Laura E Edgar - Um Novo Olhar escrita por Bia


Capítulo 34
Madre Superiora


Notas iniciais do capítulo

A briga na confeitaria faz uma vítima... Porém Edgar dá mais um passo para ficar perto de Laura... Espero que gostem e comentem... Sempre é bom saber a opinião de vocês... Bjs



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Madre Superiora (Capítulo 34)

Fui totalmente descortês com Laura, sai de casa e a deixei praticamente falando sozinha... Não aguentava vê ela falando daquele Ferreira na minha frente, precisava sair, respirar... Era a minha Laura falando de outro homem... Querendo conhecer outra pessoa... Por que fui ouvir os conselhos do Guerra, pensava comigo... Era claro que ao ler o texto Laura se interessasse por quem poderia ter escrito... Sempre foi uma mulher inteligente, se identificaria com o autor... E a Laura interessada em conhecer outro homem... Isso era inadmissível... A minha esposa... A minha Laura... E ela veio me procurar para falar dele... Como eu agüentaria a vê falando de outro homem na minha frente... Eu a havia beijado, por um momento pensei que nos reconciliaríamos e estraguei tudo com meu ciúme idiota... A Laura tinha ido me procurar... Perguntar logo pelo Ferreira...

Guerra estava ocupado, provavelmente, escrevendo outra matéria, nem me importei e entrei logo no escritório dele...

– Entrar assim... Aconteceu alguma coisa? Pela sua cara algo de muito sério aconteceu...

– Aconteceu sim e a culpa é sua... – Andava de um lado para o outro.

– O quê eu fiz por acaso... Nem sai do meu escritório hoje revisando as matérias para amanhã... – Assustado.

– A Laura está interessada em outro homem...

– E isso é minha culpa por quê? – Sem entender nada. – Eu não me lembro de ter apresentado ninguém a Laura. – Com tom de deboche.

– A Laura está interessada no Antônio Ferreira...

– Agora eu entendo esta fumaçinha saindo da sua cabeça. – Guerra começa a rir...

– Estou falando sério, Carlos Guerra... A Laura está interessada no Antônio Ferreira...

– Edgar, calma... Senta-se antes que fure meu assoalho... Pensa comigo... O Antônio Ferreira é você, meu amigo... Então a Laura está interessada em você... Compreende isso... – Didático comigo.

– Eu sei disso Guerra, o problema é que a Laura não desconfia disso... Para ela o Ferreira é alguém que conseguiu ler a todo o sofrimento pelo qual passou, ao contrário de mim que, praticamente, fui um boçal com ela...

– Edgar, falando sério agora... A Laura não sabe que você é o Ferreira... Sei que ficaria encantada com a matéria... Afinal de contas ali está retratado o sofrimento dela e de outras mulheres que passaram pelo que ela passou... Edgar, quem conseguiu entender o sofrimento da Laura foi você, ela apenas não sabe disso ainda, mas um dia vai saber... A Laura foi de procurar para falar do Ferreira?

– Sim, quer dizer, não. Ela foi até a nossa casa porque soube do que aconteceu na Colonial... A Isabel estava lá e contou a ela... Pensei que tinha ido tomar satisfação e de repente me agradece por ter protegido-a daquela mulher... Logo a Laura que sempre rejeita a minha proteção... Foi me agradecer... E por um momento, por um instante apenas pensei que fossemos nos entender... E ai, do nada, apareceu a figura do Antônio Ferreira na nossa conversa... Eu queria explodir... Fiquei sem reação... Ela falava dele como se fosse outro homem... A minha esposa me perguntou se conheço, ou não, o Ferreira... Nem sei o que respondi... Tinha que sair de lá, precisava de ar e acabei deixando a Laura, no meio da nossa sala, falando sozinha... Tudo por causa desse jornalistazinho de quinta.

– Edgar, definitivamente você com ciúmes não diz coisa com coisa... Meu amigo, lembra-se que você é o Antônio Ferreira... O pseudônimo que você usava em Portugal para fazer as suas matérias investigativas. O Ferreira não existe, você se esqueceu disso?

– O quê eu sei, Carlos Guerra, é que a Laura não tem a menor ideia disso.

– Então por que perdeu a chance de falar para a Laura que você é o Ferreira...

