Secret Garden ||♥|| PASSANDO POR REFORMULAÇÃO escrita por chaosregia


Capítulo 4
Um coração bruto quebraria com lágrimas sinceras?




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Naquela noite Hinata deitou depressa, pois a exaustão de um dia longo de trabalho era evidente. Sentia dores no corpo todo por carregar sacos pesados e capinar o jardim, além do tornozelo que ainda doida devido ao belo tombo que tomara ao se enroscar numa erva daninha.

Mas apesar dos pesares tinha sido um dia mágico. Aquele jardim era mágico. Despertava nela uma imensa sensação de felicidade, e ficava feliz por poder dividi-la com um rapaz tão gentil e prestativo como Sai. Ele era o melhor amigo que tivera em toda a sua vida, é claro, tinha Sakura também, mas Sai era mais especial. Ele a fazia se sentir muito feliz e compartilhavam os melhores momentos daquela nova vida juntos.

Era realmente uma pena que ele não a pudesse ajudar amanhã, a folga era de só um dia. Porém, nem ela mesma poderia fazê-lo já que um temporal estava se armando ali e, o dia provavelmente estaria chuvoso e congelante.

Depois de um bom banho e de dar o leite e biscoitos de Tamii, Hinata se deitou e dormiu num instante.

•••

Corria pela chuva fria, cortante, chorando desesperadamente. Seus olhos ardiam e sua cabeça doía. Sentiu o corpo pesar e caiu de joelhos no chão. Olhando o horizonte escuro e vazio, a dor e a angústia cresciam e latejavam dentro do peito. Das sombras eis que surge a imagem desfocada dos pais, estavam a alguns metros de distância dela. Se aguentasse levantar poderia alcançá-los com apenas alguns passo.

O vento uivava forte, uivos de dor que pareciam estar saindo dela mesma. A imagem dos pais foi se afastando. Ela tentou levantar, mas os joelhos não aguentaram sustentá-la e bateram com força contra o chão. Os uivos agora eram gritos, altos, fortes, quase nítidos. Aos poucos a imagem foi sumindo, os pais desaparecendo e uma luz foi se acendendo. Estendeu ainda o braço e gritou por eles, mas eles já haviam partido. Fechou os olhos e...

- NÃOOOO!

Hinata abriu os olhos, era um sonho não era real. Seus pais não estavam ali. Não havia nada ali além de seu quarto, Tamii dormindo no chão perto do tapete e ela, chorando pela intensidade do que acabara de presenciar em seu subconsciente.

Apertou a mão contra o peito enquanto se recuperava do sonho. Já havia acabado, estava tudo bem agora. Mas, para sua surpresa algo ainda podia ser ouvido com a mesma intensidade de antes, os uivos do vento, os gritos de dor. Era aquele som que escutara certa noite, antes de encontrar com Tsunade a caminho do terceiro andar.

Levantou da cama vestindo seu casaco, tomou o candelabro nas mãos e deixou o quarto. A chuva batia forte contra as janelas fazendo um barulho forte e assustador. Os corredores escuros e frios como sempre. Os uivos se intensificavam à medida que se aproximava, como da última vez em que os ouvira. A única diferença é que dessa vez Tsunade não estava ali para impedi-la de se aproximar do andar misterioso.

•••

- Você acha que eu deveria... – Tsunade se levantou da cama enrolada no lençol enquanto Jiraya fumava seu charuto fitando o teto despreocupado.

- Esqueça isso. Está chovendo, uma tremenda tempestade. Ela não vai ouvir. Além disso, você mesma foi conferir se ela estava dormindo não foi? Não há perigo algum.

- Mas eu a vi bisbilhotando os corredores naquela noite. E se ela resolver ir até lá de novo? Não podemos deixar que ela...

- Relaxe minha pombinha. Ela está dormindo, está frio e a tempestade abafa o som. Ela não vai desconfiar.

- Você me chamou do que? – Fitou-o extremamente zangada.

- Como? – Sem entender a reação da mulher.

- NUNCA MAIS ME CHAME DISSO! – Jogou um travesseiro na cara do homem que desequilibrou e caiu da cama. – Imbecil.

- De-Desculpa minha po-pom... – Ela o ameaçou novamente com outro travesseiro. - Tsunade.

