Secret Garden ||♥|| PASSANDO POR REFORMULAÇÃO escrita por chaosregia


Capítulo 8
Quando fugimos do caminho, o retorno é certo.




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O dia foi passando. Hinata achou melhor esperar que ficasse a noite antes que pudesse subir para ver o primo. Como de costume se deitou mais cedo e esperou que Tsunade viesse conferir se estava realmente dormindo para que pudesse sair.

Depois que Tsunade fechou a porta e se afastou pelo corredor, Hinata se levantou e vestiu sua capa, e saiu do quarto acompanhada por sua fiel companheira Tamii. Cruzaram os corredores em silêncio até chegarem ao terceiro andar.

Logo estavam em frente à porta do quarto do rapaz. Girou a maçaneta e... Trancada. Será que ele havia trancado a porta para impedi-la de entrar? Tentou mais uma vez, estava mesmo trancada. Chegou a bater levemente na porta para ver se obtinha resposta. Nenhum som vinha de dentro do quarto. Ele devia estar dormindo, ou então a estava ignorando.

O primo ranzinza devia ter se arrependido do pedido da noite passada, ou então, devia ter pedido a ela que voltasse só para fazê-la de tonta para depois zombar da cara dela por ter sido tão imbecil o ponto de acreditar que ele poderia mesmo querer sua amizade.

Resolveu voltar ao seu quarto, bufando de raiva pela atitude infantil e ridícula do rapaz para com ele, que estava sendo apenas gentil, educada e bondosa para com ele desde o início, e em troca só recebia gritos e portas trancadas. Estava se arriscando demais, e aos amigos, por alguém que não merecia sua preocupação.

•••

Na manhã seguinte Tsunade a chamou à cozinha para avisar lhe de que o tio prolongara a viagem e voltaria não em um, mais em três semanas. A notícia a desanimou um pouco, mas logo decidiu não se importar já que a ansiedade anterior pela volta do tio se baseava em apenas duas coisas, uma era pedir ao ele que autorizasse suas visitas ao primo, motivo esse que já não existia mais. Estava mais do que certa de que nunca mais veria o primo, não o procuraria, nem se lembraria da existência do mesmo.

E a segunda era que o tio visse o jardim e pudesse pedir a ele que permitisse a ela cuidar do lugar, e quem sabe até que o desse a mesma. Mas o atraso dele não seria problema, pelo contrário, seria até melhor, pois quando ele chegasse já seria primavera e o jardim já estaria florido, em seu melhor estado.

Agora a única coisa com a qual deveria se preocupar era com as receitas que Sakura a estava ensinando e com as plantinhas novas que Sai trazia quase todos os dias para plantarem no jardim. Tudo estava correndo perfeitamente bem. Já ao se pegava mais pensado no estado de saúde do primo e até Tsunade já não a vigiava mais. Parecia estar tranquila e despreocupada com qualquer possível aproximação de Hinata com o terceiro andar.

Os dias foram passando, quase uma semana já havia corrido tão depressa que nem havia percebido. Logo seria primavera e o jardim floresceria para sua completa felicidade. Nada podia dar errado, nada atrapalharia sua paz interior naquele momento quase perfeito de sua vida.

•••

- Mais alguns dias para a primavera. – Suspirou.

- Tenho uma surpresa para você Hinata-chan.

- O que é Sai?

- Só te darei quando a primavera chegar.

- Não seja mal, me diga, sou uma pessoa muito ansiosa. Não faça isso comigo.

- Pois vai ter de lidar com essa ansiedade e esperar até o primeiro dia de primavera. Irei até a mansão te buscar de tardinha para vermos o jardim e só então te darei a surpresa.

- De tardinha? Mas queria vir cedinho aqui para ver o jardim.

- Não, não, não. Prometa-me que vai me esperar.

- Mas Sai...

- Por favor.

- Ta, ta. Mas tem que ser logo depois do almoço.

- Ok.

- Então vamos terminar com isso logo porque prometi ajudar a Sakura-chan com o jantar.

•••

Era sábado e já estava bem de madrugada quando Hinata despertou de seu sono cansado com os gritos e uivos que a muito não ouvia ecoar pela mansão. Era ele, seu primo. Aquele garoto insuportável estava fazendo escândalo novamente, provavelmente tentando chamar a atenção dela para fazê-la de boba outra vez. Mas ele não conseguiria, não dessa vez. Permaneceria ali, deitada, inerte, ignorando cada grito dele até que ele se cansasse e ela pudesse pegar no sono novamente.

Os olhos estavam pesados, mas toda vez que ela tentava os fechar um novo grito a fazia despertar. A chuva lá fora batia forte contra os vitrais da janela, não incomodavam, pelo contrário, só davam mais sono ainda. Quando o nível de estresse foi o suficiente para fazê-la esquecer do orgulho, deixou o quarto rumo ao terceiro andar para dar fim a toda àquela barulheira infernal.

Tsunade havia avisado que passaria a noite fora, portanto ela não seria problema. Poderia fazer um escândalo, dar uma surra naquele infeliz para dar-lhe um bom e real motivo para gritar que ninguém ouviria, ninguém a impediria. Arrombaria a porta se fosse preciso.

