O barulho do relógio era a única coisa que conseguia ser escutada na sala, na qual um homem encontrava-se sentado com a expressão vazia em seu semblante. Em sua mão esquerda repousava um copo e em seu dedo a sua aliança ainda estava presente. Nikko olhou mais uma vez para o relógio antes de colocar a sua atenção para o jardim de sua casa. Ele esperava, ansiosamente, a garota que transfomara a sua vida em um inferno e tormento. A primeira vez em que a esperava sem ter o ímpeto de matá-la, pelo menos não diretamente, pois ele enfim percebera como poderia usá-la em seu favor. Usar para que nada do que ele tinha construído se esvaísse. Após cinco minutos com um sorriso cruel em sua face, ergueu-se da cadeira onde estava sentado, e se pôs a andar em direção a porta. A atravessou e ao avistar o carro que comprara se aproximar de onde estava, sorriu largamente. Melanie desceu do carro com o semblante sério e ao mesmo tempo confuso e ao erguer o olhar, deparou-se com Nikko a encarando com um sorriso na face. Um sorriso que lhe deixou angustiada. Suas pernas hesitaram em seguir em frente, mas com o intuito de não demonstrar fraqueza, ergueu o olhar e caminhou em direção a ele.

–Está atrasada – Nikko disse calmo fazendo com que Melanie parasse em sua frente.

–Estava me esperando? – perguntou irônica – O guarda trocara de turno e precisou ter certeza de que eu estaria em minha cela?

–Se for isso, o que fará?

–O que me resta a fazer? Nada. – o olhou demoradamente antes de respirar profundamente – O que deseja fazer comigo afinal? Já estou cansada de ficar aqui sem fazer nada ou, ao menos, sofrer alguma coisa. Se deseja se vingar apenas o faça.

–Não se esqueça que sou o único que pode exigir algo.

–Não estou exigindo – o corrigiu – estou querendo que decida. Irá me matar, me atormentar ou apenas me deixará aqui? Me colocar em sua casa de campo não é uma vingança, são férias. – o provocou, sorrindo internamente ao vê-lo franzir a sobrancelha em resposta – e então, o que pretende fazer comigo afinal?

–Irei usá-la. Minha vingança será jogá-la em um mundo tão cruel que será incapaz de sair ilesa. A colocarei em frente ao fogo e não farei nada para que se proteja, e em seguida me alimentarei de seus medos. Um por um. Quero vê-la ficar tão desesperada por uma esperança e uma saída desta vida que não irei hesitar em lhe ajudar a acabar com a sua vida. – Melanie permaneceu inabalável diante das palavras duras que Nikko lhe dizia com calma – Não esta surpresa ou emocionada?

–Não – negou simplesmente – Acabastes de me dizer que não fará nada comigo, apenas me deixará vulnerável para que alguém faça o trabalho que tanto deseja, mas não possui coragem.

–Se continuar agindo desta forma poderá se arrepender – Nikko disse sério.

–Então faça com que eu me arrependa – o provocou mais uma vez, enquanto o encarava tentando não transparecer o medo que sentia – Nikko, és tão fraco quanto eu – murmurou antes de sorrir levemente e ir para a porta. Ao passar por ele o viu sorrir. Um sorriso que a deixou desconfortável.

–Veremos o quanto será forte a partir de agora – disse ao sorrir.

***
O sorriso frio brotava na face de Nikko ao entrar em sua empresa naquela manhã. Os olhares dos funcionários eram de perplexidade, enquanto os olhares dos diretores que passavam por si exprimiam todo o ódio que sentiam por ele.

–Isso está se tornando cada vez mais divertido – Nikko murmurou ao entrar em sua sala, não ficando surpreso ao ver Fabriccio sentado em sua cadeira, o esperando – Veio mais cedo do que imaginava.

–O que significa isso? – Fabriccio perguntou nervoso ao estender algumas revistas e jornais em direção a ele – O que esta escrito aqui, foi você, não foi?

–O que está escrito? – perguntou de forma angelical tentando não sorrir diante da expressão de seu irmão – Acabei de chegar, como poderia saber o que está escrito nessas revistas?

–Nikko, não seja assim. O que esta fazendo irá..

–O que? Colocá-la em perigo?

–Sim – assentiu.

–Não me importo, pois a única coisa que devo salvar é esta empresa – respondeu sério – Ela começou meus problemas e deve terminar, não acha?

–Essa é a forma mais sensata?

–Qual seria então?

–Não deveria ter feito isso – se lamuriou ao menear a cabeça.

–Eu não fiz nada demais, pare de se lamentar – reclamou ao perder a paciência – Ela matou a minha esposa e ainda deseja que eu sinta simpatia por ela?

–Sim, afinal somos seres humanos.

–Seres humanos? Para mim, ela não passa de um inseto. Um inseto que deve ser exterminado.

– Nikko...

–Fabriccio vamos nos ater ao que é importante, e ela não é. – assegurou firmemente.

–Mas, ainda assim como teve coragem de falar isso?

–Não seja dramático. Leia para mim o que está escrito – pediu com o olhar sádico. Fabriccio não soube dizer o motivo de Nikko fingir desconhecer o que estava sendo noticiado, mas optou por aceitar o papel que seu irmão lhe impunha. Fabriccio pegou a revista mais integra de todos e se pôs a ler a matéria.

