Secret Garden ||♥|| PASSANDO POR REFORMULAÇÃO escrita por chaosregia


Capítulo 15
Os olhos e os ouvidos se enganam tanto quanto o coração.


Notas iniciais do capítulo

Já vou avisando: Não me culpem por perder detalhes importantes da FF. Estão lendo os flash backs? Sim, eles são partes importantíssimas da história. Alguns contem apenas trechos de capítulos anteriores, outros são trechos reescritos sobre a visão de outro personagem, e ainda há aqueles que são flashes, mas contém cenas que não existiram antes na FF. Então prestem atenção e leiam o capítulo inteiro meus queridos. Bjos e boa leitura.

Agradecimentos super especiais a meus queridos leitores:
♥ Ha Ni
♥ Sarah Weasley Levesque
♥ Sophia san



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• FLASH BACK •

– Ow, Jiraya, o que vou fazer agora, sem o Dan? - A moça de longos cabelos loiros, debruçada no colo do amigo, chorava desconsolada pela morte de seu noivo. - Ele era minha vida, minha última esperança... Agora estou sozinha, sozinha!

– Não se desespere Tsunade! Eu vou ficar com você, ao seu lado, não vou te abandonar... - O rapaz abraçava-a não só como um amigo que presta consolo ao coração despedaçado de sua amizade, mas como um homem apaixonado, que deseja intensamente trazer paz e felicidade a pessoa que ama.

A loira agarrou-se ao casaco do jovem, afagando o próprio rosto nos fios brancos dele. Apesar da idade o indivíduo possuía cabelos médios brancos. Com medo de que a mulher pudesse perder as forças ou os sentidos, encaminhou-a para um dos bancos na sala de espera do hospital.

– Ajudando a Miitsu-sama na caso dos Uzumaki não ganho o suficiente para manter minhas despesas. - Não que não estivesse sofrendo, por dentro à dor de perder seu único amor machucava mais que a lâmina de mil espadas atravessando o peito, mas havia naquela cena certa apelação, usava doses ilimitadas de drama em sua encenação torpe em favor de seus próprios anseios, de seus planos maléficos.

Ela sabia como ninguém, comover e enganar as pessoas a sua volta. Aprendera desde cedo, levada pelas difíceis circunstâncias da infância e adolescência, a dissimular, iludir, ludibriar, bem como todo e qualquer meio que servisse para conseguir atingir seus objetivos. O coração frio e calejado só passou a enxergar outros caminhos ao conhecer os amigos, Jiraya e Dan, sendo o segundo o verdadeiro e único amor de sua vida, infelizmente morto por uma doença desconhecida pela medicina daquela época.

Embora a jovem loira, de corpo bem feito, e dotes bem quistos, pudesse conseguir o marido que quisesse, inclusive aquele que tentava no momento consolá-la, o recém formado médico Jiraya, jamais seria capaz de sentir amor novamente por qualquer outro que por sua vida passasse. Porém, dadas às circunstâncias, não poderia se dar ao luxo de perder oportunidades. Estava sozinha e sem dinheiro, correndo risco de ficar sem teto a qualquer momento.

– Agora que o filho dos Namikaze e a Kushina-sama estão noivos, vão acabar se mudando para a América, e o Uzumaki-sama e sua esposa não vão me querer mais lá. Você sabe que a Matsuri-sama não gosta de mim... - O motivo desse "não gostar" derivava-se do fato de que, não só suspeitava, como já havia flagrado a senhora Uzumaki, seu marido e a jovem empregada em situações, no mínimo, comprometedoras.

Se a garota permanecia ali era porque a esposa negava-se a admitir a traição, não queria que nenhum dos frequentadores de sua casa, todos membros da alta sociedade, sequer desconfiassem de algo do tipo, muito menos que sua filha tão amada, Kushina, descobrisse que o pai não passava de um safardana, traindo a mãe de seus filhos com uma serviçal, bem em baixo do nariz de todos. A herdeira tão pouco sabia que até mesmo chegara a desenvolver laços de amizade com a devassa infiel.

– Não se preocupe, conversarei com Kushina e Minato. Tenho frequentado convescotes, agora que sou médico passei a fazer parte do círculo de influências nobres da região. Minato é um jovem bastante generoso, tenho certeza que acolherá você em seu novo lar, ainda mais com a intervenção favorável de Kushina, que te adora. Até porque ouvi boatos de que os Uzumaki pretendem ir para a Noruega e vão deixar a mansão para a filha e o marido.

– Acha mesmo que eles vão ficar aqui? - Um brilho perverso dominou os orbes azulados daquela mulher. Não se sabiam que planos estariam sendo formados naquele momento dentro de sua mente fria e calculista.

