Laura E Edgar - Um Novo Olhar escrita por Bia


Capítulo 43
Segredos


Notas iniciais do capítulo

Oi meninas, tudo bem? Acho que exagerei um pouquinho no tamanho do capítulo, achei melhor deixar assim mesmo, espero que gostem e tenham uma ótima leitura e uma semana maravilhosa... Postem seus comentários, gosto muito de saber a opinião de vocês...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/427840/chapter/43

Segredos (capítulo 43)

Por Edgar

É hoje, foi o primeiro pensamento que tive assim que acordei. Laura ainda dormia. Admirei-a um pouco... Como alguém pode ser tão bonita, e como posso ficar cada dia mais encantado com ela... Se pudesse ficaria sempre assim, contemplando-a... E pensar que ficamos tantos anos longe um do outro, sempre penso nisso, nos anos de ausência, de saudade... Dei um leve beijo na maçã de seu rosto, o perfume da sua pele, tinha tanto medo de perder, em minhas memórias, a lembrança desse aroma, levantei e fiz minha toalete, ela ficou ali, ainda adormecida. Olhava-me no espelho e tentava ensaiar alguma coisa para dizer a ela. Como seria sua reação? Não tinha ideia, queria ter a certeza do Guerra. E se ela não gostar, achar que eu a enganei... Foi através do Ferreira que Catarina entrou na minha vida e se não fosse isso tudo seria tão diferente em nossas vidas... Volto para o quarto e ela continua a dormir, tão tranquila. – Será que terei coragem? – Falo baixinho aos meus botões. Desço e o café da manhã estar servido e tento comer alguma coisa sem muita vontade, meu pensamento não consegue desviar do encontro marcado que Antônio Ferreira tem no final da tarde. Meus pensamentos estão tão longe, estou tão distraído que apenas percebo a chegada de Laura, quando ela me beija no canto da boca e seu belo sorriso me desejando um bom dia.

– Caiu da cama hoje, acordei você já não estava. – Laura se sentou no lugar de sempre. – Tem algum compromisso para esta manhã? – Pegou a xícara à sua frente e se serve de café com um pouquinho de leite.

– Só alguns processos para estudar. – Tomo um gole do meu café puro e forte.

– Hoje é meu encontro com o Ferreira. – Entusiasmada. Pega uma rabanada e coloca no prato.

– Você já havia me dito antes... – Sem grande entusiasmo e outro gole de café.

– Você ainda está com ciúme? – Acaricia delicadamente meu rosto.

– Eu sempre vou ter ciúmes do você... – Esboço um sorriso desanimado.

– Não vejo motivo para isso e é por isso quero que venha comigo, que veja que não é nada de mais, apenas um simples encontro. – Carinhosa.

– Eu não vou poder ir, já disse isso. – Outro gole.

– Tem certeza, Edgar?

– Tenho que ir à Copacabana me encontrar com um cliente. – Detestava mentir, principalmente para a Laura.

– Tem certeza disso? – Parecia desconfiar de mim.

– Se não fosse este compromisso, eu iria com você, mas, infelizmente, eu não posso, terá que encontrar com o Ferreira sozinha. – Odiava ter que faltar com a verdade.

– Acredito em você. – Lança-me um sorriso, o que me deixa mais culpado ainda por mentir.

– Fora seu encontro com o Ferreira, tem mais alguma coisa para hoje?

– Quero passar na casa da Isabel, depois ir ao morro da Providência para arrumar alguns detalhes, acredito que mais alguns dias e tudo estará pronto para a inauguração da escola... Ah, Edgar, se você soubesse o quanto isso me deixa feliz. – O ar de felicidade dela é quase contagiante.

– É muito bom te vê assim, consegue ficar mais bela ainda.

– Nestes últimos tempos me sinto tão bem, tão feliz, que chego a pensar se mereço tanta felicidade... E pensar que... – Por um momento ficou séria.

– Algum problema?

– Não, acho que não... Há algo que está me deixando... – Com o semblante sério, e tentando esboçar um leve sorriso.

– Tem certeza que não há nada de errado?

– Não é nada de mais, apenas algo que me ocorreu, eu ainda não sei direito. Apenas quero ter certeza. – Sorriu para mim.

– A senhora agora conseguiu me deixar curioso. – Segurou a minha mão.

– Não é nada de mais, meu amor, vamos voltar ao Antônio Ferreira. Não vejo a hora de chegar o horário do nosso encontro. Confesso que estou ansiosa. Apenas lamento o fato de você não poder estar comigo. Queria tanto que viesse, seria tão bom se estivesse ao meu lado.

