Secret Garden ||♥|| PASSANDO POR REFORMULAÇÃO escrita por chaosregia


Capítulo 10
Não se consegue evitar a verdade de um sentimento.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/428196/chapter/10

Naquela manhã, quando Hinata acordou, sentiu-se extremamente satisfeita e imensamente feliz. Mesmo depois do conturbado “resgate” do primo, sentindo os olhos pesarem, sobre as olheiras de uma noite mal dormida, e seu corpo cansado se arrastando pelos corredores, estava absolutamente disposta há passar aquele dia em prol de Naruto.

• FLASH BACK •

– SAKURA-CHAN, SOU EU, HINATA, DE NOVO. ABRA POR FAVOR.

– O que foi dessa vez Hinata-chan?

– Preciso da ajuda de vocês dois.

• FLASH's END •

Mas antes de ir vê-lo precisava encontrar seus amigos, Sakura e Sai, para agradecê-los pela grandiosa ajuda, por terem arriscado suas peles, ou melhor, seus empregos, sua casa, e todo o mais para realizar aquela loucura.

Embora estivesse feliz por concretizar a vontade do primo, só agora que tudo tinha passado é que pode enxergar o tamanho da loucura que cometera. Era certo que Naruto não aparentava estar tão doente quanto às atitudes de Tsunade pregavam, e que em sua analise sem maiores conhecimentos medicinais, julgara que o primo só precisava de um pouco de sol e cuidados fisioterápicos. Mas, e se sua ação precipitada colocasse em risco a saúde do rapaz?

Bem, era tarde demais para arrependimentos. Com o desloucamento de Naruto, agora só restava a ela a posição de “enfermeira” do mesmo, não descuidaria dele um minuto sequer e, quem sabe, conseguisse até colocá-lo de pé antes de seu tio, Minato, retornar à mansão.

•••

A desatenção de Sai fez com que outra corda escapasse de suas mãos, e o balde que estava içando no poço fosse parar no fundo do mesmo pela terceira vez naquela manhã.

O chefe resmungou alguma coisa que o garoto nem sequer fez questão de ouvir, amarrou outro balde numa das pontas da nova corda e deixou para “resgatar” o anterior quando terminasse de dar água aos animais.

Por falar em “resgate”, era exatamente esse o motivo de tanto desastre, de estar tão desligado. A noite passada não saia de sua cabeça, ver Hinata tão empenhada em tirar aquele “desconhecido” daquele quarto só aumentava sua preocupação, seu ciúme.

Aquela empenho todo só poderia significar uma coisa, ou que ela estava interessada no primo, ou que o sujeito a estava influenciando, iludindo-a aos poucos para se aproveitar da inocência da mesma. Se fosse essa a intenção do desgraçado, acabaria com isso tão rápida e inesperadamente quanto havia começado.

Mas no momento a única coisa que podia fazer era apoiar toda e qualquer decisão de Hinata, e oferecer ajuda a ela em qualquer situação que fosse. Só assim poderia ficar próximo o suficiente para captar qualquer investida que pudesse vir daquele cafajeste.

•••

– Seu tio voltará em menos de três semanas. Acha que ele irá aprovar essa mudança? E se for ele quem tiver ordenado a Tsunade que...

– Não se preocupe Sakura-chan, explicarei meu tio os motivos que me levaram a tanto. Afinal, você não acha “desumano” manter o Naruto-kun trancafiado lá em cima, longe de tudo e de todos? Faz mais de dez anos que ele vive assim, chega a ser cruel vê-lo lá, perdendo a chance de viver a vida como qualquer rapaz como ele leva.

– Mas o Naruto-sama é um jovem doente e sequer pode andar.

– E só por isso você acha certo mantê-lo naquele “calabouço”?

– Não está exagerando um pouquinho, Hinata-chan? Aquela suíte de luxo não é nenhum calabouço. Ele recebe o melhor tratamento, e se está isolado deve ser porque não pode se dar aos luxos de um rapaz “normal”, como meu irmão por exemplo.

– De que adianta passar o resto dos dias sobre lençóis de seda se não se puder ver a luz do sol, o canto dos pássaros, a brisa que corre pelo jardim...

– Está falando como um daqueles vagabundos que escrevem suas paixões e boemias para mocinhas sonhadoras como você. A vida é muito mais complicada do que parece Hinata-chan, temo por nós todos, até mesmo pelo Naruto-sama.