– Tenho certeza, e mesmo que não fosse assim, não lhe faltaria teto, nem amparo. Estou ganhando muito bem agora, posso mantê-la e a seus gastos... - No mais íntimo dele jazia a esperança de que um dia pudesse desposá-la, ter filhos, uma família, com a mulher que ele tanto amava.

Nunca fora correspondido, pelo contrário, quanto mais insistia, mais ela deixava bem claro que nada queria consigo. Tsunade, apesar de ainda não ter se casado, já era uma mulher feita e experiente. Com ela aprendera as coisas boas da vida, fora com ela que perdera a inocência de garoto e passara a ser um homem, no sentido sexual, ao menos. Entretanto, mesmo tendo tido relações tão íntimas, a loira só enxergava o outro, Dan, seu coração pertencia a ele e só dele seria para todo o sempre.

– Tenho certeza de que não me faltaria, em nenhuma das circunstâncias da vida... Ji, ji! - Lasciva, envolveu-o em seus braços e o beijou como se tivesse esquecido o luto, como se de fato pudesse estar novamente apaixonada.

• FLASH's END •

– Então a Tsunade-sama foi o grande amor de sua vida, Jiraya-san?

– Não só foi como ainda é, Hinata-sama. Por isso não queria que as coisas chegassem a esse ponto.

Jiraya era um homem esperto, não demorou muito para conseguir livrar das amarras que o aprisionavam. Logo que conseguiu, levantou-se e procurou pelas velas que sabia que guardavam ali em baixo - já visitara muitas vezes o lugar, em condições diferentes, em ensejos de libertinagem com a antiga parceira. Não podia deixar que Tsunade percebesse que estavam livres, ela trataria de bolar algo para impedi-los.

Soltou Hinata e se sentaram próximo ao candelabro, agora acesso, graças aos fósforos que ele tinha mania de carregar no bolso do paletó. Ficariam ali, a dividir confidências, até que a "carcereira" retornasse. Na primeira oportunidade, o médico a dominaria e acabaria logo com aquela situação.

– Eu não entendo, o que ela pretende com isso? Porque nos manter presos nesse porão?

– Você nem imagina o grau das coisas que ela tem planejado, na verdade, nem eu mesmo posso imaginar o que está por vir...

• FLASH BACK •

– A Kushina vai ficar bem Minato, não se desespere... – O jovem Jiraya tentava acalmar os nervos do amigo, Minato, desconsolado pela fraqueza da esposa diante das enfermidades que a atingiam.

Há tempos Kushina manifestava sintomas estranhos, e, embora o marido não pudesse imaginar as consequências dos desmaios e debilidade constante da mesma, ela agora jazia em seu leito despida de maiores esperanças de sobreviver a aquilo tudo.

– Ela parece tão debilitada, Jiraya... Não entendo como pode ter ficado assim nesses últimos seis anos, me sinto culpado por não ter percebido, e quando percebi, não ter acreditado na seriedade do problema. – Manifestava apenas seu inconformismo perante a própria negligência. - Talvez se eu tivesse...

– Não se culpe pelos males que afetam sua esposa, você não podia prever nada disso, tão pouco poderia impedir as consequências de uma doença que nem os médicos mais bem quistos da região conheciam até então.

– E Naruto...? Como meu filho está? – Não era somente um marido devotado, também se destacava em sua função de pai, sendo amável e preocupado, mesmo em face de tal intempérie

– Ainda dormindo, graças ao calmante que demos a ele.

– Será que... Eu posso entrar para ver minha mulher? – Não ajudaria em nada na recuperação da esposa, muito menos diminuiria sua preocupação e sofrimento próprios ao vê-la outra vez naquele estado deplorável, muito pelo contrário, só tinha a feri-lo ainda mais. Entretanto, já não dormia, comia, sequer vivia com tranquilidade, precisava ficar perto, dividir seu sopro de vida com ela, para quem sabe passar sua vitalidade a seu amor eterno em espírito, mas derradeiro em materialidade.

– A-Acho melhor não... Pelo menos por enquanto. – Jiraya não poderia autorizar a simples vontade daquele homem angustiado, pois, lá dentro dos aposentos de sua mulher esmorecida, encontrava-se Tsunade, a espera do cúmplice de seus delituosos planos. - Preciso examiná-la tranquilamente. Vá ver seu filho, mandarei Tsunade avisá-la assim que eu terminar. – Encaminhando o loiro para longe dali, encontrou em seguida na alcova de sua “paciente”.

– Onde ele está? – Questionou a governanta, afoita por cumprir o âmbito de seus desígnios.

– Foi ao quarto do garoto... – Informou.

– Ótimo.

