Laura E Edgar - Um Novo Olhar escrita por Bia


Capítulo 39
Agradável encontro


Notas iniciais do capítulo

Oi meninas, tudo bem? Primeiro quero agradecer a Micheli a bela recomendação que ela fez... Obrigada por suas palavras... Este capítulo Laura terá uma bela surpresa... Espero que gostem e comentem, adoro saber a opinião de vocês... Obrigada e boa leitura... Sei que este capítulo ficou um pouco grandinho... Espero que gostem...



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Agradável reencontro (Capítulo 39)

Naquela noite, como havia prometido a Edgar, fui a nossa casa... E novamente estávamos ali, juntos... Eu não queria ficar longe dele... Sei que ainda não tinha voltado para nossa casa como tanto queria... Talvez tivesse compreendido que ainda precisava de tempo... Assim como eu, Edgar queria aproveitar o momento juntos... Entretanto tinha algo que ainda povoava meus pensamentos... Minha vontade de conhecer Antônio Ferreira... Sei perfeitamente que meu marido tinha ciúmes... Nestes últimos dias fazia questão de deixar bem claro para ele que meu amor pertencia a ele e por isso não haveria motivos para ficar enciumado... Não havia e nem tinha motivo para deixar de querer o jornalista que havia entendido meu sofrimento e voltaria a falar com Edgar sobre isso... Não havia motivo para adiar aquela conversa e assim foi durante nosso café da manhã.

– Edgar, há algo que eu quero te falar... E gostaria que compreendesse meu ponto de vista...

– Alguma coisa Laura?

– Sabe Edgar, eu tenho adiado esta conversa com você... A princípio porque via que este assunto o deixa bastante incomodado... Apesar de acreditar que já tenho dado razões suficientes para não ficar assim.

– Aconteceu alguma coisa? Eu não estou gostando do rumo desta conversa... – Fez uma cara desconfiada.

– Na realidade, não é motivo para gostar ou desgostar, apenas respeitar... E eu gostaria muito que respeitasse isso... Porque estou aqui, agora e com você. – Amenizei o tom de voz para deixá-lo menos na defensiva. – Edgar, eu quero conversar com o Guerra, ainda tenho vontade de conhecer o Ferreira e quero muito que compreenda isso.

O rosto dele ficou tenso...

– Laura, eu...

– Edgar, eu conheço seu motivos e sei que sente ciúmes... Não quero que se sinta assim porque eu estou aqui... Com você... Será que entende isso... Eu respeito o fato de ficar incomodado, porém quero muito que respeite o fato de conhecer o Ferreira. – Apesar do tom firme, tentei ser o mais amável possível com Edgar.

– Laura, eu não gosto disso... Acho que...

– Sei o que acha e não quero ter uma discussão com você por causa disso... Gostaria muito que compreendesse isso...

– Não acho que deva...

– Se o problema é o que me falou noutro dia, não vejo razão para isso... Gostei muito da maneira como o Ferreira como fez aquela matéria... E eu quero que você entenda isso... Ele é um excelente jornalista... Apenas quero conversar e não há razão para se senti enciumado.

– Laura, me incomoda muito esta sua insistência em conhecer este jornalista. – Estava nitidamente incomodado.

– Por saber disso que estou aqui, falando com você... Se si sente melhor assim, quero que venha falar comigo com o Guerra...

– Falar com o Guerra? – Edgar parecia espantado com meu convite.

– Ele é seu melhor amigo e o editor do Ferreira... Nada mais natural que me acompanhe, quem sabe assim sua implicância infundada sobre o Ferreira passe... Estaria ao meu lado o tempo todo...

– Eu ainda não gosto disso... – Estava desconfortável.

– Sei perfeitamente disso, por isso que estou aqui, conversando com você... Quero que venha comigo... Quero que perceba que não há motivos para o senhor se sentir assim... Tenta me entender Edgar, por favor... Eu não vou pedir o Ferreira em casamento e muito menos fugir com ele... – Tentei fazer uma pequena brincadeira com ele, porém, Edgar me lançou um olhar de reprovação.

