Laura E Edgar - Um Novo Olhar escrita por Bia


Capítulo 33
Heloísa... Laura... Antônio Ferreira...


Notas iniciais do capítulo

Oi Gente, tudo bem? Espero que gostem... Ficou um pouco longo... Tomara que gostem... Bjs...



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Heloísa... Laura... Antônio Ferreira... (Capítulo 33)

Pego a garrafa de Porto e uma taça e vou para meu escritório... Sirvo-me e tomo o primeiro gole... Estava cansado de tantos desencontros com Laura quando parecia que finalmente tudo voltaria para seu lugar, alguma coisa nos tirava de nosso caminho e nos perdíamos novamente... Talvez Laura tivesse razão, não havia como ser como antes... Não éramos mais aqueles, nossas vidas tinham tomado rumos tão diferentes... A discussão com a mulher do Laranjeiras, o quê foi aquilo, jamais havia elevado meu tom de voz com uma pessoa desconhecia e não me arrependia do que havia feito... – Outro gole, sinto o cheio do Porto. – Se ficasse mais um minuto no escritório daquele canalha... Só de pensar ele tentando tocar na Laura e ela se defendendo daquele miserável... Se não fosse a Isabel e Celinha... Meu Deus o quê eu teria feito aquele maldito... Sempre ver a Laura ser desrespeitada por ser divorciada de mim... Logo de mim... Seria cômico se não fosse trágico... Doeu ver aquela mulherzinha desfazendo da Laura na minha frente... Como alguém pode achar que é melhor que a outra... Laura pagava um preço muito alto por ter se divorciado de mim... Enquanto eu continuava crescendo com advogado ao ponto de ser considerado um dos melhores da cidade... Eu também era divorciado e ninguém me questionava, me repreendia por isso, ao contrário, as portas sempre eram abertas para mim... Nenhuma palavra que pudesse arranhar minha imagem. – Sirvo-me outra vez. - Minha esposa sofria todas as intempéries pela decisão que tomou... Até a mãe, que deveria apoiá-la a renegou... A minha me deu apoio naquele momento, apesar do meu pai ficar irritadíssimo, afinal de contas, um divórcio arranharia sua imagem como político, que escândalo ele fez... Nem se preocupou se aquilo tudo estava ou não acabando comigo, era minha vida que estava esvaindo pelos meus dedos e a preocupação de meu pai era sua imagem... Bela imagem de um político corrupto... – Sinto o sabor amadeirado do vinho passar pela minha garganta. - De certa forma a farsa que D. Constância armou acabou nos ajudando... Mesmo que minha única preocupação fosse apenas proteger a imagem de Laura... Proteger... Proteção... Sempre quis que ela se sentisse protegida... Havia um mundo lá fora e ela o quer enfrentar de cabeça erguida... Quem sou eu para impedir... Apenas queria proteger e ela quer enfrentar todas as dificuldades... Tenho tanto medo por ela, por Melissa... Como posso impedir... Não posso protegê-las o tempo todo, tenho que está ao lado delas... Pensar que qualquer uma pode ser discriminada, renegada pela condição que possuem... Até isso é culpa minha... Dê que adianta me culpar... Nada se resolve assim...

Precisava trabalhar, mas não estava com vontade, olhava para as paredes do escritório... Como esta casa é grande... É para uma família... Apenas eu e Matilde aqui... Se nada daquilo tivesse acontecido... Quantos filhos eu e a Laura teríamos... Era para se ouvir vozes de crianças brincando pela casa, apenas escuto o barulho da mesa sendo posta na mesa e meus próprios pensamentos... Será que haveria Melissa... Ao menos Melissa... E mesmo quando ela vem aqui, o silêncio ainda impera... Não queria está sozinho, sem Laura e sem Melissa, minha família não mora comigo... Mas também não seria boa companhia para ninguém naquele momento, nem para mim mesmo. Para minha surpresa batem na porta e ao abri-la me deparo com a figura de Heloísa, estava sozinha e pediu para conversamos.

– Edgar, desculpe-me por vim assim a sua casa, mas precisava conversar com você?

– Heloísa, eu não sei se hoje sou uma boa companhia... – Disse para ela. – Se quiser me fazer companhia em um cálice de vinho do Porto, eu tomava um pouco...

– Não obrigada, não gosto muito de beber... Mas discordo de você... Você é sempre boa companhia, me parece que não está muito bem. Aconteceu alguma coisa? Parece abatido. – Heloísa olhava para mim com um ar de preocupação.

– Cansado... depois vou ficar bem?

– Posso fazer algo por você? – Ela me perguntou.

– É algo que apenas eu posso resolver... Heloísa, eu confesso que fiquei curioso, você nunca veio a minha casa, aconteceu alguma coisa? Em que posso ajudá-la. Por favor, sente-se.

– Na realidade aconteceu sim, e você pode me ajudar... Sei que é um excelente advogado e preciso que me ajude em algo.

– Aconteceu algum problema? – Começava a ficar preocupado com Heloísa.

