A janela escrita por Stephanie Orsina


Capítulo 1
Capítulo 1- O menino da macieira




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Dentre as várias janelas dispostas no como preferido da minha casa existe uma janela em especial, uma janela que me leva a assistir um mundo novo, criado totalmente em volta de um lago, algumas árvores, uma grama verde e macia, e pessoas, pessoas de todas as formas, de todas as idades e de todos os estilos, mas é somente isso que eu posso fazer assistir. Por que por mais que eu deseje participar deste mundo diferente e incrivel apresentado a mim minhas limitações não me permitem sair desta casa, então eu sento na minha janela, e abro o meu livro, e enquanto preencho o vazio criado em meu peito com histórias e poesias, eu observo as pessoas lá fora, e me imagino sentada na grama verde e fofa, embaixo da velha e grande Macieira, sentindo a brisa gostosa do fim da tarde batendo em meu rosto, ouvindo o barulho relachante dos passaros a minha volta, olhando o grande e lindo lago azul, exatamente como ele fazia, o menino alto, de cabelos loiros, que sempre vestia uma calça dins e uma blusa branca, mas ele não se limitava só a ler, ele também sentava abaixo da arvore com uma prancheta folhas e um estojo ao seu lado, imagino que desenhando outras vezes ele brincava com as crianças que se divertiam no parque e foi assim que eu o conheci.

Como disse minha limitação não me permite sair de minha casa, então meu pai, um grande empresário, a adaptaram totalmente para mim e consequentemente meus irmãos. Naquele dia eu seguia minha rotina diária, acordar as 7h e tomar café com minha família, Balé das 8h às 9h com minha imã Prim e a Srta. Effie, uma mulher linda que já dançou nas melhores companhias da França, mas que devido a um acidente, não pode mais dançar profissionalmente, e por isso da aula de Balé em sua própria academia, depois de explicar minha situação a Srta. Effie e oferecer uma quantia generosa a ela, eu e Prim começamos a ter aulas em casa com 9 anos, e para isso, havia um quarto todo equipado com em um estúdio de Bale no segundo andar, ao lado da biblioteca, o meu lugar favorito na casa. Depois do Bale, Prim e Cato, meu irmão mais velho, iam para aula, ao mesmo tempo em que meus professores chegam, História, Geografia, Ciência, Matemática, todos eles muito mais avançado que as escolas normais, quando minha idade escolar chegou, e papai contrataram meus tutores particulares, Prim e Cato decidiram ir a escola normalmente, sendo assim, eu tinha aula das 9h ás 4h, quando meus irmãos chegavam da escola, e era nessa hora que eu me sentia mais sozinha, principalmente em dias de Sol como aquele, quando Prim e Cato saiam, e eu permanecia trancada em casa, presa em meu mundo, observando todos da minha Biblioteca.

Nesse dia em especial, eu não o conseguia ver sempre somente de vez em quando, quando ele aparecia no quadro de minha visão limitada, mas era apenas para pega uma bola ou outra que era rebatida forte demais, e logo depois ele sumia. Eu estava quase dormindo, sentada na janela, absorvendo a brisa fresca que vinha do lago, quando um estrondo vindo do andar de baixo me assustou. Corri para baixo, para ter certeza que Bah, nossa governanta estava bem, e poder ativar o sistema de segurança, quando senti a dor lacerante debaixo do meu pé, me fazendo gritar.

_Bah! _ Chamei em desespero, quando notei que havia pisado em um caco de vidro, e este estava alojado abaixo do meu pé, mas ninguém respondeu.

Sentei-me no sofá, e tirei o objeto de vidro do meu pé, e analisei á ferida, não parecia profundo, mas iria me deixar afastada do balé, por um tempo, olhei em volta procurando a fonte do qual eu havia me machucado, e me deparei com o vidro da sala que brado, e bem afrente dela, uma grande Bola de Beisebol, branca e suja. Não o demorou muito até que a campainha tocasse a pulei num pé só contornando o vidro e abri a porta na esperança que fosse á Bah, mas para a minha surpresa era ele, eu podia reconhecer aquele cabelo de qualquer lugar, o rosto largo, o físico malhado, ele era bem maior do que eu imaginava e muito mais bonito, e seus olhos eram de um azul profundo igual ao do lago.

_Sinto muito! Um dos meninos Rebateu a bola forte de mais e... Meu Deus você se machucou? _ ele perguntou assustado, olhando para o meu pé.

_Não foi profundo, é só dar uns pontos e esta tudo bem! _ Falei assumindo meu tom de defesa, escorando-me no sofá.

_Eu sinto muito por isso, eu vou te levar ao hospital e tudo vai ficar bem! _ Ele falou agarrando minha cintura.