– Tenho certeza que vai se entreter tanto com o Ferreira que nem vai sentir a minha falta.

– Não seja bobo, não existe ninguém que me faça trocar você. Nem mesmo o Ferreira tem este poder... – Beijo-me no canto da boca.

– É bom ouvi isso...

– Ah, Edgar, se soubesse o quanto eu gosto de você, se eu pudesse dimensionar... Não posso, está muito além de mim.

– Eu sempre acho que não posso amar mais que eu amo você e quando vejo... Eu não consigo amar menos você, ao contrário, sempre me vejo te amando mais, querendo te ter por perto, eu também não sei explicar isso, apenas amo e cada vez mais, a cada dia mais... Eu nunca pensei um dia pudesse me sentir assim, se alguém dissesse que tivesse que escolher, amar ou não amar você, mesmo que isso trouxesse tristeza, sofrimento daquele seis anos de ausência, mesmo assim eu preferiria passar por tudo isso novamente e amando você cada vez mais...

– Eu nem sei o que dizer Edgar, eu te amo tanto... Não consigo não te amar e se isso acontecesse, não seria mais eu... Perderia meu referencial, perderia tudo... Por isso que nunca vou deixar de amar você, apenas me reconheço amando você, mesmo que esteja longe, mesmo que nunca tivesse voltado, mesmo assim, seguiria amando você, a vida toda...

– Estamos condenados a nos amar. – Brinquei com ela.

– Condenados não! Destinados a nos amar e sou muito feliz por isso e por ser você.

– Como faz bem ouvir isso.

– Bendita hora que Isabel me convidou a voltar... E pensar que ainda poderia está longe de você, como pude aguentar viver tanto tempo longe, agora lembrando disso, como conseguimos viver um longe do outro?

– Eu quero deixar bem claro que foi a senhora que quis assim por seis anos...

– Eu sei... Lamento por isso...

– Eu também lamento...

– Agora temos a vida inteira pela frente...

– Juntos. – Disse a ela.

– Para sempre juntos... Vamos ficar o dia inteiro assim... Se não fosse pelo encontro no final da tarde.

– Tinha que me lembrar... Poderíamos ficar assim... – Beijava-a no pescoço.

– O senhor tem trabalho, se esqueceu, por isso não pode ir comigo... Eu também tenho que trabalhar muito hoje. Quer sabe vou subir e acabar de me arrumar, nos vemos mais tarde... E eu prometo que, quando eu voltar, vou contar tudo para você sobre meu encontro com o Ferreira... Você não vai, mas vai saber de tudo, prometo. – Sorridente.

– Vou ficar esperando, ansioso, pelas novidades... – Sem grande entusiasmo.

– Eu sei que vai, meu amor. – Ela me beijou.

Observei Laura subir a escada, mas estava ansioso, não quis que ela percebesse meu nervosismo... Gostei muito quando a Laura disse que me ama, ainda assim fico receoso. Fui para o escritório e depois Laura veio se despedir de mim e saiu, tão sorridente... Trabalhei durante o dia e ainda fui até o fórum conferir o andamento de alguns processos. Por mais que tentasse não pensar, as horas passavam e via minha ansiedade aumentar a cada vez mais. Fui até a redação do Correio da República e Guerra revisava mais uma matéria para a próxima edição.

– Edgar, não deveria está se aprontando para o encontro do Antônio Ferreira com a Laura?

– Nem me fala neste encontro... Não faço outra coisa que pensar nisso, já até me arrependi de ter marcado tal encontro... Acredite se quiser, já até tentei ensaiar como falaria com a Laura... Agora mesmo me ocorreu de inventar uma desculpa qualquer e desmarcar... – recostei-me no velho sofá do escritório de meu amigo.

– Você não vai fazer isso com a Laura, Edgar... Vai lá e conta logo... – Guerra colava uma folha nova de papel na máquina datilográfica.

– Eu queria que fosse simples assim... Se visse o entusiasmo dela por pensar que vai se encontrar com o Ferreira, até me convidou para ir junto...

– Mais uma coisa que ela quer compartilhar com você... Quando ela me disse que você pudesse ir junto, eu até fiquei imaginando como seria tal encontro. – Ria de mim, enquanto termina de ajeitar o papel e batia em uma tecla.

