Secret Garden ||♥|| PASSANDO POR REFORMULAÇÃO escrita por chaosregia


Capítulo 3
Algo mais do que apenas sementes.




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– Sabe se meu tio voltou de viagem, Sakura-chan?

– O que...?! – Sakura não a havia ouvido. Estava distraída tentando acender o forno com a lenha que Sai acabara de deixar antes de sair para o trabalho. – Acho, acho que não Hinata-chan. Não o vi e Tsunade-sama não me disse nada sobre sua chegada.

– Hum... – “Se não era seu tio... Quem mais poderia ser?”, pensou. – Sakura-chan...?!

– Sim? – Deixou o forno acesso e foi indo em direção a mesa onde Hinata estava sentada para picar alguns legumes para o almoço.

– O que tem no terceiro andar?

–... – Sakura não respondeu. Parecia um tanto quanto incomodada com a pergunta. Ao perceber que Hinata tentava interpretar sua reação, imediatamente a respondeu com outra pergunta. – Como assim “o que tem no terceiro andar”?

– Ontem à noite eu ouvi claramente gritos pavorosos vindo do terceiro andar. Eram gritos de um homem com certeza e parecia estar sentindo uma dor tremenda. E visto que meu tio não está em casa, não faço ideia de quem possa ser. Você sabe o que é que está acontecendo?

– Hum... – Pensando um pouco antes de responder. – Não faço ideia do que possa ter acontecido...

•••

Mesmo intrigada Hinata evitou o corredor e a escadaria que dava para o terceiro andar. Não havia motivo para se preocupar, julgou. Afinal, se tivesse acontecido ago de realmente grave com seu tio saberia de imediato. Ou quem sabe ela tivesse imaginado tudo aquilo, ou talvez não passasse de um mero pesadelo.

Não. Não podia ter sido um pesadelo sendo tão real. Muito menos depois da reação que Tsunade tinha demonstrado naquela noite e nos dias que se seguiram. Olhava feio para a garota, a vigiava constantemente e evitava até de conversar ou trocar qualquer palavra que fosse com a garota. Estava claro. Havia algo lá em cima. Algo do qual ela estava privada de ver, algo que ela não poderia descobrir graças à sombra de Tsunade que a perseguia dentro de casa como um fantasma pelos corredores.

Nos dias de inverno que se seguiram, nem seu tio voltou, nem ouviu novamente qualquer sinal de dor ou voz de ninguém ecoando dentro da noite pelos frios corredores da mansão. E como Tsunade continuava na espreita, resolveu de uma vez por todas esquecer esse assunto. Pelo menos até que seu tio retornasse da viajem a Escócia.

•••

Faltavam três semanas para o fim da congelante estação e Hinata estava cada vez mais entediada. Não havia nada para se fazer naquela enorme mansão e, conforme passavam as horas, ela parecia ainda maior e mais vazia.

Para piorar Tsunade continuava como uma sombra atrás dela dentro da casa. Só dava sossego para a garota quando esta ia passear nos jardins mortos dos terrenos do tio, lutando para não pegar um resfriado com os ventos frios e o clima úmido comum àquela região.

Foi num desses dias mortos que Sai a procurou, estava de folga. A convidou para darem uma volta como a muito não faziam. Naquele lugar não havia muitos bailes, festas ou festivais, a maior parte da diversão dos jovens estava em seu trabalho e nos passeios que faziam ao ar livre mesmo sendo tão desagradável sair com esse tempo.

Andaram por um bom tempo por terras que Hinata ainda não visitara, mesmo estando tão próximas aos limites da mansão. Até que se depararam com um terreno que devia ter aproximados 50m de largura, deduziu Hinata mentalmente. O local era cercado por altos muros de concreto e as paredes eram cobertas de musgo, ervas daninhas e trepadeiras. Parecia uma fortaleza abandonada, mas não parecia haver mais construções lá dentro.

– Que lugar é esse? – Indagou a garota perplexa com a magnitude do lugar, que na verdade não era tão deslumbrante assim para os outros, mas para ela que buscava constantemente algo vivo, verde por aquelas bandas, aquilo era quase um paraíso. Não precisava nem ver o que estava lá dentro para ter certeza do que ele podia lhe reservar.