– Não são vagabundos Sakura-chan, são poetas. – Sorriu. - E eu sei muito bem como a vida pode ser difícil, por isso estou aqui, vivendo com meu tio. – Mas até mesmo a mera lembrança dos pais era suficiente para apagar qualquer sorriso de seus lábios. - Só não entendo o porquê dessa simples atitude de tirar o Naruto-kun daquele quarto ter nos levado a uma discussão tão séria como essa.

– Só estou tentando alertá-la. Uma jovem tão inocente como você não consegue ver os mesmos problemas que eu consigo enxergar. Apesar de termos a mesma idade, a vida já me pregou muitas peças e, por experiência, acho melhor você não confiar tanto nas pessoas assim.

– O que você quer dizer com isso, Sakura-chan? – Aquilo tudo lhe parecia desnecessário, quase absurdo. A amiga estava armando uma pequena tempestade em um copo d’água, e que aos poucos começava a adquirir proporções estrondosas.

– A maneira como você acredita em seu tio, Minato-sama, um homem amargurado que pode cansar-se de tê-la aqui se continuar desafiando assim a autoridade dele. Primeiro o jardim, um lugar que ele mesmo decidiu esquecer para sempre e que você, sem permissão, tomou e modificou-o por completo. – Nisso ela tinha razão. Não poderia negar jamais sua ousadia com a boa vontade do tio, embora fosse exatamente nisso que estivesse confiando desde o inicio para ajudar justamente assim. - Depois essa história de se envolver com o filho dele...

– Como assim “se envolver”? – Hinata era uma garota pura e inocente demais para entender a profundidade sombria das afirmações de Sakura. A amiga não fazia por mal, como ela mesma já havia mencionado a vida lhe ensinara da pior maneira a não confiar em ninguém, mas, mesmo sendo tão “direta”, era preciso um pouco mais de clareza em suas explicações.

– Só acho que não devia ficar tão íntima de um rapaz que você mal conhece Hinata-chan. – E pela expressão que brotava no rosto pálido da garota, Sakura percebeu que havia conseguido se fazer entender. Logo veio o olhar de reprova de Hinata, a empregada achou melhor se explicar melhor. - Se falo isso não é porque eu desconfie de sua índole, mas visitar o quarto de um rapaz na calada da noite não vai ajudá-la a manter sua reputação e inocência.

– Não há nada demais entre nós, só quero ajudá-lo a voltar a ter uma vida normal, feliz. – Palavras sinceras, vindas de um coração puro e bem intencionado.

– Eu sei Hinata-chan. Te conheço o suficiente para ter completa certeza de suas intenções puras e benéficas. Mas não posso dizer o mesmo daquele rapaz. – Em igual sinceridade, mas banhadas em desconfiança de um alguém acostumado com as desilusões do mundo.

– Não posso deixá-lo sozinho agora. É responsabilidade minha cuidar da saúde do Naruto-kun. – Podia entender a preocupação da amiga, pelo menos parcialmente. Mas não estava em seus planos voltar a trás, não agora que já havia ido tão longe e interferido na vida do primo.

– Só peço que deixe Sai ficar próximo de vocês o máximo de tempo, pelo menos até seu tio voltar e decidir o que fazer com essa situação.

– Decidir? Não estou entendendo...

– Hinata-chan, seja sincera. Seu coração está balançado por esse rapaz, não está?

•••

Quando Naruto despertou naquela manhã, uma sensação nova e revigorante dominou seu ser. Tudo era novo e empolgante em sua vida agora, desde as paredes do quarto até os sentimentos que circulavam em seu coração. A alegria e satisfação que aquelas mudanças lhe proporcionavam eram capazes te de despertar sua vontade de voltar a andar, de correr pelos campos com Hinata, fritando para todos o quanto era bom se sentir novamente vivo.

Hinata. Sim, Hinata... Ela era responsável por tudo de bom que vinha lhe acontecendo nos últimos dias. Toda e cada coisa nova provinha daquele ser quase angelical, com exceção dos momentos em que ela perdia o controle com as ofensas que o rapaz proferia quase sem querer, devido a falta de costume com a convivência pacífica.

• FLASH BACK •

– O que faz em minha casa? [...]

Seu pai me acolheu após a morte de meus pais. Eles morreram há um mês e seu pai foi gentil ao me convidar para morar em sua casa. Não sei o que seria de mim se ele não tivesse...