Ao ficar de frente com quarto do primo, pôs-se a esmurrar a porta com toda a força que conseguiu juntar. Os gritos foram se cessando aos poucos, mas a porta permaneceu fechada.

- DÁ PRA CALAR ESSA BOCA? TEM GENTE QUERENDO DORMIR AQUI. ASSIM VOCÊ VAI ACORDAR TODO MUNDO. – Mas a única pessoa que parecia incomodada com aquilo era, afinal não havia mais ninguém ali essa noite, só ela e o primo chato e barulhento é que estavam na mansão.

- Hi-Hinata?

- É. SOU EU MESMO. COMO SE VOCÊ JÁ NÃO SOUBESSE. E SE VOCÊ NÃO CALAR ESSA BOCA AGORA VOU ARROMBAR ESSA PORTA E SILENCIÁ-LO A MINHA MANEIRA.

- Como assim? Eu não sabia que era você.

- HAHA. COMO SE VOCÊ NÃO ESTIVESSE TENTANDO CHAMAR MINHA ATENÇÃO.

- NÃO ESTAVA NÃO.

- VOCÊ É PIOR DO QUE UMA CRIANÇA. NEM UM BEBÊ É MAIS BIRRENTO QUE VOCÊ.

- NÃO ESTAVA FAZENDO BIRRA. ESTOU DOENTE. ESTOU GRITANDO DE DOR E A CULPA É SUA.

- É SÓ O QUE FALTAVA. AGORA A CULPA POR VOCÊ ESTAR DOENTE É MINHA.

- VOCÊ... Você não veio mais me ver.

- LÓGICO! OU VOCÊ ACHA QUE EU GOSTO DE FALAR COM PORTAS TRANCADAS. AH, FAÇA-ME O FAVOR. VOU ME DEITAR E SE VOCÊ CONTINUAR GRITANDO EU VOLTO E PONHO ESSA PORTA A BAIXO E TE DOU UMA BELA SURRA.

- Como se você pudesse. – Hinata jurou ouvir uma risadinha vindo de dentro do quarto. Aquilo só a deixou ainda mais nervosa.

- QUER SABER, NÃO VOU PERDER MEU TEMPO COM VOCÊ. – Foi saindo em direção a escadaria até ouvir o apelo do primo.

- ESPERE! POR FAVOR, NÃO VÁ.

- O QUE VOCÊ QUER?

- Você.

- O-Oque?

- Quer dizer, sua companhia. Por favor, fique.

- Mas...

- Por favor, me perdoe se te deixei zangada, fique. – Ela não podia recusar, não queria recusar. Levou a mão à maçaneta novamente, ainda estava trancada.

- Está me fazendo de idiota? A porta está trancada.

- Mas eu não a tranquei.

- NÃO ZOMBE DE MIM.

- NÃO ESTOU... Não estou zombando.

- Então porque não abre a porta?

- Porque eu não posso. Não posso andar.

- Aconteceu alguma coisa com você? – Para ele não conseguir andar, algo devia ter lhe acontecido, se preocupou. Será que o estado do primo havia piorado, ou só estava fazendo fita mesmo.

- Pensei que fosse mais esperta, não percebeu ainda, eu não posso andar, sou um paralítico. – Aquilo foi a gota que faltava para Hinata se sentir afogada em uma incomensurável culpa. Agora tudo fazia sentido, ele não podia andar, mesmo que quisesse. Tsunade devia tê-lo trancado para que ela não pudesse entrar, pois já suspeitava das visitas dela, como Sakura havia lhe dito.

- D-Des-Desculpa. Eu não...

- Esquece. Não importa. Não quero que sinta pena de mim.

- Não sinto. Só estava me sentindo culpada.

- Culpada?

- Vim aqui há alguns dias como havia lhe prometido, mas a porta estava trancada. Eu te chamei, mas você devia estar dormindo. Fiquei com raiva, achei que tinha feito aquilo de propósito só pra rir de mim.

- Vo-Você veio?

- Vim. Mas como disse...

- Não importa agora você está aqui de novo.

- É, mas não posso entrar. – Tentou novamente abrir a porta sem sucesso.

- Você não sabe onde Tsunade guarda as chaves?

- Não. – Pensou por alguns instantes e se lembrou de algo que poderia ajudá-los. – Mas sei de alguém que sabe. Espere-me, volto logo.

- Aonde você vai?

- Vou buscar ajuda?

- Ajud... Mas Hinata...

- Volto já. – Desceu as escadas como um relâmpago rumo a casa da única que poderia ajudá-la.

•••

- SAKURA-CHAN. – Batendo na porta com força. – SAKURA-CHAN, SOU EU, HINATA. ABRA POR FAVOR. – A porta se abriu e um rapaz surgiu na frente de Hinata sonolento, era Sai. - Sai-kun, Sakura-chan está?

- Hi-Hinata? O que est...

