Laura E Edgar - Um Novo Olhar escrita por Bia


Capítulo 44
Desencontros


Notas iniciais do capítulo

Oi meninas, tudo bem? Neste capítulo veremos a reações de Laura e Edgar e ainda temos o almoço com Henrique... Espero que gostem... Não deixem de comentar é sempre bom saber o que acham... Bjs... E boa leitura...



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Desencontro (Capítulo 44)

Por Laura

– Edgar, você veio? – Ao vê-lo ali. Não sabia o que pensar, veio em minha mente a ideia que carregava comigo nosso filho. É o Edgar, pai do meu filho.

– Laura. – Foi a única coisa que pareceu conseguir pronunciar.

– Edgar, que surpresa boa. – Ele tinha o semblante tenso. - Edgar, deixe que o apresente... Querido, este é Henrique Medeiros, eu já falei dele para você. Henrique, este é Edgar Vieira, meu marido.

Henrique esticou a mão para cumprimentar o Edgar que fez o mesmo, apesar de aparentar desconforto de ambos com a situação.

– Prazer em conhecê-lo. – Henrique parecia também desconfortável.

– O prazer é todo meu. – Tão protocolar.

– Que bom que veio. Nem cogitava que viria... Como foi seu encontro com seu cliente em Copacabana? – Tentava amenizar o mal estar.

– Encontro? – Virou para mim e parecia confuso. – Foi bem. – Desconfortável.

– Laura, como você já tem a companhia de seu marido, talvez seja melhor eu ir... – Henrique pegou se chapéu em cima da mesa.

– Você não quer conhecer o Ferreira?

– Eu tenho certeza que haverá outras oportunidades. Edgar, foi um prazer conhecê-lo. Como licença, nos vemos depois Laura, Edgar.

– Tem certeza que quer ir. – Perguntei.

– Minha irmã espera por mim... Vemo-nos em outro momento... – Era evidente que a chegada de Edgar havia intimidado Henrique a ficar ali.

– Está bem. O vejo depois.

Henrique fez um aceno de cabeça e colocou o chapéu assim que alcança a rua, eu o vi se afastar e depois me virei ao Edgar que ainda se encontrava de pé.

– Edgar, que bom que veio.

– Pelo visto estava em boa companhia.

– Estava sim. E também fiquei muito feliz quando o vi chegar, apenas não entendi porque veio se havia dito que tinha um encontro com um cliente em Copacabana.

– Eu... Tive o encontro, apenas terminou mais cedo que imaginava... – Ainda tenso.

– Então é melhor sentarmos para esperar o Ferreira, não tarda a chegar.

– Laura o Ferreira não vem.

– O quê?

– O Ferreira não vem... Eu... Eu fui à redação do jornal e o Guerra tinha acabado de receber um recado do Ferreira dizendo que não poderia ir.

– Que história e está Edgar?

– Eu apenas estou te passando o recado que recebi do Guerra.

– Desculpa Edgar, mas tudo isso é muito estranho. Você não viria a me aparece do nada... E ainda por cima com uma desculpa que o Ferreira não vem sei lá o porquê.

– O Guerra me pediu um favor e eu o fiz, pois não era justo deixar você ficar esperando por aquele irresponsável que marca com você e depois toma chá de sumiço. Que é incapaz de honrar um compromisso. – quase ríspido comigo.

– E você fez questão de me trazer o recado... Por acaso tem alguma coisa a ver com isso? Por acaso pediu para o Guerra desmarcar o encontro. – Pensar que Edgar poderia ter intervindo.

– Claro que não. Você me conhece o suficiente para saber que não faria isso.

– Será Edgar? – Indignada. – Realmente não sei, se visse o seu rosto quando me viu aqui com o Henrique e que o fez até ir embora.

– Eu não disse nada para ele.

– E precisava. Bastava olhar para você. A maneira como nos olhou...

– Lamento muito se seu amigo foi embora, não era a minha intenção. A propósito, foi só dizer que não viria para você colocar outro em meu lugar.

– Como é que é? – Indignada como o que Edgar havia dito.

– É isso mesmo. Eu disse que não viria e surgiu este Henrique Medeiros, não sei dá onde, para vim com você.

