Secret Garden ||♥|| PASSANDO POR REFORMULAÇÃO escrita por chaosregia


Capítulo 2
Nada grita mais alto que o som do silêncio.




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Os dias eram entediantes e as noites demoravam a passar. Não saia muito do quarto e quando saia, dava de cara com o aspecto desanimador do jardim sem flores ou quaisquer plantas vivas e verdes. Era um lugar realmente deprimente.

Seu único consolo era Tamii, a gatinha que conhecera em uma de suas primeiras noites na mansão do tio que ainda sequer conhecera. Passava a maior parte do tempo afagando os pelos da gata enquanto lia livros de romances e botânica, sua paixão desde pequena.

Adorava plantas, arbustos, flores de todos os tipos. E era ainda pior viver naquele lugar exatamente por isso, ali não havia plantas, não havia sequer um jardim. Pensou que seria melhor quando a primavera chegasse. Talvez fosse assim mesmo durante o outono, estação que se fazia presente naquela época do ano. Deu uma trégua para o tempo e resolveu esperar até depois do inverno para reclamar.

•••

A porta se abriu ante sua permissão.

- Com sua licença. – Uma garota quase que da mesma idade dela, trajando vestes semelhantes a um uniforme doméstico, adentrou o recinto com um sorriso gentil nos lábios e um tom de voz animado. – Sou Sakura Haruno. Sua empregada a partir de hoje. Seu tio me contratou para auxiliá-la nos próximos dias além dos serviços da casa. Achou melhor alguém de sua faixa etária para lhe fazer companhia e entender suas necessidades. – Era extremamente falante e sorridente. – Há alguma coisa que posso fazer de imediato pela senhorita?

- Nada. Pelo menos não por enquanto. – Disse enquanto acariciava Tamii deitada em seu colo sob a sombra da enciclopédia de botânica que antes quase lhe servira de mortalha.

- Ah, vejo que já conheceu um novo amigo... Qual é o nome dele? – Se aproximou do animal fazendo carinho em sua cabeça.

- É uma gata, o nome é Tamii. Aliás... – Lembrou-se das necessidades da gata. – Poderia arrumar um pouco de leite e biscoitos de chocolate. Tamii adora aqueles biscoitos.

- Claro. Volto num instante.

•••

- Minato-sama. Sua sobrinha está aqui para vê-lo. – Tsunade anunciou antes de permitir a entrada da garota no escritório do tio.

- Mande-a entrar. – Respondeu uma voz grossa vinda da misteriosa saleta.

Adentrou o lugar, ainda receosa. Era um grande escritório, repleto de livros. A noite escura e fria era quebrada pelas chamas crepitadas na lareira do outro lado da sala. Havia alguém sentado atrás de uma grande mesa numa poltrona de costas para a visitante. Não podia ver seu rosto, e mesmo que o visse não reconheceria, pois nunca em outra ocasião tivera contato com quem quer que fosse daquela casa. A poltrona mudou de posição e o mistério se revelou, com seus cabelos loiros até os ombros e vestes formais de um senhor de muitas posses. Um pouco antiquado, pensou a garota, mas era assim que os homens como ele se vestiam, homens de negócios, assim como seu falecido pai.

Teve um pouco de medo ante a expressão fechada do tio, a quem atribuiu o título, pois naquela mansão não parecia haver muitos moradores. O silêncio, apesar de breve, era perturbador no instante em que a porta lacrou a saída e se encontraram os dois sozinhos na mesma sala quase que escura. Mas o medo logo sumiu ao ver o lindo e largo sorriso de boas-vindas, indicando-lhe uma poltrona livre para se sentar. A garota não fez reservas, sorriu e agradeceu a gentil oferta se sentando de frente para ele.

- Então você é a filha de Hiashi e Linara!? – Continuou sorrindo, dessa vez com um pouco menos de entusiasmo, mas com a mesma expressão agradável de antes. – Você não deve se lembrar de mim, pois faz anos que não os visito. Você ainda era apenas uma garotinha, Hinata. – De fato ela não se lembrava do tio, devia ser bem pequena quando o conheceu, mesmo assim sorriu em resposta as memórias do homem aparentemente tão entusiasmado com as mesmas. – Eu havia acabado de me casar e era o seu aniversário de quatro anos... – Estava explicado, não se lembraria mesmo que tentasse. – Você se parece muito com sua mãe. E me lembra também levemente sua tia. – Dessa vez ele não parecia tão entusiasmado, estava com feições tristes, principalmente quando voltou seu olhar ao quadro grande de uma linda mulher de cabelos vermelhos descansando sobre a lareira. Hinata deduziu, por falta de conhecimento, que aquela fosse sua tia, Kushina Uzumaki. Lembrou-se do que Tsunade havia lhe dito. Sua tia estava morta. Só então entendeu o porquê da tristeza no olhar de seu tio.

- Minato-sama... Sinto muito. Tsunade-sama me contou, não fazia ideia.