- Onde está a Sakura-chan? – Adentrou a casa. Estava completamente encharcada devido a forte chuva que pegara no caminho até ali.

- É claro. São três da madrugada, onde mais ela estaria?

- Chame-a, por favor.

- Por que todo esse desespero? Aconteceu alguma coisa?

- Chame-a, por favor, Sai.

- Ta. – Ele deixou a sala, voltou minutos depois acompanhado pela irmã que bocejava e esfregava os olhos sem entender ainda o que estava acontecendo.

- Hinata-chan? – Levou um susto ao ver de quem se tratava. – O que...

- Sabe onde Tsunade guarda as chaves?

- O-O que?

- Me diga, por favor.

- Mas pra que você quer as chaves...

- Preciso vê-lo, meu primo.

- Hinata eu já te avisei...

- Não se intrometa Sai. – Esbravejou Hinata, nunca agira assim com o amigo, mas a pressa e a ansiedade exigiam que o fizesse.

- Mas Hinata...

- Por favor, Sakura-chan. Me diga.

- Se Tsunade pegar você... – Tentou mais uma vez tirar a ideia da cabeça da amiga, mas ela parecia decidida demais para ouvi-lo.

- Tsunade não está em casa Sai, e mesmo que tivesse não poderia culpá-los, Sakura está de folga, não está na mansão para me acobertar. Se ela me pegar direi que agi sozinha.

- Você não entende...

- Sai! – E dessa vez quem o cortou foi a irmã, Sakura.

- Mas Sakura...

- Estão atrás da porta da cozinha, mas a chave que você precisa não fica lá. Vi Tsunade guardar uma chave outro dia no forno, há um tijolo solto lá, como se fosse um fundo falso, não sei se é a certa, mas...

- Muito obrigada Sakura-chan. – Atravessou a porta correndo em direção a mansão.

- HINATAAA.

- Não Sai.

- Mas Sakura, se Tsunade a pega nós dois...

- Você não está preocupado com nossos empregos Sai. Seja sincero consigo mesmo.

- Claro que estou, mas não é só com isso. Ela está se expondo demais indo até o quarto de um homem a noite e...

- Ele não fez nenhum mal a ela até hoje.

- Mas e se fizer?

- Não vai Sai.

- Mas Sakura...

- Isso que está fazendo, é ciúme não é, irmão?

- Claro que não, eu...

- Não pode evitar que ela o veja, se gosta dela, lute. Não vá contra ela, ajude-a e conquiste sua admiração. Ela é uma ótima pessoa, não vai corresponder a você se ficar contra ela.

•••

Ela estava demorando, devia ter desistido de ir vê-lo. Também, porque alguém como ela perderia tempo com um garoto chato, birrento e doente como ele? Ela devia ter uma vida maravilhosa fora dali. Devia ter uma centena de amigos muito melhores do que ele, e com certeza saudáveis.

Devia passear com eles, sair e se divertir, correr por ai, pois ela, o que não era o caso dele, podia andar, não vivia a base de remédios e sopas de água-suja só esperando o momento certo de sua morte. Não, ela não era solitária como ele, não passava noite e dia trancada num quarto olhando por mesmo teto, pras mesmas paredes, pras mesmas janelas fechadas com longas cortinas vinho bloqueando a entrada da luz do sol.

Estava certo de que ela não voltaria e, mesmo necessitando tanto da companhia dela, não a culparia por isso. Não podia obrigar alguém tão gentil e bondosa a ficar ao lado de um turrão adoentado como ele. Não a ela, uma moça cheia de vida que devia ter até namorado, que devia ser tão saudável quanto ele jamais seria.

Será mesmo que ela tinha um pretendente? Claro, alguém tão bonita como ela. Não pode deixar de notar nas últimas visitas o quão bela era aquela garota. Não conhecia muitas mulheres, na verdade nenhuma além de Tsunade, e agora da prima, que era realmente estonteante. Seus lindos cabelos negros azulados, sua pele lisa e macia, branquinha, não quase albina, como a dele. O corpo dela com curvas bem feitas e, como qualquer outro homem não deixaria de notar, seios fartos.

Mas o que mais lhe chamava atenção nela eram seus orbes perolados, orbes capazes de prender a atenção do mais relutante ser, que povoavam seus sonhos desde a primeira vez que os vira. Aqueles olhos eram realmente hipnotizantes.

Foi então que se atentou para um fato que ainda não havia percebido, estava pensando nela, pensando muito nela, e isso não era bom. Não era bom porque não podia se apegar nas pessoas, não podia se apegar a ninguém porque de qualquer forma, mais cedo ou mais tarde, todos o abandonavam. Não podia nutrir esperanças, não podia sentir afeto por ela, ela não seria uma exceção, acabaria o deixando sozinho de novo.

Porém, Hinata foi a única pessoa em mais de dez anos que insistira em manter contato com ele, prometera voltar a vê-lo e retornara, trouxera até biscoitos pra ele, cuidara dele mesmo depois de tê-la insultado. Ela era a única em quem podia confiar, a única em quem ele queria se apegar. E queria até mais do que ele próprio imaginava querer.

•••


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