•••

Lá estava ela. A escadaria que dava para o terceiro andar. Subiu depressa os degraus sem olhar para trás. O som agora era perfeitamente audível, eram uivos de dor, gritos de um homem, e que parecia estar muito ferido, enfermo. Mas não parecia a voz de seu tio. Será que havia outro morador na casa?

Mais alguns passos e estava frente a frente com a porta de onde os gemidos, uivos e gritos saiam. Estava com medo do que poderia encontrar ali, mas sua curiosidade e preocupação a impulsionaram a tocar na maçaneta e a girá-la devagar, se abrir ainda a porta. Para seu espanto o silêncio foi imediato, como se o movimento de suas mãos tivesse desligado a fonte de todo aquele barulho.

- QUEM ESTÁ AI? – Uma voz forte e furiosa surgiu pela fresta da porta. Quem quer que estivesse ali não estava nada feliz por receber visitas. – VÁ EMBORA. NÃO QUERO VER NINGUÉM. VÁ EMBORA AGORA.

Hinata se afastou da porta rapidamente, pensou em sair correndo, mas não teve coragem nem de se mexer novamente. A voz se calou. O ventou empurrou a porta alguns centímetros, Hinata voltou a se aproximar e completou o gesto abrindo a mesma. O lugar estava escuro demais, e a única vela que trouxera consigo, havia apagado na mesma rajada de vento que abrira a porta há pouco.

- O Q-QUE VOCÊ QUER? JÁ DISSE QUE NÃO QUERO VER NINGUÉM.

A voz não estava mais tanto zangada, estava mais preocupada, assustada, como a própria Hinata estava no início. Mas só no inicio. Agora a curiosidade falava mais alto. Avançou mais alguns passos adentrando o quarto. Um relâmpago iluminou os céus e o quarto escuro revelando brevemente uma cama de casal alguns passos à frente. Tinha alguém ali, deitado, mas a luz fora rápida demais e Hinata não conseguira o ver.

- Qu-Quem é vo-você? – A voz questionou. Hinata não respondeu. Um, dois, três relâmpagos seguidos e dessa vez Hinata pode ver com mais clareza o ocupante da cama. Era um rapaz, seus cabelos pareciam ser loiros, não dava para se saber ao certo, e estavam despenteados, bem bagunçados. Ele a olhava extremamente surpreso e tão curioso quanto ela. Pode ver até o movimento que ele tentara fazer na direção dela, e isso a assustou. – Quem é você? – Perguntou novamente, e novamente ela não respondeu. – RESPONDA! – Ele voltou a se enfurecer e o quarto voltou a ficar escuro. Assustada com o grito, Hinata correu para a porta e a bateu fugindo para as escadas que a levariam de volta ao segundo andar.

•••

Na manhã seguinte Sakura não veio trabalhar, ela estava doente e por isso outra viera a substituir. Não era alguém com quem Hinata pudesse conversar ou confidenciar o que acontecera na noite passada, pois além de ser bem mais velha que Hinata, a mulher não parecia nada amigável ou aberta ao diálogo. Resolveu, pois então ignorar simplesmente o fato, pelo menos até que Sakura voltasse e pudessem conversar.

Na hora do almoço, Sai apareceu por lá. Ele não trabalharia o resto do dia e já que o tempo estava mais aberto apesar do frio, resolveram ir até o jardim. O rapaz trouxera consigo um balde cheio de peixinhos vivos nadando no pequeno reservatório de água temporário ali existente.

Correram para o jardim para depositar os novos moradores no lago, pois Sai garantira que eles sobreviveriam apesar do frio até a última semana do inverno, como os girinos que descobrira tarde passada.

Passaram o resto da tarde lá, limpando mais uma parte do terreno e arando a terra para logo poderem plantas as novas mudas que o próprio Sai conseguira produzir com seus conhecimentos sobre jardinagem. Como ali não nevava, só fazia muito frio e chovia, não teriam problema se plantassem as novas mudas antes do fim da estação.

•••

- Sai-kun! – Hinata se aproximou do amigo que estava em cima de uma árvore podando um galho que estava prestes a cair.

- O que? – Voltou sua atenção a garota.

- Você conhece bem meu tio e a mansão não é?

- Sim. Eu conheço quase tudo aqui da região. Qualquer coisa que quiser saber é só me perguntar. – Sorriu.

- Você conhece Tsunade-sama e o tal Dr. Jiraya?

