sujas, úmidas e cheias de mofo. O mais assustador, no entanto, era a altura dessas paredes que de tão altas, sumiam de vista desaparecendo no céu escuro e cheio de nuvens de cor avermelhada.

O ar ali era quente, abafado e com um cheiro meio podre, meio azedo que parecia queimar os pulmões. De vez em quando ela ouvia sons vindo de longe. Gritos, lamentos, ou o barulho de passos, algo se quebrando, gatos miando e outros que ela não sabia distinguir.

Suas pernas doíam de tanto correr de um lado para outro e ela resolveu sentar-se um pouco no chão sujo e lamacento. Sua roupa estava imunda, seus cabelos desgrenhados e o rosto inchado de tanto chorar.

- Eu tenho que sair daqui! Droga, onde eu fui me meter dessa vez? Socorro! Tem alguém aí? – ela começou a gritar novamente na esperança de que alguém aparecesse. Ninguém aparecia, como sempre. – Por que ninguém responde?

Aos poucos, ela sentiu uma raiva crescente tomando conta até explodir em um berro furioso. Um soco foi desferido contra a parede, seguido de outro e mais outro. Ela gritava e socava a parede freneticamente e só parou quando sentiu uma dor lancinante em suas mãos. Estavam feridas, na carne viva e alguns ossos deviam estar fraturados. Quando se deu conta da sua insanidade, ela voltou a chorar sentando-se no chão.

- Socorro! Alguém me ajuda, por favor! Socorro!

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- Hum... eu acho que passei por aqui. Droga, isso não está dando em nada! – Cebola falou contrariado ao ver a marca que tinha feito na parede minutos atrás. Ou seriam horas? Talvez dias? Sua noção de tempo tinha se perdido completamente.

Aquele labirinto estava sendo um verdadeiro desafio ao seu cérebro. E ele pensava que tinha vasta experiência graças aos vídeo-games! Pelo visto, essa experiência não estava ajudando em nada, pois aquele labirinto era diferente de tudo o que tinha visto antes. Como era possível um labirinto ter escadas e portas? E ainda por cima, algumas escadas estavam de cabeça para baixo, mas quando as subia (ou descia?), ele não se sentia de ponta cabeça.

- Não, eu tenho que pensar direito! Vamos, pensa Cebola, Pensa! – ele falou dando coques em sua cabeça para ver se saía algum plano. Nada. Ele não conseguia pensar em nada. Nem mesmo entender que tipo de labirinto era aquele.

Para aumentar ainda mais sua dificuldade, aquilo parecia ser um labirinto tridimensional, era por isso que ele não conseguia encontrar a saída marcando as paredes. E tudo ali era embolado, confuso, sobreposto. Não havia como decifrar algo que parecia ir contra as leis da física!

Ele sentou-se numa das escadas tentando descansar e pensar, mas não conseguiu fazer nem uma coisa, nem outra. Sua cabeça latejava e Cebola estava mentalmente exausto. Ajudaria um pouco saber como tinha ido parar ali, porém seu cérebro não queria colaborar nem nisso. Era como se seus neurônios estivessem em greve geral.

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Aquele lugar até que poderia ser agradável. O cheiro era muito bom, como se fosse uma confeitaria. Cheiro de doces, bolos, pudins e chocolate. Tudo ali era tão bonito, colorido e brilhante como se fosse um conto de fadas e Magali sentia como se estivesse no filme “a fantástica fábrica de chocolate”, na parte onde os competidores entraram em um grande salão onde tudo era comestível e feito de doces.

Por todas as partes, ela via árvores com frutos coloridos que pareciam grandes balas de diversos sabores. Os arbustos ao seu redor exibiam rosquinhas com geléia, chocolate, confeito ou granulado. Alguns tinham cupcakes, outros balas de goma.

Ao seu lado corria um rio que ao invés de água, era feito de calda de chocolate. Tão tentador! Várias vezes ela sentiu-se tentada a mergulhar as mãos e dar um bom gole. Ou talvez dar uma lambida nas arvores que pareciam aqueles pirulitos natalinos, com espirais vermelhas e brancas.

Ou quem sabe provar aqueles grandes bolos confeitados que pareciam brotar do chão?