– Tsunade! – Apesar da determinação e segurança com as quais ela prosseguia em sua delinquência, o comparsa já não tinha mais tanta certeza se conseguiria ir avante com aquilo.

– Dê-me o elixir! Ande logo, ande logo! Nós não podemos perder tempo. – Um escabroso sorriso formou-se nos lábios da mulher, que começava a assustar o companheiro com a ausência de qualquer esboço de culpa.

– Kushina vai morrer Tsunade, isso não te incomoda? – Alertou Jiraya. Pela primeira vez em anos, o médico, que até então era conivente com a loira, começava a manifestar seu desgosto referente ao descaminho que estavam prestes a cometer.

– Me dá esse elixir de uma vez, Jiraya! – Ignorando absolutamente os receios do mesmo. - O palerma já deve estar voltando.

– NÃO! – Avançou nela, agarrando-lhe o braço com força.

– N-Nani? O que pensa que está fazendo? – Soltou-se abruptamente. - Não posso, eu não posso fazer isso...

• FLASH's END •

– Eu deixei o quarto de Kushina e fui até Minato, chamá-lo para ver a esposa, ai sugeri que levasse o garoto, Naruto, na esperança de comover Tsunade. Acreditava que minha pombinha não teria coragem de prosseguir com os planos, quando visse o rostinho tristonho do filho a clamar pela mãe convalescente. Mas, para minha desdita, Tsunade o havia feito.

• FLASH BACK •

– Vá até sua okaasan. Naruto... – Apesar da autorização de Minato, o pequeno Naruto hesitou durante alguns segundos em se aproximar da cama onde a mãe repousava. Foi preciso à intervenção do pai, que segurou a mão e o levou até a mãe rapidamente. Só então ele se soltou, subiu na cama e se deitou sobre a mulher que não manifestou qualquer reação.

– Okaasan... Okaasan, porque você não acorda? Okaasan...

Apesar de ter plena consciência do estado de Kushina, e de que ela não poderia reagir da maneira que esperavam, a mesma parecia demasiado inerte aos apelos do filho amado. Poderia ela estar dormindo, ou...? O marido se aproximou enfim e tocou-lhe o rosto com uma das mãos. Estava gelada, parecia também que não podia respirar. Minato se afastou temeroso, foi então que Jiraya compreendeu o que tinha acontecido em sua momentânea ausência.

Quando por sua vez Tsunade discretamente sorriu, ao ver as lágrimas descerem dos olhos de seu aterrado amo, confirmou-se sua desesperança. A única atitude que teve, ao assistir a dor do amigo, se atirando ao solo de joelhos, gritando sua angustia, foi tomar o garotinho, Naruto, que observava o pai ainda sem compreender o falecimento da mãe.

– Otousan... Otousan... – Mas o pai não lhe respondia. Minato só fazia chorar, agarrado a Kushina neste momento, desejando a morte para não deixá-la ir sozinha. O menino esperneava no colo do médico, gritando pelos pais exasperado por libertar-se e poder voltar ao quarto onde se encontravam. – OKAASAN! OTOUSAN! ME SOLTA, EU QUERO MINHA OKAASAN!!! OTOUSAN, O QUE ACONTECEU? OTOUSAN! OTOUSAN!

• FLASH's END •

– Toda vez que me recordo desses gritos desejo a morte, posso sentir o fogo do inferno me tocar, tamanha a covardia na qual fiz-me presente. Fui indolente, acreditei que Tsunade não iria tão longe confiando no amor que sentia por ela, apesar de ter plena consciência da maldade existente dentro daquele coração. Por isso carregarei, pelo resto dos dias, minha inefável culpa.

“Enquanto buscava Minato e seu filho, Tsunade arrancou a força o resto de vida que restava em Kushina, matou-a com requintes de crueldade, privando-a do ar que seus pulmões necessitavam, utilizando-se do travesseiro da própria vítima no ato. Embora isso já bastasse para me condenar qualquer fosse o juiz, ainda cometido outro erro, o maior de todos... Eu me calei.”

• FLASH BACK •

– Como, como você pode... – Agarrou-a com força pelos braços e a sacudiu, como se isso fosse ajudar a trazer de volta algum senso a aquela mulher. A mesma mulher que ele pensara conhecer – a amava mais que a si próprio, porém não poderia tolerar esse tipo de coisa, não poderia simplesmente aceitar ser corresponsável em um assassinato. - Como teve a coragem de... De matar Kushina?

– Eu? – Desvencilhou-se do companheiro, rindo da tentativa fútil de sermão que o mesmo tentava aplicar. - Eu não matei ninguém querido, pelo menos não sozinha... Ou você se esquece que estamos mancomunados, você é tão culpado quanto eu, Jiji! – Ela tinha razão, e essa culpa pesaria nos ombros daquele homem para todo o sempre.