_NÃO! _ Gritei me desviando dele, quando ele quis me levar para fora.

_Calma, está tudo bem! Eu só quis ajudar! _ O menino falou assustado me soltando.

_Não, é só que... _ senti meu rosto avermelhar, conforme eu tentava achar as palavras para lhe explicar aquela situação.

_Katniss querida! Ó meu Deus eu só fui a mercado, o que aconteceu? _ Bah perguntou assustada, atrás de mim.

Sorri aliviada à vela e pulei até seu encontro, mas no meio do caminho, fui içada por braços fortes que me guiaram até o sofá perto dela.

_Eu sinto muito por isso! Gale tem a mão bem forte sabe, e a bola voou longe, eu prometo que vou pagar a vidraça! Eu posso levar vocês ao hospital também, e pagar qualquer tipo de dano! _ O menino loiro falou nervoso.

_Está tudo bem querido, não foi fundo! Apenas me ajude a leva-la até a enfermaria ok? _ Bah pediu me ajudando a levantar.

O menino que agora eu via, parecia ser um pouco mais velho que eu, abaixou e me pegou no colo sem esforço algum, e seguiu a Bah até sala branca, totalmente esterilizada, com uma maca, e vários armários com todo o tipo de coisa útil para uma assistência médica rápida, e um pouco para as longas também, essa era uma sala feita sobe o pedido da Bah, que havia sido enfermeira na guerra, já e que eu não conseguia sair de casa, ela achou útil que tivéssemos algumas coisas de utilidade para arranhões e machucados rápidos, enquanto as coisas eram um pouco mais complicadas do que ela podia lidar, o Dr. Grey sempre vinha ao nosso encontro.

_Certo querida, vou ter que dar alguns pontos, mas a boa noticia é que não tem vidro dentro do seu pé! _ Bah falou sorrindo, depois de analisar meu pé.

_Por que vocês tem uma enfermaria? _ O menino perguntou assustado.

_Para casos urgentes! _ Respondi incomodada.

_E por que vocês simplesmente não vão ao hospital? _ Ele confuso.

Respirei fundo, tentando achar as palavras certas, eu nunca havia me encontrado em uma situação como esta, ter que explicar a alguém diferente minhas limitações, todos que vinham ao meu encontro sempre estavam cientes do meu estado.

_Você faz perguntas demais para alguém que quebrou o vidro da sala, por acaso é um repórter ou algo parecido? _ Bah perguntou desconfiada.

_Não Senhora! Desculpe Senhora! Eu apenas estava curioso Senhora! Desculpe Senhora! _ O menino respondeu assustado, suas bochechas tingidas de um vermelho impactante, seus olhos arregalados, de forma que pudesse ver melhor suas orbes azuis, sua postura ereta e tensa.

Não pude deixar de rir com sua atitude, afinal, todos que conheciam Bah, sabia que por traz daquela atitude assustadora e mandona, havia uma mulher dedicada e cuidadosa, o tipo de mulher que odiava desperdício de comida, e se você que havia um monstro debaixo da cama, ela o procurava até você se sentir segura novamente.

_Pare de me chamar de Sra. garoto, tem uma pá e uma vassoura na cozinha, é só seguir o corredor ao lado direito! Pegue e arrume a bagunça que você fez! _ Bah ordenou séria.

Assim que o menino saiu, Bah sorriu para mim, ao mesmo tempo em que tirava o ar da agulha, para Prim e Cato essa cena era extremamente assustadora, mas para mim que já estava acostumada com Bah e suas agulhas parecia mais que normal.

_Gosto deste garoto! _ Bah falou sorrindo, aplicando o sedativo em meu pé.

_Eu também! _ Confessei sentindo minhas bochechas corarem.

_Ele parece ser um menino honesto e preocupado, do contrario não teria insistido para levar você ao hospital ou pagar o vidro! _ Bah continuou tagarelando, enquanto pequenas doses de sedativo eram aplicados no meu pé.

Fechei os olhos e apenas a deixei tagarela, em quando minha imaginação viajava para macieira ao lado do lago, o sol batendo sobre minha pele, e o menino de olhos azuis cristalinos olhando para mim, sua camisa branca, seu cabelo macio e sedoso tocando minhas pernas cobertas pelo tecido fino do meu vestido de cetim.

_Katniss! _ Bah me chamo, sacudindo meus ombros. _ Eu já terminei.

_Desculpe Bah, acabei cochilando! _ Falei sentando-me sobre a maca.

_Então é ele o menino da Macieira? _ Bah perguntou, descartando os objetos utilizados em seus respectivos lugares.

_Sim! _ Resmunguei coçando o olho.

Eu ainda podia sentir a brisa quente do meu sonho, acariciando a minha pele.