– Ele veio me acompanhar porque é um cavalheiro e não quis que eu ficasse sozinha aqui, sem contar que, também, estava curioso em conhecer o Ferreira, tanto quanto eu...

– Eu vi o quanto ele estava interessado em conhecer este tal jornalistazinho... A maneira como olhava para você...

– Olhava para mim? Henrique sempre foi um cavalheiro comigo...

– E isso não impediu dele olhasse para você daquela maneira...

– Está exagerando... Mesmo que fosse assim, sabe perfeitamente bem que nada aconteceria... Prezo muito a amizade do Henrique... Da mesma forma como prezo o que tenho com você...

– Será que não basta querer conhecer o Ferreira, agora mais este tal Henrique...

– Se pensa que vou ficar aqui falando do Henrique está muito enganado. Aliás, Edgar Vieira, me ocorreu uma coisa... Se pensa que vou ficar aqui sem saber o que realmente aconteceu, saiba o senhor que está muito enganado. Irei agora mesmo falar com o Guerra. E eu não preciso de companhia. – Sai do Bar Guimarães e Edgar me seguiu até a redação do Correio da República.

– Eu posso saber o por quê que está atrás de mim?

– Pelo que me consta Laura, a rua ainda é pública.

– Então porque o senhor não vai para casa?

– Resolvi fazer outra visita ao Guerra.

Ao chegar a redação Guerra conversava com Jonas.

– Laura... Edgar... Vocês aqui! – Guerra ficou surpreso com a nossa presença.

– Fala para ela Guerra que o Ferreira é um irresponsável por deixá-la plantada no meio do Bar Guimarães. – Edgar se adiantou em falar.

– O qu..quê.? – Guerra gaguejava e parecia não entender nada.

– Guerra, é verdade o que o Edgar acabou de me falar? – Estava irritada com Edgar

– Verdade? – Espantado.

– Fala para ela que o ótimo jornalista não passa de um irresponsável que não cumpre com seus compromissos. – Edgar cada vez mais irritado.

– Edgar, também não é assim. – Guerra tentava amenizar os ânimos, sem grande êxito.

– Então é o quê? Guerra. – Disse.

– O Ferreira não apareceu... Ele... Ele... Enfim... Houve um previsto... Ele pediu desculpa e não pode ir...

– E que imprevisto foi este? – Perguntei.

– Ele... Ele... Teve que sair da cidade por causa de uma matéria importante, não me falou muito...

– Como não se fosse é o redator dele? Deveria saber por onde anda seu jornalista. - Disse

– Eu... Eu... É claro que eu sei... Apenas não posso falar muito ainda, ele me falou sobre a matéria e pediu que não falasse nada, eu consenti... Acredite Laura, ele queria tanto se encontrar com você, infelizmente surgiu esta matéria de última hora... O Ferreira é o meu melhor jornalista... Desculpa decepcioná-la Laura. Não... Não foi intencional... Não é? Edgar. – Parecia mais para mim que Guerra tentava encontrar uma desculpa esfarrapada qualquer.

– Eu não disse. Ele é um irresponsável. – Edgar parecia irado.

– Eu não disse isso Edgar, lembre-se que o Ferreira é muito responsável e se deixou a Laura esperando foi porque surgiu esta matéria de última hora. Acredite, ele lamentou muito e pediu que o perdoasse por isso. – Ainda tentando amenizar a situação.

– E você mandou o Edgar me avisar? – Eu não conseguia acreditar em nenhum deles.

– O Edgar? Avisar? – Duvidoso.

– É Guerra, eu vim aqui e você pediu para que eu avisasse a Laura. E foi o que fui fazer... E agora estamos aqui.

– É... É verdade... – Hesitante.

– Desculpe... Vocês dois estão muito estranhos. – Não conseguia acreditar neles.

– Que isso Laura...

– Está bem... Por hora eu aceito esta desculpa... Eu quero lhe fazer outro pedido, Guerra.

– Claro.

– Eu quero que marque outro encontro com o Ferreira, por favor. Assim que ele voltar. E eu vou ficar muito decepcionada se souber que há a mão sua nisto senhor Edgar Vieira. – Sentia decepcionada, mesmo não querendo me sentir assim.

– Aquele lá falta ao encontro e a culpa é minha?

– Edgar, você me entendeu perfeitamente... Eu tenho que ir...