– Não fala isso nem brincando... – Sério. E quase pulando do lugar onde estava. Fiquei com vontade de rir, apenas me segurei para não piorar a situação que já estava bastante delicada.

– Edgar, como eu poderia... Esqueceu que não posso casar novamente... E mesmo que pudesse não creio que fosse com o Ferreira... Adoro a maneira como ele escreve, apesar de não conhecê-lo pessoalmente ainda... Ele já tem um grande defeito aos meus olhos...

– E qual seria?

– Ele não é o senhor... Meu marido... – Apesar de ter dito isso, Edgar não parecia nada relaxado com a minha brincadeira. Apenas me olhou ainda com desaprovação. Seu rosto estava tenso. - Então você vem, ou não, comigo falar com o Guerra.

– Laura, você sabe a minha opinião... Se quiser falar com o Guerra, então faça isso... Só não me peça para ir junto.

– Meu amor, eu sei que está bastante desconfortável... Eu vou procurar o Guerra, se não quer ir comigo, eu entendo... Apenas não esqueça de uma coisa... – Segurei a sua mão que estava sobre a mesa.

– O quê? – Seu semblante ainda estava tenso.

– Que é com o senhor que eu amo de passar as minhas noites... – falava manhosamente para ele. Apesar da expressão tensa de seu rosto... Edgar esboçou um leve sorriso.

– Ao menos isso. – Ainda tenso, mas receptivo e acariciando minha mão. – Sabe Laura, em relação ao Ferreira... Eu, talvez esteja na hora de saber algo... O Ferreira, na realidade, ele... Eu... Como posso dizer isso? – Parecia falar consigo mesmo.

– Eu já entendi meu amor... Sei como se sente e respeito isso... Não se preocupe será apenas uma conversa. Prometo que volta para você, inteira. – Tentei fazer outra piada que não surtiu efeito nele. Apenas me mirou mais incomodado ainda.

Aproximei-me mais dele e beijei sua testa e depois seus lábios... Despedimo-nos e peguei o caminho da casa de Isabel. Sei que Edgar havia não compreendia meu desejo de conhecer o Ferreira, ao menos ao expor meu desejo de conhecer o jornalista, não brigamos e isso era um bom sinal. Respeitava a opinião dele e via seu esforço de respeitar a minha, mesmo que não concordasse com meu desejo.

Voltei para casa de Isabel e tive uma grata surpresa. Nos anos em que estive fora, havia outra pessoa cuja lembrança, também, rodeava meus pensamentos, era meu pai, Dr. Alberto Assunção. Antes de me casar, ainda bem jovem, tinha em pai uma agradável companhia. Apesar ser um homem de sua época e ter sido criado de uma forma bastante tradicional, meu pai, ao contrário de minha mãe, não tolhia meus pensamentos, porém, também, não tinha seu apoio mais por causa da influência que a Baronesa da Boa Vista exercia sobre o marido. Também não era como Edgar, entretanto, ao menos, tentava me compreender.

Desde que chegara ao Rio de Janeiro não havia encontrado com Dr. Assunção, quis procurá-lo, apesar da saudade, ainda não me sentia preparada, não por causa de meu querido pai, sabia que se o procurasse, certamente, Dona Constância surgiria novamente me minha vida... Apesar de que ao saber de minha chegada, nem sei como isso ocorreu... Ela permaneceu em silêncio em relação a mim, provavelmente, por causa da tal farsa que criou para esconder o divórcio... Algum tempo depois soube que meu pai viajava a serviço do Senado, estava em Nova Iorque, passara mais de dois meses viajando. Sentia saudades dele. E assim que regressou, minha mãe contou as novidades a ele. E para minha grata surpresa, estava em casa de Isabel, quando ao baterem na porta, vejo a figura de meu querido pai. Abraçá-lo depois de todos estes anos foi um grande presente.

– Pai, meu pai, quantas saudades tive do senhor durante todos estes anos.

– Laurinha, minha filha, é tão bom vê você, deveriam proibir as filhas ficaram longe de seus pais. Minha menina, você está tão bonita, como está minha querida?