- Hum... biscoitos recheados... ai que fome! – seu estômago começou a roncar mais uma vez, pedindo por algo comestível. E havia muita comida ao seu redor, por que ficar passando fome? Ela poderia comer alguns pedaços de bolo, ou biscoitos e pronto. – Não! E-eu não posso! – ela falou se afastando rapidamente de uma grande pedra que parecia um pote de biscoitos.

Comer aquelas coisas calóricas e açucaradas estava fora de questão. Não só porque aquilo estava repleto de açúcar, gordura e carboidratos como também por causa de uma voz que de vez em quando ecoava em sua cabeça toda vez que pensava em comer alguma coisa.

- Se provares do fruto desse jardim, farás parte dele para sempre!

Era isso que freava seu instinto comilão. Ficar ali pelo resto da vida, tendo que comer somente doces e açúcar era algo que ela não queria de jeito nenhum. Só que estava ficando cada vez mais difícil resistir a tentação. Se por um lado a voz lhe alertava sobre as conseqüências de comer algo daquele jardim, por outro a fome lhe atormentava cada vez mais.

- Eu tenho que sair daqui rápido! Droga, onde fica a saída? Eu não quero comer essas coisas, não quero! – Ela subiu em cima de uma grande arvore retorcida, da cor vermelha como se fosse feita de caramelo e tentou olhar o lugar do alto.

Tudo o que viu foram apenas mais doces, numa paisagem que perdia de vista. Era como se aquilo não tivesse mais fim. Acima, ela via somente o céu azul claro e sem nuvens. Nada que pudesse lhe indicar qual direção seguir.

O cheiro de todo aquele doce voltou a atormentar suas narinas e ela tentou se livrar da tentação cobrindo o nariz com a gola da blusa. Ainda assim aquele aroma tão maravilhoso insistia em penetrar o tecido da roupa e invadir seu nariz de forma insistente, como que lhe provocando para que comesse alguma coisa. E a visão de todas aquelas maravilhosas e malditas tentações só aumentavam o seu desespero. Por quanto tempo ela ia conseguir resistir sem atacar aquelas guloseimas como fazia antigamente?

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Ele nunca tinha visto tanta água em sua vida. Nem mesmo quando mergulhou no mar para ajudar o Adamastor, seu monstro pré-histórico de estimação. Pelo menos ele pode ver o fundo do mar com os peixes e a bonita paisagem dos corais. Só que ali o mar parecia não ter fundo. Cascão boiava se agarrando a um pedaço de madeira num mar infinito. Até onde sua vista alcançava, era somente água e mais água. Nem um mísero pedaço de terra firme onde ele pudesse se apoiar.

Encontrar aquele pedaço de madeira foi mesmo um milagre, já que ele não sabia nadar muito bem. Que diabo de lugar era aquele? Era mesmo o oceano? Por que era tão parado? Nenhuma onda, nem mesmo a oscilação natural do mar. Era como se estivesse numa grande banheira. A água, limpa e transparente, ia se tornando cada vez mais escura à medida que ele tentava olhar para baixo. Era um poço sem fundo, só que um poço de água, o que era milhões de vezes pior.

O rapaz tremia de medo, se agarrando a madeira o mais forte que podia. Se soltasse dali, poderia acabar afundando naquele abismo sem fim.

- Argh! Por que eu não foi parar num deserto bem sequinho? Nãaaao! Tinha que ser nesse monte de água! Porcaria!

Mais uma vez ele tentou bater os pés para ver se conseguia nadar. Adiantava fazer aquilo? Ele tinha a impressão de que por mais que tentasse, não conseguia sair do lugar. Não havia nenhum ponto de referencia ali que lhe indicasse se estava andando ou parado. Só água e um céu pálido e sem nuvens. Era uma paisagem totalmente monótona, sem nada de diferente, totalmente igual. No horizonte, só havia duas cores. O azul do oceano e a cor acinzentada do céu, como duas faixas uniformes e bem delimitadas.

Não havia ali nenhum tipo de som, cheiro, nem mesmo qualquer outra cor. Pensando bem... como poderia ser o oceano se a água nem era salgada? Aquele era sem dúvida o lugar mais louco que ele estivera em toda sua vida. Louco e pavoroso também, com todo aquele amontoado de água que não acabava nunca.

Seu medo era de acabar se cansando e se deixando afundar naquele abismo. Era a pior forma possível de se morrer. Algumas vezes, ele chegou a pensar que seria preferível morrer queimado do que afogado. Água nunca era bom.


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