–Nikko Nicolai, um dos mais notórios representantes da família Nicolai, parece ter se envolvido em um escândalo após a trágica morte de sua esposa, a alguns meses atrás. Sua esposa morreu em um acidente de carro, e a culpada pelo acidente, por ser menor de idade cumpriu pena em um reformatório. Entretanto, a sua identidade antes desconhecida por todos, foi liberada ao publico. O seu nome é Melanie Fells, uma jovem de 17 anos. E se o escândalo não pudesse ser maior, na ultima festa em que Nikko Nicolai compareceu foi visto ao lado dela e antes foi visto almoçando com ela, em um de seus restaurantes. O que podemos esperar do futuro desse casal? Será que o grego se apaixonou pela culpada da morte de sua esposa?

–Porque acha que a culpa é minha? Seria tão tolo em tornar publico a minha vingança? – Nikko perguntou friamente ao abrir os botões de seu paletó. – Não acredita em seu próprio irmão?

–Não – afirmou – eu não acredito, não quando Melanie esta relacionada a isso tudo.

–Então está do lado dela?

–Não, estou do seu lado, meu irmão – falou ponderado. – Mas o que acabou de fazer foi irracional. Tem ideia do que isso representou para ela?

–A minha declaração de guerra.

–Nikko ate onde irá para não se culpar mais?

–Não me culpo.

–Faça como desejar, mas assim que estiver fora de controle, irei intervir em favor dela – Fabriccio levantou-se com o semblante sério – e espero que não me entenda mal quando isso acontecer.

–Não irei, já que sempre foi o mais gentil de nós todos.

–E você o mais cruel – sorriu levemente ao depositar a revista que leu em cima da mesa – da próxima vez, por favor, pense antes de fazer algo como isso. – Nikko permaneceu com o semblante frio ate escutar o barulho da porta e com ela livrar-se de Fabriccio. Ao se ver sozinho, gargalhou ao perceber que tudo ia como planejara.

–Vamos ver como irá se sair agora com a família Nicolai. Algo me diz que será divertido vê-la sofrer nas mãos daqueles gananciosos.

***
O horror estava estampado na face de Melanie ao ver a revista em cima da carteira de sua colega na sala. As mãos de Melanie tremiam assim como suas pernas, o seu corpo não respondia aos seus comandos. Alguns alunos a olhavam com malicia, enquanto em seu semblante repousava a expressão de lamentação e perplexidade.

–Então era isso que estava aprontando? – uma voz atrás dela tornou sarcástica fazendo com que se virasse, e se deparasse com Susan, uma colega de sua sala. Melanie respirou profundamente antes de sorrir.

–Sim, estou atrás de um homem rico que foi atormentado pela dor. O que posso fazer? Gosto das coisas mais difíceis.

–É realmente uma vadia – Susan disse sorrindo largamente.

–Assim como você – retrucou ao sorrir escondendo a tristeza que sentia em seus olhos. Por todo o dia, Melanie suportou murmúrios, olhares maliciosos e piadas, mas nada havia a preparado para o que estava por vir. Na saída enquanto caminhava em direção ao carro preto que a esperava, não percebeu a aproximação de seu irmão. Encontrava-se absorvida pelos seus pensamentos a tal ponto que se deu conta de estar sendo chamada quando sentiu alguém segurar o seu braço. Estancou abruptamente e ao erguer o olhar, avistou Christopher parado a sua frente com ódio em seus olhos. – Chris – disse aliviada ao vê-lo.

–Como pôde Mells? – Christopher perguntou raivoso ao apertar o braço dela – como fez isso comigo?

–Do que está falando?

–O que tem com Nikko Nicolai afinal? Ele não está se vingando apenas, não é? – seus olhos exalavam toda a desconfiança e raiva que sentia de Melanie.

–Chris porque está assim? – perguntou abalada – eu não estou entendendo.

–EU LI TUDO – gritou impaciente – desde o inicio foi tudo um plano? – perguntou temeroso da resposta.

–Chris como consegue falar isso? Sabes tão bem quanto eu que..

–A única que desejou sair aquele dia foi você – a interrompeu – e a única que estava dirigindo também foi você – tornou sério.

–Christopher, o que há com você? – perguntou friamente ao tentar soltar-se dele - Está querendo reviver aquela noite? É isso que deseja? – indagou friamente ao vê-lo empalidecer – se continuar desse jeito, é o que acontecerá.

–Está me ameaçando agora?

–EU QUERO ENTENDER O QUE ESTÁ DIZENDO – gritou buscando forças para continuar parada em frente a ele. Encararam-se por intermináveis minutos ate Christopher a soltar – Está dizendo que acredita que eu tinha tudo traçado? Que eu planejava matar a esposa dele?

–Estou tentando entender o motivo de estar com ele ate hoje – tornou ponderado – primeiro ele veio atrás de você, e em seguida foi morar em sua casa. Não entendo como continua com ele. Logo você.

–Me subestima em demasiada, meu irmão – respondeu melancólica. – Como espera que eu não fique com ele, se não tenho para onde ir? – disse séria tentando segurar as lagrimas – nossa mãe me expulsou, e como poderia continuar estudando se não fosse ele? Apesar de sua vingança, é ele que está me ajudando mais do que estou sofrendo por aquele erro. Um erro que sabemos bem como aconteceu, então não ouse, não se atreva a nunca mais fazer uma cena como essa, pois de nós dois é o ultimo que deveria se exaltar – Melanie tornou séria ao encarar o seu irmão. Permaneceu parada olhando em seus olhos ate dar as costas e seguir para o carro. Ela percebeu o olhar curioso que o segurança lhe lançava, mas permaneceu em silêncio.

Christopher ficou parada vendo o carro se afastar percebendo, tarde demais, o erro que havia cometido. Ele havia sido atormentado pelo medo e desespero, deixando-se levar sem lembrar-se do quanto sua irmã era obstinada.