_Senhora eu já limpei tudo, e pus os cacos em uma caixa vazia na cozinha. _ O menino falou surgindo pela porta.

_Certo garoto! _ Ajude a Katniss a se sentar na sala, vou fazer um chá para nós! _ Bah resmungou saindo pela porta.

_Eu posso ir sozinha! _ Falei descendo da maca, apoiando-me apenas em um pé.

_Por favor! A culpa foi minha! _ O menino falou sorrindo, me pegando no colo.

_Pensei que fosse do Gale! _ Rebati sorrindo.

_Thouxe! Na verdade era eu quem estava rebatendo, por isso estou aqui! _ O menino respondeu sorrindo, um sorriso perfeitamente branco, ao mesmo tempo em que me ajudava a sentar no sofá. _ Á proposito, eu sou Peeta! _ Ele falou sorrindo estendo sua mão.

_Katniss! _ Falei sorrindo apertando sua mão.

Sua mão era quente a macia, totalmente diferente das mãos grosas e calejadas que eu havia imaginado.

_Aqui esta o chá, eu trouxe bolo também! _ Bah falou, deixando a badeja sobre a mesa._ Eu tenho que preparar o jantar, então não a deixe comer sozinha! _ Bah falou olhando fundo nos olhos de Peeta.

_Nãos Senhora! _ Peeta respondeu nervoso.

Sorri para Bah, quando ela se virou, ela sorriu de volta e piscou com um olho para mim, para logo depois sumir pela porta.

_Você não precisa ficar! _ Falei servindo uma xicara de Chá para mim, me sentindo culpada pela leve pressão que bah havia colocado sobre ele. _ Mas apreciaria se ficasse! _ Conclui sorrindo, sentindo minha bochechas corarem.

_Se você aprecia! _ Peeta respondeu sorrindo, sentando-se no sofá, a minha frente.

_Então Peeta de onde você é? _ Perguntei, lhe servindo um pedaço de bolo, feliz que por telo ao meu lado.

Eu nunca havia recebido vistas antes, mas sabia o que deveria fazer, sabia como deveria agir, as aulas de etiqueta serviam para isso, mesmo assim, nenhuma aula poderia me preparar para o frio que se instalava em meu estomago.

_New Orleans! _ Peeta falou sorrindo tomando um gole de chá.

_Bom disto eu sei, afinal moramos em New Orleans, o que quero saber é se você mora aqui perto! _ Perguntei sorrindo.

_Eu moro a três ruas daqui! _ Peeta explicou sorrindo, tomando um gole de seu chá.

_PEETA! _ A voz reconhecida de Cato soou pela porta. _ Você pegou a bola? _ Ele perguntou somente com sua cabeça aparecendo pela porta.

_Esta aqui! _ Peeta falou jogando a bola, que agilmente Cato pegou no ár.

_Ótimo, então vamos antes que a Bah me veja! _ Cato sussurrou, ansioso.

_Por que você não quer que eu o veja Cato Everdenn? _ Bah perguntou surgindo pela porta, com seu avental branco com margaridas bordadas nos bolsos, e um pano de prato na mão.

_Por nada Bah! _ Cato respondeu num sussurro quase inaudível.

_Foi o que pensei! _ Bah respondeu duramente. _ Chame Prim e venham tomar banho! _ ela falou se virando e seguindo pelo corredor.

_Mas Bah... _ Cato insistiu, como uma criança mimada.

_Cato Everdenn meu dever é entregar todos vocês devidamente banhados e vestidos para o seu pai quando forem jantar então mecha essa sua bundinha branca até a rua e chame Primorouse para dentro agora! _ Bah falou virando-se para Cato.

Ri com a cara de desgosto de Cato ao sair pela porta, mas me senti satisfeita com o sermão que Bah avia dado a ele, Cato já era praticamente um homem e insistia em agir como uma criança, quando se tratava de suas obrigações.

_Essa mulher é realmente... _ Peeta começou a falar quando Bah sumiu pelo corredor, dando uma longa pausa enquanto procurava as palavras certas. _ Não tenho palavras para explicar. _ Ele concluiu sorrindo.

_Tente esplendorosa ou determinada! _ Respondi sorrindo. _ Bah é uma mulher encantadora e dotada de muitos princípios, um deles é que todos nós, incluindo meu pai, devemos estar banhados e vestidos adequadamente para o jantar. Segundo ela, o jantar é a refeição mais importante do dia, pois é quando todos estamos juntos na mesa. _ Falei orgulhosa de minha babá, colocando minha xicara sobre a mesinha de centro.

_Bom eu devo ir também, minha mãe é parecida com sua Bah, só que ela não nos chama, se não estamos na mesa na hora do jantar quando a comida esta quente é bom chegar rápido, se não você vai comê-la fria. _ Peeta falou se levantando.

