POV: ASTORIA GREENGRASS.

Me olhei no espelho várias vezes antes de desabar na cama. Talvez a culpa fosse minha. Se eu não tivesse feito de tudo para ser a garota dos olhos, a educada, a melhor, a mais inteligente, talvez eu não precisasse estar aqui, talvez eu não precisasse ter de ir e conhecer Draco Malfoy melhor. Passei as mãos nos meus belos e longos cabelos negros.

Sempre achei que meus pais já tinham pressão demais com Dafne e o fato de ela ser tão... Imprudente. Mas talvez a Dafne só quisesse ser livre desde o começo. Coisa que eu nunca fui.

- Oh, minha menina, está incrível!- Disse mamãe, entrando no quarto com os olhos marejados. Revirei os olhos. Mamãe e papai não ficaram muito feliz por eu ter escolhido Draco Malfoy de primeira. "Ainda tem muitos outros garotos para você conhecer. Sabe que ele é um ex-comensal, querida, vai pegar mal." Foi do que mamãe tentou me convencer. E então Dafne lhes disse que ao menos eu devia ter a escolha, já que vou casar de todo jeito.

- Narcisa Malfoy vai adorar. Ela é bem do tipo que preza a boa educação e aparência.- Disse Dafne, aparecendo atrás dela. Parecia mais inchada do que os outros dias. Dei de ombros.

- Não acho que Narcisa Malfoy tenha, realmente, o direito de exigir qualquer coisa de mim. Sabe que eles estão dependendo de mim. Eu desisto do casamento e sua familia fica no lixo para sempre. Eles não vão me xingar ou me julgar.- Eu disse. Dafne gargalhou com gosto. Olhei para ela e vi a ironia.

- Ah, Astoria... Tão jovem e tão ingenua!- Ela disse. Eu bufei, olhando para ela de cara feia. Se recompôs.- Não acredite você que as garotas desistiram de Draco Malfoy. Lembra-se de Pansy Parkinson? Parece que para ela não importa ele ter sido um ex-comensal.

- Á mim não importa isso, sabe?- Eu disse, me virando novamente para o espelho.

Estava usando um vestido que mamãe me comprou logo cedo. Era cinza e com o busto caindo prateadamente, com os ombros semi-descobertos. O vestido vinha até um palmo acima do joelho, e o sapato preto de salto dava o toque final. Meus cabelos cabelos estavam soltos e eu não usava jóias além do anel da Sonserina(todos da casa tem um) e um brinco pequeno. 

- Eu acho que está simples demais.- Disse Dafne. Revirei os olhos.

- É só um jantar.- Eu disse.

- A primeira impressão é a que fica.- Disse Dafne, me olhando como se eu fosse maluca. Eu ri.

- Então eles estão com uma péssima impressão de mim, afinal, ontem eu estava de jeans, cabelos bagunçados e cara de sono.- Eu disse. Mamãe crispou os lábios.

- Sei que entendeu o que ela quis dizer. Que tal uma pulseira? Seria bom que eles soubessem que nós temos jóias.- Disse mamãe, sorrindo interesseira. Eu bufei.

- Vocês estão extravagantes o bastante para que ele saiba que temos jóias.- Eu disse, pegando a minha bolsa em cima da cama.

- Apenas um pouco de cor na sua boca. Um vermelhinho. Homens adoram garotas de vermelho. Pelo menos, Draco sim.- Disse Dafne, maliciosa, se aproximando da minha penteadeira para pegar o batom. 

- O que acha que eu sou, Dafne? Eu só vou casar com ele. Não espere que eu tenha uma relação com ele. Sendo assim, eu não me importo com o que ele gosta ou não.- Eu disse, mas deixei que ela me pusesse o batom.

- Vão demorar muito? Já estamos em cima da hora.- Disse papai, aparecendo na porta com o seu melhor terno.

- Onde está Caleb?- Perguntou Dafne.