– Eu te acompanho até a nossa casa.

– Eu vou sozinha e para a casa de Isabel e nem ouse me acompanhar Edgar, fica aqui conversando com seu amigo... Vocês têm a noite toda para fazer companhia um para o outro... E passe bem.

– Laura, por favor, não faça isso... – Ele mencionou vim atrás de mim e apenas fechei a porta do escritório do Guerra sem olhar para trás e muito chateada com tudo o que aconteceu.

Ao menos não veio atrás de mim e achei melhor assim. Seria pior e não queria brigar novamente com Edgar, principalmente agora que estava grávida... Confesso que naquele momento fiquei receosa de sentir alguma coisa. Ao chegar em casa, preparei um chá de camomila, preparei um banho para relaxar e deite-me um pouco... Não queria ficar chateada, tinha medo que isso pudesse fazer mal ao bebê... Tentei descansar... Edgar não foi atrás de mim naquela noite. Certamente percebeu que falava sério queria ficar sozinha... Não vou negar, senti falta dele durante a noite, principalmente agora que tinha quase certeza que carregava comigo um filho nosso, uma criança tão esperada por mim quanto por ele e estávamos cada um para canto. A raiva que senti por todo aquele imbróglio no final da tarde, o sentimento foi mudando, não queria pensar no que ocorreu, foi tudo tão desagradável e ainda ver o Edgar se prestar a tal papel, era claro que estava com ciúmes o Ferreira e principalmente o Henrique... Era o Edgar, o meu marido e pai do filho que posso estar esperando... Será que Isabel tem razão? Talvez devesse procurar o médico que me falou, ter logo certeza que estou grávida, é apenas uma consulta e se estiver meu pai pode continuar a cuidar de mim... Era melhor ter certeza logo... Percebi que minha raiva naquele momento a muito já havia se extinguido, agora era na minha gravidez que tinha que pensar... Um filho... Fiquei pensando nisto e em Edgar, já sem raiva e feliz por saber que, finalmente, uma criança poderia está a caminho... No final das contas acabei adormecendo.

Por Edgar

– Laura, por favor, não faça isso... – Vi a porta do escritório de Guerra fechar com força na minha frente e já iria abrir quando senti a mão de meu amigo me segurar pelo ombro.

– A deixe ir?

– Claro que não, eu vou atrás dela.

– Para quer Edgar, para continuar a brigar... Melhor não, deixe a Laura ficar um pouco sozinha... Assim ela se acalma e você também.

– Guerra, eu não posso deixar a Laura sozinha. Você viu a maneira como ela saiu daqui.

– Edgar, ela praticamente bateu a porta na sua cara... Acredita realmente que ela quer falar com você agora... Fica calmo e afinal de contas... Aliás, eu posso saber o que aconteceu aqui?

– Como assim? – Minha vontade era de ir atrás da Laura.

– Aquela hora você veio aqui, cheio de dúvidas, mas saiu ao encontro da Laura e de repente os dois me chegam aqui como um furacão, arrastando tudo... Você não foi falar com a Laura que é Ferreira, porque não contou, pelo que ela falou você definitivamente não falou nada... Por que não contou...

– Eu fui para contar... Eu iria contar... E quando chego ao Bar Guimarães a Laura estava lá...

– Como havia combinado comigo, e o que aconteceu?

– Quando eu iria entrar no bar e olhei para Laura. – Andava de um lado para o outro e só de pensar naquela cena...

– Então Edgar? O que você viu além da Laura?

– A Laura não estava sozinha... Ela estava na companhia daquele... Do engenheiro...

– Engenheiro? Que engenheiro?

– O tal amigo da família dela... O Henrique Medeiros... – Só de falar o nome dele já me dava nos nervos.

– Ah. Entendi...

– Guerra, você tinha que vê, eles conversavam tão animadamente... Pareciam que se conheciam há anos... E eu fiquei como um verdadeiro idiota observando a cena, eu fiquei sem reação... O modo como ele a olhava... Se pudesse teria partido para cima dele ali mesmo... Me deu uma raiva... O esforço que fiz para me segurar...

– E não satisfeito, agiu de maneira mais idiota ainda não contando para a Laura que você e o Ferreira são a mesma pessoa. – Concluiu Guerra.