– Na realidade algo bastante desagradável... Infelizmente o advogado que me auxiliava na administração do meu negócio, Dr. Juarez, faleceu há poucos dias. Lembra-se que do dia em que conheci a Laura, enfim, um cavalheiro me esperava e era aquele senhor, meu advogado... E agora preciso de um novo advogado, tentei alguns, mais nenhum que me inspirava confiança. Gostaria de contratar os seus serviços.

– Meus serviços?

– Sei que tem experiência em administração, Dona Margarida, uma vez me disse que você ajudou seu pai na fábrica de sua família e conseguir reverter o problema financeiro pelo qual a ela passava.

– Isso faz muito tempo, foi quando voltei de Portugal, meu pai queria se dedicar a política e deixou a fábrica nas mãos de meu irmão, ele não soube conduzir os negócios, mas fiquei apenas o tempo de colocar as finanças no lugar e depois sai para advogar, na época a Laura me apoiou na minha decisão. – Não acredito... Sempre a lembrança da Laura...

– Por isso que gostaria de contar com você, é claro que, não seria um empregado meu, continuaria com sua banca de advocacia, apenas quero contratá-lo para me auxiliar, pelo menos até encontrar alguém de confiança. Seria uma espécie de conselheiro, um bom amigo que eu posso contar, me sentiria mais segura se aceitasse. Confio em você e sei que é um ótimo advogado, você é a pessoa ideal para me ajudar. Sem contar que sou bastante generosa, posso lhe pagar muito bem.

– A questão não é financeira... E que a Laura... Ela sente ciúme... – O que eu estava dizendo.

– Compreendo. Desculpa-me, pensei que vocês dois estivessem separados...

– E estamos ou não, não sei dizer... Tivemos um desentendimento... Aliás, não há porque não aceita sua proposta, é claro que desde que eu atue como advogado, auxiliando na papelada do seu negócio, no fechamento de contratos, eu posso fazer a consultoria jurídica, mas a parte de administração eu prefiro não assumir.

– Não tem problema, já estava mais que na hora de assumir as rédeas do meu negócio e vou precisar muito da sua ajuda.

– Eu estou aqui para ajudar... – Disse à Heloísa.

– Não imagina o quanto está me ajudando. – Lança-me um sorriso tímido.

Heloísa nota que apesar de aparentar estar bem, ela percebe que eu estava realmente abatido.

– Edgar, desculpa-me intrometer, mas não me parece muito bem? Aconteceu alguma coisa, além do desentendimento como a Laura? Está adoentado?

– Estou bem fisicamente, eu apenas tive alguns aborrecimentos...

– Espero que não seja nada muito sério, mas posso ajudar em alguma coisa?

– Não sei se vale a pena falar... Aceita uma xícara de chá, vou pedir para Matilde providenciar...

– Um chá eu aceito e se puder um copo d’água também...

– Só um momento... – Sai e pedi a Matilde nos servi no escritório um chá completo. – Desculpe a demora, onde estávamos...

– Você me disse que teve alguns aborrecimentos... Posso ajudar em alguma coisa...

– São coisas minhas... Afinal quem nunca deve algumas chateações... – Esbocei um leve sorriso.

– Sempre vale a pena falar, somos amigos, você me estendeu a mão agora a pouco, agora é a minha vez de retribuir.

– Não sei Heloísa... – Estava reticente...

– Edgar, eu estou aqui para ajudá-lo também e pelo seu olhar há algo que está te deixando angustiado. Edgar, eu posso não ser sua confidente, no momento sou eu quem está aqui com você e quero muito lhe ajudar...

Matilde traz a bandeja de chá e nos serve.

– Obrigado Matilde...

– Se o senhor precisar de mim... – Saindo em seguida.

– Pode deixar... – Observei minha fiel empregada sair enquanto eu e Heloísa tomávamos um gole de nossos chás.

– Já desejo um algo e por mais que tente buscar por isso e não consegue... Quando pensa que está perto, vem algo e lhe distancia mais ainda do que tanto deseja... Estou cansado de buscar por algo que insiste em se manter longe de mim...

– Acho que entendi o que quer dizer... – Heloísa respira fundo. – Edgar, às vezes, o que pode parecer distante não esteja tão distante assim... É natural que se sinta cansado, mesmo que esteja desanimado agora, não quer dizer que se sentirá assim amanhã.

– Eu me sinto muito cansado... – Sirvo-me de mais chá.

– O seu cansaço não fará com que se esqueça... Uma vez alguém me disse que não basta desejar algo, é preciso determinação para conseguir o que se quer e a recompensar virá. Quando mais se luta é porque aquilo que se deseja vale à pena. Todos têm o direito de se cansar, apenas alguns vão continuar lutando... Buscando forças não se sabe da onde... Pelo que me constar você vem lutando há muito tempo...

– Por isso que estou tão cansado... – Estava desanimado.

– Já parou para pensar que quanto conseguir terá valido a pena. Descanse, não desista, é o conselho que posso lhe dá. – Heloísa parecia saber que eu falava de Laura

– Será?

– Se você chegou até aqui, para que desistir? – Parecia séria, lembrei-me quando Laura me disse que Heloísa poderia estar apaixonada par mim... Será?

