Secret Garden ||♥|| PASSANDO POR REFORMULAÇÃO escrita por chaosregia


Capítulo 7
Palavras gentis valem mais do que ouro.




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– O-Obri... – A palavra relutava em sair. Não era nada comum a ele agradecer a alguém por qualquer coisa que fosse. Pelo contrário, sempre humilhava, maltratava, ignorava, ofendia. Esse era ele, criando sempre um escudo de defesa em relação às outras pessoas, com medo de que alguém se aproximasse, o conquistasse, o fizesse se sentir melhor, e depois o abandonasse como a mãe morta e o pai que jamais votara a vê-lo, mesmo morando na mesma casa. – Obrigada!

O agradecimento saiu de forma doce, sincera, mas com evidente perplexidade, incompreensão, visto que ele ainda não havia absorvido toda aquela gentileza e preocupação que ela lhe oferecia de bom grado, mesmo sabendo que ele lhe maltrataria, ou expulsaria novamente de seu quarto pedindo, ordenando, que ela não voltasse mais. Quando, o que ele realmente queria era tê-la por perto, vê-la, ouvir sua voz, mesmo que aos gritos, aproveitando-se de sua presença, de sua beleza suave e ao mesmo tempo entorpecedora, que o faziam se sentir tão bem quanto jamais se sentira.

– N-Não precisa, não precisa agradecer. – O nervosismo, o constrangimento, a incredulidade perante a doçura com a qual aquela sentença fora preferida pelo rapaz que sempre lhe fora tão mal educado, a fizeram gaguejar, sentindo as bochechas esquentarem e desviando o olhar para o chão, para não encontrar novamente os orbes azuis vidrados em cada centímetro de seu rosto, como se buscasse uma resposta, uma explicação congruente às suas atitudes.

Fez-se um minuto de silencio. O rapaz mantinha os olhos fixos no rosto tímido que insistia em fugir de seu olhar. A garota permaneceu a fitar o chão até ganhar coragem suficiente para se levantar da cama e...

– Fique! – Segurou o braço da garota impedindo assim que ela fugisse, que ela o deixasse novamente, que demorasse mais três dias até que ele pudesse reencontrá-la, ou que nunca mais voltasse naquele quarto outra vez. Segurou com firmeza, mas sem machucá-la, de forma gentil para não ofendê-la, para não assustá-la.

–... – Ela não soube o que dizer. O primo cruel, deseducado, que a expulsara com tanta fúria a pouco de seu quarto, agora a pedia para ficar.

– Eu imploro.

–... – Não pedia. Implorava?

– Por favor. – Nem ele mesmo acreditava naquilo que acabara de sair de sua boca. Ele não só queria que ela ficasse, pedia de forma direta, implorava por mais alguns instantes em sua presença, ouvindo sua voz, sorvendo lentamente a gentileza de suas ações como um remédio que tomava desesperadamente, o único que fazia algum efeito em seu corpo, total efeito, não só no corpo como na alma.

– Eu... – Foi só o que conseguiu dizer antes de ouvir gritos que pareciam vir de lá de baixo, do segundo andar da mansão. As vozes exaltadas ecoavam pelos corredores, pareciam estar se aproximando, subindo para o terceiro andar. - Preciso ir. – Soltou-se da mão do rapaz que mesmo estando desolado deixou que ela partisse. – Mas, eu prometo voltar... Assim que eu puder. – Atravessou a porta do quarto rapidamente, acompanhada por Tamii dessa vez, fechando-a em seguida e, deixando lá dentro, um sorriso animado e orbes azuis brilhantes a espera de um novo encontro entre os dois.

•••

– TSUNADE-SAMA! A SENHORA, A SENHORA PRECISA...

– ESTOU COM PRESA MENINA. NÃO TENHO TEMPO PARA ISSO AGORA. NÃO ME SIGA. VOLTE PARA COZINHA!

– MAS, MAS TSUNADE-SAMA, EU...