– Foi tão constrangedor Guerra, eu fiquei ali, como um imbecil completo observando a minha esposa conversando animadamente com outro homem... Meu sangue ferveu, quando ela percebeu minha presença... Ela sorriu para mim... Foi um sorriso tão lindo e eu nem consegui reagir... Eu fiquei querendo pular na jugular daquele engenheirozinho... Laura nos apresentou, e é claro, que ele percebeu que não gostei nem um pouco de o vê ali junto a minha esposa e saiu em seguida.

– Se eles estavam apenas conversando e pelo que sei a Laura já falou deste tal Henrique várias vezes para você... Será que era para tanto Edgar?

– É a minha esposa com outro homem.

– Em um lugar público e na frente de todo o Rio de Janeiro... Edgar, a Laura não fez nada de mais ao conversar com este outro homem, e pelo que já me contou filho de um amigo do pai dela... E por isso você estragou tudo e não contou sobre o Ferreira... Por causa dos ciúmes que sentiu do Medeiros brigou com a Laura por causa do Ferreira. Edgar, você está ficando cada vez pior.

– Eu nem sei direito o que eu disse, quando vi falei que o Ferreira não apareceria, que era um irresponsável... E não satisfeita a Laura quis vim aqui tomar satisfação com você... Não acreditou em mim.

– E o idiota aqui fez cara bobo porque nem sabia o que estava acontecendo, quando um furacão passava por minha sala. E ainda tive que arranjar uma desculpa esfarrapada para a sua esposa... E pensar que era só falar: Laura, “o Antônio Ferreira sou eu.” Era simples assim, Edgar e você estragou tudo. – Guerra incrédulo.

– Quer saber eu não vou ficar aqui... Vou atrás da Laura que eu faço melhor... – Já a caminho da porta.

– Não vai não. Se o senhor vai a algum lugar é para minha casa. Lá eu tenho duas garrafas de conhaque que precisam ser tomadas... Quem sabe assim coloca um pouco se juízo nesta cabeçinha que só faz sair fumaça nos últimos tempos e raciocinar que é bom... Nada! E pensar que perdeu uma ótima chance de falar... A Laura, certamente, ficaria feliz em saber que você e o Ferreira são a mesma pessoa e você estragou tudo.

– Fala como se fosse fácil.

– O problema Edgar Vieira, que é fácil, muito fácil e o senhor acaba trocando os pés pelas mãos. Poderia está nos braços de sua esposa agora e não me ouvindo falar... Não pensou e agora está aqui, na minha frente... – Guerra respirou fundo. – Agora vamos para minha casa. Assim o senhor não vai atrás da Laura e a deixa ficar mais calma... Tenho certeza que amanhã tudo se resolve.

– O certo era ir atrás da Laura. – Indignado.

– Não mesmo, só iria a deixar mais irritada ainda... E pensar que... É fácil contar Edgar, você que não percebe. O certo era ter contado e o senhor não o fez, agora deixa para amanhã... Com certeza, depois de uma boa noite de sono, quem sabe o senhor não faz a coisa certa. Agora vamos e já terminei o serviço de hoje.

Apesar de ir contra a minha vontade, acatei o Guerra e fui com ele para sua casa... Talvez fosse melhor deixar a Laura um pouco sozinha, quem sabe amanhã já estaria mais calma e, finalmente, eu pudesse desfazer a burrada de hoje. O problema era que já sentia falta de estar com a minha esposa. Queria correr até a casa de Isabel e pedi desculpa... Fiquei ali com o Guerra, tomamos uma das garrafas de conhaque do meu amigo e acabei dormindo por lá mesmo, um tanto embriagado.

Por Laura

Ainda estava sonolenta, era por causa da gravidez. Grávida, nem acredito que espero um filho e meu pai longe. Tinha que brigar com Edgar, não quero brigar, não agora que finalmente havia engravidado. Isabel tem razão, se posso perfeitamente procurar outro médico, ao menos até meu pai chegar e assim contar, não posso e nem quero privar o Edgar de saber, é um filho, nosso filho, tão sonhado e esperado por tantos anos... Quantas vezes eu chorei por aquele que perdi e agora, um novo filho e Edgar está aqui comigo e brigamos, não é justo e nem correto.

