Uma escolha escrita por hollandttinson


Capítulo 2
Perto demais.




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POV: DRACO MALFOY.

Me sentei na areia úmida enquanto via o sol nascer no horizonte. A praia era absolutamente inabitada, como eu gosto. Respirei fundo o cheio da maresia, com os olhos fechados. Quantas vezes eu troquei uma noite inteira de sono para vir aqui e simplesmente ficar em paz? Sorri, abrindo os olhos e vi os pássaros acordando. As pessoas achariam irônico que uma pessoa como eu, um ex-comensal, queira paz, não é verdade? Até eu, ás vezes me espanto com a minha vontade de ficar sozinho e poder pensar. Mas pensar não é algo que me salve dos meus fantasmas interiores adquiridos na guerra. Eu me sinto pior, como se eles andassem lado a lado comigo novamente, e andam, o tempo todo. Quando uma mãe não deixa que uma criança ande ao meu lado, por exemplo. 

Balancei a cabeça e cocei os olhos. Eu não deixaria um filho meu andar do lado de uma pessoa que pode ter sido perigosa, mesmo que tal pessoa se mostre inofensiva. Abracei minhas pernas e apoiei meu queixo em meus joelhos. 

Meus pais acreditam que o casamento com a Greengrass pode fazer com que as pessoas me vejam de forma diferente, afinal, agora eu devia estar querendo formar uma familia não é mesmo? Mas ninguém é tão ingênuo assim. Eles vão perceber logo que é um casamento apenas para limpar o nome de minha familia e para pro-criar a familia dela. Afinal, eu nem a conheço! 

Tinha visto Astoria Greengrass em Hogwarts outra vezes, mas nunca falei com ela e nem nada. Eu tinha coisas mais sérias á fazer, não podia gastar meu tempo parando para conversar com uma criancinha. Porque era isso que a Greengrass era, uma criancinha. Sua irmã mesmo dizia isso. 

Só que a criancinha cresceu. E como cresceu! Eu mal a reconheci quando a vi. Está com um corpo lindo, e seu rosto. Em todo o caso, é a Sonserina que minha mãe sonhou como nora, é claro. A frieza com que tratou nosso contrato me mostrou isso. Mas eu não fiquei muito atrás. Eu não me importo com que os outros vão pensar, com o que isso significa. Como eu disse, é um casamento apenas para limpar o nome da minha familia e para pro-criar a dela.

Desaparatei nos jardins de casa, e como de praxe, encontrei mamãe na sala de estar, me esperando, de hobbe. Suspirei.

- Bom dia.- Ela disse, antes que eu abrisse a boca. Ela não sorriu. Ela nunca sorria. Sabia que o que eu estava enfrentando era dificil, mas ela achava que era um exagero, tomada pelas ideias do meu pai. Afinal, já se passaram 2 anos!

- Eu vou subir para tomar banho.- Eu disse, ignorando o seu desejo de bom dia. 

- Para dormir o dia todo, suponho.- Disse ela, se levantando da poltrona confortável em que estava para se aproximar de mim. Eu dei de ombros. Era sempre assim, não dormia á noite, ia para um lugar onde pudesse ficar sozinho, esperava que o sol nascesse, e então, voltava para casa e dormia.

- É claro.- Eu disse. Ela balançou a cabeça e seus olhos azuis expressavam a censura.

- Draco, querido.- Ela disse, colocando as mãos dos dois lados do meu rosto.- Eu imagino que talvez seja dificil dormir á noite, com tantos...

- Pesadelos? Fantasmas? Ou as lembranças de á 2 anos atrás vários comensais se impregnavam nessas paredes? Ou a lembrança dos gritos das pessoas torturadas na minha sala de jantar e porão? É, mamãe, talvez não seja nada fácil dormir quando seus ouvidos são possuídos por gritos enlouquecedores.- Eu disse. Mamãe crispou os lábios e suspirou.

- Acredito em você. Mas é como disse, se passaram 2 anos. Você não é mais um menininho inocente que não sabe das coisas.- Ela disse, serena. Sorri com sarcasmo.

- Eu devo agradecer ao papai por ter me feito crescer de forma bruta e doentia?- Perguntei, com uma sobrancelha erguida. Mamãe suspirou e se sentou novamente em sua poltrona.