– Vou bem. – Era meu pai diante de mim, depois de tanto tempo

– Laura porque ficou tanto tempo sem me dá notícias... Então você voltou o que a fez mudar de ideia. Voltar e não falar nada para ninguém. Assim o coração deste pobre pai não agüenta de tanta emoção, minha filha... Como é bom falar isso, minha filha.

– Foram tantas coisas, Isabel me mandou uma carta, ela tinha vontade de voltar ao Brasil e me convenceu a volta para o Rio de Janeiro e agora estou aqui. E estou muito feliz por ter voltado... Nem sei como aguentei de tanta saudade... Agora vendo o senhor na minha frente, depois de tanto tempo... Estou tão feliz pai, meu querido pai... – Beijei-o novamente na face.

– É muita emoção para este pobre pai... Tanta coisa aconteceu com você e eu fora naquela viagem que parecia que não tinha mais fim.

– Ah pai, nem me fale... Aconteceu muita coisa deste a minha volta... Agora, diante do senhor... Tudo isso perde importância... – Eu o abracei mais uma vez, queria sentir o aconchego do seu colo.

– Soube da foto que saiu no jornal, sua mãe me contou. Se eu soubesse que havia voltado, nem teria viajado... Quando voltou? Minha filha, você está tão bonita... O quê fez este tempo que estava fora... Se soubesse como é bom olhar para você... Deveria ser um crime uma filha ficar tanto tempo longe de seu pai... Ainda bem que voltou... – Meu pai me abraça mais uma vez. – Finalmente voltou... Minha Laurinha...

– É verdade, o trabalho que D. Constância deve de criar aquela farsa veio por água abaixo quando saiu à foto no jornal. Foi bom voltar, sabe pai... Quando a Isabel me propôs voltar... Vi que era a hora de voltar... Não havia mais sentido algum ficar longe da minha cidade, de você...

– E do Edgar...

Fiquei envergonhada diante do Doutor Assunção.

– Edgar... Também... Na realidade ainda estamos nos reencontrando...

– E como foi vê o seu marido depois de tanto tempo...

– Ah, pai... Um imenso turbilhão de sentimentos... Na realidade deste a minha volta já aconteceu tanta coisa... Eu e o Edgar... Sabe pai... É tanta coisa... O que importa é que realmente estamos próximos... E mesmo assim, ainda há um caminho a percorrer e de certo modo acredito que mais do que nunca estamos disposto a percorrer... Foi bom voltar a ficar perto dele depois de todos estes anos...

– Então vocês estão juntos...

– Tentamos ficar juntos... Eu ainda não voltei para casa como o senhor deve ter percebido... Eu quero ir com calma...

– Então estão em bons termos...

– Mais do que estávamos quando eu voltei... Como disse ao senhor... Quero ir calmamente... Quero redescobrir o Edgar e a mim também... Acho que cada dia que passa, nós dois estamos mais perto disso... Nem sempre é fácil... Estamos tentando... Queremos muito e isso é um começo...

– E é assim que se constrói um relacionamento minha filha... Não é fácil... É diário... Constante e nem sempre perfeito...

– Eu que o diga...

– E você tem um aliado... O amor que o Edgar sempre nutriu por você... Com o divórcio, o Edgar chegou a me procurar para saber notícias suas... E eu não as dei porque você me pediu naquela época... Tinha que vê o quanto ele ficou desnorteado com isso, aliás, com tudo isso...

– Eu lembro... Naquele momento a última pessoa que queria ver era o Edgar... Pai, quando fui embora eu pensei que fosse deixar para trás parte do sofrimento que me consumia naquela época... Estava enganada, eu o levei comigo e foram tempos tão difíceis... Não foi nada fácil deixar para trás vocês, eu tive que me reinventar... Foram tantos sentimentos... Tantas dores... Era como se eu estivesse atravessando uma grande tempestade e por mais que andasse tentando sair dela, a sensação que tinha era como se tivesse indo ao centro dela...

– Por mais longa que seja uma tempestade, há um momento que ela enfraquece e passa... E aí querida, o que se tem é um céu limpo... Onde se pode ver o Sol, ou as estrelas...

– Acho pai que comecei a achar o caminho e agora começo a enxergar o céu, ainda há algumas nuvens, um pouco de chuva... É neste ponto que estamos... Ao menos um rumo surge diante de nós.