- Conheço sim. Tsunade-sama trabalha para seu tio desde que ele se casou com a falecida, Kushina-sama. E Jiraya-sama é o médico da região. Foi ele quem tratou de meu pai antes de ele morrer. – Sua face entristeceu-se ao tocar nesse assunto.

- Sinto muito.

- Não tem problema. – Forçou um sorriso para tranquilizá-la.

- Bem... Além do meu tio, Tsunade-sama e Jiraya-sama, sua irmã, Sakura-chan, e eu, você sabe alguma coisa sobre outro possível morador da mansão? Quer dizer, você conhece algum homem que possa estar morando lá?

- Outro homem? – Erguendo as sobrancelhas. – Talvez... Sim. O filho de Minato-sama.

- Filho? – Então estava explicado. O rapaz que vira na noite passada era o filho de seu tio, seu primo. Primo? Mas porque então ninguém havia lhe dito? Porque não fora apresentada a ele? E, o mais intrigante, porque Tsunade a tentar impedir de subir ao terceiro andar? Poderia ela estar tentando evitar que conhecesse o próprio primo? Mas porque ela faria isso?

- Hinata-chan. – Chamou a atenção da garota que olhava para o horizonte perdida em seus pensamentos, completamente desligada.

- Desculpe-me. É que... Você tem certeza que meu tio tem um filho?

- Claro. Todos da vila sabem disso. Só que ninguém sabia que ele estava vivo. Você o conheceu? Ele mora na mansão?

- O encontrei noite passada, se é que o homem que vi era o filho de Minato-sama. Ele parecia estar de cama e gritou a noite toda, como se estivesse sentindo muita dor.

- Dizem que ele é muito doente, desde que Kushina-sama morreu ninguém mais o viu. Ele adoeceu e simplesmente sumiu. Todos achavam que ele havia morrido, apesar de Minato-sama nunca ter se pronunciado.

- Você nunca o viu?

- Só quando ele era pequeno. Nós brincávamos juntos com as outras crianças da vila. Depois da perda da mãe ele sumiu. Nunca mais o vi sair da mansão. Nem Sakura, nem meu pai, antes de morrer, voltaram a vê-lo também.

•••

Quando Hinata finalmente voltou para casa, Tsunade e o médico, Jiraya, agora quase que morador da mansão, já estavam jantando. Ela preferiu comer os biscoitos e tomar leite com Tamii em seu quarto. Já estava bem escuro quando terminaram.

Depois de ler um pouco o tradicional livro de botânica e de tomar um belo banho para dormir, Hinata decidiu que iria ao terceiro andar novamente e dessa vez se apresentaria para o primo. Não havia motivos para não fazê-lo. Mesmo assim precisaria esperar que Tsunade se recolhesse, pois de alguma forma ela tentava impedir Hinata de conhecê-lo e se a pegasse lá de novo poderia ter problemas.

Ouviu passos no corredor, devia ser Tsunade-sama. Será que ela estaria monitorando os passos da garota? Devia ter vindo conferir se ela estava dormindo. Hinata se atirou na cama e se cobriu o mais depressa que pode. Segundos depois ouviu a porta se abrir, alguns passos em sua direção, e logo a porta se fechou.

Esperou alguns minutos até que os passos no corredor se afastassem, vestiu seu casaco e com suas almofadas simulou o próprio corpo sob o lençol para enganar Tsunade, caso ela voltasse para dar uma nova espiada. Minutos depois já estava subindo a escadaria do terceiro andar, dessa vez com sua companhia fiel, Tamii.

•••

Não havia barulho nenhum, nem uivo, nem gemido. Estava tudo silencioso. O rapaz devia estar dormindo, julgou. Voltaria amanhã então, afastando-se alguns passos da porta. Mas e se ele estivesse acordado? Poderia estar lendo um livro. Não devia atrapalhá-lo. Virou de costas para a porta e já ia saindo quando Tamii começou a arranhar a porta do quarto do rapaz.

- Quem está ai? É, é você? Da noite passada?

Ele parecia tê-la visto também. Devia estar curioso como ela, já que nas circunstâncias atuais nenhum dos dois devia saber da existência do outro. Hinata girou a maçaneta da porta e a empurrou com cuidado, dessa vez a luz estava acessa.

