Melanie permanecia no chão deixando o sangue escorrer. Seus olhos mantinham-se fixos em Nikko. Ela desejava desesperadamente sentir-se livre. Não suportava sofrer mais.

–Me mate e acabe com isso – pediu mais uma vez ignorando o homem perplexo que os olhava sem acreditar. Alessandro não saberia dizer quem seria o mais louco, se seria Melanie ou Nikko.

Como alguém pode se sacrificar tanto? Ela não pode ser real.

–Isso não irá lhe matar e diminuir a dor que sinto – Nikko tornou severo ao se ajoelhar em frente a ela – Minha esposa perdeu muito mais sangue. Se perder metade do que ela perdeu eu posso deixa-la livre.

Melanie sorriu tristemente ao assentir. Ela sabia que ele desejava a sua morte.

–A única forma de me deixar livre sera quando eu desistir da minha vida, certo? – perguntou consciente de sua resposta. Aos poucos a sua vontade de viver diminuía. Ela estava cansada de lutar contra ele.

–Está certa.

Alessandro continuava parado em choque ate escutar as ultimas palavras de Melanie. Se ele nada fizesse ela acabaria se matando. Correu ate aonde ela estava e pressionou o ferimento em seu pulso.

–Pare com isso – disse ao olhar para ela fixamente – Podemos acabar com tudo agora.

–Eu não posso – murmurou angustiada. – Não posso – sussurrou sentindo as lagrimas inundarem seus olhos. Ergueu seu olhar deparando-se com o doce olhar de Alessandro – Eu..

–Quer parar com tudo?

–Sim – confessou com o olhar suplicante – Eu realmente quero parar de fugir.

–Me deixe contar tudo a ele. – ela meneou a cabeça, negando-se. Ela não poderia trair o seu irmão. Eles eram uma família. Continuou a negar ate sentir os braços de Alessandro envolve-la ao tentar levantá-la. – Pode querer protege-lo, mas precisa ir ao hospital está perdendo muito sangue.

Melanie não nada disse e nem mostrou qualquer resistência. Sentia-se fraca e cada vez mais desiludida.

Ele vai continuar me perseguindo.

Pensava desesperada ao sentir os braços de Alessandro em torno de si.

–Tudo ficará bem – Alessandro prometeu ao guia-la ate o carro de Nikko. A colocou para dentro e em seguida gritou para o seu primo – A chave.

Nikko piscou confuso. Não conseguia acreditar na audácia dele.

–Acredita que eu irei salvá-la? – questionou com ironia sem mover-se – Sabe mais do que ninguém o quanto desejo a sua morte então..

–Estou cheio disso – Alessandro o interrompeu – Me entregue a chave, se não irei pegá-la. – os olhos firmes e raivosos fizeram Nikko suspirar.

Com a expressão mais seria possível foi ate o carro, empurrando Alessandro.

–Eu a levarei – disse ao entrar e dar a partida. O medo de ver Melanie morta foi substituído pela raiva. Alessandro não conseguia acreditar no que acontecia a sua volta.

–Preciso segui-los – decidiu ao subir em sua moto e acelerá-la.

O carro seguia em alta velocidade. As mãos de Nikko seguravam o volante com força. A sua raiva era nítida.

–Não precisa me salvar – Melanie se viu falando assim que ele ultrapassou um sinal vermelho, quase causando um acidente. A atenção da jovem mantinha-se no retrovisor. Ela buscava por Alessandro.

–Não interprete mal os meus atos. Se morrer de forma tão leviana como acha que vou me sentir? Preciso vê-la sofrendo, nunca se esqueça disso – esclareceu ao pisar no acelerador. Melanie sorriu levemente antes de fechar os olhos.

Todos somos idiotas.

Foi a ultima coisa em que pensou ao ser tomada pela escuridão.

***
Na sala de espera do hospital St Gregory dois homens mantinham distancia entre eles. Alessandro optou por permanecer em pé próximo a recepção, enquanto Nikko sentou demonstrando toda a sua paciência. A raiva era perceptível na expressão de desagrado de Alessandro.

–Não deveria me olhar com tanta raiva – Nikko disse calmo sem encarar Alessandro – Esta agindo como se eu fosse o culpado.

–Você é o grande tolo.

–Tolo? E porque seria?

–É o único que não consegue enxergar a verdade. Como pode ser assim? Como pode interpretar tudo de sua própria forma?

–Do que está falando?

–E ainda é cego – bufou ao ir ate Nikko – Você tem certeza sobre a culpa de Melanie?

–É claro que tenho – disse com autoridade.

–Pois não deveria – o olhou fixamente antes de dar as costas a ele – Eu cuidarei dela a partir de agora.

Nikko olhou seu irmão afastar-se lentamente, enquanto suas palavras tumultuavam sua mente.

Certeza sobre a culpa de Melanie? Ela foi a única que foi acusada e presa. Como eles se atrevem a brincar comigo?

Com raiva foi atrás de Alessandro. Ele não a deixaria escapar facilmente assim. Seguiu pelo corredor visivelmente chateado. Buscou por Melanie ate avistar uma porta entreaberta. Aproximou-se lentamente estacando em seguida. Alessandro a abraçava, enquanto ela mantinha a cabeça encostada em seu peito. Ela chorava.

–Eu sou louca, não sou? – A voz de Melanie surgiu deixando Nikko apreensivo. Alessandro acariciava suas costas com lentidão e carinho. – Deveria falar tudo e acabar com isso?

Nikko não movia um só musculo.

–Isso não pode estar certo – sussurrou ao segurar-se na parede ao mesmo tempo em que continuava a escutar a conversa.

–O melhor seria falar a verdade – Alessandro aconselhou – Não conseguirá aguentar muito tempo, não da forma como esta. Totalmente destrutiva. Eu irei lhe proteger o máximo que conseguir, mas não posso protege-la de si mesma.

Melanie nada disse ao abraça-lo com força. Ela não poderia trair o seu irmão, mas desejava a liberdade.

–Não posso simplesmente fugir? – ela indagou em meio ao choro.

–Farei o possível para que possa – Alessandro prometeu ao beijar o topo de sua cabeça tentando ignorar o curativo dela. Ele se sentia culpado por não protege-la.

Nikko olhava para os dois abraçados sem saber o que sentir. Jamais passara em sua mente que ela não fosse a culpada por tudo.

–Ela não conseguiria suportar tudo por alguém, não é? – se perguntou angustiado.