– Sei lá Guerra... Quando mais falava, mais eu ficava irritado... Quis dizer, e não tive coragem, e se ela não acreditasse em mim... Era como se ela construísse a imagem desse homem é esta não corresponde a mim... Eu já disse para ela eu devo ser um boçal...

– Edgar, definitivamente você não é um boçal e a Laura sabe disso perfeitamente... Certo que vocês brigaram, e o senhor perdeu uma ótima oportunidade de reatar com ela... Ao contrário, ficou com ciúmes de si mesmo... Seria cômico se não fosse trágico. Apesar de conseguir enxergar apenas o lado cômico da situação... – Guerra riu. – Tudo bem que a Laura não saiba... Porém você precisa esfriar esta cabeça... Se for para ter ciúmes, tenha pelo menos de alguém de verdade e não do seu pseudônimo... – Guerra não conseguia segurar o riso.

– Guerra, você não entende, a ideia da Laura se interessar por outro homem, que outro possa se aproximar dela... Eu não admito que nenhum outro chegue perto da Laura... Se for o caso nem eu mesmo...

– Edgar, para de ser dramático... E sinceramente eu prefiro não entrar na sua loucura... O melhor a fazer é tentar deixar esta cabecinha esfriar... É incrível que quando o assunto é a Laura você fica desorientado, principalmente quando estão brigados... Relaxa meu amigo... Fica um pouco aqui e depois vai para casa... Tenta esquecer esta história toda... Está bem?

– Como se a minha esposa está com outro homem na cabeça...

– Não é outro homem, e sim você, e depois... Pensa comigo... Se a Laura leu a matéria e a primeira pessoa que ela procurou foi você... Pensa comigo... Isto quer dizer alguma coisa... Concorda?

– Não sei dizer...

– Sabe sim... Se a Laura tivesse pensando no que o senhor está pensando... Certamente a última pessoa que ela procuraria seria você, Edgar... Entende isto agora? Ela procurou você primeiro e não o Ferreira... E nem veio aqui ainda atrás dele, ou melhor você... Sei lá... Até eu estou confuso agora...

Apenas fitei o Guerra, sentia-me desnorteado e muito chateado... Laura havia ido a minha casa e eu a tinha tratado como um completo imbecil... Ela me procurou depois daquela briga horrível e eu desperdicei a chance de voltarmos...

– Quer saber nós dois precisamos de uma taça de conhaque... Quem sabe assim você fica um pouco mais calmo... – Guerra pegou a garrafa na estante e dois copos e nos servimos...

Voltei para casa já era tarde da noite... E para minha surpresa, ao entrar no quarto vejo a figura de Laura deitada em nossa cama... Adormecida, havia um livro em seu colo, com certeza me esperou, como cheguei tarde dormiu ali mesmo... Dormia tranquilamente... Tive vontade de deitar-me do seu lado... Achei melhor não... Fui para o quarto de Melissa que fica em frente ao nosso... Quem disse que consegui dormir... Tinha medo de despertá-la pela cretinice que havia feito... Com que sonhava pensei... Levantei-me e fui até nosso quarto... Ainda dormia tranquilamente... Retirei o livro de cima da cama e deite-me a seu lado e observei a sua face... Como alguém pode ser tão linda... Era tão bom ter a Laura ali... Olhar para ela... Sentir seu perfume... Tocar em seu cabelo... Tinha medo de acordá-la... Fui um idiota e ela estava ali... Deitada... Tudo que passou, em parte me sentia culpado... Passaria minha vida inteira contemplando-a, sempre e para sempre... Idiota que eu sou... Ela estava ali, comigo... Mesmo eu sendo um imbecil... Queria tocá-la... Contentava-me em Admirá-la... Apenas olhar para ela... Senti meus olhos marejados, mas não chorei... Apenas admirei...

Ao acorda no dia seguinte Laura, já não estava... Foi embora e não me acordou como faria normalmente, com um beijo no canto da boca e uma linda bandeja de café da manhã para a gente... Estava chateada comigo e com razão... Dormiu ali, mas não quis falar comigo... Apenas se foi... Tinha deixado um recado com Matilde, li e dizia que tinha um compromisso com a Isabel referente à escola nova, conversaria em outro momento... Senti-me mais idiota ainda... A única coisa que me restava era tomar meu desjejum novamente sozinho... Merecia isso...