– Que seja! Porque entrou no meu quarto? Não gosto de visitas!

[...]

– Saia!

– Eu só...

– JÁ MANDEI VOCÊ SAIR!

– NÃO GRITE COMIGO!

– Como é q...

– OLHA AQUI, EU SÓ VIM OFERECER AJUDA. PEÇO DESCULPAS POR TER ENTRADO EM SEU QUARTO, NÃO FOI MINHA INTENÇÃO. MAS ISSO NÃO JUSTIFICA A SUA GROSSERIA COMIGO. PENSEI QUE PUDESSEMOS SER AMIGOS E NOS CONHECER AFINAL SOMOS PRIMOS. MAS SE O SENHOR É TURRÃO DEMAIS PARA ME RECEBER DE FORMA EDUCADA, FIQUE SOZINHO!

• FLASH's END •

Como se arrependia daquela grosseria desnecessária, dos maus tratos que implicara a Hinata desde o primeiro momento, sem nem ao menos tê-la conhecido direito. Mas talvez tenha sido exatamente isso que unira os dois, quer dizer, se ele não fosse grosso com aquela garota desconhecida, ela não teria se mostrado tão forte e perspicaz, tão decidida e geniosa como ele mesmo era. Temperamento esse que ele jamais imaginaria existir por baixo daquelas bochechas rubras e constrangidas, e daquele sorriso tímido e angelical.

Hinata era uma mulher realmente surpreendente, ao mesmo tempo em que sua timidez e recato a mostravam frágil e indefesa, seu jeito astuto e respostas prontas, seu ar dominador exercido na maioria das vezes “sem querer querendo”, a tornavam ainda mais atraente e interessante. Era uma mulher de punho firme, e completamente feminina. Sabia ser menina e mulher ao mesmo tempo, e era isso o que todo homem esperava de uma companheira, ser dominado e também dominar.

Se um dia ele viesse a sair daquela cama e constituir uma família, casar-se e ter filhos, era com uma mulher assim que gostaria de passar o resto de seus dias, uma mulher tão linda e envolvente quanto Hinata. Algo que seria quase impossível de se encontrar, pois aquela garota devia ser exclusiva, única, fatal.

Justamente essa personalidade dela que o deixava tão animado quanto a suas visitas. Não via a hora de vê-la atravessar essa porta, dessa vez a luz do dia iluminaria aqueles olhos perolados tão encantadores e o deixaria ver claramente o rubor meigo e apaixonante daquelas bochechas constrangidas. Não devia demorar mais muito tempo para que ele pudesse reencontrá-la, Aliás, não tinha nem ao menos tido tempo para agradecê-la por tudo de forma adequada, mas, assim que ela viesse, daria a ela o merecido prêmio.

• FLASH BACK •

– Ah não. Isso já é demais Hinata-chan. Me desculpe, mas não podemos fazer isso. [...] Uma chave é uma coisa, levar ele lá pra baixo é outra completamente diferente. Já pensou no que a Tsunade vai fazer conosco quando descobrir que participamos dessa loucura? Se ele é mantido aqui deve ter um bom motivo. Não devemos interferir, somos apenas empregados. E você Hinata? Já á egoísmo arriscar seus amigos por alguém que acabou de conhecer, mas arriscar a si própria é muita burrice. Você já parou pra pensar que está sozinha nesse mundo? A única pessoa que te deu abrigo foi seu tio. Se não for só coisa da Tsunade, e se for uma ordem dele? Já parou pra pensar onde você vai parar?

– Olha aqui, eu não... – Naruto tentou contestá-lo, mas Hinata foi mais rápida.

– Sinto muito por envolvê-los nisso. Peço que vão embora então e esqueçam tudo o que lhes pedi. Arriscar o pescoço de vocês foi um erro terrível que não pretendo prosseguir a fazê-lo, mas quanto a mim, estou disposta a fazer o que é certo, mesmo que isso custe minha estada nessa casa. [...] Vão. Mas eu fico. Vou fazer isso sozinha se preciso.

– Seja racional, nem que quisesse conseguiria descer uma cadeira de rodas com ele em cima, escada a baixo.

– Pois se for preciso, Sai-kun, eu o carrego nas costas.