– Guerra, definitivamente, você está se divertindo com tudo isso... Estou aqui, sofrendo, cheio de medo que a Laura não compreenda o porquê fiz isso. Remoendo-me e com medo que tudo isso leva a mais uma briga e que ela possa, sei lá, até terminar comigo e você se diverte com tudo isso.

– Edgar, eu acho que você está nervoso à toa... A Laura vai compreender e vai aceitar muito bem isso, aposto que vai adorar descobrir esta nova faceta do marido dela... Irá se surpreender. Já disse isso a você... Edgar, você está sofrendo por antecipação... Vá lá e converse com a Laura. Uma certeza você tem, ela vai se surpreender com você...

– Eu sei, apenas fico apreensivo... Talvez tenha razão, provavelmente, ela goste de saber quem é, de fato, o Antônio Ferreira... E se ela não gostar de saber que ele, sou eu?

– Ai, Edgar, está sua estória me deixa tão confuso... Não nego que ela tem sido o motivo de momentos hilários vindo de você... Vou até senti saudades do Ferreira quando ele se for... Era tão divertido lidar com sua maluquice...

– Maluquice Guerra? – Sentindo-me incompreendido.

– Claro. Você é o único sujeito que conheço que consegue a façanha de sentir ciúmes de si mesmo... – Não agüentou começou a ri.

– Eu não sinto ciúmes de mim mesmo, sinto do Ferreira... – Tentei justificar.

– Edgar, apenas para ti lembrar, você é o Ferreira, se esqueceu? – Continuava a ri.

– Não, claro que não. Só que a Laura não tem a menor ideia disso...

– Mas vai ter daqui a pouco, mais exatamente daqui a menos de meia hora... Acho melhor o senhor já se preparando, agora não tem mais como voltar a trás, Laura já deve estar a caminho do Bar Guimarães...

– Nem me fale... Só de pensar fico mais ansioso ainda...

– Meu caro, entrega na mão de Deus e vá... Você conhece a mulher que tem...

– E é isso que me assusta, pois, não consigo prever uma reação...

– Sua ansiedade é que não te deixa enxergar... E acredito que a reação dela vai ser melhor que imagina, vai por mim, já te disse isso várias vezes e mesmo assim continua pensando no pior... Vá lá e encare a Laura e diga: Laura, o Antônio Ferreira sou eu.

– Fácil falar, queria vê se fosse você?

– Se eu tivesse que contar para a Celinha... - Fez uma cara séria. - Ela sabe que sou jornalista... – Riu de mim.

– Fala isso porque não está na minha pele.

– Vá e terá a sua resposta. Eu acredito que a Laura vai gostar muito de saber que você e o Ferreira são a mesma pessoa, se fosse para apostar, eu apostaria nisso. E se fosse você iria logo, falta menos de vinte minutos... Apesar do Bar Guimarães não ser longe daqui, acho melhor o senhor se apressar... Respira fundo e vai.

– Tem razão... Já vou... Deseja-me sorte, vou precisar...

– Sorte Edgar, você já tem... Basta lembrar que a Laura te ama... E não é pouco.

– É nisso em que tento me agarro.

– Então vai...

– Já vou. Até mais...

Saí pelas calçadas da Rua do Ouvidor, pensando em como falaria para Laura que eu e o Ferreira somos a mesma pessoa... Minhas mãos soavam e meu nervosismo apenas aumentava. Tentava respirar fundo... Por um momento que não tive força nas pernas e meu desejo de recuar aumentava a cada instante. Cheguei a voltar três passos para trás e meu pensamento foi: A Laura não merece isso Edgar, seja forte e vá em frente, você nunca foi de recuar diante de nenhum desafio e não poderia fazer isso logo agora, principalmente com a Laura, como ficaria frustrada se você faltasse a este encontro, ela espera por isso há semanas e deixá-la ali, sozinha no Bar Guimarães não combinava com a sua índole. Respirei fundo e continuei andando, já via o bar, logo ali na esquina... Será que a Laura já está lá? Diminuo o passo por um momento, sinto o suor aumentar, nas mãos e na testa... Seco-as no lenço que trago no bolso do paletó e enxugo a testa e aumento o passo novamente e assim que chego à porta e vejo Laura, acompanhada de outro homem e conversam descontraidamente. - Só pode ser o tal Henrique, falo comigo. - Por um momento não sinto as minhas pernas, apenas os vejo conversar. Nem sei, mas o que é pior, vê a minha mulher ali, conversando com outro ou ter que falar a verdade sobre o Ferreira... Fico ali, paralisado e sem reação, não consigo ir adiante e tampouco retroceder... Apenas ali, parado... Laura se vira e me vê ali, parado como um imbecil e ainda sem reação.