_Você não quer jantar conosco? _ Perguntei num salto, ao velo se levantar.

_Não obrigada, numa outra ocasião talvez! _ Peeta falou sorrindo, pondo a xicara já fazia sobre a mesa.

_Bom, então... _ Comecei a falar, apenas para ganhar um tempo para pensar em uma forma de fazê-lo ficar ou pelo menos voltar a me ver.

_Katniss, eu realmente tenho que ir! _ Peeta falou sorrindo docemente, seu sorriso mostrando as leves covinhas em seu rosto.

_Certo! Posso esperá-lo amanha para outro Chá? _ Perguntei ansiosa, sentindo meu peito se inflar.

_Certamente! _ Peeta respondeu sorrindo.

Ele pegou minha mão, entre suas mãos frias, e a beijou delicadamente com seus lábios macios e quentes, para logo depois sorrir de forma cumplice e desaparecer pela porta.

Sorri como uma criança e corri para a janela, apenas para vê-lo cruzar nossa cerca branca e sumir logo após nossos arbustos.

_BAHHHHHHHHHHHHHHH! _ Gritei, correndo pelo corredor até a cozinha.

_O que foi menina? _ Bah perguntou assustada, secando as mãos no seu avental.

_Podemos fazer aquele bolo de cenoura com calda de chocolate amanha para o chá? _ Perguntei empolgada sentando sobre a mesa.

_Claro que sim! Essa euforia toda é por causa do bolo? _ Bah perguntou voltando a mexer em sua panela.

_Talvez, podemos usar aquele joga de chá inglês?_ Perguntei pegando uma maça do cesto e a mordendo.

_Sim, podemos! _ Bah falou arrancado a maça da minha mão e a colocando novamente no cesto. _ Vamos ter visita amanha? _ Bah perguntou curiosa.

_Peeta vai vir tomar chá amanha novamente! _ Respondi sorrindo, sentindo a euforia tomar conta do meu corpo.

_Vou deixar tudo pronto! Agora vá logo tomar banho, enquanto eu chamo o moleque do seu irmão. _ Bah resmungou, largando a colher ao lado da panela.

_Obrigada Bah! _Agradeci feliz, a abraçando e lhe dando um beijo no rosto.

A noite fora longa e repletas de sonhos inexpressivos e sombrios, a manha fora uma eternidade e cada segundo pareciam horas até sua chegada.

_Bah que horas são? _ Perguntei pela milésima vez, olhando pela janela da sala.

_Menina você não marcou um horário fixo, daqui a pouco ele chega! _ Bah falou calmamente, tirando o pó dos armários.

A mesa já estava posta há meia hora, o chá já estava pronto e o bolo estava esfriando na cozinha, eu estava com o meu melhor vestido de domingo, e as sandálias da minha mãe, estava tudo perfeito, menos meu convidado que ainda não havia chegado.

_Bah vai lá fora ver se ele esta vindo, por favor? _ Pedi, educadamente, fazendo minha melhor cara de piedade.

_Va você, se quer tanto saber! _ Bah resmungou sorrindo.

_Isso é injusto, você sabe que não posso ir Bah! _ Resmunguei cruzando os braços sobre o peito de forma infantil.

_Então apenas espere...

_Ele esta vindo!_ Gritei assim que seu corpo surgiu entre os arbustos.

Corri para porta e esperei até ouvir seus passos pararem diante dela, abri antes que ele pudesse tocar a campainha.

_Boa tarde! _ Cumprimentei com o sorriso mais cordial que pude juntar em meio a minha euforia.

_Boa tarde Srta. Katniss! _Peeta cumprimentou sorrindo, pegando minhas mão entre a sua e a beijando delicadamente, como no dia anterior quando nos despedimos. _ Você está excepcionalmente encantadora esta tarde! _ Peeta falou sorrindo de forma cumplice para mim.

_Só podia, ela demorou mais de uma hora para escolher este vestido! _ Bah falou do outro lado da salas em se dar ao trabalho de olhar para nós.

_Bah!_ A reprendi envergonhada, mas ela apenas sorriu e saiu para cozinha. _ Entre Peeta e sente-se. _ Falei fechando a porta.

_Obrigada, sua casa é muito bonita e grande também! _ Peeta falou sorrindo, sentando-se no sofá menor a minha frente.

Hoje ele estava vestido um calça dins escura, com sapatos pretos, sua camisa, social tão azul quanto seus olhos, que estava aberta, mostrando sua camisa branca, seu cabelo estava perfeitamente desalinhado de forma selvagem.

_Obrigada! _ agradeci servindo o chá, tomando cuidado para meus movimentos pareceram leves e delicados, e não tensos como estavam. _ Foi minha mãe quem a decorou!