Eu tomava café da manhã, pensando em tudo que havia acontecido no dia anterior... Laura ter ido sem falar comigo, meu comportamento diante dela, como havia sido um verdadeiro idiota em agir daquela maneira... Para minha surpresa recebi uma visita que não esperava, Padre Olegário, em casa, confesso que fiquei surpreso já que em todos estes anos, ele nunca tinha ido à minha casa. Reconheço que eu também não era um cristão muito devoto e a era poucas vezes que ia a Igreja, normalmente, era para acompanhar minha mãe em alguma data mais significativa. Convidei o Padre para me acompanhar no meu desjejum, algo que ele fez com bastante gosto, já que a mesa esta repleta de guloseimas que fazia o padre cometer o pecado da gula, e talvez sem muita culpa, porém, nada que meia dúzia de Pai Nosso e outras tantas de Ave Maria não fosse absolver de tal pecado.

– Padre Olegário, é a primeira vez que vem a minha humilde casa, em que posso ajudá-lo? – Enquanto me servia de uma rabanada que Matilde havia feito.

– Na realidade Edgar, a missão que me traz aqui é um tanto espinhosa. Como você, também, pouco aparece na Casa do Pai, achei melhor vim pessoalmente. Até parece que não tem seus pecados. – Padre Olegário comia com gosto uma fatia de bolo.

– É o que mais tenho Padre... Aconteceu alguma coisa para o senhor sair da sua paróquia e vim me visitar? – Estranhei a presença do Padre me minha casa.

– Edgar, não me agrada ser o portador de tal mensagem, mas a Madre Superiora da escola da Melissa... Aliás, nunca se confessou este seu mau passo, como se estivesse acima do bem e do mal... – Outra garfada no bolo.

– Padre, eu tenho inúmeros pecados, mas não é sobre eles que o senhor veio aqui, o quê tem a Madre do colégio de Melissa?

– Edgar, você sabe que estamos em uma cidade onde muitas vezes parece uma pequena aldeia e chegou aos ouvidos da Madre a discussão que você com a Gisele Laranjeiras, na Confeitaria Colonial, e, principalmente, o motivo que levou a tal briga... Enfim, a Madre descobriu que você e a Laura foram casados no passado. E ela acredita que isso pode influenciar pensamentos liberais em Melissa e ocasionalmente sua filha pode influenciar as outras meninas... A Madre quer falar com você, adianto que o desejo dela é que você tire a Melissa do Colégio, ela não quer que sua filha contamine as outras meninas. Foram estas as palavras usadas por ela.

– Contamine? Minha filha é portadora de alguma moléstia Padre? –Era um absurdo o quê ouvia.

– Desculpe ser o mensageiro de tal notícia. Acredito que é melhor você conversar com a Madre.

– Já imagino o teor e o tom da conversa. – Era tudo que não precisava naquele momento, um confronto com a Madre do colégio de minha filha.

– Pois meu filho, você vá preparado, conhecendo a Madre, sabemos não será uma conversa fácil.

Pouco depois da saída do Padre Olegário da minha casa, achei melhor buscar Melissa no Colégio, fui antes, sabia que a Madre esperava por mim e era melhor resolver tal questão antes da saída de Melissa de sala.

Ao entrar na sala da Madre Superiora, havia uma menina de joelhos rezando baixinho enquanto a freira lia trechos da Bíblia para a jovem.

– Bom dia Madre, soube que gostaria de falar comigo. – Não queria aparentar minha revolta ainda.

– Senhor Vieira, sabia que não tardaria a vim. Mas espere um minuto, por favor.

A Madre se virou para a menina de castigo e pediu para que se retirasse, antes deu um pequeno sermão na aluna e mandou terminar a reza a Capela do colégio.

– Esperava pelo senhor, que bom que veio rapidamente. Nossa conversa será bastante longa.

– Madre, com todo respeito, vamos direto ao assunto que me trouxe aqui, o que deseja de mim. – Apenas queria resolver logo e sair dali definitivamente com minha filha.

– Dr. Vieira, por que não me contou a verdade sobre seu divórcio.

– Madre, não vejo porque falar de uma assunto que diz respeito apenas a mim e a minha ex-mulher. – Direto.