– Não sabe o quanto é bom ouvir isso... Eu lamentei tanto quando resolveu se divorciar... Ver a minha única filha ir embora... Tornasse uma mulher divorciada...

– Eu precisava sair... Ficar longe, eu tinha tanto medo de um dia olhar para o Edgar e perceber que todo este amor que sinto por ele tivesse se transformado em outra coisa... Pai, eu não iria suportar olhar para o Edgar e não reconhecer nele o homem por quem eu me apaixonei... E também tinha tanto medo de me odiar... Eu não podia manter um casamento naquele momento... Eu precisava sair... Precisava de ar... De deixar tudo aqui para trás... Houve um tempo que pensei que todos aqueles sentimentos tivessem adormecido... Sabia que o amor que sentia pelo Edgar ainda estava aqui, nunca pensei que fosse esquecer... Estava ciente que sempre o levaria comigo... Quando a Isabel me convidou... Pensei no senhor, no Albertinho... Na Dona Constância... Foi em Edgar que pensei primeiramente... Queria saber dele... Vê-lo... Tinha medo... Mesmo voltando me mantive distante... E eu o reencontrei... Quando fui professora da filha dele e depois ao vê-lo diante de mim... Percebi que poderia passar o tempo que fosse... O amor que sinto estava aqui, comigo todos destes anos e nada mudaria isso... Não foi um reencontro fácil... Brigamos, nos reconciliamos e brigamos novamente... Em meio a tudo isso eu sinto a necessidade de tê-lo perto de mim... Como disse ao senhor, estamos nos redescobrindo...

– Sabe filha, nunca duvidei do amor que um sente pelo outro... Sei que o Edgar manteve uma vida bastante discreta todos estes anos... Conversamos algumas vezes e sempre o assunto dele era você...

– Imagino que sim...

– Sempre achei uma loucura a sua mãe criar aquela farsa toda... E o que mais me impressionou foi o Edgar aceitar participar daquilo tudo... E pensar que ele fez por amor a você...

– Eu sei disso... Mamãe poderia o ter poupado disso.

– Ele poderia ter recusado... E não o fez por sua causa...

– O Edgar é um homem maravilhoso... É por isso que não consegui esquecê-lo... Sei que tivemos nossos problemas... Muita coisa mudou nestes anos de ausência... Porém nunca consegui deixar de amá-lo...

– E nem ele a você...

– Eu sei pai... Todos os dias ele me dá provas disso... E eu tento retribuir da mesma forma...

– Filha, voltando ao assunto da foto, sua mãe me falou que saiu em um jornal que revelava a sua condição de divorciada...

– Por causa daquela foto perdi meu emprego... Foi humilhante, Mantive-me firme, porém foi tão triste perder meu emprego daquela maneira... Fui praticamente escorraçada do colégio onde lecionava...

– Mas como isso aconteceu, não acredito que publicaria uma foto sua por nada.

– Eu também acho que não, mas ainda não suspeito de ninguém. Edgar desconfia que possa ter sido a mando de alguém, não temos ideia de quem faria isso... ainda não temos como provar. Por hora esta história estar em suspenso. Sabe pai, não vale a pena falar disso, já passou e fez o estrago que fez... Não quero pensar nisso... – Apenas admirava o semblante de meu pai. - E como está o senhor? Eu nem acredito que finalmente nos encontramos... Senti tanto a sua falta pai. Como o senhor está?

– Morto de saudade de minha única filha. – Como era bom está diante de meu pai depois de tanto tempo...

Assunção abraça a filha mais uma vez.

– Então, agora, o senhor é um Senador da República.

– Pois é Laura, deixei sua mãe me convencer a entrar para a política, ao menos pude reerguer um pouco mais o patrimônio da família. Todavia minha vocação continua a Medicina. Por hora, não vou reclamar... Trabalhar para melhorar a vida daqueles que precisam, sei que não é fácil, principalmente quando estamos falando de Senado Federal, os egos ali são bastante inflados... Percebi que posso fazer um trabalho voltado ao social, sendo senador... Ao menos é um começo...