_Encantado! Ela tem um ótimo gosto! _ Peeta respondeu sorrindo abertamente, mostrando pela primeira vez as pequenas covinhas que se formavam em suas bochechas quando ele sorria. _ Onde ela está agora?

_Ela morreu! _ Respondi inconscientemente fitando minha xicara.

No instante em que as palavras haviam saído da minha boca, eu soube que havia feito novamente, eu havia trancado meus sentimentos dentro do meu peito, e havia vestido a mascara da boa menina cuja morte da mãe havia sido apenas mais um a caso do destino, mas que já havia sido superada.

_Eu sinto muito! _ Peeta falou baixinho, encarando sua xicara.

Procurei avidamente em seus olhos, a expressão piedosa que encontrava em cada olhar cuja morte da minha mãe era uma novidade, e com tristeza encontrei, ela estava bem ali, no canto esquerdo das grandes orbes azuis, cintilando como uma fogueira cuja chama quer se apagar.

_Já faz muito tempo! _ Respondi bebericando meu chá, na esperança de que quando voltasse a vê-lo novamente, a piedade não reinasse mais em seus olhos.

Um minuto longo e silencioso estendeu-se entre nós, onde Peeta apenas encarava sua xicara e olhava nervosamente para mim, enquanto eu apenas observava seus olhos, desejando desesperadamente que aquela expressão sumisse.

_Você quer conhecer o resto da casa? _ Perguntei sorrindo, tentando trazer alegria novamente a nossa conversa.

_Claro! _ Peeta respondeu nervosamente, depositando sua xicara sobre a mesa.

Repeti seu gesto, e levantei-me alegre, feliz que minha tentativa de atenuar a situação avia dado certo.

_Você já conheceu a sala a cozinha e enfermaria da ultima vez! _ Falei levantando-me do sofá.

_Sim! _ Peeta respondeu sorrindo, desta vez constrangido.

Sorri em resposta, encantada com a forma como suas bochechas tingiam levemente de rosa quando ele ficava encabulado.

_Bom esta é a nossa sala de jantar! _ Falei virando-me para desviar meus olhos de seu rosto, e abrir a porta escura a minha frente.

A luz inundou nosso corpos assim que abri a porta, dei um passo para o lado, e virei-me para ver a expressão encantada de Peeta ao entrar na sala. Sorri com a forma como Peeta olhava deslumbrado a grande mesa de Mogno que se estendia a nossa frente, e me permiti admirar a beleza do aposento junto com ele.

A sala por si só era incrível, com papel de parede em tom pastel, o chão impecavelmente encerado escuro, e o teto todo em gesso branco, havia flores espelhadas por todos os cantos nos pequenos móveis escuros espalhados pelo aposento, e uma grande mesa de vinte lugares toda trabalhada em Mogno bem no meio da sala, com um grande buque de tulipas no centro, mas o que mais encantava, não eram as flores e nem os móveis, mas sim as grandes janelas feitas em formato de Arco Romano que cobriam toda a parede lateral em frente à porta, de onde se podia ver todos o parque, e mais a frente o grande lago azul, onde os casais namoravam em pequenos barcos que flutuavam a deriva.

_É lindo! _ Peeta sussurrou encantado.

_É sim! _ Respondi sorrindo, orgulhosa por saber que toda aquela beleza, fazia fruto do grande talento de minha mãe para decorações._ Mas este ainda não é o meu cômodo favorito da casa!

_Então qual é? _ Peeta perguntou espantado, sua boca formando um perfeito “O”.

_Venha eu vou lhe mostrar! _ Falei empolgada, pegando sua mão e o arrastando para fora da sala.

Sua mão era quente e firme, e enquanto corríamos, segurava firmemente a minha.

Não me dei ao trabalho de fecha a porta, e corri direto para escadas onde levei a mão ao corrimão de madeira e deixei que ela deslizasse conforme subia os degraus.

_Katnnis não corra nas escadas! _ Ouvi Bah gritar da cozinha e me apressei para alcançar o topo sorrindo como uma criança, sem soltar a mão de Peeta.

Assim que cheguei ao topo da escada, olhei para Peeta ao meu lado, que me olhava surpreso, mas que ao mesmo tempo sustentava um grande sorriso maroto em seu rosto sorri alegremente para encoraja-lo, e segui em passos largos, ao longo do corredor direito, visando a grande porta de madeira talhada a nossa frente, quando enfim chegamos ao nosso destino, virei-me para encarar Peeta, que me olhava intrigado e curioso.

Meu coração batia rápido, e minha respiração permanecia ofegante por causa da corrida, e eu tinha certeza que minhas bochechas estavam tão vermelhas quanto as suas.