– Edgar? Você veio. – Lançou-me um lindo sorriso. E o homem que estava com ela se volta em minha direção... E se levanta da mesa.

Por Laura

Ao acordar não vi Edgar ao meu lado, sinto-me enjoada novamente, vou ao quarto de banho e minha indisposição matinal começa a me deixar mais desconfiada ainda...

– Será meu Deus, será que estou? Será?

Reparo que perdi um pouco da cintura e meus seios parecem um pouco maiores. As minhas roupas começam a ficar um pouco apertadas na cintura.

– Só pode ser, faz algum tempo que minhas regras não vêm... O medo cresce na mesma proporção que minha esperança. Quero contar ao Edgar, mas tenho medo de perder e decepcioná-lo, prefiro manter-me em silêncio e conversar com meu pai e com a Isabel também. O medo de talvez perder me apavora e não quero pensar nisso... Quero ter a esperança que finalmente eu tenha... Prefiro nem dizer... Acabo de fazer minha toalete e desço a escada, percebo que Edgar nem nota a minha chegada de tão distraído que estar. Beijo-o no canto da boca e ele leva um pequeno susto. Conversamos e por um momento quase repartir com ele minha desconfiança... Quero tanto falar, entretanto meu receio não me permite... E se acontecer o como no passado... Todo aquele sofrimento novamente, ainda nem tenho certeza... Achei melhor desconversar e me focar no meu encontro com o Ferreira e, apesar de saber que me encontraria hoje com o Ferreira, Edgar, não parece muito animado, acredito que esteja até desconfortável com tudo isso... Respeito isso, porém já havia decidido e me encontraria hoje com o Ferreira, não sei se acredito quando diz que não pode ir, talvez tenha inventado esta estória toda de encontrar com um cliente em Copacabana no final da tarde... Não quero forçá-lo, prefiro respeitar e aceitar sua resposta... Talvez seja melhor assim, e quando voltar, conto a ele como foi meu encontro com o jornalista. Saio e o deixo, sigo o caminho da casa do Cosme Velho e para meu alívio Isabel está em casa.

– Nossa! Tão cedo aqui, caiu da cama senhora Vieira? – Isabel me abraça e já sentia saudades dela.

– Ultimamente tenho dormido mais do que o usual... Sinto-me sonolenta...

– Talvez seja o cansaço dos últimos dias, você, a Sandra e a Tia Jurema tem trabalhado tanto...

– Não é isso não... Isabel eu nem sei como começar... Eu tenho medo até de falar...

– Laura aconteceu alguma coisa? – A fisionomia de Isabel ficou séria.

– Acho que sim... – Esbocei um sorriso tímido.

– O que foi?

– Isabel, eu acho que estou... Grávida. – Finalmente consegui pronunciar a palavra.

– Grávida? Isso é maravilhoso... – Isabel se levanta e me abraça. – É a melhor notícia que escuto em muito tempo...

– E como o Edgar reagiu ao descobrir que vai ser pai...

– Não reagiu, eu não contei... Eu ainda nem tenho certeza se estou realmente grávida...

– Você ainda não tem certeza da gravidez... – Isabel ficou surpresa.

– Ah. Isabel, nas últimas semanas eu tenho reparado que durmo mais que antes e fico sonolenta pela manhã, tenho desejos, outro dia mesmo estava com vontade de comer um pão que havia experimentado em Petrópolis... Sinto tonturas, meu estômago fica embrulhado... Percebi que meus seios ficaram um pouco maiores, minhas roupas estão mais justas e minhas regras estão mais atrasadas do que de costume...

– Isto são sintomas de gravidez... Pelo que falou, minha querida, você está grávida... Temos que comemorar isso...

– Ainda não... Eu quero conversar com meu pai antes... Ele está fora e volta daqui alguns dias, está em São Paulo, acredito que não tarda a voltar já que tem que voltar logo ao Senado, quero falar com ele antes... Ter certeza que esta gravidez vai vingar...

– E o Edgar vai ficar sem saber enquanto isso? Não é certo Laura. – Preocupada.

– Eu quero contar... Quero muito contar... Eu tenho tanto medo que possa perder novamente, que possa estar enganada... Que possa criar ilusões nele e depois tudo demoronar como um castelo de cartas.