– Mas o senhor me fez crer que era um homem casado, com a esposa adoentada e que se cuidava no interior. Para minha surpresa o senhor foi casado com a senhora Laura Vieira, que, aliás, deu aulas nesta escola, e mesmo assim, o senhor permitiu que fosse professora de sua filha.

– Pelo que me consta, Laura é uma excelente professora, nunca duvidei disso, é claro que não sabia que ela lecionava aqui, para mim foi uma surpresa, não tinha porque me impor sobre o fato de minha ex-esposa ser professora de minha filha, Melissa estava em excelentes mãos assim como as outras alunas. Nunca duvidei disso. – Começava a ficar impaciente.

– E mesmo assim o senhor agiu de má fé quando não disse nada a respeito, e também, quando o fato veio a público com aquela história do jornal que abriu meus os olhos sobre a verdade sobre sua ex-esposa.

– A senhora está me ofendendo, em primeiro lugar, não tenho porque dar satisfação sobre problemas de foro íntimo. Em segundo lugar em momento algum agi de má fé... Não admito que fale assim comigo. – Firme.

– Dr. Vieira, não sei os motivos que o fizeram se separar de sua esposa, todavia o senhor tinha que ter nos alertados sobre a presença perniciosa de sua ex-esposa. – Autoritária.

– Madre, em primeiro lugar, a Laura jamais foi uma presença perniciosa como a senhora falar, ao contrário, é uma das melhores pessoas que eu conheço... A senhora perdeu a chance de ter, em seu colégio, uma professora extraordinária, e muito competente... Tampouco cabe à mim julgar isso, não serei eu que direi como teve ou não administrar este colégio. A senhora fez o que acha melhor para sua escola, mesmo que tenha tomado uma atitude errada e da maneira mais lamentável possível, já que a expulsou daqui daquela forma. – Começava a me cansar.

– Fiz o que achei melhor para meu colégio. Não quero que minhas meninas se misturem com pessoas sua ex-esposa.

– A senhora não está ofendendo apenas a mim, mas minha esposa também. A Laura é uma mulher digna e não merece ser tratada da maneira como a senhora faz neste momento.

– Se sua esposa fosse alguém tão digna assim, certamente o senhor não teria se divorciado dela. E francamente o senhor ainda tinha uma filha bastarda que eu consenti que estudasse em meu Colégio. Quando mais se mexe nesta história fica cada fez pior.

– Madre, eu poderia tentar explicar da apesar de que não devo satisfações a senhora. O que acontece em minha família, fica em família. Meus problemas são apenas meus e dizem respeito a mim. Não admito ser julgado pela senhora ou por quem quer que seja. No mais, antes que a senhora diga o real motivo que me fez vim até aqui, quero tirar minha filha desta escola. Não quero que seja educada por alguém como à senhora, não quero que minha filha cresça em meio a tantos preconceitos e falso moralismo. Por favor, peça que arrumem os documentos necessários para uma transferência imediatamente.

– Agora é o senhor que está me ofendendo senhor Vieira.

– Madre, a senhora, uma representante de Deus, agir de maneira tão cruel deveria pôr a mão na consciência e repensar suas atitudes... Minha filha é apenas uma menina e eu quero o melhor para ela, não quero que cresça como alguém preconceituosa e ainda use o nome de Deus para justificar seu preconceito... Cometi o erro de deixar minha filha nesta escola depois da expulsão de Laura, ainda bem que este erro pode ser desfeito... Vou pegar minha filha agora e amanhã mando um mensageiro buscar a documentação da menina. Passe muito bem Madre...

Sai da sala da Madre superiora sem olhar para trás e foi até a sala de Melissa e pediu a professora para liberar a minha menina... Melissa saiu comigo, não compreendia porque saía um pouco mais cedo de sala, questionou um pouco, mas aceito a desculpa que lhe dei. Saímos daquele colégio sem olhar para trás...

Agora tinha mais um problema nas mãos, precisava contar para Catarina o motivo de ter tirado Melissa da escola. Também precisava falar com Melissa que não freqüentaria mais aquele colégio, cada coisa na sua vez... Precisava respirar um pouco e por isso, em vez de levar Melissa para casa de Catarina, preferiria levar a menina para a minha, assim teria a chance de ficar um pouco mais com a minha filha e ganharia tempo para contar a verdade à mãe dela sobre o ocorrido...