• FLASH's END •

Jamais imaginaria alguém capaz de defendê-lo daquela maneira, com tanta coragem e opinião. Hinata não desistira dele em momento algum, mesmo quando ele era rude e a tratava de forma bestial. Ela era mesmo um anjo, só podia ser. Mesmo nunca tendo visto ou comprovado a existência de uma criatura celestial, se existisse uma, tinha que ser ao menos parecida com Hinata.

A tristeza que a morte de sua mãe tinha lhe causado havia o mantido no terceiro andar, trancado naquele quarto único, recluso do resto do mundo durante quinze anos. Mas tudo desaparecia instantaneamente quando sua protetora adentrava por aquela porta. Qualquer problema, mal, doença ou sofrimento pareciam ser ofuscados por seus orbes perolados e extinguidos por seu sorriso contraído, mas capaz de iluminar a escuridão sem fim que jazia a anos no peito do rapaz.

Devia ser isso, depois de anos abandonado e excluído, sua mãe finalmente mandara ajuda, colocando de uma vez por todas um anjo milagroso em sua vida. Um anjo que não possuía asas brancas como as de uma pomba, mas sim um amor capaz de fazê-lo levitar e alcançar as estrelas.

•••

Faltavam apenas três dias para a primavera. Lá fora a paisagem já começava a dar sinais claros da próxima estação. A neve já começava a derreter e o sol estava ficando a cada dia mais quente. A brisa gelada do inverno deu lugar a uma sensação de calor natural e a vegetação aos poucos ia ganhando novos tons nas árvores, gramados e nas tímidas flores que despontavam no solo ainda úmido de gelo derretido.

Os pássaros voavam e cantavam alegremente e nas estradas abandonadas mais ao longe, onde Hinata nunca via ninguém passar enquanto observava a tenebrosa paisagem gelada pela janela do quarto, haviam carroças cheias legumes, animais, e alguns transeuntes animados com o fim da estação.

A garota de orbes perolados esperançosos na janela também estava mais animada do que nunca. Lembrando-se da primeira impressão que aquele cenário havia lhe causado, uma casa mal assombrada perdida na névoa, onde não havia sinais de quaisquer coisas felizes, ou de vida. Aquela sensação desconfortável que sentiu quando adentrou na mansão Uzumaki havia desaparecido de sua mente, derreteu-se como a neve que cobria as montanhas no horizonte.

Mas ainda tinha algo que a atormentava, levemente, é claro. Nada de muito importante, mas que era estranho e diferente o suficiente para deixá-la no mínimo intrigada.

• FLASH BACK •

– A maneira como você acredita em seu tio, Minato-sama, um homem amargurado que pode cansar-se de tê-la aqui se continuar desafiando assim a autoridade dele. Primeiro o jardim, um lugar que ele mesmo decidiu esquecer para sempre e que você, sem permissão, tomou e modificou-o por completo. Depois essa história de se envolver com o filho dele...

– Como assim “se envolver”?

– Só acho que não devia ficar tão íntima de um rapaz que você mal conhece Hinata-chan. Se falo isso não é porque eu desconfie de sua índole, mas visitar o quarto de um rapaz na calada da noite não vai ajudá-la a manter sua reputação e inocência.

– Não há nada demais entre nós, só quero ajudá-lo a voltar a ter uma vida normal, feliz. [...]

– Hinata-chan, seja sincera. Seu coração está balançado por esse rapaz, não está?

• FLASH's END •

As palavras de Sakura não saiam de sua cabeça. Será que ela achava mesmo que Hinata podia estar interessada no primo, de uma forma que não fosse pura, ingênua e livre de quaisquer sentimentos maiores que uma simples amizade ou laço familiar? Como ela podia pensar que Naruto podia de alguma forma faltar-lhe com respeito?

Bom, para falar a verdade ele havia lhe tratado mal desde o primeiro “encontro” dos dois.

• FLASH BACK •

Mais alguns passos e estava frente a frente com a porta de onde os gemidos, uivos e gritos saiam. Estava com medo do que poderia encontrar ali, mas sua curiosidade e preocupação a impulsionaram a tocar na maçaneta e a girá-la devagar, se abrir ainda a porta. Para seu espanto o silêncio foi imediato, como se o movimento de suas mãos tivesse desligado a fonte de todo aquele barulho.

– QUEM ESTÁ AI? – Uma voz forte e furiosa surgiu pela fresta da porta. Quem quer que estivesse ali não estava nada feliz por receber visitas. – VÁ EMBORA. NÃO QUERO VER NINGUÉM. VÁ EMBORA AGORA.