– Pelos sintomas, você está grávida, se esqueceu que eu já passei por isso... Sem contar o número de vezes que vi moças, no teatro, em Paris, que ficavam grávidas. Eu aprendi até evitar gravidez...

– Tomara meu Deus. Eu desejo tanto isso, estar grávida... Tenho medo e não estar, de ser apenas um rebate falso... Eu quero muito estar grávida, eu quero muito dá este filho ao Edgar.

– Laura, você sonha com isso há anos, quantas e quantas cartas nós trocamos falando exatamente disso, da gravidez que não vingou... E agora, você, finalmente, está realizando este sonho. Sabe o que isto significa... Você vai ser mãe de um filho do Edgar, sempre sonhou com isso... Eu sei o quanto sofreu quando perdeu seu bebê e agora a vida está lhe dando a chance de ser mãe... Isto é uma dádiva de Deus... Precisa contar ao Edgar, ele espera por isso tanto quanto você, e eu tenho certeza que vai ficar radiante com a notícia, há tanto tempo que vocês esperam por isso...

– Eu sei, como chorei por ter perdido aquela criança, o quanto sofri e sofro até hoje e, por isso mesmo, que quero ter certeza que vou conseguir segurar esta gravidez e poder finalmente contar ao Edgar que nosso maior sonho, finalmente, se realizou.

– Laura, você não está naquela época... Quando descobriu que estava grávida daquela vez, o Edgar estava atravessando o Atlântico, em busca da filha e você ficou aqui... Sem notícias, insegura, e ainda por cima tinha sua mãe cobrando de você o sumiço do Edgar, fazendo pressão... Porém, agora, o Edgar está ao seu lado, a mãe da Melissa não é sequer a sombra de uma ameaça... Conta para ele, já imaginou se ele não souber por você, vai ficar chateado por ter escondido... Sem contar que ele vai perceber que algo está acontecendo, provavelmente vai reparar que seu corpo está mudando, sua barriga vai começar a crescer em breve e não tem como esconder isso por muito tempo.

– Eu sei disso também... É só por mais alguns dias, em menos de uma semana meu pai vai está de volta e vou conversar com ele, pedir para que me examine.

– E se você conversar com outro médico, seu pai não é o único da cidade... Eu conheço um que vai sempre ao Teatro, Dr. Cordeiro, já me ofereceu seus préstimos quando precisasse. Já é um senhor, acredito que possa examiná-la.

– Sei que não, porém é no meu pai que confio, se demorar mais que uma semana, eu prometo procurar outro, apesar de ainda preferir meu pai... Não vai se algo apenas de médico e paciente, ele é meu pai e sei que vai cuidar de mim, vou me sentir segura se for ele, prefiro assim... Saber que o meu bebê está bem, que não corro o risco de perdê-lo como aconteceu com o outro, que vou poder levar esta gravidez até o final. Eu confio no meu pai e o apoio dele vai me fazer sentir mais segura ainda. Sei que não é de cometer indiscrição, por isso posso contar com ela...

– Nem precisa pedir, por mim o Edgar não saberá, apesar de ainda achar que deveria contar a ele, você o está privando de um momento único de vocês... Você deveria procurar o Dr. Cordeiro, mesmo que siga se cuidando com seu pai, apenas para ter certeza... Laura, é o Edgar e ele merece saber.

– Por favor, não me faça me senti mais culpada que estou...

– Tudo bem, não quero que se sinta culpada por minha causa... Mudando só um pouquinho de assunto, como se sente agora que sabe que vai ser mãe?

– Eu nem parei para pensar direito, estava tão aflita com a possibilidade de esta gravidez não vingar que acabei não pensando nisso... Eu me sinto tão bem agora, é diferente daquela vez, por outro lado tem o meu medo de que tudo possa acontecer novamente... Não há aquela angústia de não saber por onde andava o Edgar, de não saber se voltaria, ou não, para mim... Tenho-o ao meu lado e sei que agora nada pode mudar isso... Eu ainda nem parei para pensar direito... Isabel eu carrego em meu ventre um filho do Edgar, um filho durante muito tempo esperado, sonhado... Um filho que pensei que não viesse mais... Isabel, eu posso estar grávida e nem acredito nisto ainda, é como se fosse algo tão distante de mim e agora, talvez, tenha dentro de mim uma criança e eu ainda nem a sinto e sei que pode estar aqui. – Coloco minha mão em meu ventre.

