“Eu havia adormecido há algum tempo, coberta como uma criança. Nossos braços estavam entrelaçados, estava confortável o bastante para eu sentir seu calor. A chuva caía incessante, fazendo um barulho desagradável na janela, mas estávamos seguros, em um lugar quente e seco. Estávamos em baixo das cobertas azuis dele. Ele se mexeu e o senti beijar minha testa. Enruguei o nariz, ele me fez sorrir. Ele se mexeu novamente. Não tenha pressa, foi o que eu quis dizer, fique aqui por mais um tempo. Não tenha pressa de ir a qualquer lugar, fique.”

Stella acordou desnorteada. Os pensamentos voltaram a toda quando se localizou, olhando para a foto de Mac em cima da cadeira. Um arrepio percorreu a coluna e se estendeu até se tornar uma dor de cabeça aguda e nauseante. Ela se levantou, apoiando-se no guarda-roupa, e andou até a cozinha. Mac estava sentado na mesa, dormindo com a cabeça escorada no braço, uma xicara de chá estava ao lado, fria e pela metade.

– Não parece uma posição confortável. – disse Stella, fazendo-o saltar da cadeira e derrubar a xícara.

– Não consegui dormir no sofá e resolvi que encarar o micro-ondas é mais divertido. – disse enquanto limpava o chá derramado. – Você ‘tá melhor?

– Sim, sim. Você não...

– Se eu não fiquei tentado a prender S.? Sim, muito. Mas respeito sua versão da história e não acho justo futricar sua vida atrás de um assassino de aluguel que já matou provavelmente mais de vinte e cinco pessoas e talvez não tenha parado e talvez nunca vá parar a não ser que impeçamos e... – ele ficou sem folego, respirou fundo e balançou a cabeça. – Me desculpe.

– Entendo. Eu teria a mesma reação.

– Aceita algo para comer? Apesar de eu não ter certeza se eu tenho...

– Acho melhor eu ir para casa. – ela interrompeu.

Mac assentiu. Ela pegou a bolsa e foi em direção à porta.

– Agradeço por ter me ouvido ontem.

– Não foi nada. – ele disse, sorrindo.

Eles se encararam por um tempo, ambos sorrindo.

Até que a explosão que Stella tinha medo estourou.

Stella levou a mão até sua nuca com certa urgência, e aproximando os rostos. Fechou os olhos, se vinculando a qualquer cabo de bravura que poderia ir embora a qualquer instante. Seus lábios avançaram sobre os de Mac, pressionando-os com severidade. Ele soltou um gemido perdido e ela arranhou sua nuca, deslizando a língua quente por sua boca gelada, e ele entreabriu os lábios em reflexo. Por alguns segundos, não se sabia o que fazer mais. A língua de Mac, carinhosamente, convidou a dela para participar daqueles movimentos e, sem impedimento algum da outra parte, aceitou seu convite. A mão dele segurou a sua cintura, como se soubesse que as pernas dela haviam falhado naquele exato momento. Sua língua acariciava a de Stella, que lutava por um pouco de controle da situação, explorando cada centímetro de sua boca. Stella abriu os olhos e partiu o beijo abruptamente, recebendo uma reclamação da parte de Mac.

– Isso é muito errado.

– Não...

– Mac! Eu fiz um discurso ontem! Eu não posso... eu não DEVO me envolver com meus superiores ou qualquer pessoa do trabalho. Isso já afetou minha vida uma vez e a virou de ponta cabeça. Não vou deixar acontecer de novo. – disse Stell, puxando a porta.

A porta fez um barulho alto ao se fechar, deixando Mac mais confuso e desorientado que nunca.

– Essa história está mal contada. – disse abrindo a porta novamente. – Stella! – gritou pouco antes da porta do elevador se fechar.