- Tudo bem querida. – Dando um breve sorriso para tranquilizar a garota. – Sou eu quem deve sentir muito por sua atual situação. Sei como é difícil esse momento para você, ainda mais tendo sofrido uma perda dupla como essa. – Voltou a se entristecer ao tocar em outro assunto fúnebre, a morte dos pais de Hinata. – Estou feliz por recebê-la em minha humilde residência. Gostaria de ajudá-la no que fosse preciso. Sei que seus pais e sua tia ficariam muito felizes de saber que está feliz, confortável vivendo aqui na mansão. – Sorriu novamente como antes ao perceber que entristecera a garota ao tocar na recente morte de seus entes mais queridos.

- Claro que sim, Minato-sama. Estou grata por ter me recebido em seu lar. Gostaria de poder retribuí-lo como puder. – Disfarçou a agonia que aquele momento de lembranças causara em seu coração.

- Não é preciso me agradecer. Somos uma família e permaneceremos como tal. Quero que se sinta a vontade para pedir tudo o que quiser. Está bem acomodada em seus aposentos? Existe algo que queira? Algo que esteja faltando?

- Absolutamente. Está tudo perfeito, Minato-sama.

- Não me chame de Minato-sama, querida. Soa muito formal para minha simples função de tio. Portanto, chame-me pelo devido atributo, apenas de tio. – Sorriu abertamente e seus dentes brancos e perfeitos reluziram com as chamas douradas da lareira.

- Sim tio. – Agora se sentia um pouco mais bem recebida, mais a vontade do que no início.

- E lembre-se, se houver alguma coisa, qualquer coisa que eu possa fazer por você, que você queira pedir, é só me avisar.

•••

Andou pelo jardim seco e sem vida por um bom tempo, tendo como companhia Tamii, que caminhava quase que agarrada em seus pés. Hinata sabia que não era apenas a reação de uma gata boba e medrosa, mas de um pobre animal que já devia ter sido muito maltratado antes de sua chegada a mansão. As feridas, machucados de Tamii já haviam se curado, mas o trauma gerado pelos maus tratos ainda não.

Nas duas semanas desde que chegara ao lugar, Hinata nunca tinha ido tão longe nos terrenos da propriedade. Na verdade procurava por algum sinal de vida, alguém para conversar, um jardim decente para observar. Foi quando se deparou com um rapaz deitados nas folhas secas de uma árvore quase nua, sobre influencia da estação vigente.

No inicio teve cautela. Não quis se aproximar de um homem estranho, ainda mais naquela situação tão peculiar. Mas ao passar por sua mente a possibilidade de estar ferido ou coisa pior, correu na direção do rapaz para oferecer ajuda.

De repente o rapaz se levantou assustando a garota que tentava se aproximar. Era um bonito rapaz alto, de cabelos negros despenteados. Suas roupas não eram tão formais e ostentosas e pareciam estar meio sujas e cheias de feno. Devia ser um empregado, ou podia ser um ladrão ou sabe-se lá o que. A garota recuou.

- Hey, quem é você? – Ele tentou se aproximar ao perceber a garota desconhecida que o observava assustada. Ela não o respondeu, correu na direção oposta o mais rápido que suas botas de saltos finos e seu vestido longo a permitiam. – Não corra... Espere não vou machucá-la. – Segurou o braço dela, não com força para não machucá-la. A garota hesitou, mas deu algum crédito ao garoto. Fitou-o ainda cheia de receios.

- S-s-s-ou Hi-Hinat-ta. Meu, meu ti-tio é o do-dono dessas, dessas terras. S-Solte-me Ime-Imediatamente! – Ordenou tentando parecer furiosa.

- Desculpe-me pelo meu comportamento rude. – Soltou-a num sorriso bobo e constrangido. - A sobrinha de Minato-sama. Deixe me apresentar. Sou Sai. Irmão de Sakura, empregada da mansão.

•••

Agora os dias caminhavam em harmonia. Tinha amigos e as coisas começavam a se ajeitar. Sai passava a manhã quase que toda com Hinata mostrando-lhe os terrenos do tio da garota, mostrando lugares mais bonitos e o vilarejo próximo a localidade. Às vezes faziam longos passeios de bicicleta e já tinham ido até pescar, coisa que ela nunca tinha feito antes, sequer se imaginara fazendo.

Quando Sai a levava para casa, e aproveitava para beliscar os petiscos que a irmã fazia para o almoço antes de sair para trabalhar nos estábulos do tio de Hinata, era a vez de Sakura lhe fazer companhia. Era ela quem mais passava tempo com a moça.

Faziam os serviços juntas, por insistência de Hinata que detestava se sentir inútil vendo a amiga trabalhar feito uma escrava e, terminadas as obrigações domésticas, ocupavam-se de algo mais trivial como bordar, costurar, fazer biscoitos para Tamii, que ficava muito feliz com essa parte do dia.

Às vezes conversavam sobre o futuro, sobre casar e ter filhos, sobre amores que só liam nos livros, poesia e romantismo de poetas que nunca haviam de fato conhecido. Outras vezes passavam a noite até o horário de se recolher agindo como duas menininhas brincando com as bonecas de Hinata e fazendo penteados uma na outra. A jovem senhorita insistia em dar presentes que sua acompanhante muitas das vezes recusava por ver os olhares maldosos e descontentes de Tsunade quando ela decidia usar um dos sapatos ou vestido que ganhara na mansão.