– Mamãe... Lembrasse daquela conversa que tivemos aqui, nesta sala, sobre o seu desejo de ser mãe... Isto faz algumas semanas...

– É claro que me lembro... Você me disse para procurar o Edgar, me disse também que acreditava que engravidaria logo... Você estava certa minha amiga... Acreditou mais nisso que eu...

– Ainda bem que procurou o Edgar...

– Será que já estava grávida e nem sabia...

– Isto eu não sei... Quando seu pai chegar poderá falar sobre isso com ele... Apesar de ainda achar que deve procurar o Dr. Cordeiro. – Provoca-me.

– É um filho do Edgar... – Coloco a mão novamente sobre meu ventre e acaricio levemente, sinto meus olhos marejados.

– É um filho de vocês Laura...

– Um filho... Finalmente um filho... Já tão amado...

– E que vai ser mais amado ainda quando o pai souber da sua existência...

– Ele vai saber... Apenas preciso de alguns dias a mais. Eu vou ser mãe, Isabel. – Não consigo segurar o choro de felicidade, Isabel chora junto comigo.

– Vai ser sim, e será uma mãe maravilhosa... Esta criança já é muito abençoada porque vai nascer envolta de muito amor.

– Agora que sei que vou ser mãe e esta criança e minha e do Edgar, é como se amasse ainda mais meu marido por isso, e eu pensei que não pudesse amar mais ainda e agora vejo que o amo mais ainda por causa desta criança... Eu nem acredito que possa estar grávida...

– Acredite minha amiga, você vai ter um bebezinho lindo em seus braços daqui alguns meses...

– Será que vou aguentar esperar tanto tempo? – Ansiosa.

– Vai ter que esperar, acredite em mim, vai passar rápido e quando vê estará com uma linda barriga e enorme.

– Daquela vez disse que seria a madrinha, antes era apenas um sonho, agora é a realidade, comadre. – Ri.

– Se você não me chamasse eu ficaria ofendida. Laura, temos pensar no enxoval... Começar a tricotar casaquinhos e sapatinhos...

– Já?

– Querida, o tempo voa e quando vê já estará quase parindo e esta criança precisa de um lindo enxoval. Vou conversar com a tia Jurema, ela conhece algumas pessoas que fazem isso, podemos mandar bordar também... É tão fofo roupinha de crianças... Hoje mesmo vou começar a fazer casaquinhos, quero meu afilhado, ou afilhada, com roupinhas lindas.

– Só você mesma Isabel para me fazer ri...

– Laura a chegada de uma criança é sempre uma benção que Deus nos concede... Sabe quantas mulheres sonham com isso e não conseguem conceber... Quando Deus nos envia uma criança é como se nos abençoasse novamente... E quando esta criança vem envolta de muito amor como é o caso de meu afilhado... Eu tenho certeza que esta criança vai nascer muito amada, aliás, já amada porque mal soube da notícia e meu coração já encheu de amor por esta criança...

– Será que vai ser menino, ou menina?

– Apenas quando nascer é que vamos saber, pouco importa na realidade o que realmente é importante é que venha com muita saúde. O que você prefere?

– Apenas prefiro que venha... Se for menina ou menino... Temos a Melissa e seria interessante ter um menino formaríamos um casal, agora se for menina vai fazer companhia para nossa menina.

– Sabe que gosto tanto da maneira como você acolheu a Melissa... Você já fala como mãe dela e isso é ser mãe... Está vendo, você já era mãe da filha do Edgar e nem se deu conta.

– Sabe que nunca deixei de sentir a Melissa como se não fosse minha, apenas não carreguei em meu ventre... Como poderia amar o Edgar se rejeitasse a Melissa e ela não tem culpa dos nossos erros do passado... Amo a Melissa como já amo esta criança que carrego comigo e sei que nunca vou me senti de outro modo em relação a ela. Ela pode não se minha, de fato, mas é de coração e isso ninguém pode me tirar...

– E pensar que a Melissa foi a única coisa boa que aquela lá fez.

– Não vamos pensar naquela mulher... Estou feliz demais para pensar naquela nela. Eu quero pensar nos meus filhos e no Edgar, estes sim, merecem cada pensamento meu...

– Você está certa, é na sua família que você tem que pensar... Principalmente que agora ela vai aumentar... Minha princesinha grávida e eu nem consegui digerir isto direito e já tenho um afilhado... – Isabel me abraçava.

– Ou afilhada... – Disse.