Pensar que tinha sido recebido naquela casa, sido tão gentilmente tratado por Minato e Kushina, e agora não passava de um assassino, um assassino que destruiu a família daqueles que o alimentaram, e que foi capaz de deixar um garotinho inocente órfão de mãe, tudo por dinheiro, no caso dele, por Tsunade.

– Por isso não cometa o despautério de pensar em revelar nosso segredinho.

– Sua desfaçatez é impressionante, Tsunade. - Não que isso diminuísse o mal causado, mas pelo menos algum remorso lhe atingia, já a loira, mostrava-se completamente satisfeita com a situação, não havia pena, arrependimento, culpa ou compaixão naqueles orbes cor de esmeralda, pelo contrário, eles claramente refletiam o torpe sentimento de vitória. - Estou realmente... Enojado. Você conseguiu o que queria, espero que esteja satisfeita... – Deu as costas para a mulher, desejando internamente que nada daquilo houvesse acontecido, e que, pela manhã, Kushina estivesse presente e saudável compartilhando o desjejum consigo, que Minato e o filho estivessem outra vez sorrindo, e que desaparecesse de sua amada toda a ambição, ressentimento, ódio, cobiça e inveja que ela nutrira por anos sem nenhum motivo justificável.

– Não, não estou satisfeita. – Era exatamente o que temia, que Tsunade seguisse com seus planos criminosos, que fizessem ainda mais mal a aquela família, que eles mesmo haviam desestruturado. - Ainda não acabou. Mas sobre isso, deixaremos para depois. – Foi até ele, tocando-lhe os ombros como se quisesse seduzi-lo, mas o homem pela primeira vez a rejeitou, afastou-se, porém voltou a olhá-la com indignação, não que ela se importasse, continuava a sorrir divertida. - O que importa agora é sua promessa, não há como voltar atrás, o que fizemos não pode ser desfeito. Estamos para sempre ligados, a situação de ambos é desfavorável, por isso nem pense em descumprir com suas palavras, entendeu? – A ameaça era cara em sua voz, mas não era algo com que ele se preocupasse, o maior medo não era de ir parar atrás das grades.

Condenara sua alma para sempre cometendo tal atentado contra essas pessoas que jamais haviam feito qualquer coisa ruim para com qualquer um de seus agressores, não seria perdoado por Deus, muito menos por Minato, ou pelo filho do casal, Naruto. Nem tinha coragem de pensar nisso, jamais pediria isso para qualquer um dos dois.

– Não vou dizer nada a ninguém, se é isso que quer ouvir. – A vergonha que sentia era incomensurável, comparada apenas ao gosto amargo do pesar de sua alma condenada.

– Muito bem, Jiji! – Aproximou-se novamente, segurou o blazer do homem se insinuando para o mesmo. - Saberei como recompensá-lo.

• FLASH's END •

– Isso, isso é muito grave Jiraya-sama. – Hinata permanecia atônita diante das revelações que Jiraya fazia. Era cruel demais, aquela mulher. Como alguém podia ser capaz de arquitetar algo tão malicioso e ferir pessoas que nada haviam lhe causado além de cortesia, apoio e solicitude, e tudo em nome da ganância, do dinheiro. - Se Tsunade teve coragem de matar a tia Kushina... O que será capaz de fazer com o Naruto-kun?

Até então não tinha parado para pensar no que Jiraya estava tentando lhe dizer, não era apenas um segredo do passado sendo contado a alguém, era mais como um alerta para o que poderia acontecer no presente, o motivo que levara Tsunade ao jogá-los ali, deixando Naruto sozinho e praticamente indefeso lá em cima. Ela só poderia estar querendo... Matá-lo.

Um pontada em seu coração, a menor possibilidade disso fazia doer o coração, o corpo, a alma, não queria chorar, mas isso já não estava em suas mãos. Não havia maneira de escapar, estava presa ali e completamente impotente. Como poderia salvar Naruto? O medo de perdê-lo dominava seu coração, era impossível pensar em qualquer coisa, precisava sair dali e salvá-lo. Algumas lágrimas escaparam sem que ela percebesse, comovendo Jiraya e o fazendo sentir-se ainda mais sujo peãs tramoias da ex-parceira.

– Precisamos sair daqui e...

– Ela já fez!

– N-Nani?

– Durante esses anos todos em que Naruto esteve preso naquele quarto, Tsunade tem o envenenado constantemente, com o mesmo “elixir” que utilizou para depauperar sua mãe.