E, para a surpresa da Hyuuga órfã, às vezes ainda conseguia jantar com o tio, que mesmo em meio as corridas viagens e negócios pendentes fora da cidade e do país, acabava encontrando tempo para jantarem juntos. Assim foram passando seis semanas desde a chegada da garota. Mesmo com a saudade que sentia de casa, dos amigos que lá deixara, dos falecidos pais, Hinata já se acostumara com aquela vida que agora muito lhe agradava.

•••

O outono foi passando e o inverno tomou seu lugar de direito. Eram dias muito chatos, de pouca atividade e a névoa baixa que parecia cobrir toda aquela região. Hinata quase não saia com Sai, não só pelo clima, mas pelo rapaz estar mais atribulado com seus afazeres no novo emprego no vilarejo. E Sakura quase não tinha tempo de conversar com a amiga, pois Tsunade a carregava de tarefas, às vezes absurdas, exatamente para evitar o contato excessivo das garotas. Não achava certo manter amizade com os empregados.

Tamii era sua maior companheira naquele momento. Ficavam as duas brincando com novelos de lã que Hinata jogava para a gata se divertir e se enrolar toda. E agora o tio passaria semanas na Escócia e teria que voltar a jantar sozinha. Era um tédio quase que enlouquecedor. Deixou de se sentir tão em casa.

•••

Numa dessas noites de inverno com um frio de arder à pele e fazer os ossos congelarem, era quase impossível conseguir dormir na mansão. Era muito comum chover naquele lugar durante essa estação, o que tornava o clima ainda mais insuportável.

O vento entrava sabe-se lá Deus por onde, mesmo com as janelas e portas fechadas, e fazia um som tenebroso ecoar na mansão, era quase como se alguém estivesse gritando. Uivos, gemidos, urros... Seria um fantasma? Hinata tremeu ante a possibilidade, mas julgando ser parte de sua imaginação fértil e, resultado de uma leitura atenta a um livro de histórias aterrorizantes, resolveu ignorar toda essa bobagem que se formava em sua mente.

Mais os sons se tornavam cada vez mais altos e decifráveis. Parecia ser mesmo a voz de alguém gritando. E pela intensidade parecia mais estar urrando de dor, ou agonizando. Será que seu tio havia voltado? Será que estava machucado? O que estava acontecendo com essa pessoa para gritar tão pavorosamente assim?

Resolveu deixar os temores de lado e vestindo uma longa capa negra para esconder a fina camisola que usava e tapear o frio enorme que insistia em não deixar seu corpo aquecido por mais de cinco minutos, pegou o candelabro sobre a mesa de cabeceira e saiu no corredor à procura de Tsunade, seu Tio, ou qualquer um que seja.

O som ficou ainda mais forte. Vinha do fundo do corredor, do escuro e frio corredor. Como não saia de seu quarto depois de se recolher para dormir, Hinata não imaginava como aqueles corredores poderiam ser ainda mais assustadores do que sentira na primeira noite em que esteve neles, na chegada à mansão. Andou alguns passos temerosa, mas a preocupação com o tio ou com quem quer que fosse era maior que o medo. As três velas que queimavam no candelabro mal iluminavam o ambiente.

Quando foi se aproximando do final do corredor, estava claro que eram gritos, gritos de um homem, que parecia estar sentindo muita dor. Havia um lance de escadas dando para o terceiro andar da casa. Subiu apressada, mas tomando cuidado para não tropeçar nos degraus ou na capa longa que usava.Quanto mais se aproximava, mais altos eram os gritos e maior era sua angustia.

- O que está fazendo aqui? – Tsunade apareceu do nada dando um baita susto na garota, que só não caiu do primeiro degrau da escadaria porque estava sendo segurada pela mão forte e raivosa da governanta. – Nunca mais suba aqui entendeu? – Chacoalhou a garota com força. – Ouviu? Nunca mais suba aqui, está fora de seus limites. – Com mais força ainda, mas o susto não deixou a garota responder. – VOCÊ OUVIU? NÃO A QUERO BISBILHOTANDO AQUI EM CIMA. ESSE ANDAR É PROIBIDO PRA VOCÊ ENTENDEU? – Arrastou a garota desnorteada pela escada, a puxando com força até descerem ao último degrau. Os gritos foram diminuindo.

- O-O que está... – Tentou questionar, mas não teve chance. Os gritos continuavam.

- ESTÁ FORA DE SEUS LIMITES. ENTENDEU? – Esbravejou uma última vez na tentativa de se fazer entender. O som mais baixo, ainda era perturbador.

- En-Entedi... Mas o que, o que está... - Foi então que os gritos ao fundo, os do homem desesperado e sentindo dor, simplesmente se calaram.

- Volte para o seu quarto. E não suba mais aqui – Desapareceu enquanto subia as escadas novamente apressada.

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Notas finais do capítulo

Continua...



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