Hinata se afastou da porta rapidamente, pensou em sair correndo, mas não teve coragem nem de se mexer novamente. A voz se calou. O ventou empurrou a porta alguns centímetros, Hinata voltou a se aproximou e completou o gesto abrindo completamente a mesma. O lugar estava escuro demais, e a única vela que trouxera consigo, havia apagado na mesma rajada de vento que abrira a porta há pouco.

– O Q-QUE VOCÊ QUER? JÁ DISSE QUE NÃO QUERO VER NINGUÉM.

A voz não estava mais tanto zangada, estava mais preocupada, assustada, como a própria Hinata estava no início. Mas só no inicio. Agora a curiosidade falava mais alto. Avançou mais alguns passos adentrando o quarto. Um relâmpago iluminou os céus e o quarto escuro revelando brevemente uma cama de casal alguns passos à frente. Tinha alguém ali, deitado, mas a luz fora rápida demais e Hinata não conseguira o ver.

– Qu-Quem é vo-você? – A voz questionou. Hinata não respondeu. Um, dois, três relâmpagos seguidos e dessa vez Hinata pode ver com mais clareza o ocupante da cama. Era um rapaz, seus cabelos pareciam ser loiros, não dava para se saber ao certo, e estavam despenteados, bem bagunçados. Ele a olhava extremamente surpreso e tão curioso quanto ela. Pode ver até o movimento que ele tentara fazer na direção dela, e isso a assustou. – Quem é você? – Perguntou novamente, e novamente ela não respondeu. – RESPONDA! – Ele voltou a se enfurecer e o quarto voltou a ficar escuro. Assustada com o grito, Hinata correu para a porta e a bateu fugindo para as escadas que a levariam de volta ao segundo andar.

• FLASH's END •

Mesmo assim ele havia mudado em relação a ela, e, cada vez mais agora os dois se tornavam bons amigos e criavam um laço firme de compreensão, gentileza e bondade. Era agradável aos dois ter a companhia um do outro, era só isso, nada demais. Aliás, mesmo que fosse, Hinata não saberia distinguir. Era inocente demais para falar ou pensar em assuntos de “amor”, coisa que só vira antes nos livros de poesia que ganhara da mãe em seus aniversários.

A conversa mais “intima” que tivera com a mãe, Linara Hyuuga, fora quando completou quinze anos e as duas se sentaram no quarto da garota para conversar sobre poesia. A mãe dizia que o amor era o dom maior, a maior benção que uma mulher poderia receber dos céus, mas que também poderia ser sua perdição. Dizia que Hinata devia se manter pura até o dia em que encontrasse seu verdadeiro amor e se cassasse com ele, mas, pra ser sincera, aquela garotinha de quinze anos não entendia até hoje o que a mãe queria dizer quando falava em “manter-se pura”.

Certa vez até tentara descobrir do que se tratava tudo aquilo, pelo menos na parte física, biológica. Roubou um dos livros da biblioteca do pai, um livro sobre anatomia humana, e folheou algumas páginas curiosa, mas antes que pudesse chegar na parte “interessante” e fundamental, Hiashi Hyuuga descobriu a travessura da filha e a castigou com umas boas palmadas. Desde então Hinata jamais ousara ser curiosa em relação ao assunto.

Pelo menos até uma colega do colégio de moças em que estudara durante toda a sua infância e adolescência, apresentara um tal de “beijo”, a figura misteriosa que povoava o final dos contos de fadas e era buscado desesperadamente pelos poetas incorrespondidos em suas paixões. A colega dizia que quando um rapaz se interessava por uma moça, ele se aproximava do rosto dela e tocava os lábios dela com os dele, depois colocava a língua dentro da boca da mesma e assim nasciam os bebês. Desde aquele dia Hinata fugia de todo e qualquer homem que ousasse se aproximar dela, assim como Sai parecia ter tentado certa vez quando caíram na estrada rumo a mansão por causa da chuva.

Deus que me livre e guarde se ela ficasse grávida com esse tal beijo. A tia velha da França disse lhe uma vez no Natal que moças que engravidavam solteiras eram jogadas num poço bem fundo, e da lá nunca mais saiam. Claustrofóbica e morrendo de medo de escuro, a garota decidiu não pagar para ver, deixou de passar perto de qualquer e todo poço que encontrasse em seu caminho. As vezes a paranoia da ignorância era tamanha que podia jurar ouvir os gritos das moças repudiadas do fundo do poço, pedindo para serem libertas.