– E o Albertinho, então ele continua no sul? – Outra saudade que carregava em meu peito, já repleto delas...

– Ele ainda está no Rio Grande do Sul servindo ao Exército. Creio que ficará lá ainda por um bom tempo. Conheceu uma moça por lá... Chamasse Esther... E para a alegria da sua mãe e de família tradicional e muito rica...

– Sinto saudades de meu irmão.

– Imagino que sim, ele precisava de um pouco mais de disciplina, sua mãe passava demais a mão na cabeça de seu irmão. Depois de tudo que aquele irresponsável fez, eu tinha que tomar alguma atitude. Precisava ser enérgico...

– Entendo.

– Então minha filha, como você está? Pena ter perdido seu emprego no Colégio por causa daquela foto.

– Nem me fale papai, confesso que aquela foto fez um estrago considerável, mas eu estou tentando contornar as coisas. Se não fosse pelos poucos amigos que tenho. E mesmo com toda esta tempestade que se abateu sobre minha cabeça, ainda valeu a pena voltar para minha cidade. Ficar perto daqueles que amo... Ficar perto do Edgar e da Melissa.

– Filha, não imagina o quanto senti sua falta.

– Eu também meu pai, eu precisava ficar longe, era uma questão de sobrevivência.

– E como você está agora, neste aspecto.

– Fortalecida, eu acho, ainda carrego comigo as cicatrizes daquela época, porém, me sinto mais forte agora. O tempo não extirpa as dores, apenas as ameniza em nosso coração... Não sou mais aquela pessoa que foi embora muito machucada, por outro lado, há ainda algumas feridas, que mesmo cicatrizadas, ainda doem, com os anos eu aprendi a conviver com a dor. É engraçado, ou triste, não sei, aquelas dores não deixam de existir, apenas atenuam com o tempo, mas sempre estarão ali, te lembrando... Hoje sei que sempre as carregarei comigo, sempre estarão lá, apenas incomodaram menos como o tempo... Eu não quero ficar remoendo isso, quero me dá uma nova chance... Quero me acertar com Edgar, sei que não será como antes, e nem deve ser assim, apenas desejo poder ficar bem com ele e quem sabe reescrever nossa história... O que passou, passou e as lembranças continuaram em mim, porém quero seguir em frente e desejo muito que meu marido esteja ao meu lado...

– Não sabe o quanto me deixa feliz ver que você e o seu marido começam a se entender... Sua mãe sempre foi uma mulher de personalidade forte, nunca aceitou seu divórcio... Tenta entender minha filha, para uma pessoa como sua mãe, a separação é algo inadmissível... Mulheres como ela foram criadas para aguentar qualquer deslize do marido, manter o casamento e a família a qualquer custa... Mesmo que seja a custa da própria felicidade... Queria pode ter estado mais ao seu lado, infelizmente, sua mãe não colaborou muito para isso.

– Não imagine que nosso encontro tenha sido fácil... Queria tanto que as coisas tivessem sido diferentes, infelizmente não foram... Ela ainda me culpa por ter me separado do Edgar... Para ela teria engolido toda aquela situação... Queria tanto que minha mãe tivesse ficado ao meu lado, me abraçado, dado seu colo e não tive nada disso... Será que não bastava ter as dores da minha separação do Edgar, tinha que ser renegada por minha mãe como se fosse um trapo velho... Quer saber, eu estou aqui, em pé... Tentando reconstruir minha história com o meu marido... E é isso que eu quero, reconstruir minha vida novamente, antes fiz isso sozinha, agora quero fazer ao lado do homem que sempre amei... – Respirei profundamente. - O mundo pode desabar, todavia a ex-Baronesa da Boa Vista faz questão de manter a posse de grande dama. Mamãe ainda pensa que o mundo é feito de aparências.

– Sua mãe foi educada para ser uma senhora dona de escravos... Até hoje ela quer que os empregados a chamem de Baronesa...

– Pode ser... Só que a escravatura já terminou a mais de vinte dois anos, e com ela o Império, mamãe já deveria ter assimilado isso... São novos tempos e aqueles não voltam mais... Ainda bem.