- Lá em baixo. Impaciente.- Disse papai, passando as mãos no cabelo.- Acha mesmo que isso é realmente necessário? Quero dizer, não precisam estar tão arrumados e...

- É a mansão Malfoy, Steven. Não importa o quanto estejam sujos por terem sido o que foram, ainda são uma família com nome forte. Não pode-se negar que as mulheres que se prezem invejam a classe de Narcisa Malfoy. Viu como ela lidou com tudo isso perfeitamente? Uma mulher admirável. Temos de ser vistas bem por ela. Vai que ela comenta algo com uma conhecida? Não queremos Astoria falada.- Disse mamãe, sorrindo para mim e abraçando os meus ombros. Eu revirei os olhos. Por mais quanto tempo ela irá insistir em dizer que está fazendo tudo para o meu bem?

- A senhora é muito gentil, mamãe.- Eu disse, com um sarcasmo que ela não percebeu. Sorriu para mim e deu uma tapinha na minha bochecha.

- Agora vamos. Não podemos perder tempo! Tempo é dinheiro. E algo que nós não temos. Nem dinheiro e nem tempo.- Disse mamãe.

O que é verdade. Apesar de mostrarmos luxo e riquezas, estamos á beira da falência. Com tantas mudanças no Ministério, o emprego de papai foi á declínio. Mamãe vendeu suas jóias para bancar todo o casamento de Dafne e essa festa enorme que ela está planejando para mim. Ainda temos uma boa quantia em Gringotes, mas não sabemos quando vamos precisar dele. O que me faz pensar que um dos motivos por terem aceitado Draco Malfoy é sua gorda conta bancária, que apesar de tudo, continua crescendo e crescendo.

- Boa noite. Sejam bem vindos!- Disse Narcisa Malfoy quando aparatamos na mansão Malfoy.

Estava incrivelmente iluminada e arrumada. Nem parecia ter sido abrigo para comensais da morte e o próprio Lord das Trevas. Draco Malfoy estava usando um blazzer negro incrivel. Nunca o tinha visto usando uma cor que não fosse escura. Nunca. Mas acreditava que não devia ficar tão sexy. Porque, por merlin! Como ele é sexy! Com esses seus olhos cinzentos, seu cabelo loiro, sedoso, liso e sempre muito bem arrumado, sua expressão estranha, misteriosa... Sua mão nos bolsos e um copo de winsky, o sorriso irônico. Draco Malfoy era lindo sendo visto assim.

- Olá.- Ele me disse, segurando o sorriso irônico no rosto. Eu sorri e me aproximei dele. Surpreendendo-o com um abraço. Ele tirou a mão do bolso para apertar as minhas costas, confuso.

- Boa noite, querido.- Eu disse, quando o soltei, dando um beijinho em sua bochecha. O salto alto me ajudava á ficar numa altura acessível para ver a mudança nos seus olhos. Estavam divertidos agora. Ele fez uma careta enquanto balançava a cabeça.

- Muito boa essa, Greengrass.- Ele disse, eu sorri e cutuquei suas costelas com o meu cotovelo enquanto me virava para sua mãe que me deu um abraço muito mais caloroso do que o seu filho. Sentia um olhar diretamente em mim o tempo todo. Quando me virei vi o Sr. Malfoy.

- Boa noite, Sr. Malfoy.- Eu disse, erguendo a mão. Segurei a vontade de chamá-lo de sogrinho só para provocar. Não sei se ele teria o mesmo humor sombrio/sarcástico/divertido de seu filho e eu não queria deixar a noite tensa de primeira. Ainda temos muito o que fazer.

- É o que todos esperamos, Greengrass.- Disse meu sogro, apertando a minha mão. Eu sorri. Vi a sua esposa crispar os lábios num  pedido mudo para que parasse de ser petulante. Mas eu não me importava. Estou acostumada com Sonserinos. E ás vezes acho que lidar com a frieza é bem mais fácil que lidar com a doçura. Ao menos não estão sendo falsos. E eu sempre sei o que esperar das pessoas frias.