Isabel arrumava o café na cozinha quando entrei.

– Como é gostoso senti este cheirinho do seu café?

– Não se sente enjoada.

– Não, sinto-me muito bem. Só as roupas que parecem estar cada vez mais apertadas.

– Daqui a pouco nenhuma vai servi mais. Aliás, estranhei ontem, ao ver as luzes do seu quarto acesa, pensei que fosse ficar na sua casa, junto com o Edgar e quando vejo está aqui, pensei em entrar, mas já era tão tarde.

– Brigamos.

– Brigaram? Laura, não sei se faz bem ficar brigando, está no início da gravidez, pode fazer mal...

– Eu sei... Na hora nem pensei, quando vi já estávamos brigando e tudo por causa do Ferreira e do Henrique também.

– Ontem você tinha um encontro com o Ferreira, foi por isso, você mesma me disse que o Edgar já havia aceitado, mesmo que não gostando muito.

– É uma longa história. Na hora marcada, eu estava no bar com o Henrique e Edgar chegou...

– Edgar brigou com o Henrique? – Isabel ficou espantada.

– Não. Com Henrique não...

– Então foi com o Ferreira. – Tentando adivinhar.

– O Ferreira nem sequer apareceu... Aliás, o Edgar foi lá, dizendo que o Guerra havia recebido um recado e que o Antônio não iria comparecer por causa de uma matéria de última hora... Teve que viajar... Nem sei direito, quando vi já estava com Edgar no meio de uma discussão... Enfim, paramos na redação do Correio da República e sai de lá batendo a porta na cara do Edgar... Eu fiquei com tanta raiva...

– Calma, isso não vai fazer nem bem para você, nem para o meu afilhadinho... Eu estou tonta, quanto diz que me disse... Espera aí... E o Henrique nisso tudo?

– Quando o Edgar chegou, como disse, eu estava com o Henrique, o Edgar, ficou com uma cara, mas uma cara que preferi ignorar, o Henrique, como perfeito cavalheiro que é acabou nos deixando a sós e então... Já contei.

– Quanto mais conta, mais confusa eu fico.

– Eu não queria ter brigado com Edgar, está é a realidade. Era para ter sido diferente, logo agora.

– Por causa da gravidez. – Isabel penalizada.

– Um filho tão esperado... Isabel se lembra que me falou de ir ao médico...

– Claro, porém você quer esperar seu pai para, aí sim, contar ao Edgar as boas novas...

– Mudei de ideia, quero ir ao médico hoje, quero confirmar se realmente estou grávida e se meu filho está bem...

– Querida, depois da briga que teve ontem, tenho certeza que seu filho está ótimo. – Isabel irônica. – Tem um médico que sempre vai ao Teatro com a esposa, ele me disse que se precisasse... Vou ligar para ele, espera um minuto.

Isabel ligou e conversou com o Doutor Cordeiro e marcou a consulta.

– Pronto, agora de manhã ele não tem horário, tem horário para depois das 17h.

– Ótimo... Então, vem comigo?

– Claro. Hoje eu não tenho muita coisa para fazer. Vou ao Teatro apenas a noite, quero rever o espetáculo.

– E tem outra coisa. O Henrique me convidou para almoçar com ele e a irmã e me deixou chamar uma pessoa, sugeriu até o Edgar, mas com a cara que meu marido fez ontem, acho melhor levar outra pessoa e eu tenho certeza que vai gostar muito de conhecer o Henrique, principalmente agora que me perguntou se pode ser professor na nossa escola. Seria uma ajuda e tanto. Eu não dei uma resposta definitiva, disse que falaria com você e a Sandra antes, se for ao almoço vai poder conhecê-lo melhor. Como diretora da nossa querida escola, acho que seria muito interessante ter alguém como ele como professor.

– Olha Laura, eu não vejo porque não. Se você o aprova, quem sou eu para impedir a entrada dele na escola.

– Então vem comigo para o almoço?

– Será?

– Tenho certeza que vai adorar o Henrique, sem contar que eu quero conhecer a irmã dele, se visse a maneira como fala da irmã, o carinho que tem com ela ao falar... Olha se fosse solteira e nunca tivesse conhecido o Edgar... Tenho certeza que vai gostar muito dele, vem comigo, e assim não vou sozinha e dá mais motivos para brigar com Edgar, não quero mais isso, principalmente agora que provavelmente teremos um bebezinho...