_Este é o cômodo que eu mais amo nesta casa! _ Esclareci sorrindo encarando Peeta, agarrando as duas grandes maçanetas douradas em minhas costas._ Bem vindo à biblioteca! _ Falei firmemente olhando fixamente para Peeta enquanto empurrava as duas grandes portas atrás de mim, que deslizaram graciosamente as minhas costas.

_É enorme! _ Peeta sussurrou encantado, entrando no cômodo.

_Ela cobre toda a cozinha e a sala de jantar! _ Esclareci, ao seu lado, me virando para admirar as enormes estantes de livros que se entendiam a minha frente até o teto duas vezes maior que o resto da casa. _ São mais de dez mil exemplares, entre eles romances, clássicos, literatura moderna e acadêmica, e muito mais! _ Conclui orgulhosa.

_Isto é incrível! _ Peeta falou extasiado, caminhando em direção as prateleiras de livros.

_A casa ao todo tem três andares, o terceiro foi criado exclusivamente para a extensão da biblioteca, a criação da sala de balé e alguns outros cômodos a mais!_ Acrescentei sentindo orgulho do cômodo que em sua maioria eu havia ajudado a montar.

_É impressionante! _ Peeta falou, analisando os livros da estante a sua frente. _ Mas por que vocês tem uma biblioteca tão grande em casa? _ Peeta perguntou curiosa.

_Prim tem a sala de balé, Cato a sala de jogos, eu tenho a biblioteca! _ Expliquei miseravelmente, me aproximando mais.

_Isso não explica muita coisa! _ Peeta respondeu sorrindo.

_Nós sempre tivemos a biblioteca, porém era um cômodo bem menor que este, depois que minha mãe morreu, meu pai começou a trabalhar mais, e queria suprir sua falta com presentes, a casa estava em obras, então cada um teve o direito de fazer algo com um cômodo da casa, Prim quis a criação sala de Balé, Cato a sala de jogos, e eu sempre gostei da biblioteca, mas ela já estava se tornando pequena para a quantidade de livros que nós armazenávamos, mais basicamente eu estava adquirindo, então eu pedi a extensão da biblioteca, desta forma o quarto de hospedes ao lado que nunca havia sido usado virou uma extensão da biblioteca, e com a criação do estúdio de balé ela ganhou um andar mais para cima! _ Expliquei mais claramente, guardando os livros de anatomia que estava estudando de manha, na estante em que eles pertenciam.

_Interessante! _ Peeta sussurrou enquanto lia um livro aberto sobre sua mão.

Sorri, com sua concentração excessiva, e segurei sua mão para que voltasse sua atenção para mim.

_A parte de baixo e voltada mais para os livros acadêmicos e históricos! _ Esclareci o puxando pela mão até a escada que dava acesso ao andar de cima. _ O interessante mesmo esta aqui! _ Falei chegando ao segundo andar, onde a maioria dos livros havia sido comprada por mim. _ É aqui onde os livros de romance, ação e fantasia estão! _ Esclareci sorrindo.

_Mas por que aqui? _ Peeta perguntou confuso, ainda agarrado a minha mão.

_Esta Ala, é composta principalmente por livros que eu comprei ou ganhei por isso eles estão aqui! _ Esclareci sorrindo. _Além disso, fica muito mais acessível, já que eu não gosto de sentar ali! _ Falei apontando para a grande janela também em arco romano no fim do corredor.

Aproximei-me mais da janela, para que Peeta pudesse ver o quanto ela era afastada da parede e que por isso, havia um pequeno sofá baú entre ela e o limite da parede.

_Eu não havia reparado que suas paredes eram tão grossas! _ Peeta falou sentando-se no sofá.

_Não da para perceber, se você não olhar bem as janelas! _ Esclareci, sentando-se ao seu lado, no sofá, olhando para os seus grandes olhos azuis.

Meu coração batia forte, e eu não havia percebido que minhas mãos estavam tão suadas, eu nunca havia estado com outro menino na biblioteca antes, na verdade eu nunca havia estado com outro menino que não fosse meu parente, o que tornava tudo tão difícil, Peeta parecia alheio ao meu nervosismo, o que indicava que para ele aquilo era tão natural quanto jantar com a família, mesmo assim, eu não podia deixar de ficar nervosa, ao mesmo tempo em que permanecia extasiada com a forma em que o Sol batia em seu rosto revelando pequenos pontos imperceptível a luz normal em seu rosto.

_Por que você gosta tanto daqui? _ Peeta perguntou, finalmente olhando para mim.

Senti meu coração parar, e minhas bochechas arderem por me permitir ter sido pega o observando, mesmo que para ele aquilo parece ser comum.