– Certos aspectos da vida jamais mudaram Laura, entre eles está sua mãe.

Apenas sorri do comentário do meu pai.

– Querida, eu quero comemorar o seu retorno. Vamos almoçar agora na Colonial. Um almoço de pai e filha, nós merecemos isso depois de todos estes anos separados.

– Papai, eu não sei... Um senador da República almoçando com uma mulher divorciada... Seria um escândalo entre tantos... – Brinquei com o doutor Assunção. - Sem contar que eu já almocei com Edgar...

– Não, é um pai almoçando com sua querida filha que não via há muito anos. Venha comigo querida, quero ficar mais tempo com minha menina. Vamos almoçar sim, na Colonial, pegue seu chapéu e sua bolsa.

– Como posso dizer não a um Senador da República. – Eu brincava com o meu querido pai.

Eu e o doutor Assunção entramos no carro e seguimos para a Rua do Ouvidor, onde fica a confeitaria Colonial. Assim que chegamos, o Maitrê os levou para uma mesa no salão principal, nós dois conversávamos enquanto esperávamos o almoço. Não me dei conta mais um homem, jovem, e de boa aparência foi em nossa direção e cumprimentou meu pai como se há muito tempo o conhecesse...

– Com licença, desculpe interromper a prosa do senhor e da senhorita, como vai Senador Assunção? – Ele lançou-nos um belo sorriso e realmente parecia contente em encontrar meu pai.

– Henrique, como vai, não o vejo há algum tempo. – Meu pai se levantou o abraçou com a um filho.

– Desde um pouco depois de sua posse, como está Senador?

– Muito bem agora, deixe-me lhe apresentar, está e minha filha Laura.

– Laura, lindo nome, significa gloriosa, sempre achei muito bonito o significado de seu nome... Prazer em conhecê-la, senhorita. Sou Henrique Medeiros, seu criado.

– Obrigada, o prazer é todo meu.

Henrique aproveitou e beijou minha mão que havia estendido para cumprimentá-lo com um aperto de mão.

– E como vai? Quando tempo e sua irmã, como vai à jovem Amélia?

– Melhor, desde a morte de nosso pai, ela ficou bastante abalada, agora se recuperou bastante. Ficamos alguns meses na casa de uma tia nossa, em São Paulo, e agora voltamos para o Rio de Janeiro.

Percebi que o jovem me observava enquanto conversava com meu pai... Fiquei um pouco envergonhada.

– Laura, Henrique é filho de um antigo amigo meu de Faculdade, Gracindo Medeiros, quando nos formamos, ele voltou a São Paulo e eu fui para a fazenda de meus pais. Nós nos perdemos de vista, mas sempre mantivemos certa correspondência.

– Acho que me lembro do senhor ter citado seu amigo algumas vezes. Faz muito tempo isso.

– Henrique é o seu filho mais velho, é engenheiro de formação, agora, por causa da morte do pai, e se vendo sozinho com a irmã pequena, assumiu os negócios da família e agora é dono de algumas fazendas...

Percebi que o jovem engenheiro continuou observar-me, deixou-me um pouco encabulada, acabei puxando conversa com ele.

– Então o senhor tem uma irmã, Sr. Medeiros.

– Por favor, me chame por Henrique. É verdade, tenho uma irmã, muito jovem, Amélia, tem apenas dezesseis anos.

– É bastante jovem.

– Não seja por isso, lembra-se que se noivou com menos idade. – Lembro-me Dr. Assunção.

– É verdade, naquela época Edgar foi estudar fora, e hoje, pensando bem, foi muito jovem ainda. Era preferível ter esperando um pouco mais.

– Desculpa-me... Então é casada... – Henrique parecia um pouco decepcionado.

– Sim...

– Você se divorciou filha... – Meu pai comentou.

Não me sentia confortável em falar em meu divórcio, porém me desagradava muito ter que mentir, ou ocultar... Por pior que parecesse, falar a verdade era a melhor alternativa.

– Na realidade Henrique, eu sou... Fui casada... Sou...

– Foi... É... Desculpa-me eu não entendi... Só falta ser viúva...