– O que importa é que venha com saúde. – Rimos.

– Se vier, que venha com muita saúde e cercado de muito amor... – Pus a mão em meu ventre e o acariciei.

– Laura, eu queria ficar e aproveitar um pouco mais, preciso ir agora, tenho um milhão de coisas para resolver no teatro...

– Eu tenho que ir a escola, ver como anda os últimos preparativos, quero que tudo esteja mais que perfeito para a inauguração.

– Oxalá. Tudo está dando certo... Agora a senhora toma cuidado ao subir o morro, não quero que se machuque principalmente agora que minha afilhada, ou afilhado já está a caminho... Bem que poderíamos falar com a tia Jurema, ela pode jogar os Búzios e descobrir se é menina ou menino... Minha tia acertou comigo e sei que já acertou outras vezes também.

– Agradeço, mas melhor não... Acho que quero ter esta expectativa de esperar até nascer e ver o rostinho dele, ou dela...

– Tudo bem, eu respeito... Agora vamos que temos muita coisa para fazer...

– Esqueci de te contar... Hoje, no final da tarde vou me encontrar com o Ferreira, finalmente vou conhecê-lo... Não vejo a hora de falar com ele... De saber as opiniões, agradecer pela bela matéria sobre a violência contra a mulher...

– Queria vê como o Edgar iria reagir ao ouvir você falar assim... – Isabel riu.

– Eu o convidei a ir comigo, mas disse que tinha um compromisso no mesmo horário com um cliente em Copacabana... Nem sei se é verdade isso, mas resolvi respeitar sua vontade de não querer ir, nem questionei...

– O Edgar sempre ficou incomodado com o Ferreira, é natural que não queira ir.

– Eu sei, por isso que relevei... Vou respeitar isso e depois conto a ele como foi... Deixe-me ir que tenho que passar na escola... Até mais...

– Até mais tarde, mamãe.

Ao chegar à escola, vi que Henrique já esperava por mim... Parecia animado e veio ao meu encontro.

– Olá Laura, esperava por você, tinha certeza que a encontraria aqui.

– Henrique, que surpresa boa, não imaginava encontrá-lo aqui... O que o traz aqui?

– Laura, estive pensando... Sabe que entendo de Matemática e como ainda não estou trabalhando, pensei se aqui na escola, vocês não precisariam de um professor? Sei que você precisa falar com as suas amigas... Não sei nem se vão me aceitar... É uma sugestão... Eu gostaria muito de contribuir com a escola de vocês...

– Nossa! Por mim, a ideia é ótima, como disse preciso falar com a Isabel e com a Sandra também, acredito que não haverá problemas, sem contar que vou ser a diretora da escola... Se você vier será ótimo, pode contar para as crianças sobre as viagens que fez além, é claro, ensinar matemática, o que seria ótimo... Assim que me encontrar com a Isabel irei propor a ela que seja professor... Acredito que não vai se opor.

– Tomara. Tem mais uma coisa... Gostaria de marcar um almoço, em minha casa, conversei com a Amélia, sobre você, a escola... E minha irmã ficou muito curiosa em conhecê-la... Até me pediu para trazê-la aqui na inauguração...

– Um almoço?

– Sim, é claro que poderá levar o seu marido, assim vou conhecê-lo, ou uma amiga, caso ele não possa, se quiser... Pode ser amanhã.

– Também adoraria conhecer a Amélia, você fala com tanto carinho de sua irmã... Agora que o senhor me fez um convite quero retribuir com outro...

– Outro convite? O que seria? – Curioso.

– Se lembra que eu te falei de um jornalista, o Antônio Ferreira?

– Claro, conversamos sobre ele...

– Então? Finalmente consegui que o Carlos Guerra, editor do Correio da República, marcasse um encontro com o Ferreira no Bar Guimarães...

– E quando será este encontro?

– Na realidade no final da tarde de hoje... Não gostaria de me acompanhar até lá... Assim você o conheceria também.

– Não irei incomodar? O Ferreira espera encontrar com você, talvez não esteja esperando outra pessoa...

– Sei que não... Acredito que não vá se importar é apenas uma conversa... Nada de mais.

– Eu posso até te acompanhar, se quiser, caso ele chegue e fique incomodado com minha presença eu me retiro e espero você na Colonial. Pode ser?

– Como queira... Enquanto espero podemos conversar mais um pouco sobre a escola... Quero explicar para você como desejamos, a metodologia que queremos usar, sem castigo físico... Que as crianças tenham prazer em aprender.