_Por causa daquela árvore! _ Respondi olhando para a grande macieira mais abaixo de nós. _ Todas as tardes, quando Prim e Cato estão na rua com seus amigos, eu me sento aqui e leio, mas às vezes eu o vejo! _ Respondi nervosa encarando a grande árvore a minha frente.

_Eu? _ Peeta perguntou confuso.

_Sim você! _ Falei sorrindo ainda fitando a arvore. _ Às vezes você senta debaixo da árvore com uma prancheta e um estojo ao seu lado, e eu fico imaginando o que você esta desenhando, às vezes você lê, e eu compro o mesmo livro para saber quais são os seus gostos, e vocês você joga com as outras crianças, e eu fico aqui imaginando se você perdeu ou ganhou! _ Desviei meu olhar, para seus olhos profundos e confusos, e por um instante me pus em seu lugar, e percebi o quanto tudo aquilo soava estranho. _Eu sei que parece loucura, mas, eu fico tanto tempo presa nesta casa, que te observar... é como se eu vivesse tudo aquilo através e você! _ Esclareci fitando minhas mãos cruzadas sobre meu colo.

Peeta ainda me olhava confuso, então me concentrei em olhar o Sol se pondo ao horizonte, logo seria noite, e se eu não fizesse nada, Peeta poderia nunca mais vir me ver.

_Por quê? _ Peeta perguntou confuso, acordando do estado de choque que havia se encontrado.

_Por que o que?_ Perguntei confusa.

_Por que você não sai? _ Peeta perguntou suas sobrancelhas se juntando em um perfeito vê em sua testa.

Olheio apreensiva, eu não queria falar, não queria explicar o por que de eu não poder sair para a rua, na verdade eu não sabia como explicar, como falar a alguém sobre minhas limitações, meu pai sempre havia me protegido disto, ele sempre havia tomado a frente sobre este assunto, e quando as pessoas chegavam em mim, elas já sabiam de tudo.

_Eu...

_Katnnis! _ Bah gritou mais baixo de nós, me salvando mais uma vez.

Corri aliviada até o corrimão que rodeava o estreito corredor de livros para poder vela melhor.

_Katnnis está na hora do jantar! _ Bah logo abaixo de mim.

_Já estou indo Bah! _ Gritei em resposta.

_Peeta vai jantar conosco? _ Bah perguntou.

Olhei para Peeta que negou coma cabeça.

_Não Bah! _Respondi cabisbaixa.

_Certo, não se atrase! _ Bah anunciou sumindo entre as estantes de livros.

_Eu tenho que ir! _ Peeta anunciou atrás de mim.

_Você vai voltar amanha? _ Perguntei esperançosa, desejando que tudo o que eu falei não o houvesse assustado.

_Sinto muito! _ Peeta falei baixinho, abaixando a cabeça.

_Tudo bem, eu entendendo! _ Respondi tentando sustentar um sorriso educado, mas falhando miseravelmente. _ Eu vou te acompanhar até a aporta.

Não trocamos nenhuma palavra durante o trajeto até a porta, Peeta apenas caminhou ao meu lado, com as mãos no bolço e um olhar pensativo, enquanto eu fazia o máximo para não mostrar o quanto eu estava decepcionada.

_Tenha uma boa noite Peeta! _ Falei abrindo a porta.

_Katnnis, eu... _ Esperei alguns segundos, mas ele não falou nada, e eu não o culpava, afinal o que ele iria dizer, diante da confissão estranha que eu havia lhe feito.

_Não se preocupe Peeta, eu vou entender! _ Falei gaarrando-me a porta, tentando de todas as formas segurar as lágrimas que estavam prestes a fugir de meus olhos.

_Eu não quero que você me compreenda mal! _ Peeta falou confuso, seus olhos repletos de um sentimento que eu não conseguia decifrar.

_Não se preocupe comigo está bem! Foi um prazer recebe-lo em minha casa! _ Falei educadamente fechando a porta.

Esperei até que seus passos sumissem na varanda, e o sonoro com do portão se fechando ecoasse para então deixar que as lágrimas timidas e desesperadoras corressem pelos meus olhos e inundassem meu rosto. Sentei-me no sofá, e chorei quieta, arrependidapor ter assustado a única pessoa que havia conseguido se aproximar de mim.

Antes que Bah pudesse aparecer e ver meu estado, subi até meu quarto e tomei um longo banho, quando cheguei a mesa de jantar, todos ja estavam a minha espera.

_ Você esta bem querida? Você nunca se atrasa? _ Meu pai perguntou preocupado a ponta da mesa.

_Foi só uma indisposição! _ Menti com a voz fraca, assumindo meu lugar ao lado de Cato e Prim.

_Você parecia bem esta tarde, na hora do chá com Peeta! _ Cato aofinetou, ao meu lado e eu o chutei por debaixo da mesa.