– OLHA AQUI! – Virou-se raivosa para a garota de cabelos róseos que fazia o possível para manter a mulher no andar de baixo, preocupada com a amiga, que sabia estar passeando, não só hoje, mas constantemente pelo terceiro andar, proibido de forma expressa por Tsunade desde que a pegara bisbilhotando na escadaria que dava para lá. – VOU TE DIZER SÓ UMA COISA. SE NÃO ME DEIXAR SUBIR AGORA, ESTARÁ NO OLHO DA RUA SUA INFELIZ. VOLTE PARA A COZINHA E NÃO ME DIRIJA UMA SÓ PALAVRA ATÉ AMANHÃ. – Tomando fôlego. – E SE EU DESCOBRIR... – Tentou diminuir, baixar o tom da voz. – Se eu descobrir que você está acobertando qualquer atitude, qualquer comportamento abominável, errôneo ou proibido por mim, vou fazer questão de acabar não só com você, mas com seu irmãozinho e com o novo emprego que Minato-sama conseguiu para ele também, entendeu?

– S-Sim senhora. – Não teve alternativa a não ser concordar com a furiosa governanta. Deixou-a em paz e correu para a cozinha chorando, com medo de que ela cumprisse suas ameaças.

•••

Quando ouviu os gritos de Tsunade, procurou imediatamente um lugar onde pudesse se esconder, pois não poderia passar por ela, nem dava mais tempo de fugir sem ser vista. Entrou em outro quarto próximo ao do primo. Fechou a porta e ficou de orelha colada na fechadura para ouvir a hora exata que Tsunade passasse por ali, para que ela pudesse escapar e voltar para seu quarto como se nada tivesse acontecido.

Os passos foram ganhando o corredor, pareciam apressados, preocupados. Ela já devia suspeitar de alguma coisa, a outra voz lá em baixo, com a qual ela gritava exaltada, devia ser Sakura tentando impedi-la de subir e pegar Hinata no flagra. Sentia-se culpada agora, se Tsunade a pegasse não só ela, mas Sakura também estaria em sérios apuros e, muito provavelmente perderia o emprego. E como ela já conhecia bem a situação da amiga, a difícil vida que ela e o irmão, Sai, possuíam, não poderia deixar que isso acontecesse.

Esperou pelo som da porta do quarto do primo se abrindo, e fechando logo em seguida. Abriu uma pequena fresta na porta em que estava escondida e, ao ver que o caminho estava livre, correu o mais rápido que podia rumo à escadaria, e logo de volta a seu quarto, entrando e trancando a porta em seguida.

•••

– Então você subiu lá de novo?

– Precisava procurar a Tamii. – Afagou as costas da gata, que ronronou satisfeita enquanto se aconchegava melhor no colo da dona.

– Mas, e Tsunade-sama não desconfia de nada?

– Creio que não. Ela deve pensar que conseguiu me assustar naquela noite em que me pegou na escadaria.

– Não acho que seja prudente você continuar indo até lá.

– Não se preocupe Sai. Ela não vai me pegar.

– E o seu primo? Ele é legal?

– Legal não é a palavra que melhor o definiria. Diria que ele é muito solitário, por isso às vezes se comporta como um velho rabugento, mas acho que depois de ontem tivemos algum progresso.

– Como assim “tivemos algum progresso”? – Franziu o cenho. Pra ser bem sincero, Sai não estava gostando nada da proximidade repentina de Hinata com o tal primo.

– Bem, no começo ele não ia muito com a minha cara, quer dizer, nem sei se ele vai com a minha cara agora, mas depois de ontem à noite, acho que finalmente poderemos nos aproximar. Ele até pediu que eu voltasse para vê-lo. – Sorriu.

– “Depois de ontem à noite”? O que aconteceu ontem à noite? Ele fez alguma coisa com você? Ele te fez mal Hinata? – E pela primeira vez Sai se descontrolou, segurou o braço da garota imprimindo lhe um pouco de força, mas sem machucá-la.

– Como assim Sai? Ele não me fez nada. O que está querendo dizer? – Se soltando da mão firme do rapaz.

– Hinata, me ouça. Não é prudente uma moça inocente como você ficar visitando o quarto de um homem todas as noites.

– O que está insinuando Sai? – E dessa vez quem franziu o cenho, incrédula com os comentários cheios de dúvida do amigo, foi Hinata.

– Não estou insinuando, estou sendo claro Hinata. Uma moça não deve frequentar o quarto de um homem adulto sozinha, muito menos durante a noite.

– Que mal a em visitar meu primo doente? – Levantou-se num pulo, assustando Tamii, que pulou para o chão e se escondeu em baixo da mesa. - Só o visito durante a noite porque é o único período em que Tsunade não me vigia, às vezes nem fica em casa. Por isso vou vê-lo à noite, para não ser pega.