De repente um frio lhe correu a espinha, os pelos do corpo se arrepiaram todos ao imaginar aquela situação. E se fosse disso que Sakura estivesse falando? E se a amiga tivesse com medo de que Naruto tentasse dar esse tal de beijo na garota? As bochechas queimavam sem parar só de pensar no primo se aproximando de seu rosto com os lábios encostando nos dela, logo todo o corpo parecia queimar. Só até uma língua monstruosamente grande sair da boca dela e engoli-la por completo, imaginação fértil!

Tentou afastar o beijo, a língua, os bebês e o poço do pensamento. Naruto jamais tentaria algo tão horripilante contra ela. Eles eram amigos, somente isso. Mesmo porque, um rapaz bonito como ele jamais se interessaria por uma garota tão feia e sem graça como ela. Sentiu uma pontada de tristeza no peito. Porque de repente isso a incomodava tanto?

• FLASH BACK •

– Hinata-chan, seja sincera. Seu coração está balançado por esse rapaz, não está?

• FLASH's END •

A pergunta ecoou nova vez dentro da cabeça confusa da garota. Não, não tinha nada a ver. Sentia pelo primo apenas um amor de primos, um sentimento puro e inocente de carinho e compaixão. Não gostava de vê-lo sofrer e queria ajudá-lo a voltar a viver e a ser feliz como nunca fora antes. Era só isso.

É claro que os orbes azulados dele a constrangiam de uma forma inexplicável, as vezes chegava a sentir-se despida na frente dele quando aqueles olhos a fitavam sem parar. Mas era um sentimento comum e compreensivo a qualquer garota que nunca havia se relacionado de forma tão próxima com um quase desconhecido. Talvez não nessas proporções, mas não era nada que pudesse ser considerado anormal ou superior a um bem querer de amigos.

• FLASH BACK •

Aproximou-se da cama com cuidado e fazendo o maior silêncio possível. Deixou os biscoitos sobre a mesa e ajeitou as cobertas sobre ele. Ficou alguns segundos ali, parada, observando o rapaz com um sorriso bobo nos lábios. Apesar da pele pálida, da aparência adoentada dele, era um rapaz muito bonito. Seus belos cabelos loiros, que ela não resistiu em acariciar, mesmo sem saber o porquê de estar sentindo todas aquelas borboletas voarem desesperadamente dentro de seu estômago.

– Podia fazer isso mais vezes?

– O-Oque? – Ela se assustou ao constatar que o primo estava acordado e que seus orbes azuis estavam fixos nela, além de um lindo sorriso que surgiu nos lábios dele. – N-Na-Naruto, N-Naruto-kun, eu... De-Desculpa. Não quis, eu não, não quis te acordar... Eu só, só achei... – Tentou se acalmar. - De-Desculpa...

• FLASH's END •

As borboletas eram um mau sinal, era o que a mãe dizia para ela. “Quando sentir as borboletas voarem em seu estômago, esse será o primeiro sinal de que algo maravilhoso está para acontecer em sua vida.” Mas que coisa maravilhosa era essa que as borboletas traziam em suas asas agitadas?

•••

Porque Hinata demorava tanto? Será que ela tinha desistido dele? Não, ela não desistiria dele depois de ter ido tão longe, pelo menos preferia creditar que não.

• FLASH BACK •

– Achei... Achei que você não fosse voltar...

– Eu, eu achei... Achei melhor...

– Não precisava ter voltado.

– Ora seu...

– Estou acostumado com a solidão. [...]

– Trouxe alguns biscoitos...

– Porque você me trouxe biscoitos?

– Achei que você pudesse gostar e talvez... Talvez pudéssemos, quem sabe, ser amigos...

– Porque você iria querer ser minha amiga?

– Não sei você mais esse lugar é meio entediante às vezes... Quer dizer, só pensei que você aqui, sozinho nesse quarto, parecia meio...

– Solitário.

– Não, quer dizer, eu achei que, como somos primos... Talvez você quisesse me conhecer... Poderíamos fazer companhia um para o outro... Achei que você pudesse querer uma, uma amiga.

– E porque você pensou que eu poderia querer sua amizade?