- Em todo o caso.- Ela disse, pegando uma xícara de chá que estava no criado mudo ao lado de sua poltrona. Eu coloquei as mãos nos bolsos, esperando.- Você cresceu. E eu não me importo com o que o fez crescer, cresceu e pronto. Não tem como mudar isso. E agora você tem 20 anos e vai arcar com as responsabilidades de um homem de 20 anos. Começando com o casamento com a Srta. Greengrass.

- Então é á isso que a nossa conversa nos leva?- Perguntei, agora irritado. Eu sabia que agora o único assunto que as pessoas deviam tratar comigo era esse, o meu casamento.

- É a sua vida que está se formando. E talvez uma nova, quem sabe? Eu quero netos, Draco. Para correr pela casa e...

- Por esta casa aqui?- Perguntei, rodeando a casa com o dedo indicador. Ela suspirou.

- Você entendeu o que eu quis dizer.- Ela disse, começando á ficar irritada.- Espero que você esqueça sua fugidas noturnas para sei lá onde, e comece á dormir á noite. Com ou sem fantasmas, com ou sem gritos. Hoje, por exemplo, não vai poder dormir o dia todo.

- E por quê não?- Perguntei, passando a mão no cabelo. Eu já esperava algo do tipo.

- Convidei os Greengrass para jantar conosco hoje, ou será que suas fugidas estão o deixando sem memória?- Perguntou, com uma sobrancelha erguida. Eu suspirei. Me lembrava de algo do tipo.

- Claro que não. Mas não vejo como isso pode impedir minha manhã de sono.- Eu disse, sorrindo. Ela revirou os olhos.

- Seu pai vai para o ministério e eu preciso de um homem em casa. Será que você podia ser esse homem?- Perguntou. Eu bufei. 

- É claro, mamãe.- Eu disse, indo em direção ás escadas.

- Espero você na sala de jantar em 1 hora para o nosso café da manhã. Não é muito bonito que uma familia bem-estruturada como a nossa não tenha um único café da manhã decente antes de receber a nova integrante.- Disse mamãe, de costas para mim na poltrona. Suspirei. O que diabos está acontecendo a minha mãe? A vontade de ter um neto é maior do que a vontade de ter um filho em casa?

- Se a Senhora acha que essa é a melhor forma, que seja.- Eu disse, subindo as escadas que rangiam enquanto eu pisava. 

Me joguei de bruços na cama. Eu não queria sair nunca daqui. Mas pelo que vi da minha mãe, não acho que ela vá ter piedade ao me acordar, daqui á 1 hora, como eu combinei que estaria na sala. Me levantei irritado com a droga de vida que eu levo e tomei meu banho. Frio para me despertar. Fiquei um bom tempo debaixo do chuveiro, esperando que alguma coisa acontece e eu sei lá... Morresse de hipotermia. 

Ninguém merece ter de casar com uma pessoa que não conhece nem um pouco só porque a sua familia é um lixo. Em que século nós vivemos? Não temos um pingo de opção. Bom, eu não tenho.

- Ora, ora! Um bom filho á casa torna. Nada de dormir o dia todo hoje?- Perguntou meu pai quando eu me sentei na mesa. Mamãe tinha aberto as cortinas atrás de nós e a sala parecia um pouco menos sombria. Mas eu não apagava as imagens da minha cabeça. Nada vai fazer com que eu esqueça o que se passou aqui. Dei de ombros. 

Eu e meu pai não temos uma relação muito boa desde o dia em que saí de Hogwarts, no meu 6ª ano. Afinal, a culpa por eu ter virado um comensal foi toda dele. Eu não teria me tornado um se não tivesse de cobrir a ausência de meu pai no grupo. 

Desde então, eu não faço muito esforço para falar com ele. 

- Não seja dificil, Draco. Fale com o seu pai.- Disse a minha mãe. Eu olhei para ela. 

- A Senhora não acha que está querendo demais de mim, não? Eu ainda sinto sono.- Eu disse, revirando os olhos.

- Talvez um café forte o ajude? Uma poção?- Perguntou meu pai, por trás do Profeta Diário. Mamãe sorriu para mim. Revirei os olhos e um Elfo já enchia uma xícara com café.

- Draco concordou em aceitar a familia Greengrass hoje á noite em nossa casa. E vai ficar comigo, me ajudando.- Disse mamãe, sorrindo e olhando para papai. Eu revirei os olhos e comecei á beber do café. Meu estômago revirou com o gosto amargo. Eu estava desacostumado á comer de manhã.