– Agora você me impressionou... Pode mandar o recado ao Henrique, eu aceito almoçar com vocês.

Por Edgar

– Eu não deveria ter deixado que me convencesse a passar a noite aqui. Sem contar que este sofá é horrível. Tem umas três ou quarto molas soltas.

– Vai por mim, Edgar, foi melhor assim. Tenho certeza que a Laura já está com a cabeça fria, mais tranquila, assim podem conversar. E não reclama do meu sofá... Com o que eu tiro do jornal, este sofá ainda é um luxo que eu tenho. – Guerra entregou-me uma xícara de café bem forte e sem açúcar.

– Eu vou agora mesmo à casa da Isabel... Quem sabe dou sorte e ainda a encontro por ela.

– Faça um favor a si mesmo... Vá a sua casa antes e tome um bom banho... Fique mais apresentável. A Laura merece um marido arrumado, você está um caco.

– Você acha? – Olhei para minhas roupas.

– Você está todo amarrotado.

– Tem razão... Estou horrível e ainda com amargor na boca. Este seu conhaque é de quinta. – Tomei outro gole de café.

– Pelo menos serviu para segurar o senhor aqui em casa. Então... Se sente mais tranquilo?

– O que sinto é uma dor de cabeça daquelas... Mesmo assim o que mais sinto é não ter ido atrás da Laura, sinto uma imensa falta dela.

– Vou pegar mais café, vá até o quarto de banho e lave bem o rosto.

Como Guerra sugeriu, lavei meu rosto e tentei tirar da boca o amargor da bebida e da ressaca. Quando voltei a sala, Guerra me esperava com um bule de café bem forte e sem açúcar e tomei mais duas xícaras bem cheias... Pouco depois fui para casa, mesmo com um imenso desejo de ir correndo até a casa de Isabel... Tomei um bom banho... Terminei de me ajeitar e tomei outra xícara de café, agora feita por Matilde... Minha cabeça ainda doía, nada que se comparava a falta que a Laura me fazia e fui atrás dela, porém, para minha decepção ao bater na porta da casa do Cosme Velho, ninguém respondeu... Fui até a escola nova e vi apenas alguns moradores trabalhando, porém um deles me disse que a Laura já havia passado ali hoje e tampouco soube dizer que voltaria e ou não. Tentei falar com a tia de Isabel, porém, também não se encontrava, havia saído e não tinha hora para voltar... Pensei no Teatro, talvez tivesse com Isabel, e lá chegando descubro que ambas não haviam estado ali também... Passei na Colonial, na Livraria Garnier, percorri toda a Rua do Ouvidor e nada... Nos lugares que Laura poderia ir e nenhum sinal, cada vez ficava mais desnorteado ainda... Procurei pela Sandra e também não sabia da Laura, elas não tinham combinado nada para hoje. Voltei para casa com a esperança que poderia está lá e apenas Matilde e a ausência da minha esposa... E pensar que tudo poderia ter sido diferente se tivesse segurado meu gênio e contado a Laura toda a verdade, ela poderia está ali comigo. Guerra tinha razão, havia estragado tudo e agora me vi correndo a cidade toda e nenhuma notícia da Laura, nada, apenas o vazio.

Por Laura

Mandei o recado para o Henrique e como resposta pediu para que o almoço fosse naquele mesmo dia às 13h. Como o médico que Isabel havia marcado seria apenas no final da tarde, fomos passear, apenas pedi para passar na escola, queria ver como andava os preparativos e tudo caminhava de acordo com o cronograma. Depois fui com a Isabel a casa de Diva Celeste de passamos parte da manhã por lá, ficamos até um pouco antes do almoço e, em seguida, pegamos um coche de aluguel e pegamos o caminho para o Bairro do Flamengo. Paramos diante de uma linda casa, provavelmente, uma das maiores da rua. Porém assim que o coche parou, um criado, com certa idade, já esperava por nós.

– Boa tarde, senhoras.

– Boa tarde, o senhor Henrique Medeiros espera por nós.

– Por favor, entrem. O patrão já esta na sala com a menina Amélia, apenas esperando pelas senhoras.