• FLASH's END •

Cada vez que se lembrava das palavras malvadas que proferira quase todas as vezes que tinham contato, sentia-se o maior dos idiotas, tinha vontade de bater em si mesmo. Talvez fosse por isso que ela não tinha chegado ainda, tinha mesmo se cansado dele. Devia ter pensado melhor em toda aquela loucura e concluído que não valia a pena todo esforço e sacrifício por alguém imbecil como ele.

Era melhor assim, que ela fosse antes que se apegasse a ela. Era melhor esquecê-la antes que sua presença se tornasse indispensável, e então Hinata resolvesse abandoná-lo como a mãe, o pai e todas as outras pessoas que ele viesse a amar um dia.

Mas já era tarde demais para esquecer, ou para não sofrer com a ausência dela. Ela já era especial, a coisa mais importante na vida dele. Aquela garota era parte de seu mundo, ela era SEU MUNDO. Não poderia viver mais um dia sequer sem aquelas bochechas rosadas.

• FLASH BACK •

– LADRÃO!

– O q...

– CALA A BOCA. SE PENSA QUE VAI FAZER ALGUM MAL A TAMII ESTÁ ENGANADO! ELA É MINHA AMIGA E VOCÊ NÃO VAI TIRÁ-LA DE MIM, NEM MALTRATÁ-LA. VOCÊ PODE ATÉ ME OFENDER, MAS NÃO VAI TOCAR UM DEDO SEQUER NELA, OUVIU?

– Se você gostasse tanto desse animal, não o deixaria esquecido por ai. [...] Leve esse pulguento pra fora do meu quarto. Sou um garoto doente, não quero me infectar com esse bicho sujo e malcuidado. [...]

– ANIMAL PULGUENTO E SUJO É VOCÊ! A TAMII É MUITO BEM CUIDADA E TEM A BOCA MAIS LIMPA DO QUE A SUA SEU... SEU...

• FLASH's END •

Ou sem aquele temperamento surpreendentemente explosivo dela.

• FLASH BACK •

– VAI! FALA! ME OFENDA E VAI EMBORA. E NÃO VOLTA MAIS AQUI. NÃO QUERO TE VER, NÃO QUERO VER NINGUÉM. SOME DA MINHA FRENTE, AGORA! SAI! EU TO MANDANDO! VAI EMBORA!

– VOCÊ NÃO MANDA EM MIM!

– MANDO SIM. EU MANDO EM TUDO AQUI. VOU MANDAR MEU PAI TE COLOCAR PRA FORA DAQUI. EU NÃO QUERO VOCÊ NA MINHA CASA, NO MEU QUARTO. VÁ EMBORA.

– NÃO AJA FEITO CRIANÇA, VOCÊ NÃO PARECE NENHUM POUCO COM UMA.

– SOME DAQUI GAROTA. VOCÊ ESTÁ ME IRRITANDO. ESTÁ ME DEIXANDO COM DOR DE CABEÇA. SOME! EU TO MANDANDO.

– NÃO VOU!

– EU JÁ MANDEI VOC... – E de repente a voz falhou, as palavras não saiam. Começou a tossir violentamente, seus pulmões pareciam que iam explodir. Levou a mão na boca para abafar a tosse, mas isso só a intensificava.

– Vo-Você está...

– V-Va... – Tossindo. – Emb... Embor... – Quanto mais se exaltava, mais tossia. Hinata acabou encontrando a jarra de água que repousava quase cheia sobre a mesa de cabeceira do rapaz, pegou o copo que estava ao lado e encheu.

– To-Tome um pouco de... – Mas sua atitude gentil de nada serviu para acalmá-lo. O rapaz bateu no copo de água fazendo-o cair no chão. Não se partiu, mas ensopou o carpete.

• FLASH's END •

Ela não podia ter ido embora, não podia tê-lo deixado novamente sozinho, e infeliz. Não agora que se tornara tão necessária quanto o ar que enchia seus pulmões. Se ela tivesse realmente partido, Naruto pereceria enfim, sem poder respirar, sem querer respirar ou viver nunca mais.

• FLASH BACK •

Hinata recolheu o objeto e repetiu o gesto enchendo-o novamente, mas dessa vez não foi complacente com a ignorância do primo. Juntou toda a força que tinha e, que não era maior do que a dele claro, mas foi o suficiente para tirar a mão que ele insistia em manter na frente da boca, e fazê-lo beber a água à força.