– Já está me contratando Senhora Diretora?

– Já, é quase um professor... Acho que sua contribuição vai enriquecer muito nossa escola e as crianças vão ganhar muito com uma pessoa que já viajou e viu muita coisa...

– Se eu puder contribuir de alguma maneira... – Humilde.

– Claro que vai contribuir... Não vejo a hora e está tudo pronto...

– Sabe que eu também, confesso que depois que me mostrou tudo isso aqui... Eu fiquei tão entusiasmado... É tão raro ver alguém fazer este tipo de coisa... Vocês estão abrindo uma escola em um lugar onde, normalmente, os mais abastados preferem ignorar, o poder público seguindo o mesmo caminho e, vêm vocês e fazem algo tão simples e que vai fazer uma imensa diferenças as daquelas pessoas...

– Nem sei se é tudo isso?

– É sim, Laura, o que vocês vão fazer aqui vai mudar a vida de muita gente... Quantas crianças poderão ter uma perspectiva maior da vida pelo simples fato de vocês construírem esta escola aqui... É algo grande sim e muito bonito também... Você, a Isabel e a Sandra estão de parabéns...

– Obrigada. Se não fosse, principalmente a Isabel, que está patrocinando tudo isso, a escola seria apenas um sonho...

– Isabel, sempre fala dela e ainda nem a conheço...

– Isabel é uma pessoa maravilhosa, tenho certeza que irá se surpreender com ela...

– Se uma pessoa que se dispõe a abrir uma escola em um Morro, realmente deve ser alguém surpreendente.

– É certamente é... A Isabel é minha melhor e mais querida amiga, é claro que gosto muito das minhas outras amigas, porém ela é muito especial e Deus a mandou em um momento tão inusitado e ficamos tão amigas e, a princípio, pouco tínhamos em comum e, de repente, estávamos tão ligadas... Mesmo ficando tanto anos uma longe da outra... Nossa amizade resistiu à distância, a saudade e aos anos de ausência... Isabel é um belo presente que a vida me deu e se depende de mim, nossa amizade será eterna... Tenho certeza absoluta que vai adorar conhecê-la...

– Você falou tão bem dela... Por que não a leva ao almoço também... Tenho certeza que será uma grata surpresa...

– Quer sabe pode marcar o almoço, eu convenço a minha amiga a vim comigo... Tenho absoluta certeza que ela também vai gostar muito de conhecê-lo...

– Hoje mesmo falo com a Amélia e marcamos ainda para amanhã...

– Então está combinado... Eu vou conhecer sua irmã e você minha querida amiga...

– Combinado...

– Já que o senhor está aqui mesmo quero que me ajude a colocar os livros nas estantes...

– Claro.

Eu e Henrique ficamos quase a tarde toda arrumando os livros na estante... Na realidade por medo de pegar mais peso que talvez pudesse praticamente o orientava como gostaria que fizesse e ele arrumava ao meu gosto... Ficamos ali e conversamos bastante... Uma hora antes do meu encontro com Ferreira avisei ao meu companheiro de arrumação e ele me acompanhou até o Bar Guimarães. Chegamos alguns minutos antes da hora marcada e ficamos ali conversando mais um pouco... Como sempre Henrique é uma ótima companhia, era sempre bom o ter por perto.

– Então Laura, ansiosa?

– Muito, Henrique. Quero muito conhecer o Ferreira e tomara que chegue logo...

– Faltam ainda alguns minutos... Tem certeza que não vou atrapalhar? Se quiser posso sentar em outra mesa, ou mesmo esperar por você na Colonial?

– Apesar de ainda não conhecer o Ferreira, acredito que não vai se opor a sua presença... Acredito, também, que você vai gostar muito de conhecê-lo assim como eu...

– Acho que tem razão... Quer um refresco? Como faz calor nesta terra.

– Aceito sim, apenas se me acompanhar...

– Claro. – Henrique pediu dois sucos e conversamos ainda quando percebi uma presença muito conhecida parada na porta do Bar Guimarães... Meu amigo percebeu que eu havia desviado os olhos e virou na mesma direção para onde eu olhava e se levantou em seguida.

– Edgar, você veio? – Fiquei tão feliz por ele ter ido.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então meninas espero que tenham gostado... Finalmente a Laura se deu conta da gravidez, apesar do medo que ainda sente... Comentem quero saber muito a opinião de vocês... Bjs e até o próximo capítulo...