A nova informação desestruturou completamente a garota, que já não continha, ou se preocupava em conter o choro. Perdeu a cor, a fala, quase não podia mais respirar, estava inerte, praticamente morta, e completamente desesperada também. Naruto estava morrendo a cada segundo, morrendo aos poucos a seu lado, e ela nem mesmo suspeitava.

Desde o começo acreditara que o jovem fazia um pouco de dengo, ficava trancado lá em cima e por isso era bastante carente, exigindo o máximo de sua atenção e companhia sempre que podia. Para Hinata ele não passava de um rapaz solitário e depressivo, e bastaria alguns banhos de sol, comida decente e carinho para curá-lo, quem sabe até um pouco de... Seu amor. Amor que descobrira aos poucos, acontecendo dentro dela como uma garoa fina que não preocupa ao pescador, embora ele saiba que mais cedo ou mais tarde, virá a tempestade.

Essa tempestade de sentimentos e sensações novas que faz sorrir e chorar, rir dele e amaldiçoá-lo quando este era rude consigo, desejar estar ao lado dele, abraçá-lo, e odiar a um amigo, Sai, por ter lhe arrancado aquilo que guardara somente para seu amado, o beijo, o primeiro beijo de amor de sua vida.

– Então... O N-Naruto-kun, ele vai mor...?

– Não se preocupe, pelo menos por enquanto... – Ao ver a expressão fúnebre que jazia na face da garota, obviamente desconsolada, Jiraya apressou-se em avisar. - Minha consciência não me permitiu ir tão longe, por isso adulterei o elixir. O que Tsunade pensa ser veneno, é apenas uma solução de vitaminas que, ao invés de tirar sua vida, estão mantendo-o vivo. – Hinata imediatamente reagiu, o que confirmava, sem sombra de dúvidas, que aquela garota estava perdidamente apaixonada por Naruto. - Sem uma alimentação adequada, sem a luz do sol, sem exercícios e com a depressão que cultivou após perder a mãe, e com a ausência constante do pai, o que tem feito-o seguir é, ironicamente, aquilo que deveria matá-lo.

– Graças, graças a Kami-sama... – Nunca se sentira tão aliviada e feliz em toda a sua vida, aliviada por saber que Naruto viveria, estava livre desse perigo, e feliz por poder talvez ter a chance de vê-lo sorrir outra vez, de ouvi-lo gritar com ela, e implorar pela companhia da mesma.

Era maravilhosa a sensação de esperança revitalizada que aquilo lhe causava, capaz até de fazê-la ter forças para encontrar um meio de sair imediatamente dali. Pois, apesar de Tsunade não ter conseguido o que queria através do tal elixir, só Kami-sama poderia saber o que ela estava fazendo lá em cima para completar suas perversas intenções. - Não podia fazer isso com ele também, foi uma forma de tentar diminuir o dano que causei, tentar recompensá-los, a ele e a Minato, pela perda de Kushina.

– Jiraya-sama, foi uma atitude muito bonita de sua parte. – Tentou consolar o homem, que apesar de ter sido cúmplice dessa absurda história, estava sendo ao menos nobre em revelar a verdade e tentar ajudar aqueles a quem ele causou, indiretamente, dor e sofrimento. - Kami-sama irá perdoá-lo, mesmo porque está arrependido do que fez antes...

– A Hinata-sama tem mesmo um bom coração, acredito também que Kami-sama irá me perdoar. Mas, mais do que ir para o inferno, meu maior medo é de que Naruto e Minato não possam me perdoar. Entretanto, sei que é exatamente o que irá acontecer, nem mesmo seria capaz de lhes pedir isso, pois ninguém na posição deles perdoaria alguém que fez o que eu fiz.

– Tenha fé, Jiraya-sama. Tenho certeza de que um dia o coração bondoso dos dois perdoará o seu erro.

– Só se conseguirmos evitar o pior. – Ele também temia o que podia estar acontecendo lá fora, enquanto permaneciam os dois isolados e detidos entre aquelas paredes escuras e frias, impotentes e sem qualquer ideia para mudar a situação em que se encontravam no presente momento.

– Temos que conseguir sair daqui antes que Tsunade atente contra a vida do Naruto. Ela matou Kushina sem qualquer consideração, vai matar o filho e o pai também se tiver a chance, e a nós então, não deixará que escapemos para impedi-la ou incriminá-la. Por isso temos que pensar em algo, e depressa.

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– Nani? Onde... – Ao chegar à mansão, e adentrar a cozinha preocupada com o estado emocional da amiga, não encontrou nem mesmo Tsunade. Talvez tivesse levado a garota para seus aposentos, afinal Hinata devia estar nervosa e precisava descansar, ficar sozinha um pouco e se acalmar, podia ser melhor até que ter alguém por perto a consolá-la. Ou não, Sakura não podia simplesmente abandonar a querida amiga, decidiu-se portanto a subir até o quarto da mesma, só que no caminho...