- Achei que ele já o tivesse feito ontem á noite. Por falar nisso.- Disse papai, dobrando o Jornal para me olhar. Levantei os olhos para olhá-lo. Já fazia um bom tempo que não o olhava nos olhos. Eu tento ignorar ele de todas as formas possíveis.- Sobre o seu casamento com a pequena Greengrass.

- Nosso contrato, você quer dizer.- Eu disse, desviando o olhar para uma torrada na mesa.- O que tem?

- Eu espero que seja logo. Convença a garota á apressar tudo, certo?- Ele disse, abrindo o jornal novamente.- O Potter vai casar em 5 meses com a Weasley e eu espero que nós possamos ter a mesma honra com você.

- Ah, agora o meu casamento vai ser baseado no do Potter?- Perguntei, irritado, cruzando as mãos uma na outra em cima da mesa, olhando para o Jornal, que mantinha escondido o homem que eu devia chamar de pai. Mamãe o olhava irritada, também.

- Isso foi muito rude, Lúcio. A garota acabou de voltar de Hogwarts, e é jovem demais. Além disso, as pessoas vão desconfiar se Draco e Astoria se casarem tão cedo.- Disse mamãe. Será que ninguém está preocupado com o fato de que eu não quero casar?

- Deixe que falem! E já não falam?- Perguntou meu pai, largando o Jornal da mesa e tomando seu café. Eu sorri um pouco. A frieza com que ele tratava o meu futuro me dá náuseas. Em algum momento eu pensei que ele sentisse algo de bom por mim? Sim, eu senti. Mas de repente eu vejo que eu só servi para competir com Potter.

- Esse casamento é só para limpar o nome da familia ou tem algo por trás disso?- Perguntei, sem olhar para as pessoas ao meu redor.

- Além de limpar o nome de nossa familia? Meus netos, é claro.- Disse mamãe, eu ouvi o sorriso em sua voz. Eu balancei a cabeça.- Mas porquê?

- Acredito que esse meu filho deva competir com um familiar de Harry Potter quando estiver maior?- Perguntei, levantando a cabeça, mas eu olhava apenas para meu pai.- Como o meu casamento, não é? Só vou casar para competir com Harry Potter. Isso é tão... Típico.

- Tão típico e você ainda se surpreende?- Disse o meu pai, com um sorriso frio nos lábios. Eu bufei. Mas então eu sorri da mesma forma que ele e olhei para mamãe.

- Vou falar com a minha noivinha sobre os preparativos do casamento. Ela está tão ansiosa por ele quanto eu! Acredito que não vê a hora de assinar o nome de nossa familia.- Eu disse, cheio de sarcasmo. Minha mãe empinou o nariz e crispou os lábios. Eu revirei os olhos.- Agora, se me derem licença, eu vou trocar de roupa para visitar uns amigos.

- Amigos?- Perguntou o Sr. Malfoy enquanto eu limpava a boca para me levantar. Eu não o respondi, apenas subi as escadas. 

Apesar do infernal calor que fazia, eu vesti um blazzer. Eu não gostava que as pessoas vissem a terrível marca. Eu sei que todos já sabem dela, mas ainda assim, me envergonho.

Quando desaparatei no Beco Diagonal, fui direto á um bar. Eu sempre venho aqui á noite, mais porque não quero ir para casa do que para qualquer coisa. Eles costumam fazer festinhas... Tem strippers e coisas do tipo, também. Eu não sei, nunca me lembro. Na verdade, sempre estou bêbado demais para lembrar de qualquer coisa. 

- Draco Malfoy?- Me virei e dei de cara do a Astoria Greengrass. Ela tinha uma sobrancelha erguida e uma expressão divertida. Mas que droga! Ela não podia ter me encontrado aqui. Eu sempre fico na parte mais escura do bar, as pessoas nunca me acham. Mas é claro, ela tinha de me achar.

- O que está fazendo aqui?- Perguntei, grosseiramente. Ela colocou as mãos na cintura, a expressão era desafiante.- Esse não é o lugar para alguém como você.

- Não tente parecer preocupado, por favor. Odeio mentiras, Draco Malfoy, e logo você vai perceber isso. Afinal, vamos nos casar.- Ela disse e se sentou na cadeira ao meu lado. Eu olhei para ela esperando que fosse embora. Eu não queria companhia, era dificil de entender isso?

- Você vai, mesmo, ficar aqui?