– Eu sei de suas boas intenções Hinata. Não estou duvidando de você. É exatamente pelo fato de te conhecer, de saber o quão sem malícia você é, é que estou te alertando, fique longe desse rapaz.

– Não estou entendendo onde você quer chegar Sai. Não entendo o porquê de tanta preocupação.

– Hinata, por favor. Faça o que estou pedindo. Não é só para o seu bem que estou falando, se Tsunade-sama te pegar, já parou para pensar no que será de minha irmã?

– Sakura-chan, eu jamais faria nada para prejudicá-la...

– Mas Tsunade-sama não hesitara em culpá-la se descobrir de suas visitas a seu primo. E eu então, serei mandado embora de mais um emprego, pois Tsunade não irá se contentar em mandar apenas minha irmã embora, vai se livrar da família inteira de uma vez.

– Sai, eu não quero...

– Mas vai acontecer. Uma hora ela vai te pegar e quem vai pagar por tudo seremos eu e Sakura. Você sequer pensou que seu tio pode ter ordenado a Tsunade-sama que não a deixasse se aproximar de seu primo? E se forem ordens dele? Se isso for verdade e você desobedecê-lo...

– Ele vai...

– Te mandar embora.

Fez-se um minuto de silêncio. Hinata não queria admitir, mas Sai estava certo. Ela estava se arriscando demais com tudo aquilo, acabaria no olho da rua, sozinha novamente. Mas isso não a preocupava tanto quanto aos destinos de Sakura e Sai.

Se Tsunade os mandasse embora, ela já conhecia a situação financeira dos amigos, sabia quão pobres eles eram, não podia deixar que isso acontecesse com eles. Mas por outro lado, havia prometido ao primo que voltaria a vê-lo, não podia simplesmente sumir, não agora. Precisava pelo menos vê-lo uma última vez para se despedir definitivamente.

– Prometa-me que não vai mais subir até lá.

– Prometo. – Saiu em direção a porta do jardim acompanhada por Tamii. – Assim que eu o vir pela última vez, só pra me despedir, ok?!

– Hinata...

•••

– Tome todo o xarope Naruto-sama. Vai se sentir bem melhor. – Estendeu a colher, aproximando-a dos lábios do rapaz.

– Você acha mesmo que essa porcaria vai me curar?

– O, o que?

– Você é mesmo um médico, Jiraya-sama?

– Ora essa rapaz. Claro que sou um médico. Sou o médico da família há quase vinte anos.

– Então me responda uma coisa... – Foi se aproximando do médico.

– Sim. – Repetiu o gesto do rapaz.

– PORQUE CARGAS D’ÁGUA EU AINDA NÃO ESTOU CURADO? – Segurou o médico pelo colarinho.

– Hei, a-acalme-se meu rapaz. O tratamento é longo. Não se pode curar alguém da noite para o dia, a medicina ainda não avançou tanto assim meu jovem. – Se soltando das mãos furiosas do rapaz.

– O tratamento é longo? O TRATAMENTO É LONGO? EU QUE O DIGA NÃO É?! FAZ MAIS DE DEZ ANOS QUE ESTOU NESSA CAMA. NÃO POSSO ANDAR, NÃO POSSO VIVER COMO UMA PESSOA NORMAL, JÁ ESTOU SENTINDO MINHAS COSTAS REAGIREM AO SEDENTARISMO. LOGO ACABAREI FICANDO CORCUNDA. PRECISO ME LEVANTAR, PRECISO VIVER.

– Meu rapaz, acalme-se. Você não pode ficar tão agitado, senão...

– NÃO ME DIGA O QUE FAZER SEU DOUTORZINHO DE MEIA PATAC... Cof, cof. SEU... Cof, cof, cof. – E uma incontrolável crise de tosse acabou o dominando.

– Viu?! Eu disse. Não deve...

– Algum problema Jiraya-sama. – Tsunade adentrou o quarto com uma bandeja nas mãos. Havia um prato de sopa e um copo de água sobre ela, a única coisa que ele pode comer nos últimos dez anos de sua vida.

– O PROBLEMA É QUE... Cof, cof, cof. – Tentou se acalmar para conseguir assim controlar a tosse. – O problema é que estou cansado disso. Não vou tomar esse remédio, não quero comer essa comida nojenta. Essa sopa tem gosto e cheiro de água suja, só me causa mais náuseas do que as que já costumo ter. Não quero nada disso.