_Quem é este? _ Meu pai perguntou curioso, cortando o pato na sua frente, seus olhos cinzentos fitando os meus curiosamente.

Fuzilei Cato com os olhos, que me olhou assustado.

_É apenas um amigo! _ Respondi pegando minha faca.

Olhei minha meu reflexo sobre o talher de prata devidamente lustrado, e só então compreendi por que Prim e Cato me olhavam de forma tão estranha, meus olhos estavam inchados, e uma linha rosada havia se formado na linha dos meus cílios inferiores e superiores.

_Fico feliz que você esteja recebendo amigos, onde você o conheceu? _ Meu pai perguntou olhando para seu prato, seu cabelo escuro caindo sobre a testa.

_Foi ele quem quebrou a vidraça da sala! _ Cato se apresou em explicar.

_O que houve? _ Prim perguntou baixinho ao meu lado.

_Nada! _ Sussurrei enquanto me concentrava em cortar meu pato.

_Bah não me falou nada sobre isso!_ Meu pai concluiu sério.

_É por que, ele mesmo pagou o concerto! _ Me apressei em explicar ainda olhando para meu prato.

Meu pai apenas concordou com a cabeça e continuou comendo, esperei pacientemente enquanto todos terminavam sua refeições, para depois seguir rumo à sala, onde meu pai leria seu jornal, ao mesmo tempo em que conversavam sobre futebol e o mercado de ações com Cato, e eu e Prim ouviríamos rádio.

__Katnnis, chegou isto para você durante o jantar! _ Bah falou sorrindo, me entregando um envelope branco.

Sorri e peguei o convite de suas mãos, enquanto lhe agradecia.

_Se o Sr. não precisa mais de mim, eu vou me recolher Sr. Everdenn! _ Bah falou ao meu lado.

_Não Bah pode ir! _ Meu pai respondeu sorrindo, desviando o olhar de seu jornal.

_O que é? _ Prim perguntou curiosa, ao meu lado no sofá.

_Não sei! _ Falei estudando o papel aveludado do envelope, apenas com meu nome escrito em preto com letras formosas.

_A mim parece um convite! _ Meu pai respondeu sorrindo, olhando por cima de seu jornal. _ Por que você não abre para ver.

Observeio desconfiada, tentando perceber qualquer movimento seu que sugira a entender que ele saberia qual era o conteudo daquele envelope, mas meu pai parecia mais curioso do que eu. Abri o envelope e desdobrei o papel aveludado dentro dele.

Katniss Everdeen

Convidamos você para nossa reunião do chá feita anualmente em nossa casa, que sera realizada no dia 12/10/2013 ás 15h na Rua Navigation Cg N° 3230.

Aguardamos sua presença.

Família Mellarck

_Mellarck? _ Perguntei curiosa, tentando lembrar a quem pertencia esse sobrenome.

_È a família do Peeta! _ Cato explicou sentado na poltrona.

_Eles não sabem da sua limitação? _ Prim perguntou curiosa.

LImitação era a forma delicada que nós haviamos achado para se referir a minha doença.

_Eu não falei nada! _ Respondi acariciando a letra desenhada do papel a minha frente.

Será que havia sido Peeta quem pediu para seus pais me convidar, ou haveria a mãe dele quem avia tomado a frente do convite.

_É amanha, você vai? _ Prim perguntou curiosa.

_Não sei se deveria! _ Falei guardando o convite novamente dentro do envelope.

Relembrando o que havia acontecido horas antes.

_Se você foi convidada, deveria ir! _ Cato argumentou entusiasmado.

_Você recebeu um? _ Perguntei, na esperança de apoiar minha conragem em Cato.

_Sim, mas não vou poder ir, tenho treino de futebol amanha! _ Cato explicou ageitando-se melhor no sofá.

_E você Prim? _ Perguntei esperançosa.

_Sinto muito, não sou amiga de Peeta, e tenho reunião do jornal amanha! _ Prim explicou desanimada. _ Mas você deveria ir! _ Ela enfatizou esperançosa.

_Papai, eu posso? _ Perguntei, na esperança de arranjar uma desculpa para dizer ao Peeta o por que de eu não ter ido ao chá, em vez de lhe dizer a verdade.

_Se você conseguir, não vejo impecilhos! _ Meu pai respondeu sorrindo por cima do jornal.

_E então? _ Prim perguntou empolgada.

_Prim eu... _ Tentei explicar, sentindo o familiar pânico tomar conta do meu corpo.

_Querida se você quiser ir, basta tentar, ninguém vai lhe repreender se você não conseguir! _ Meu pai falou, pousando a mão protetoramente em meu ombro.

_Certo, mas vou precisar da ajuda de vocês! _ Falei para Cato e Prim.


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