– Ora. Pensei que já o conhecesse, já que pertence ao seu tio. É um jardim, um jardim secreto. – Sai sorriu ao ver a expressão repentinamente animada da garota. Nem parecia mais estar sentindo frio ou estar desconfortável com o passeio como aparentou no começo.

– Do meu tio Minato-sama? – Arregalou os olhos. – Não. Ele não comentou nada comigo.

– Bem.. Era de se esperar. Esse jardim pertencia a sua tia... Foi um presente de seu tio, presente de casamento.

– Como você sabe disso tudo? – Foi se aproximando das paredes de musgo tocando o verde úmido delas com suas mãos pálidas e suaves.

– Meu pai já trabalhou como jardineiro para seu tio. Foi ele quem fez o jardim para Minato-sama. Depois sua tia preferiu cuidar do jardim sozinha e ele foi trabalhar nos jardins da mansão. – Se aproximou dela a fitando carinhosamente. Era mais bonita do que qualquer garota que já houvesse visto nesses poucos anos de vida. E de perto sua beleza duplicava, crescia ainda mais.

– Esse lugar parece tão... bonito. – Continuou tateando as paredes para tentar encontrar uma entrada. Parecia não existir porta alguma que desse acesso ao lugar. Ou se existisse provavelmente estaria bem oculta sob o musgo e as trepadeiras que dominavam o concreto, dando vida a escultural e cinzenta fortaleza.

– Bonito? – Deu um pequeno sorriso em deboche à surpresa e empolgação da garota ante a um simples jardim tão comum e banal aos demais moradores de anos daquele local. – É só um jardim velho e abandonado.

– Não diga isso. – Sua expressão tranquila cedeu lugar uma brevemente enfurecida. – Esse lugar é mais vivo do que qualquer outro lugar em todo o território de meu tio. É o primeiro lugar assim que vejo desde cheguei aqui.

– Tudo bem. – Sorrindo. – Mas faz muito tempo que ninguém cuida dele, desde que sua tia morreu. Minato-sama proibiu de tocarem no jardim, de cuidarem dele, o trancafiou a muito e nunca mais sequer veio a ele novamente. Pensamos que ele fosse o vender a dois anos trás, junto com as terras que um fazendeiro quis comprar, mas ele recusou. Ele mantém o jardim como se fosse parte dele, e não o deixa ser tocado por ninguém. – Deu alguns passos mais a frente e tocou numa das partes da parede fria, alisando-a com uma das mãos. – Aqui. – Parecia ter encontrado algo. – Venha até aqui Hinata.

– O que foi? – A garota correu ansiosa, já imaginava o que seria. E lá estava ela, a porta. Trancada, como Sai alertara durante a conversa. – Onde estará a chave?

– Ninguém sabe. Mas você pode descobrir. Ela deve estar com seu tio.

•••

Não queria esperar nem mais um segundo para desvendar o misterioso jardim. Foi até o escritório do tio, aproveitando-se da saída repentina de Tsunade que havia dito ter que ir ao vilarejo comprar mais remédios. Pelo menos foi que o Hinata conseguiu ouvir escondida detrás da porta da cozinha quando Tsunade orientava Sakura sobre o almoço.

Vasculhou cada canto. Gaveta, pasta, caixa. Procurou até por uma passagem secreta que pudesse existir por ali e se achou ridícula quando olhou detrás do quadro da tia para ver se havia um cifre ou uma câmara oculta na parede. Estava lendo romances e ficções demais.

Deu-se por vencida depois de meia hora e, para sua sorte, foi exatamente quando Tsunade chegou acompanhada. Um senhor distinto vestindo terno e gravata e com uma maleta nas mãos. O homem tinha longos cabelos brancos e uma expressão um tanto quanto maliciosa, julgou ao vê-lo encarar a região do busto de Tsunade com olhos atentos. O mesmo ainda sorriu de canto ao ver Hinata descer as escadas em direção ao casal.