– Tsunade-sama! Onde está a Hinata-chan?

– Sakura, querida. – Mas uma vez Tsunade usaria mão de sua capacidade incrível de dissimular e enganar as pessoas com louvor. - Eu nada pude fazer, Hinata estava absolutamente confusa, atordoada... Não compreendo o que poderia ter acontecido para fazê-la tomar tal atitude.

– Que, que atitude? Hinata, a Hinata-chan está bem?

– Eu tentei impedi-la, mas ela é mais jovem e mais vigorosa e forte que eu. – Cobra, capaz de enganar a quem quer que fosse. Era tão falsa e cruel quanto esperta e bem sucedida em suas trapaças, por isso ficava tão difícil descobrir suas armadilhas, escapar de seus malfeitos. - Escapou sem que eu pudesse nem ao menos descobrir sua chaga.

– Escapou? – Exclamou, pasmada com a notícia repentina.

– Fugiu, na verdade ela fugiu. Empurrou-me e saiu correndo por essa porta sem rumo. A única coisa que pude ouvir foi o beijo. – Como disse, esperta como uma raposa, fez uso do tal beijo que ela ouvira ser mencionado na discussão entre a imbecil garota Hyuuga e o irmão da empregada. A estratégia daria mais veracidade a suas palavras, pois a rosada já devia estar sabendo, ou viria a saber, sobre o que ocorrera mais cedo no jardim.

– Beijo? – Então era isso, Sai tinha beijado Hinata, uma garota ingênua que acreditava que beijos engravidavam ou podiam até mesmo matar. Era aceitável seu descontrole, pobrezinha. E o bastardo, Sai, seu irmão. Acertaria as contas com ele mais tarde, por hora cabia apenas encontrar a amiga e explicar a verdade sobre “beijos”, para que ela se tranquilizasse enfim.

– Sim, ela gritava alucinada sobre um beijo que alguém havia roubado dela. Não entendi porque estava tão transtornada ao falar desse tipo de coisas... Parecia estar mesmo louca. – Não foi preciso dizer mais nada, a empregada saiu correndo em busca da outra, como já era esperado.

Tudo estava acontecendo perfeitamente como ela desejava, agora era hora de exterminar as duas ameaças que a esperavam lá no porão. Subiu numa cadeira para alcançar a prateleira mais alta da cozinha, pegou a lata de condimentos e dela tirou uma seringa e dois vidrinhos do elixir de Jiraya. Depois foi para o local onde encontraria suas vítimas.

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Como podia ter sido capaz de traí-lo assim.

• FLASH BACK •

– Eu os vi no jardim... Essa juventude é tão... Impetuosa. Confesso que não esperava, Hinata me pareceu tão recatada no início. Se bem que, entrar no quarto de um homem durante a noite, noites seguidas aliás, não é coisa de moça de respeito [...] Um beijo assim, ao ar livre, sem nem ao menos possuir algum tipo de compromisso, sem estar casada... Há um tempo atrás esse tipo de atitude seria severamente punida.

• FLASH's END •

Inexorável e incomensurável dor que assola o peito, dor de perder alguém especial que lhe é mais importante que o ar dos próprios pulmões, que a água que mata a sede, ou a luz do astro sol. Não poderia fazer nada a respeito, mesmo porque prometera a si mesmo aceitar a decisão da amada, seja qual fosse sua escolha, mesmo se sentindo rejeitado, menosprezado, abandonado... Mas a culpa não era dela, o coração não escolhe quem ama, era isso que o avó lhe dizia quando ele o questionava sobre os príncipes e princesas apaixonados dos contos de fada.

• FLASH BACK •

A dor nem era tanta assim, era mais uma questão de saber lidar com a solidão. A escolha tinha sido do próprio, trancafiar-se naquele quarto, se isolando do resto do mundo, vivendo mediocremente. Porém, de um tempos para cá, tinha tornado-se insuportável não ter alguém com quem conversar, alguém para cuidar dele, ou simplesmente estar presente, uma figura diferente na monotonia constante daquele ambiente.

O frio congelante, o céu tempestuoso, vento, raios e trovões, estava acostumado com dias e noites assim. Quando criança, gritava e chorava de medo, hoje, adulto, somente para chamar atenção, os gemidos, uivos e gritos rompiam os corredores preenchendo a solidão daquela mansão. Mas ninguém viria até ele, ninguém se importava, talvez nem lembrassem de sua existência, não fosse pelos uivos propositalmente irritantes que costumava dar em noites como aquelas. Certa vez ficara quase uma semana sem nem mesmo ser alimentado, simplesmente esqueceram-se dele.