– Não, posso lhe garantir que Edgar, meu marido, goza de uma excelente saúde e vai muito bem. – Achei graça da brincadeira de Henrique...

– Desculpa-me, eu não consigo entender... Seu marido? E a senhora disse que foi casada... Afinal de contas... Desculpa não devo me intrometer.

– É um assunto bastante delicado. – Eu não posso negar que continuava achar graça da situação.

– Compreendo... Melhor, não compreendo... – Henrique estava confuso com a situação e sem entender nada.

– Quem sabe um dia lhe explique melhor... – Talvez fosse melhor deixar este assunto de lado... Achei Henrique um homem muito agradável e gostei dele, apesar de não compreender bem o porquê naquele momento.

Achei divertida a situação, sei que a culpa é minha, talvez se me mantivesse calada nada disso tivesse acontecido... Sem querer meu pai havia revelado minha condição... Na realidade nem eu mesma entendia... E o que dá quando se deseja falar uma meia-verdade... Porém senti no engenheiro uma simpatia que não sabia explicar direito... Senti que nele poderia ter um amigo... Pelo menos uma coisa já sabia sobre ele, era filho de um grande amigo de meu pai e cuidava muito bem de uma irmã mais jovem... Alguém assim, certamente era de boa índole e fiquei com uma boa imagem do rapaz... Que ficou desconcertado.

– Bom, não quero atrapalhar mais. Laura, posso lhe chamar assim?

– Claro, Henrique. – Respondi.

– Foi um imenso prazer conhecer você, Laura... Espero que no vejamos muito em breve. Eu gostei muito de conhecê-la. – Apenas me fitava.

Henrique beija mais uma vez a minha mão e que havia estendido para cumprimentá-lo em um aperto. E se volta ao meu pai.

– Senador, foi um prazer revê-lo, espero voltarmos a nos ver em breve, farei uma visita ao senhor em breve.

– Não quer se sentar conosco e almoçar... Minha filha já almoçou e apenas me faz companhia... Seria agradável se ficasse um pouco mais... Assim poderíamos colocar os assuntos em dia.

– Adoraria Senador, infelizmente, tenho que ir... Quem sabe em outra oportunidade. Minha irmã espera por mim e já estou um pouco atrasado. Não gosto de fazê-la esperar.

– Que pena, seria muito agradável... Mande lembranças minhas a sua irmã. Qualquer dia a leve em minha casa, minha esposa adoraria recebê-la para um chá.

– Darei sim, Amélia ficara muito feliz em saber que eu encontrei o senhor e com o convite. Laura, eu gostaria muito que conhecesse minha irmã, tenho certeza que ela adoraria conhecê-la. Aliás, faria muito bem a Amélia ter novas amizades, sempre fica em casa, seria bom ter uma pessoa que pudesse conversar além de mim... Preciso ir... Foi um imenso prazer revê-lo Senador... E foi um imenso prazer conhecer você Laura...

– O prazer foi todo meu Henrique... E será um prazer conhecer sua irmã... Quem sabe um dia desses...

– Tenho que ir... Uma ótima tarde. Até logo.

– Até. – Respondi enquanto via a figura de Henrique sair. Ao chegar à porta o vi se voltar e lançou-me um sorriso tímido e um aceno de mão, colocou o chapéu e saiu pela Rua do Ouvidor perdendo se no meio da multidão...

– Minha filha, deixamos o pobre rapaz confuso... Desculpa revelar sua condição. Foi um ato falho... Falei mais do que devia... Perdoa-me meu anjo...

– Não tem problema papai... Pelo que me consta é de domínio público minha condição de divorciada... Não há ninguém nesta cidade que não sabe disso... Gostei do filho de seu amigo... Parece ser um bom homem... Talvez menos o Henrique soubesse, como ele estava em São Paulo, ainda não soube das últimas manchetes e fofocas da sociedade carioca... – Eu e meu pai rimos da minha piada. – Realmente tive uma excelente impressão do Henrique, cuidar da irmã... Então é um bom homem...

