Nomes têm poder. Era isso que Aberforth falava quando contava as suas histórias de fadas e duendes: "Nunca lhes dê o seu nome verdadeiro, caso contrário eles podem te levar embora".
Eram apenas histórias, é claro, mas ele nunca dava o seu nome verdadeiro para ninguém. Talvez fosse uma trapaça, mas o que ele podia fazer se ainda não sabia qual era o seu nome? Havia o nome que mama havia lhe dado, mas aquele nome não era seu, não de verdade. Palavras eram mágicas, dizia Albus, e nomes, mais ainda, mas aquele que Kendra e Percival escreveram em sua certidão de nascimento não carregava magia alguma, não para ele.
Foi o amigo de Albus quem o ajudou com aquele problema. Em um dia ensolarado, enquanto os irmãos atrasavam o jantar por conta de uma discussão boba que tomara proporções maiores do que o aceitável, Gellert se sentou ao seu lado no jardim e começou a falar. Ele contou sobre a escola da qual fora expulso e dos uniformes pesados que os alunos usavam lá; falou das línguas diferentes ouvidas dentro daquele castelo e dos feitiços de tradução um tanto falhos usados pelos alunos e professores; falou em sua língua, palavras estranhas que arranhavam a garganta e saíam querendo acertar alguém.
A melhor parte, no entanto, foi ouvi-lo descrever a vila onde vivia: pequena, quase escondida na encosta ao redor de um lago azul escuro cercado por montanhas cobertas de neve. No topo de um morro, uma igreja com gente enterrada até dentro das paredes e uma capela com crânios encarapitados uns sobre os outros. Montanha acima e montanha a dentro, túneis e mais túneis que levavam homens e mulheres pelo subterrâneo em busca de sal, a maior riqueza daquele lugar junto da beleza. De noite, o silêncio caía de forma sepulcral e era possível sentir a magia que ainda ecoava dos ossos apodrecendo no cemitério, nas minas e nas florestas.
"Você vai voltar pra lá?" ele perguntou, finalmente erguendo o olhar das plantas com as quais brincava e encarando o rosto sorridente do rapaz.
"Não. É bonito, mas é o fim do mundo. Ninguém vai lá para ficar, apenas para conhecer. E quem está lá... bom, eles nunca saíram, parecem que estão grudados naquela montanha como o sal."
"Você saiu."
"Não sou como eles." Uma piscadela divertida o fez rir.
"Fala de novo da capela?"