Deixei Melissa em casa com Matilde, queria conversar com Guerra sobre os últimos acontecimentos e foi procurar o amigo na redação do Correio da República.

– Meu amigo não imagina o problemão que caiu em minhas mãos. – Eu me refestelei no sofá antigo do amigo, enquanto este datilografava uma matéria nova.

– O que aconteceu dessa vez Edgar? Não me parece muito contente. Não me diga que o Ferreira atacou a Laura novamente... – Brincava comigo o miserável.

– Não é nada disso e não vim falar daquele lá... Todo aquele imbróglio, na confeitaria, teve sua primeira vítima e dessa vez não foi a Laura.

– Quem foi então? – Guerra parou o que fazia e começa a dá atenção ao amigo.

– A Madre Superiora do Colégio da Melissa me mandou um recado através do Padre Olegário, queria falar comigo e, é claro, pedir para que eu tirasse Melissa do colégio... Eu me adiante e pedi para tirar a minha filha... A Madre me falou vários impropérios, mas rebati cada um deles e ainda disse que não queria que minha filha fosse educada por alguém como ela. Enfim, meu amigo foi bastante desagradável. Primeiro a Laura e agora a mim e Melissa.

– É meu amigo o senhor está ficando especialista em brigar com senhoras... – Debochou de mim - O que você pretende fazer?

– Por hora tenho que contar as novidades para Catarina. Ela vai reclamar muito, sei que estava adorando ter algumas horas longe da menina... Se ao menos se preocupasse de fato... Confesso que sinto dó a minha abelhinha... Ela adora estudar naquele colégio e como vou dizer que não pode mais voltar àquela escola... Já não bastasse o quê aconteceu a Laura, agora minha menina... É só uma criança...

– Catarina vai tirar seu fígado. Não queria está na sua pele... – Guerra debochava de mim mais uma vez.

– Se ao menos a preocupação dela fosse a menina. Seria menos penoso.

– Encontrar outra escola a esta altura será bastante complicado.

– O problema é encontrar uma escola que aceite todos estes pormenores que compõe a minha vida... Por que tudo tem que ser tão difícil? Como a vida pode ser tão complicada... E agora minha filha paga pelos meus erros... Não é justo...

– Edgar, não é a vida que é complicada, ao contrário, ela é bastante simples, somos nós que complicamos tudo... Se cada um vivesse sua vida e não importasse em tomar conta da vida dos outros tudo seria mais fácil. As pessoas preferem julgar a entender, preferem apontar o dedo como se fossem superiores a você. Coitados, além de não serem superiores, perdem a oportunidade de cuidar da própria vida... A sociedade é hipócrita Edgar... A Laura paga o preço por isso a cada dia... Agora, a Melissa, uma menininha, que mal conhece a vida e já sofre por ser filha bastarda de um pai divorciado... Olhe bem meu amigo, o divórcio não atingiu você como atingiu a Laura. As mulheres, meu caro, sempre carregam os piores estigmas. Você fez aquela matéria, você sabe que não é fácil para elas...

– Nem sei mais o quê pensar Guerra.

– Também não, mas mudando de assunto. A Melissa ficou sem escola, o que pretende fazer agora...

– Acho que tenho a solução... Tenho que conversar com a Laura antes...

– A Laura, por quê?

– Ela me contou que está abrindo uma escola com a Isabel... Será no Morro da Providência, pelo que a Laura me falou ainda está em reforma...

– A Melissa adora a Laura, tenho certeza que adoraria de a ter novamente como professora, e quem melhor que sua querida esposa meu amigo, este problema está resolvido a questão será contar a novidade a Catarina, esta sim irá chiar e não será pouco...

– Guerra, você tem toda a razão, Melissa adora a Laura e ficaria muito feliz em ter sua professora de volta.

– Vai procurá-la... É a melhor coisa que você faz... A Laura nunca negaria uma vaga para sua filha... Sem contar que pode resolver outro assunto com a senhora Vieira... Quem sabe vocês se acertam novamente...