– Obrigada. – Seguimos o até a ampla sala.

– Boa tarde, Laura, que bom que veio... A senhora deve ser Isabel. – Henrique veio nos cumprimentar. – Laura sempre fala na senhora, estava muito curioso para conhecê-la.

– Isabel, por favor. A Laura fala muito bem do senhor.

– Henrique, por favor... Prazer em conhecê-la Isabel... Estranho, seu rosto... Eu já o vi antes, tenho certeza.

– Talvez do Teatro Alheira, a Isabel é a dona do Teatro. – Disse ao anfitrião.

– Você já havia me dito isso Laura, porém é muito antes disso.

– Se você morou tanto tempo na Europa, já deve ter ouvido falar de Isabel, La Brésilienne.

– Você é La Brésilienne, quantas vezes eu fui assisti-la em Paris, sempre gostei muito do seu espetáculo, era belíssimo. Houve uma vez que cheguei a enviar flores parabenizando pela apresentação. Você tinha tanto reconhecimento.

– Obrigada. Foram muitos anos fazendo, me aposentei. Estava na hora de voltar ao Brasil.

– Ainda é tão jovem, porque se aposentou...

– Henrique, uma coisa eu aprendi no meio artístico, todo artista tem que saber à hora de sair de cena e, acredite em mim, o melhor momento é quando se está no auge. Assim é para sempre lembrada.

– Nunca imaginei receber em minha casa uma artista tão prestigiada. Seja bem vinda.

– Obrigada.

– Amélia subiu um instante... Foi terminar de se arrumar. Ficou a manhã inteira na cozinha, cuidando de cada detalhe... Fez questão de deixar tudo arrumado, agora subiu para acabar de se arrumar. Daqui a pouco estará conosco...

– Já estou aqui, meu irmão. – Amélia era uma moça alta e muito bonita, seu semblante lembrava muito o do irmão. Os cabelos negros presos por uma trança, apesar de jovem, já era postura de uma mulher. – Desculpa pela demora, estava acabando de me arrumar... Que honra recebê-las em nossa casa... Estava ansiosa por conhecê-la Laura, o Henrique fala tanto em você e eu não via a hora de que viesse aqui...

– Prazer é todo meu, seu irmão sempre fala em você, precisava ver a forma carinhosa que ele se refere a você.

– Meu irmão é exagerado... Tenha certeza que não tenho nem um terço dos predicados que ele fala.

– Amélia, está é a amiga de Laura, Isabel.

– Prazer em conhecê-la senhora... Se for amiga de Laura e de meu irmão é minha também.

– Obrigada pela honra.

– Amélia, nem imagina que estamos recebendo, nesta casa, uma artista reconhecida em toda Paris, lembrasse quando disse que fui a um espetáculo de Samba em Paris.

– Acho que lembro. Acredite se quiser minha irmã, está é Isabel, La Brésilienne.

– Nossa. Como você é bonita... Henrique sempre me conta histórias de suas viagens...

– Seu irmão é um perfeito cavalheiro.

– Pretende montar seu espetáculo aqui? – Amélia se volta toda animada para o irmão. - Henrique se a Isabel o montar você me levar.

– Lamento Amélia, acabei de ser informado que a Isabel se aposentou...

– Ah, que pena. Ainda é tão jovem?

– Apenas chegou o momento de parar. – Isabel lançou um leve sorriso para Amélia.

– Quem sabe um dia mude de ideia... – Insistiu Amélia, entusiasmada.

– Nunca se sabe... – Respondi à irmã de Henrique. – Apesar de saber a dança de Isabel ter feito muito sucesso lá fora, a realidade é que nunca tive a oportunidade de minha amiga dançar e gostaria de um dia poder...

– Lamento Laura, acho que isso não vai ocorrer.

– Pois, penso como a Amélia, eu acredito que um dia possa mudar de ideia. Afinal de contas, a senhora é dona de um teatro, quem sabe... Seria um belo espetáculo...

– Vou pensar no caso de vocês... – Isabel se divertia com nossa insistência.

– Isso mesmo, Laura, você que é amiga de Isabel pode tentar fazê-la mudar de ideia... E o Rio de Janeiro teria a chance de ver finalmente La Brésilienne em cena.