Por isso mesmo não tinha esperanças de mudar essa situação, um dia desses não acordaria mais, fecharia seus olhos para sempre enfim, e seu corpo acabaria apodrecendo ali mesmo, como se não valesse nada, como se fosse um alívio sua morte. Entretanto, quando a maçaneta da porta se mexeu, perdeu a voz, os movimentos, boquiabriu-se ante a possibilidade de, depois de tanto tempo, alguém ter se incomodado com seus apelos.

– QUEM ESTÁ AI? – Não perderia o jeito arrogante e desencorajador que adquirira e sustentara durante esses anos de solidão. – VÁ EMBORA. NÃO QUERO VER NINGUÉM. VÁ EMBORA AGORA.

Espantosamente o "alguém" nada respondeu, isso se ali houvesse alguém. O coração bateu acelerado, se havia uma coisa que temia nesse mundo era o sobrenatural, só não temia mais que morrer dolorosamente só, sem amor ou boas lembranças - o que muito provavelmente aconteceria, não fosse por esse dia, ou melhor, essa noite.

Primeiro a porta se moveu alguns centímetros, e parou, depois abriu-se por completo, aparentemente alguém estava entrando em seus aposentos, mas ele não conseguia enxergar nem um palmo a frente, o lugar estava escuro demais.

– O Q-QUE VOCÊ QUER? - Tomou coragem e bradou para a escuridão, temendo que ali estivesse um fantasma, ou a própria morte que o viera buscar. - JÁ DISSE QUE NÃO QUERO VER NINGUÉM. - Insistiu. Ouviu o chão ranger, como passos se aproximando. Estava apavorado, e isso só piorou quando um relâmpago iluminou os céus e o quarto escuro revelando brevemente uma figura misteriosa, vestindo uma espécie de vestido branco, uma mulher, julgou. Será que era sua mãe, Kushina, sindo levá-lo consigo para o além túmulo? - Qu-Quem é vo-você? – Questionou, mas ninguém respondeu. Um, dois, três relâmpagos seguidos e dessa vez Naruto pode ver com mais clareza a visitante.

Era uma mulher, seus cabelos longos, supostamente negros, perfeitamente caídos sobre os ombros, e ela o observava com uma expressão tão perplexa e curiosa quanto a do próprio. Só podia ser um anjo, algo divinamente tão bonito só poderia ter vindo dos céus. Fez menção de se aproximar, deixar-se levar pelo anjo aos portões do paraíso, mas a reação inesperada da figura feminina fez duvidar dessa possibilidade.

– Quem é você? – Perguntou novamente, e novamente ela não respondeu. Não poderia ser um fantasma, era real demais, muito menos um anjo, pois este não o temeria, e não recuaria com um gesto tão simples. – RESPONDA! – Enfureceu-se quando o quarto voltou a ficar escuro, queria admirá-la um pouco mais. Inesperadamente a visitante gritou, e fugiu batendo a porta, como se ele é quem tivesse a assustado no final.

• FLASH's END •

Desde a morte da mãe não sentia-se tão desditoso como agora, sua alma gritava o nome de seu amor, enquanto a boca seca amargava a decepção e a derrota, e os olhos doíam de tanto chorar. Estava atordoado, perdido, alucinado e padecendo de amor.

Era intolerável imaginar os dias que viriam a seguir, novamente sozinho em um quarto, inválido e absorto em sua própria depressão, rezando para morrer imediatamente, embora acreditasse não estar tão longe disso agora.

• FLASH BACK •

– Porque entrou no meu quarto? Não gosto de visitas! – Desviou o olhar e passou a encarar o armário do lado esquerdo da cama.

– Desculpe-me. É que eu não sabia da sua existência e então eu ouvi os seus gritos... A propósito... Você se sente bem? Parecia estar sentindo muita dor. Eu, eu poderia fazer alguma cois...

– Sou um garoto doente, e é só. Mas isso não diz respeito a você. - Só queria saber se eu... - Saia! – Não voltou a olhar para a garota que agora o observava extremamente irritada.

– Eu só...

– JÁ MANDEI VOCÊ SAIR! – Gritou com a garota, ela recuou alguns passos assustada.

– NÃO GRITE COMIGO! – Então foi à vez dele se assustar. Ninguém até hoje tinha gritado com ele, muito menos pensado sequer em desacatá-lo.

– Como é q...