- C-Com licença. Sou Hyuuga Hinata, filha de Hiashi e Linara Hyuuga. Sou sobrinha de Minato e Kushina-sama. Peço licença para entrar em seus aposentos. – Abriu a porta e deu alguns passos para dentro do quarto, de cabeça baixa em sinal de respeito, esperando que ele a autorizasse se aproximar.

- Sobrinha de meus pais? – O rapaz a fitou perplexo. Nunca havia ouvido sequer falar nessa prima, pelo menos não que se lembrasse. Parecia ser uma moça muito bonita, apesar de não poder ver seu rosto, pois ela ainda estava cabisbaixa esperando sua aprovação. – Entre.

- Com licença. – Hinata deu mais alguns passos e encostou a porta devagar, ainda abaixada e com as mãos entrelaçadas na frente do corpo. – Desculpe-me por ter invadido seu quarto na noite passada, mas eu... – Erguendo finalmente a cabeça.

Agora podia vê-lo com clareza. O rapaz possuía cabelos loiros, como julgara ter visto em meio a escuridão da noite passada, que estavam ainda despenteados, parecendo ser propositalmente bagunçados. Ele ainda mantinha o olhar extremamente surpreso e curioso, seus olhos eram de um azul vívido, celestial, que a deixaram brevemente perdida. A pele era branquinha, quase transparente. Devia estar mesmo doente, ou seria falta de sol? Será que ele vivia ali trancado desde a morte de...

- O que faz em minha casa? – Rompeu o silêncio a questionando sobre sua inesperada presença, até então desconhecida.

- Meu tio...

- Meu pai! – A interrompeu com a simples intenção de ser rude, fazendo a garota se sentir desconfortável.

- Desculpe-me. – Prosseguiu. – Seu pai me acolheu após a morte de meus pais. Eles morreram a um mês e seu pai foi gentil ao me convidar para morar em sua casa. Não sei o que seria de mim se ele não tivesse... – Tentava ao máximo não desviar os olhos do primo como sua educação mandava, mas os olhos azuis firmes e zangados a faziam querer correr dali e nunca mais voltar, além das muitas piruetas que seu estômago estava dando naquele exato momento.

- Que seja! – Continuava grosseiro. – Porque entrou no meu quarto? Não gosto de visitas! – Desviou o olhar e passou a encarar o armário do lado esquerdo da cama.

- Desculpe-me. É que eu não sabia da sua existência e então eu ouvi os seus gritos... – Lembrou dos uivos de dor que ouvira duas vezes desde que chegara à mansão. – A propósito... Você se sente bem? Parecia estar sentindo muita dor. Eu, eu poderia fazer alguma cois...

- Sou um garoto doente, e é só. Mas isso não diz respeito a você.

- Só queria saber se eu...

- Saia! – Não voltou a olhara para a garota que agora o observava extremamente irritada.

- Eu só...

- JÁ MANDEI VOCÊ SAIR! – Gritou com a garota, ela recuou alguns passos assustada. Os olhos dele agora eram de puro ódio, mas como ele poderia odiá-la sem nem ao menos conhecê-la. A verdade era que aquele rapaz era um turrão. Não merecia a gentileza e a ajuda que a humilde e carinhosa prima tentara lhe oferecer.

- NÃO GRITE COMIGO! – Então foi à vez dele se assustar. Ninguém até hoje tinha gritado com ele, muito menos pensado sequer em desacatá-lo.

- Como é q...

- OLHA AQUI, EU SÓ VIM OFERECER AJUDA. PEÇO DESCULPAS POR TER ENTRADO EM SEU QUARTO, NÃO FOI MINHA INTENÇÃO. MAS ISSO NÃO JUSTIFICA A SUA GROSSERIA COMIGO. EU PENSEI QUE PUDÉSSEMOS SER AMIGOS E NOS CONHECER AFINAL SOMOS PRIMOS. MAS SE O SENHOR É TURRÃO DEMAIS PARA ME RECEBER DE FORMA EDUCADA E PELO MENOS UM POUCO GENTIL, FIQUE SOZINHO. – A raiva foi tamanha que tudo saiu depressa e sem controle. Respirou fundo e, mesmo percebendo que o rapaz agora estava perdido e boquiaberto, não ficaria mais nem um segundo ali. – Pe-Peço desculpas pelo me-meu compor-comportamento ru-rude. Com licença. – Deixou o quarto sem olhar para trás. Tinha lágrimas nos olhos sem nem saber o porquê.

•••


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Notas finais do capítulo

Continua...