– Siga-me Dr. Jiraya. – Ordenou Tsunade fria e impassível como sempre. Subiu as escadas ignorando a garota. Poderia ela estar se sentindo mal? Ou será que havia alguém doente na mansão do qual ela não tomara conhecimento? E pra que tanto mistério assim.

– OK. – O homem a seguiu. Passou por Hinata com um sorriso malicioso nos lábios e a cumprimentou. – Boa tarde senhorita.

– Boa tarde. – Tentou ser educada.

•••

Faltavam agora duas semanas para seu tio retornar da viagem à Escócia. Sai voltara a trabalhar, mas mesmo assim Hinata ia todos os dias ao jardim observá-lo de fora enquanto imaginava como ele podia ser por dentro. Ficava alguns minutos e o frio a vencia, voltando para dentro da mansão desolada por não poder realizar seu desejo.

Mas o inverno estava acabando, finalmente. E agora que Tsunade saia de casa quase que constantemente, Sakura e Hinata podiam conversar mais tranquilamente até fazer coisas juntas, como tricotar, pentear os cabelos umas das outras, cozinhar... É. Não havia muito que se fazer para se distrair por ali.

Outra coisa que haviam se tornado quase que constantes eram as visitas do tal Dr. Jiraya. Às vezes ele passava horas na mansão e até jantava com elas. Os olhares dele para Tsunade a faziam pensar que talvez o motivo de tudo aquilo fosse um caso entre os dois. Mas Tsunade parecia ignorá-lo, pelo menos na frente da garota.

Foi numa dessas noites que Hinata resolveu não descer para jantar e deixar os “pombinhos” livres para trocar confidencias, juras de amor e beijos apaixonados. E também porque não estava com fome, comera alguns biscoitos que Sakura preparara para Tamii. Pouco antes de se deitar, escovou os pelos de Tamii enquanto se lembrava das tardes de tentativas frustrantes de adentrar o jardim secreto de sua tia.

– Ai Tamii. Se eu soubesse onde está a chave daquele jardim... – Deixou escapar o pensamento. Tamii reagiu estranhamente pulando do colo dela ao ouvir a palavra jardim. Ronronou um pouco enquanto se esfregava na porta do quarto, queria sair. – Quer dar uma volta? – Levantou indo até a porta para abri-la. Tamii saiu satisfeita ao ver a porta se abrir enquanto Hinata a observava naturalmente. A gata deu uma olhada apelativa para a dona como se quisesse que ela a acompanhasse pelos escuros corredores. Hinata entendeu. – Gata medrosa. – Sorriu gentilmente. – Tudo bem... Estou mesmo sem sono. – Acompanhou a gata.

•••

Andaram algum tempo pelos corredores quando Tamii parou em frente a uma porta e começou a arranhá-la com suas afiadas unhas, na tentativa de chamar a atenção de Hinata, que parecia estar preocupada demais com um possível encontro com Tsunade e não desviava o olhar do escuro corredor à suas costas. Mas, logo quando percebeu o barulho que Tamii estava fazendo, virou-se e deu de cara com a porta do escritório do tio.

– Você quer mesmo entrar ai? – A gata ronronou e Hinata entendeu que a resposta era positiva. Abriu a porta e adentrou o local, acompanhada pela companheira felina.

A lareira não estava acessa. Tudo escuro. A não ser pela luz da única vela do candelabro que Hinata trouxera de seu quarto. Tamii atravessou o salão e parou ante ao quadro da tia de Hinata, Kushina Uzumaki. Seus cabelos eram ruivos, vermelhos como fogo, e seus olhos azuis eram pouco diferentes dos olhos do tio da garota. Era uma mulher muito bonita, pode notar isso desde a primeira vez que vira o retrato naquela parede, no dia em que conhecera o tio.

Tamii chamou a atenção de Hinata para que ela se aproximasse do quadro e a menina o fez. Tocou no quadro com cuidado. Uma pintura a óleo muito bem feita.