Vendo a insistência da garota e a preocupação verdadeira que ela parecia nutrir por ele mesmo tendo a maltratado daquela forma, o rapaz não viu outra forma de agira, senão aceitando o auxílio e o copo de água que realmente o fizeram a tosse passar.

Por um instante os olhos dele, orbes azuis perplexos, indecifráveis, cruzaram-se com os dela, prateados, como duas luas cheias, em seu esplendor e complexidade, o fitando atentamente, cuidando para que ele bebesse toda a água. Não estavam mais assustados, apenas apreensivos. Não o repudiam, condenavam, desprezavam como todos os outros faziam, apenas cuidavam dele, tentavam acalmá-lo para que ele não se sentisse mal.

Uma das mãos da garota segurava lhe o queixo de forma gentil, a outra virava aos poucos o copo para que ele pudesse tomar todo o seu conteúdo. Quando o líquido finalmente se esgotou, ela pegou o guardanapo sobre a mesa e fez sinal de que iria secar os lábios e as gotas que molharam o pescoço dele, mas ao encontrar-se com os olhos do mesmo, a fitando com tanta intensidade, a garota corou e apenas estendeu o pano ao rapaz, constrangida com a forma com a qual ele a olhava.

– O-Obri... – A palavra relutava em sair. Não era nada comum a ele agradecer a alguém por qualquer coisa que fosse. Pelo contrário, sempre humilhava, maltratava, ignorava, ofendia. Esse era ele, criando sempre um escudo de defesa em relação às outras pessoas, com medo de que alguém se aproximasse, o conquistasse, o fizesse se sentir melhor, e depois o abandonasse como a mãe morta e o pai que jamais votara a vê-lo, mesmo morando na mesma casa. – Obrigada! – O agradecimento saiu de forma doce, sincera, mas com evidente perplexidade, incompreensão, visto que ele ainda não havia absorvido toda aquela gentileza e preocupação que ela lhe oferecia de bom grado, mesmo sabendo que ele lhe maltrataria, ou expulsaria novamente de seu quarto pedindo, ordenando, que ela não voltasse mais. Quando, o que ele realmente queria era tê-la por perto, vê-la, ouvir sua voz, mesmo que aos gritos, aproveitando-se de sua presença, de sua beleza suave e ao mesmo tempo entorpecedora, que o faziam se sentir tão bem quanto jamais se sentira.

– N-Não precisa, não precisa agradecer.

• FLASH's END •

Mas se ela ficasse, se voltasse a atravessar aquela porta e caminhar em sua direção, faria tudo diferente, jamais seria rude com ela outra vez. Trataria aquele anjo como ela merecia, como uma princesa de contos de fada, com todo respeito, carinho e devoção que eram obrigações dele quando o assunto era Hinata.

• FLASH BACK •

– Fique! – Segurou o braço da garota impedindo assim que ela fugisse, que ela o deixasse novamente, que demorasse mais três dias até que ele pudesse reencontrá-la, ou que nunca mais voltasse naquele quarto outra vez. Segurou com firmeza, mas sem machucá-la, de forma gentil para não ofendê-la, para não assustá-la.

–...

– Eu imploro.

–...

– Por favor. – Nem ele mesmo acreditava naquilo que acabara de sair de sua boca. Ele não só queria que ela ficasse, pedia de forma direta, implorava por mais alguns instantes em sua presença, ouvindo sua voz, sorvendo lentamente a gentileza de suas ações como um remédio que tomava desesperadamente, o único que fazia algum efeito em seu corpo, total efeito, não só no corpo como na alma.

• FLASH's END •

E não a deixaria ir nunca mais. A protegeria de tudo e de todos, sobreviveria somente para fazê-la feliz. Pois para ele Hinata era mais que um anjo, uma boa alma piedosa tentando ajudá-lo. Hinata era como o sol, como a luz, era o sopro de vida que Deus mandara para trazer de volta seu corpo e sua alma. Ela não era somente uma pessoa especial, o que sentia por ela ia ale disso, ia além de tudo. O que sentia por ela era maior que o universo, mais intenso que o brilho de todas as constelações. Era mais real e mais verdadeiro que supõe a nossa vão filosofia. O que sentia por Hinata era... Amor?!

•••


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Secret Garden ||♥|| PASSANDO POR REFORMULAÇÃO" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.