- Ei.- Estávamos entrando na mansão quando Draco puxou o meu braço. Olhei para ele, confusa. Ele balançou a cabeça. Os adultos olhavam para nós e eu acho que a Sra. Malfoy sorria.- Vamos deixar eles ficarem com a parte chata. Quando for a hora da comida, vão nos chamar.

- Sugere algo "menos chato"?- Perguntei, sorrindo. Ele concordou com a cabeça.

- Se você vai ser ser minha esposa, deve começar conhecendo a minha casa.- Ele disse, sorrindo e vindo para o meu lado, colocando as mãos nas minhas costas. Me guiou pelo grande jardim e me mostrou todas as partes externas da mansão. Com frases pequenas e frias. Eu sorri quando fizemos um círculo completo e ele hesitou em entrar, sentando nas escadas da varanda.

- Com medo?- Perguntei, rindo dele, enquanto me sentava ao seu lado. Ele me olhou com uma sobrancelha erguida.

- Você quem devia ter medo.- Ele disse. Olhei para ele com os olhos estreitos, confusa. Ele revirou os olhos.- Está na casa mal assombrada, lembra?- Olhei ao redor.

- Ela parece bem aconchegante.- Eu disse, sorrindo e abraçando á mim mesma. Ele riu do meu ato carente.- Está seguindo o meu conselho?

- Como é?- Perguntou, olhando para mim, com uma sobrancelha erguida. 

- Sorrindo.- Ele crispou os lábios, balançando a cabeça.- Foi o que eu te pedi pra fazer hoje cedo. Lembra?

- Eu esperava que você esquecesse daquele momento, se for possível.- Ele disse.

- Você não quer que as pessoas saibam que você frequenta aquele tipo de lugar?

- Porque elas vão até lá. E é o único lugar em que eu posso ficar sozinho. Eu não quero ser privado disso também.- Ele disse, de cabeça baixa. Eu fiz uma careta. 

- Eu não pretendia contar á ninguém. Eu também gosto de ter um lugar para ficar calada, só para pensar, mesmo, sabe?- Eu disse, suspirando e colocando a minha bolsa no batente. Olhei para o céu. 

A mansão Malfoy ficava de frente á um lago e nós víamos a lua dali. Hoje ela era cheia.

- Você conhece as constelações?- Perguntei, enquanto via o arqueiro. Ele me olhou com a sobrancelha erguida.

- Eu... Sim.- Ele disse, olhando para o céu também.

- Que constelação é aquela?- perguntei, apontando para o céu. 

- Hm... Eu acho que é a Scorpius. Mamãe adora ela.- Disse Draco, sorrindo para o céu. Eu olhei para ele. Seus olhos brilhavam por culpa da sua e das estrelas que hoje eram refletidos nele. Ele me olhou.

- Talvez não seja tão ruim assim me casar com você.- Eu disse, desviando o olhar para o céu. O ouvi suspirar.

- Você não sabe o que é. Está me conhecendo agora, Astoria Greengrass.- Olhei para ele, espantada por ouvir todo o meu nome.- Seus pais não deviam te deixar casar comigo.

- Meus pais não deviam me deixar ter opinião própria. Mas isso não se escolhe, você já nasce assim.- Eu disse, dando de ombros. Ele balançou a cabeça.

- Vai ser complicado convencer você á ter juízo, não é?- Sorri para ele.

- Tá aí, estamos começando á nos resolver.- Eu disse, dando um empurrãozinho nele. Ele balançou a cabeça.

- Espero que você não se arrependa tarde demais. Sabe, Astoria Greengrass, quando eu me empenho numa coisa, eu não desisto dela.- Ele disse, se levantando e erguendo a mão para mim.- E nesse exato momento.- Eu me levantei, ficando cara a cara com os olhos cinzas.- Eu quero me casar com você.

(...)