– Então era ela a sua dona Tamii? – A gata ronronou novamente em resposta. – Você deve sentir saudades dela não é? Ela era muito bonita e parecia ser muito gentil e bondosa, dá pra ver pelo sorriso e pela expressão de alegria do quadro. Tia Kushina, gostaria muito de ter te conhecido... Vi seu jardim hoje quando estava caminhando com Sai. Ele me contou sobre ele, gostaria muito de poder cuidar dele. Se eu soubesse onde está a chave...

Pensou por alguns minutos onde poderia encontrar o tal objeto. Já tinha revirado o escritório do tio e nada. Sai e Sakura não faziam ideia de onde poderia estar. Tsunade jamais contaria se soubesse. As únicas pessoas que poderiam ajudá-la, uma estava morta, sua tia, e outra estava a quilômetros na Escócia. Ah, se Tamii pudesse falar... Talvez ela pudesse dizer ond...

Espere um minuto! Tamii a havia trago até ali... Será possível que quisesse lhe dizer algo? O quadro da tia... Isso! Essa era a resposta. Afastou o quadro da tia com cuidado da parede e passou a mão sobre a mesma cautelosa por encontrar aranhas e outros pequenos moradores que poderiam estar ali escondidos. Nada. Nenhum cofre ou buraco na parede. Passou então no fundo do quadro, havia um relevo sobre ele. Aqui um fundo falso. Puxou-o e ouviu o tilintar de um pequeno objeto ao cair contra o chão frio e escuro da saleta.

– A chave.

•••

Assim que o dia amanheceu Hinata desceu as escadas apressada rumo ao jardim. Sai não poderia acompanhá-la, pois há essas horas ainda estaria se aprontando para o trabalho. Mesmo assim resolveu ir sozinha afinal, que perigo um jardim secreto, abandonado há anos, trancado a qualquer visitação, poderia lhe oferecer?

Não demorou muito para chegar ao lugar e tanto quanto para abrir a porta coberta de musgo e ferrugem. A chave coubera perfeitamente e a tranca se abriu. Sua vida mudaria a partir daquele dia. Nunca mais ficaria entediada de novo. Sempre teria um refúgio para lhe abrigar quando ela estivesse cansada daquele lugar, quando quisesse chorara de saudade ou quando simplesmente quisesse se divertir cuidando de um dos seus passatempos prediletos, jardins.

Empurrou a porta com certa força, pois os anos sem uso a deviam ter emperrado. E lá estava el... Morto! O jardim mais morto que já vira em toda a sua vida. A única coisa viva ali eram os musgos em volta das paredes que o cercavam. Era um grande espaço de mato seco e musgos e trepadeiras na parede.

O desanimo a abateu. Mas, talvez estivesse sendo precipitada. Apesar do clima levemente ensolarado e da ausência de névoa no local, ainda faltavam dias para o fim do inverno, duas semanas ou pouco mais. Quem sabe se ela limpasse aquele lugar e cuidasse da terra, plantasse flores e outras plantas, aquele lugar não viria a ser o jardim mais bonito que já vira em toda a sua vida.

Certo. Não deixaria a visão deplorável e a primeira impressão do jardim abandonado a desanimarem. Iria conversar com Sai assim que possível e pediria ajuda para conseguir mudas, ferramentas de trabalho e que sabe até uma mãozinha. Transformaria aquele lugar no seu jardim secreto.

•••

Depois de contar sobre o lugar para Sai, aproveitando o dia de folga dele que viria dois dias depois de ter aberto o jardim, Hinata e o rapaz foram até ele dar uma geral no local para começarem a revitalizá-lo ainda antes da primavera.

Havia muito mato e folhas secas, passaram o dia ensacando tudo. Foi assim que puderam descobrir que o jardim não estava tão morto quanto pensaram, mas sim apenas adormecido. Havia muitas plantinhas crescendo por baixo das folhagens mortas e até um pequeno lago artificial com alguns bichinhos estranhos que pareciam larvas, e logo Sai explicou que aquilo eram girinos.

Era tudo tão maravilhoso ali. Mas ainda tinham muito trabalho até que tudo aquilo estivesse limpo e vivo novamente.

•••


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Notas finais do capítulo

Continua...



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