- Imagino que queira ficar sozinho.- Ela disse, me avaliando. Eu sorri, isso não era obvio?- Mas não é o único.

- E precisava vir logo para cá?- Perguntei, irritado. Será que agora ela vai ficar me perseguindo? Já estava arrependido por ter feito contrato logo com ela. Ela sorriu. Idiota.

- Eu te vi entrando. Na verdade, eu vi um ser extremamente loiro entrando. Mas, pelas vestes negras, deduzi que era você.- Ela disse, e jogou sua bolsa na mesa.- E então, costuma vir sempre aqui?

- Você costuma sempre seguir as pessoas?

- Eu não o estava seguindo.- Ela disse, balançando a cabeça, risonha. Eu revirei os olhos. Era só o que me faltava! Agora eu vou casar com uma psicopata que segue as pessoas, não admite e ainda ri de tudo. Onde eu fui amarrar o meu burro?- Eu não estou suportando ficar em casa com mamãe falando o quanto Dafne está ficando mais gorda á cada dia e que o vestido não vai caber nela. 

- Aposto que você não vê a hora de que a sua irmã se case.- Eu disse. Ela olhou para mim, balançando a cabeça negativamente.

- Está maluco?- Perguntou, com os olhos arregalados.- Quando Dafne se casar, toda a pressão vai cair sobre mim.

- Que pena, não é? Parece que não existe paz.- Eu disse. Eu dizia isso mais para mim do que para ela. De que importava as noites que eu passava na praia se quando chegava em casa tinha meu pai? A paz não é algo que se alcança quando se quer, se alcança quando se tem força. E sinceramente, eu não tenho forças nem para abrir os olhos depois de piscar.

- Você parece com sono.- Ela avaliou. Eu olhei para ela com a sobrancelha erguida. Eu podia estar ficando maluco mas a sua expressão era preocupada. Eu sorri de leve.

- Mamãe me acordou cedo, ela espera que a ajude com o jantar e hoje a noite.- Eu disse e ela fez uma careta.

- Mamãe nem me deixou dormir! Ficava me mandando fazer um monte de coisas. Como se você se importasse se eu estou ou não gorda. Ela devia deixar de tanta paranoia e lembrar que estamos nos casando por motivos totalmente profissionais.- Ela disse, revirando os olhos. Eu concordei com a cabeça.

- Pensei que os seus pais fossem mais compreensivos.- Eu disse. 

- Eu também... Na verdade, eu acho que o fato de a Dafne ser tão... Como eu posso dizer? Complicada? O fato de Dafne ser tão complicada acabou fazendo com que eles quisessem que eu fosse mais fácil. Está sendo dificil para eles aceitar que eu cresci e não devo aceitar tudo que eles impõem.- Eu sorri para ela e ela retribuiu o sorriso.- Devia fazer mais isso. Sorrir. Combina com o seu rosto.

- Como é?- Perguntei. As pessoas não costumam dizer isso para mim. Na verdade, as pessoas não costumam dirigir a palavra á mim.

- Seu rosto. É muito bonito, sabe? Eu me lembro que na época de escola, as meninas morriam de inveja da Pansy Parkinson. Inclusive a minha irmã. Porque você era muito bonito e todos o queriam.- Ela disse, sincera.- Mas ele com certeza nunca foi tão bonito quanto á alguns segundos atrás, ou minutos. Quando sorriu. 

- Sério?- Estava querendo saber do que as garotas falavam. Com certeza as ideias delas mudaram.

- Muito sério. Sorrisos iluminam rosto, Malfoy. Sabe, uma pessoa que parece estar constantemente escurecida...- Ela disse, avaliando os efeitos que suas palavras causariam em mim.- Que não é muito... Enfim, tem negro demais em si... As pessoas não esperam te ver sorrindo. As pessoas nunca esperam grandes feitos de pessoas que demostram dor, sofrimento e angústia o tempo todo.

- Eu... Demonstro isso?- perguntei, com uma sobrancelha erguida. Ela sorriu um pouco.

- Sorria mais, Draco Malfoy.- Ela disse, se aproximou de mim e deu um beijo na minha bochecha.- Agora eu tenho que ir, tenho uma amiga louca para encontrar. Foi muito bom encontrá-lo, noivinho.- Ela disse e eu sorri. Ela revirou os olhos e se foi.

Mas não para longe, como eu espero que as pessoas façam. Ela estava perto, bem perto. Perto demais.

(...)


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