– E é, um excelente rapaz, cuida da irmã com tanto carinho... Sua mãe morreu quando era muito jovem e seu pai há pouco tempo... Morava fora, acredito que em Londres e voltou para administrar os negócios da família... Um jovem que se dispõe a cuidar da irmã só pode ser um bom rapaz... Não sei por que ainda não se casou, é um bom partido, ainda está solteiro. Daqui a pouco chega aos trinta um solteirão.

– Talvez seja por causa da irmã. Como o senhor disse, um jovem como ele que se dispõe a cuidar da única irmã só pode ser um bom rapaz... Já havia me simpatizado como ele, agora então... – Respondi. – Sem contar que ele pode não ter encontrado a pessoa certa ainda. Quem sabe, agora de volta ao Rio de Janeiro encontre a mulher certa... Há tantas moças por ai dispostas a casar, e como um rapaz garboso como ele... Não faltarão pretendentes...

– O Gracindo foi um grande amigo da época da faculdade... Gente boa e muito correto... Morávamos no pensionato, ele fazia Direito e eu, Medicina... Boa época aquela... Éramos tão jovens... Ele era um republicano e idealista... Era um abolicionista... O que não deixava de ser engraçado porque a família dele, era dona de terras e tinha muitos escravos... Sempre vivia as turras com o pai por causa disso, sei que se firmou como advogado em São Paulo e casou depois... Vieram os filhos e pouco depois ficou viúvo... Henrique, seu mais velho, foi estudar engenharia fora, em Londres e ficou por lá durante muitos anos... Amélia era tão pequenina quando a mãe morreu... Meu amigo ficou se dedicando aos filhos... Pena que tenha morrido há pouco tempo... Tenho certeza que você teria gostado muito de tê-lo conhecido... Era um homem maravilhoso e com ideias bastante avançadas... Acredito que Henrique tenha muito do pai... Quando tomei posse, tinha mandado um convite ao pai, ainda não sabia de seu falecimento, e ele, gentilmente veio a minha posse e se apresentou... Foi uma grata surpresa, apesar da notícia triste que era portador... Gostei muito dele e me lembra tanto o pai... Quanto tempo se passou depois daquela época... Nossa juventude... Quando nos formamos cada um seguiu seu caminho, porém o sentimento de uma boa amizade permaneceu conosco... Sempre nos escrevíamos e lembro-me bem quando recebi uma carta dele, pouco depois da Proclamação da República, estava animado como os novos rumos do país... No fundo era um romântico...

– Lamento pai... São coisas da vida... Acho melhor o senhor deliciar seu prato... Deve já está quase frio.

– Talvez tenha razão querida... Vamos voltar ao nosso almoço de pai e filha... Nossa filha, como é bom poder ter minha filha perto de mim, depois de tanto tempo. Se você soubesse o quanto é bom ficar assim como você... Olhar para o seu rostinho... Filha minha... Este seu pai aqui sentiu muita falta das conversas que tínhamos... Você me fez muita falta...

– Eu, também, senti muita falta do senhor, desses momentos de pai e filha... Das nossas conversas... Agora eu voltei e não pretendo ir a lugar nenhum... O senhor sabe onde eu moro e tenho certeza podemos ter muitas conversas ainda... É melhor comer... A comida está esfriando...

– Melhor mesmo... – E abocanhou uma garfada do bife.

Eu e o papai ficamos conversando ainda por um bom tempo, afinal de contas, eram mais de seis anos de saudades... Se meu encontro com a minha mãe havia sido desagradável, apesar da saudade que eu sentia, com meu querido pai foi exatamente o oposto... Nele encontrava a amizade e o carinho que não havia encontrado em minha mãe. E também o abraço amigo que não havia recebido da Baronesa... A tarde transcorreu deliciosamente... E poder ter meu pai diante de mim, de certa maneira, estava me aproximando de minha família...


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Notas finais do capítulo

Meninas, finalmente consegui colocar um elemento a mais nesta estória, a muito tempo que desejava isso... Se o Edgar já ficava com ciúmes do seu pseudônimo... Imagine agora e frente com alguém real e que conquistou a admiração de Laura logo de cara... O que vocês acharam... Espero que tenham gostado... Bjs e comentem... Louca para saber a opinião sobre o tal engenheiro... Até o próximo capítulo...