– OLHA AQUI, EU SÓ VIM OFERECER AJUDA. PEÇO DESCULPAS POR TER ENTRADO EM SEU QUARTO, NÃO FOI MINHA INTENÇÃO. MAS ISSO NÃO JUSTIFICA A SUA GROSSERIA COMIGO. EU PENSEI QUE PUDÉSSEMOS SER AMIGOS E NOS CONHECER AFINAL SOMOS PRIMOS. MAS SE O SENHOR É TURRÃO DEMAIS PARA ME RECEBER DE FORMA EDUCADA E PELO MENOS UM POUCO GENTIL, FIQUE SOZINHO.

• FLASH's END •

– H-Hinata...

Ela passaria seus dias com Sai, sentados naquele jardim que ela tanto queria lhe mostrar, ela sorria para o amado, o abraçaria e eles se beijariam. Seria ele o primeiro a tocá-la, os dois se casariam e fariam amor, como no livro de Jiraya, e teriam um filho, e viveriam felizes para sempre... Enquanto ele... Seu cadáver jamais descansaria em paz, pois, apesar de ter conhecido o amor, e vivido dias felizes ao lado da pessoa por quem nutria tal sentimento, não fora sequer capaz de dizer o que sentia, de beijá-la ou abraçá-la, de tocá-la ou fazê-la feliz, como tanto ele ansiava.

• FLASH BACK •

– Ah não. Isso já é demais Hinata-chan. Me desculpe, mas não podemos fazer isso. [...] Uma chave é uma coisa, levar ele lá pra baixo é outra completamente diferente. Já pensou no que a Tsunade vai fazer conosco quando descobrir que participamos dessa loucura? Se ele é mantido aqui deve ter um bom motivo. Não devemos interferir, somos apenas empregados. E você Hinata? Já é egoísmo arriscar seus amigos por alguém que acabou de conhecer, mas arriscar a si própria é muita burrice. Você já parou pra pensar que está sozinha nesse mundo? A única pessoa que te deu abrigo foi seu tio. Se não for só coisa da Tsunade, e se for uma ordem dele? Já parou pra pensar onde você vai parar?

– Olha aqui, eu não... – Naruto tentou contestá-lo, mas Hinata foi mais rápida.

– Sinto muito por envolvê-los nisso. Peço que vão embora então e esqueçam tudo o que lhes pedi. Arriscar o pescoço de vocês foi um erro terrível que não pretendo prosseguir a fazê-lo, mas quanto a mim, estou disposta a fazer o que é certo, mesmo que isso custe minha estada nessa casa. [...] Vão. Mas eu fico. Vou fazer isso sozinha se preciso.

– Seja racional, nem que quisesse conseguiria descer uma cadeira de rodas com ele em cima, escada a baixo. - Pois se for preciso, Sai-kun, eu o carrego nas costas.

• FLASH's END •

– Arigato...

Devia ter dito isso a ela quando teve a oportunidade, quando ainda existia a chance de ficarem juntos - ou talvez isso nunca tenha existido. Sakura devia estar enganada quando disse que a amiga estava gostando dele, que também sentia algo especial pelo mesmo. Um beijo, o beijo dado de bom grado a outro, estava provado que o coração dela jamais lhe pertenceria, mesmo assim...

• FLASH BACK •

– Só estou dizendo isso porque percebo em seus olhos, Naruto-sama, que gosta mesmo, e muito, da Hinata-chan. E se isso for verdade, não faz bem ficar escondendo isso dela, ou de qualquer outra pessoa que seja, principalmente de si próprio. Admitindo o que sente por alguém, fica mais fácil de convencer a pessoa da veracidade desse sentimento, assim, consequentemente, conseguira fazer com que a pessoa também sinta algo por você, algo especial.

• FLASH's END •

– Ai-Aishiteru..

Afogado em tristeza, Naruto adormeceu. Em seu sonho - assim como em todos os outros desde que Hinata entrara em sua vida - ele podia andar, não tão somente, ele podia correr, e corria por campos primaveris atrás de seu amor.

Hinata ia a frente, seus cabelos esvoaçavam na brisa fresca do entardecer. Ela o provocava desvencilhando-se de seus braços sempre que o mesmo a alcançava, estavam completamente perdidos um no outro, e na felicidade que cada um lhes proporcionava.

Havia uma frondosa árvore adiante, onde a moça foi se esconder divertida e provocante, entretanto, quando ele se aproximou não havia mais sinal da mesma, como num passe de mágica ela havia desaparecido.

Foi então que Naruto avistou ao longe as silhuetas óbvias de um casal a se beijar contra a ofuscante luz do sol a se esvair por detrás das colinas, era o que temia ao reconhecê-los, ver neles a imagem que fazia o coração parar de tanta dor: Hinata e Sai estavam juntos, se amavam, e ele perdera para sempre a chance de ser feliz.

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