– Isso eu não sei, depois tratamos disso... Laura não vai recusar uma vaga a Melissa... Não te contei, quando cheguei em casa ela ainda estava lá... Dormia em nosso quarto, com certeza esperou por mim... Ao acordar já não estava e deixou uma mensagem com a Matilde dizendo que tínhamos que conversar... Aposto com você que ainda tem haver com a história do Ferreira... Talvez tenha ficado chateada comigo... Só que agora vem a Melissa em primeiro lugar e preciso conversar com a Laura sobre a possibilidade da minha filha estudar na escola dela e da Isabel... Você tem razão, Catarina vai falar até cansar... E pensar que tenho que encarar a fera...

– Meu amigo odiaria está na sua pele...

– Nem eu gostaria de está na minha pele agora... Pela minha filha sou capaz de encarar um exército de Catarinas se necessário for... Vou até a casa da Laura agora mesmo... Já que temos que conversar...

– Faça isso mesmo... Sua esposa vai te ajudar...

– Disso eu não duvido... Vemo-nos depois...Vou agora mesmo. Janta comigo esta noite?

– E perder a comida deliciosa da Matilde, nunca... De encontro às sete meu amigo.

Cheguei à casa do Cosme Velho, infelizmente não encontrei a Laura... Ela havia saído com a Sandra, fui recepcionado pela Isabel...

– Surpresa boa Edgar, infelizmente a Laura não está... Se quiser esperar por ela tenho certeza que chegará logo. Quer um chá... Ou algo mais forte?

– Um chá pode ser... Isabel você pode me ajudar a resolver um problema que surgiu hoje... Tenho certeza que a Laura não vai se opor e acredito que você também não...

– Vem comigo à cozinha, e você me fala em que posso ajudá-lo...

– A Laura me disse que você viu a minha discussão com a Gisele Laranjeiras... Pois é, aquela cena atingiu a mim, indiretamente... Hoje tive que retirar a Melissa do Colégio onde estudava... A Madre superiora descobrir e o resto você já deve imaginar...

– Entendo... Lamento muito por tudo isso... Mas você disse que eu posso ajudá-lo. Como? – Isabel colocou a água no fogo.

– A Laura me contou sobre a escola que vocês estão abrindo no Morro da Providência... Acho que seria o lugar ideal para Melissa estudar... É claro que vocês a aceitarem lá... Se não houver nenhum incomodo...

– Por mim nenhum... E tenho certeza que a Laura vai adorar a voltar a ser professora da Melissa... O único problema que vejo é a mãe da menina... Já conversou com ela sobre isso... – Pôs a mesa e arrumou a louça.

– Ainda não... Com a Catarina me acerto mais tarde... Ela não tem muita escolha... Com certeza encontrar uma escola para Melissa agora será um transtorno... Principalmente depois do escândalo da Colonial... Sei que é o sonho de vocês...

– É a realização de um sonho antigo. Tinha o desejo de fazer algo que pudesse ajudar o pessoal do Morro, quando perdemos nossa casa, no cortiço, fomos recebidos de braços abertos, sinto-me agradecida por isso e foi a forma que encontrei para demonstrar minha gratidão. Como sabe, também era o sonho da Laura de ter sua própria escola. Juntamos nossos sonhos e agora está prestes a tornar realidade. – Terminava de ajeitar a mesa.

– Não imagina o quanto fico feliz por você e principalmente pela Laura.

– Ela está muito feliz também. – Colocou a água quente no bule e sentamos à mesa...

– Aceita biscoitos? Bolo?

– Bolo. – Isabel corta um pedaço de bolo para mim...

– Eu sei que a Laura faz um excelente trabalho, sei o quanto é dedicada, das suas ideias sobre Educação e acho que seria muito melhor a Melissa ser educada por alguém como ela.

– As ideias de Laura são muito boas mesmo... Ela me contou como a Madre tinha por hábito colocar as meninas de castigo no milho e ainda tinham que rezar... Fiquei horrorizada com que me contou... Se ela faz isso com suas alunas, não me surpreende que tenha expulsado a Melissa de lá... É ou não é irônico que pessoas assim dizem que representam Deus... Não sei nem porque ainda me espanto...

– Para você ver as contradições da vida... Era para ser pessoas um olhar mais fraterno... Infelizmente não é o que ocorre sempre... O melhor agora é deixar isso de lado e seguir em frente... Então Isabel, posso matricular minha filha na escola de vocês?