– Mas se não tomar seu remédio e comer a comida ficara ainda mais doente do que já é.

– Há dez anos eu os faço e não vejo melhora.

– Pois se não continuar com seus hábitos vai acabar...

– Morto? Já morri a muito tempo.

– Não diga isso. – Se aproximou da cama do rapaz, sentando-se na beirada da mesma. – Sabe que você pra mim é como um filho que nunca tive Naruto. Não pode dizer isso, me magoa ouvi-lo falar assim. – Colocou a bandeja sobre o colo do rapaz. – Agora coma antes que esfrie.

– Você... não... é... A MINHA MÃE! – Arremessou a bandeja contra a parede. Fez-se um minuto de silêncio até que Tsunade se levantou e saiu em direção a porta dizendo.

– Não posso te ajudar se você não o quer. Vai acabar morrendo como sua mãe. – Saiu acompanhada por Jiraya, que fechou a porta ao passar.

Aquelas palavras foram suficientes para fazê-lo chorar como a muito não fazia. As lembranças da mãe, dos dias felizes, do pai que antes o amava e sempre estava por perto, da vida normal que vivera antes do confinamento, tudo aquilo veio à tona de uma vez o fazendo se amaldiçoar por não poder sair daquela cama, daquele quarto, e retomar a vida eu ele tinha quando era apenas um garotinho.

•••

– Sakura-chan, sabe se a Tsunade está em casa?

– Está sim. E está lá em cima com o Dr. Jiraya.

– Oh, mas que lástima. Achei que ela passaria o dia fora.

– Ela está cada vez mais atenta Hinata-chan. Não desgruda mais os olhos de mim. Passou a manhã toda de vigia no terceiro andar.

– Acha que ela pode estar desconfiada?

– Não só acho como tenho certeza. O fato de eu tê-la impedido ontem a noite de subir só a fez deixar ainda mais alerta. Ela até declarou com todas as letras que me mandará embora caso eu esteja te acobertando. Não queria ter que te dizer isso Hinata, mas estou com medo de que ela nos pegue.

– Não se preocupe Sakura. Não vou deixar que isso aconteça. Vou visitar meu primo hoje, pela última vez e vou dizer que não posso vê-lo mais. Não vou deixar que Tsunade a mande embora, nem que prejudique Sai em seu novo emprego.

– Me desculpe Hinata, não queria ter que te pedir uma coisa dessas. Sei que está tentando ajudar seu primo, e não quero ser a culpada por...

– Tudo bem Sakura. Você não tem culpa de nada. Quando meu tio voltar vou pedir para ele que me autorize a ver o meu primo e ai você não correrá risco nenhum. Só precisarei ficar mais alguns dias sem vê-lo, tenho certeza que meu tio, Minato-sama, não será contra a minha ajuda ao filho dele.

– Espero que sim Hinata-chan. Suas intenções são muito boas, não gostaria de ser um empecilho a você.

– Não se preocupe Sakura-chan. Tudo vai ficar bem. – Deixou a cozinha sorridente.

•••

– Você percebeu como ele está diferente Jiraya?

– Diferente? Estava temperamental e doente como sempre.

– Não Jiraya, havia algo de diferente naqueles olhos.

– Por que esta dizendo isso minha pomb... Tsunade?

– Não sei. Há algo nele que me está incomodando. Ele nunca se recusou aos remédios antes, sequer questionava o tratamento.

– Ele só deve estar tendo uma crise. É normal se sentir como ele está se sentindo, afinal são mais de dez anos ali trancado. Era de se esperar que ele nos questionasse um dia, não acha?

– Não é com isso que estou preocupada. O que me preocupa é a época em que isso veio a acontecer, logo agora que aquela menina apareceu aqui.

– Acha que ela...

– Precisamos ficar de olho nela. Não podemos deixar que eles se encontrem. Se ela se envolver estaremos perdidos.

– Não acho que ela seja capaz de...

– Nunca subestime as pessoas Jiraya. Pensei que você já tivesse aprendido a lição depois do problema que tivemos para nos livrar de Kushina. Independente da presença dela, precisamos nos concentrar no plano e continuar com o remédio.

– Mas ele já disse que não vai mais...

– Se ele não tomar por bem, vamos obrigá-lo a tomar.

– Como?

– Colocaremos na comida dele.

– Mas ele já disse que não vai mais comer...

– Melhor. Sem comida ele morrerá mais depressa.

•••


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