Kathe demorou mais do que o costume naquela manhã fria de outono, a jovem sentou se na beirada da cama e sentiu um mal estar, mas sabia que não passada de uma criada naquele lugar, estava começando a enxergar seu devido lugar. Levantou se relutante, pois sua tia-avó Miranda deveria estar em pé há horas aguardando para começar fazer seus afazeres matinais.

A jovem caminhou cabisbaixa na direção da cozinha em silencio, nem ao menos ouvira os cantos matinais das pequenas aves diurnas, antes de adentrar a cozinha, ajeitou os sedosos fios louros em um coque todo desajeitado em seguida limpou as mãos sobre o tecido velho do vestido e prosseguiu.

– Isso são horas? - questionou Miranda, sem ao menos virar se para encará-la, não houve resposta da parte de Kathe, assim que Miranda virou se na direção da jovem assustou com o semblante pálido. - Por acaso viu algum fantasma?

Kathe começou pela bandeja de prata como sempre fazia todas as manhas.

– Não, tia, apenas acordei indisposta. - respondeu de forma fria. Miranda enxugou ambas as mãos no avental enquanto a observava, sabia que não era uma boa hora para repreendê-la, a velha criada balançou a cabeça de forma pensativa desviando seus olhos para a pia novamente.

– Pode ir levar o café da manha da Lady Helena. - anunciou Miranda.

Sem questionar ou se recusar a fazer, a jovem segurou em ambas as alças da bela bandeja de prata e seguiu na direção do andar superior do castelo, calada e inquieta, mas prosseguiu seu trajeto. Assim que parou na frente do quarto de hospede sentiu suas pernas tremerem e um calafrio que percorreu sua espinha de forma descomunal, bateu na porta receosa.

– Entre. - anunciou a aveludada voz que vinha de dentro do quarto. A loura girou a maçaneta dourada e empurrou a pesada porta com a perna, assim que avistou a bela morena sentiu suas pernas paralisarem, Helena mostrou lhe um sorriso cordial, Kathe tinha que admitir que a Lady a sua frente era portadora de uma beleza exótica e dona de uma silhueta perfeita e de olhos verdes iguais a duas pedras de esmeraldas reluzentes.

Kathe caminhou na direção da pequena mesa e depositou a bandeja sobre a mesa , sem encarar a mulher parada a sua frente, havia feito seu trabalho, virou se na direção da porta e caminhou com passos desajeitados.

– Espere! - ordenou a morena, fazendo Kathe parar de frente com a saída. - Não me disse sua graça?

A loura girou sobre os calcanhares e sem encará-la respondeu relutante.

– Sou Katherine, minha senhora. - Helena mostrou lhe um largo sorriso, era uma bela jovem, aquilo fizera a jovem Lady se assustar, pois sabia que Duque de Argon tinha apenas criados com idades bem avançadas.

– Quantos anos têm criança? - quis saber. Kathe franziu o cenho e por fim ergueu seus olhos na direção do dela, mas afinal de quem ela estava se referendo como criança.

– Não sou criança, milady. - respondeu com uma pontada de acides - Tenho idade suficiente para trabalhar, creio que esteja perdendo seu tempo conversando com a criadagem. Agora tenho meus afazeres para terminar. - anunciou.

Helena não era tão velha, ao menos não deveria ter a mesma idade que o Duque, talvez estivesse beirando a casa dos 30 ou menos.

– Pode ir, mas precisarei de sua ajuda mais tarde. - anunciou Helena sentando se na cadeira enquanto encarava a jovem franzina a sua frente.

Kathe assentiu com um gesto de cabeça e caminhou com passos rápidos na direção da saída, assim que fechou a porta do quarto, encostou se na parede e respirou fundo, sentiu uma pontada no estomago, virou seu rosto na direção do aposento do Duque encarou por alguns segundos. Mas logo caminhou na direção da cozinha, pois era manha de feira e sabia que sua tia estava com a listagem feita, enquanto descia os degraus da bela escadaria, sentiu um calafrio percorrer por sua espinha só de lembrar quando atravessou a sombria floresta de Baltimore.

– Vamos menina, precisamos dos legumes e irá trazer consigo dois novos serviçais que foram contratados pelo Duque essa manha. -anunciou Miranda parada próxima a entrada da cozinha.

Kathe balançou a cabeça, pegou o pequeno papel das mãos de sua tia-avó e seguiu na direção dos fundos do castelo, onde estava a charrete e os cavalos. Talvez o caminho não lhe parecesse tão sombrio como na primeira vez, mesmo por que estava preocupada com seus afazeres. A jovem bateu as rédeas contra o lombo de Sansão que relutante começou a caminhar, a floresta não ficava tão distante dos fundos do castelo, mas a loura sentiu a parada brusca do animal que se recusava a entrar na floresta.

– De novo não, Sansão. - encorajou o animal.

Kathe permaneceu concentrada na pequena trilha, mas sentia os pelo de todo seu corpo se ouriçarem, mas tentou não ficar pensando, pois logo chegaria aos portões do vilarejo. Precisava chegar antes que os melhores legumes fossem comprados. Mas com o canto do olho percebeu que algo ou alguém a observava e sem piedade bateu as rédeas contra o lombo do cavalo que começou a correr, odiava aquele lugar era muito sombrio e cheio de tristeza.

Assim que deixou o cavalo na entrada da feira com algum menino de rua e lhe deu alguns centavos Kathe entrou na feira.

A multidão que já esperava, os gritos anunciado os preços e mães brigando com as crianças já lhe era familiar.

Ouviu um som de violino e aquilo a intrigou. Empurrando as pessoas e passando pelo meio da multidão com rapidez, Katherine viu um homem.

E soube.

Sua vida mudaria.