– Pode considera a Melissa matriculada... Não vejo problema, tenho certeza que a Laura também não... Mas como eu disse... Você precisa falar com a Catarina...

– Eu sei... Mais cedo ou mais tarde terei que conversar com ela... Então que seja logo...

– E mudando de assunto... Você e a Laura, depois daquela briga... Como estão? Eu sei que ela não dormiu em casa. Não quero ser indiscreta...

– Ainda não sei bem em que pé estamos... Certamente ela te contou sobre o Antônio Ferreira...

– Ela contou sim... Ele escreveu um excelente artigo sobre a violência contra as mulheres... A Laura ficou emocionada, é a primeira vez que tal assunto é tratado de forma tão clara e honesta...

– Ela disse que deseja conhecer o Ferreira...

– Ela comentou que gostaria muito de agradecer a matéria feita por ele e sem saber conversar um pouco mais a respeito... Foi o que ela me disse...

– Isabel, na realidade eu não gostaria muito de conversar sobre o Ferreira agora... Prefiro falar sobre a ida da Melissa para a escola de vocês...

– Entendo...

– Será que a Laura vai gostar de dá aulas novamente para a Melissa?

–Tenho certeza que a Laura ficará muito feliz em voltar a ser a professora de sua filha, ela adora a Melissa... Edgar, eu me já estava me esquecendo de uma coisa... A casa onde a escola ficará, ela está sendo reformada, ainda não temos uma data para a inauguração, talvez demore um pouco ainda... Sem contar que, você sabe que Teatro não é exatamente uma fonte lucrativa de renda, por isso, tenho pagado a reforma do meu bolso e este mês não foi exatamente lucrativo... Vai demorar um pouco mais para a escola abrir. Será que isso não pode prejudicar a Melissa? Quero muito que sua filha venha estudar conosco, porém fico preocupada que este atraso a prejudique... Não seria o caso de procurar outra escola caso demore mais que o esperado...

– Depois do escândalo não creio que vá conseguir uma vaga tão facilmente... Eu tive uma ideia, Isabel, você não gostaria de ter um sócio.

– Um sócio? Não faria mal ter um, onde encontraria um que queira ajudar a construir uma escola em um morro, Edgar?

– Na sua frente? – Entusiasmado.

– Você? Ser sócio na nossa escola? – Incrédula comigo.

– Sei que errei com a Laura, sei o quanto deseja esta escola, é o sonho da vida dela, me deixa ajudar... Sem contar que preciso colocar a minha filha em uma escola...

– Mas a Laura...

– Ela não precisa saber, pelo menos por hora... Eu quero que omita isso para Laura, ela não precisa saber por enquanto. Provavelmente odiaria o fato de está ajudando a bancar o sonho dela... Não sei como reagiria, por outro lado, é uma forma de estar perto da Laura, mesmo que seja escondido... Não quero que minha ajuda seja motivo para mais um desentendimento...

– Por que você quer fazer isso Edgar?

– Pela Laura, pela Melissa. Sei que errei com a Laura, fui um idiota... É uma maneira de estar mais um pouco na vida da Laura, ajudando a patrocinar o sonho dela, no caso o sonho de vocês.

– De fato você foi um pouquinho idiota... Eu vou te ajudar... Não gosto da ideia de esconder isso da Laura, por outro lado posso com o tempo, posso prepará-la para contar depois... É por um bom motivo.

– Então? Sócios? – Estendi a mão direita Isabel.

– Sócios! – Isabel retribuiu o gesto e a sociedade é selada com um aberto de mãos. – Isso merece uma comemoração. Vamos brindar com chá?

– Por enquanto é o que temos. – Sorri para Isabel.

Sem querer encontrei uma escola para minha filha e podia ajudar a Laura e Isabel a realizar o sonho delas... Agora faltava encarar a Catarina... Passos pelo corredor...

– Edgar?

Era ela...

– Como vai Laura?


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Notas finais do capítulo

Tomara que tenham gostado... Infelizmente Melissa foi a vítima da briga na Confeitaria... Mas Edgar, como um ótimo pai que é conseguir reverter, ao menos em parte, a situação e ainda conseguiu dá um jeito de ficar mais perto de Laura... Comentem, quero saber a opinião de vocês... Bjs e até o próximo capítulo...