– Sabe que não é má ideia, insistir... Quem sabe não a vencemos pelo cansado. – Brinquei com Isabel.

– Entendi o recado, Laura. – Isabel continuava a se divertir conosco.

– Acho que seria uma boa ideia almoçarmos... Não sei quanto a vocês, começo a ficar com fome e o cheio que vem da cozinha parece maravilhoso. – Henrique comentou conosco...

– Vamos então? – Convidou Amélia.

Amélia e Henrique nos conduziram a uma bela sala de jantar e continuamos a conversar animadamente... Conversamos sobre a possibilidade de Henrique trabalhar na escola e Isabel aceitou o novo professor de bom grato, aliás, gostei muito que Isabel e Henrique se deram bem, os vi conversar bastante. Amélia, também se ofereceu a ajudar na nova escola e continuamos a tarde conversando animadamente. Houve um momento, em que eu e Henrique ficamos sozinhos, enquanto caminhávamos pela Avenida Beira Mar e Amélia de Isabel vinham atrás.

– Laura, eu não quis dizer nada, confesso que vi que seu marido não gostou de nos ver juntos... Ele não gostou nada de me ver ali, não foi?

– Na realidade ele não esperava.

– Espero que não tenham brigado por minha causa. – Parecia preocupado.

– Para ser bem honesta, brigamos sim, porém não foi por sua causa. Quando você se foi, Edgar me disse que o Antônio Ferreira não iria comparecer ao encontro... Na realidade a maneira como ele falou... Isto sim me irritou e brigamos...

– Tem certeza que este é o motivo? Não quero ser o causador de mal estar entre vocês...

– Tenho certeza... Não foi por sua causa...

– Espero que não... Não gostaria de me afastar de você... Laura eu aprecio muito a nossa amizade e não quero perdê-la. Agora se você me pedir para eu me afastar, apesar de que isso me fará sofrer muito, eu me afasto. – Nunca havia visto Henrique tão sério.

– Henrique, eu aprecio muito as suas palavras, não há com que se preocupar, tão pouco eu quero abrir mão de sua amizade e Edgar sabe disso e querendo ou não terá que conviver com isso. Meu marido é um bom homem, se o conhecer saberá disso.

– Disso eu não tenho dúvida... Sei que não se casaria com ele se não fosse um bom homem, em minha opinião um homem de muita sorte por ter se casado com você. – A seriedade do semblante de Henrique destoava do o homem alegre que conversara animadamente durante o almoço.

Eu não soube o quê responde apenas caminhamos, um ao lado do outro, um tanto desconcertados. A brisa que vinha do mar batia em nossos rostos e ficamos em silêncio o resto do passeio, apenas ouvindo a conversa animada de Amélia e Isabel. Sobre o que exatamente Henrique pensava, não sei... Eu, pensava em Edgar, no que havia acontecido no dia anterior, na nossa vida, no divórcio e no bebê que esperava... Daqui a pouco teria a confirmação que tanto desejava e finalmente poderia contar ao meu marido que finalmente teríamos um filho.

A tarde passou e nos despedimos. Henrique já não tinha o semblante tão sério, porém a animação de outrora não estava consigo, apesar de tentar demonstrar o contrário. Amélia continuou sendo a mesma e nos despedimos. Eu a fiz prometer que iria conhecer nossa escola e ela fez Henrique jurar que a levaria na inauguração. Isabel e Eu pegamos um coche e nos dirigimos até o endereço do Doutor Cordeiro.

O médico já era um senhor e foi bastante cordial conosco... Elogiou a montagem de Damas das Camélias em uma versão mais cômica. Isabel agradeceu sem graça. Entramos e Isabel sempre ao meu lado. Expliquei ao médico o que sentia nos últimos temos, contei também que havia sofrido um aborto natural anos antes. Ele me examinou detalhadamente e fez uma série de perguntas sobre minha saúde, como me sentia.

– Parabéns senhora Vieira, a senhora está grávida de quase três meses.


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Notas finais do capítulo

Tomara que tenham gostado... Laura e Edgar, sempre impulsivos e finalmente a confirmação tão esperada por Laura... Comentem, é sempre bom saber as opiniões de vocês... Obrigada por acompanhar e até a próxima... Bjs



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