– Como assim chegou até aqui? – Perguntei.

– Ora Edgar, Lembra-se quando nos conhecemos... Você nem mesmo tinha esperanças... Mas agora tudo mudou... Pelo que sei há algumas divergências entre vocês... E para conseguir o que tanto deseja é preciso você tentar resolver isso, aliás, vocês...

– Mas eu já tentei tantas vezes, mostrar que tudo pode ser superado, mas, por mais eu tente, mais nos distanciamos...

– Eu entendo... – Parecia incomodada...

– Eu não sei mais o que faço... – A observava.

– Edgar, eu não sei, também não sou a melhor pessoa para te aconselhar... – Mais incomodada ainda.

– Desculpe, disse alguma coisa que possa ter te chateado, parece incomodada com algo... – Não seria justo continuar falando de Laura... Será que a suspeita da minha esposa tem fundamento.

– Por favor, não disse nada que possa ter me chateado... Você nunca me chateia... São apenas algumas coisas que eu pensei...

– O quê pensou então?

– Edgar... Nem sei... Sabe que ao vê-lo assim... Não acho justo ficar assim... Eu acho que... Acho que entendo pelo que passa...

– Entende?

– Acho que sim... – Ela mal consegue me fitar.

– Você é apaixonado pela Laura... E sempre lutou para ficar com ela...

– Isso mesmo... – A observava, mesmo que não tivesse coragem de me olhar.

– Amar alguém... É uma dádiva... Nem todos têm esta sorte... – Toma mais um gole de chá.

Ouço uma batida na porta.

– Como licença Heloísa, alguém bateu na porta, eu preciso atender, estou esperando a resposta de um cliente...

– Se quiser posso ir... – Ela fez menção de se levantar...

– Não é necessário... É bem rápido... Com licença... Volto já...

– Claro, eu te espero aqui no escritório. – Ela se serve de mais chá.

Ao abrir a porta, a minha surpresa não poderia ser maior.

– Laura.

– Desculpe vim assim sem avisar... Eu precisava falar com você... Podemos conversar...

– Claro... Por favor, entre...

Não acreditava, Laura estava ali... Estava linda...

– Algum problema? Você está bem? – Não pude conter meu nervosismo...

– Estou bem... Eu vi porque quero conversar com você...

– Claro... – Por um momento havia me esquecido da Heloísa. – Laura, eu não estou sozinho, tenho uma cliente no escritório.

– Uma cliente?

– Na realidade é a Heloísa... Você a conheceu outro dia, na Colonial...

Sua fisionomia mudou.

– Eu sei perfeitamente quem é a He... Esta moça... Desculpa-me, eu não devia ter vindo... Foi estupidez minha... Eu... Desculpa...

– Não, é claro que deveria ter vindo... Heloísa é apenas uma amiga, agora minha cliente...

– Você não tem que me dá satisfações, a casa é sua e você recebe quem quiser aqui... – Laura se dirigia para a porta quando Heloísa chegou à sala...

– Laura, como vai? – Heloísa lança um sorriso tímido na nossa direção.

– Vou indo... Obrigada... Como vai?

– Bem obrigada. – Lança a Laura um leve sorriso.

– Desculpa, como disse não deveria ter vindo... Preciso ir... – Laura se dirigia novamente a porta...

– Se for por minha causa, não é necessário... O quê eu vim tratar com Edgar já foi resolvido... Quem precisa ir sou eu, tenho outro compromisso... Edgar, obrigada por me ajudar... E também pela conversa e pelo chá...

Heloísa se aproxima mais de Laura que ainda estava perto da porta.

– Laura, é sempre um prazer revê-la, infelizmente tenho que ir...

– Se for por minha causa não há porque ir, certamente, eu atrapalhei alguma conversa importante de vocês dois... – Parecia chateada.

– Não. Não atrapalhou nada... Meu assunto com Edgar já havia terminado... Com licença...

– Edgar, muito obrigada... Com licença... Nos vemos depois.

– Claro. – A acompanhei até o carro dela.

Heloisa se foi, ao voltar Laura continuava plantada na porta, a minha espera... E com ar nada amigável...

– Sua amiga não precisava ir por minha causa... – Quase irônica.

– Não quer se sentar?

– Acho que não tenho o quê fazer aqui... – Se dirigindo novamente à porta, mas desta vez vou atrás dela e a pego pelo braço.

– Não. Se veio é porque tem algum motivo... E agora quero saber qual é... Vamos entrar, por favor, ficar aqui esta porta não faz nenhum sentido... Sobre a presença de Heloísa aqui eu posso explicar.

Ela me fitou novamente... Tirei a mão de braço dela e voltamos para a sala.

– Você não me deve nenhuma explicação Edgar... Aliás, definitivamente eu não devia ter vindo aqui...

– Realmente eu não te devo explicação, principalmente se tratando de um assunto profissional... Mesmo assim eu quero explicar a presença da Heloísa aqui, na nossa casa...

– A casa não é minha é sua, se esqueceu...

– Eu não vou discutir isso novamente... Enfim, a Heloísa veio aqui para contratar meus serviços com advogado, apenas isso.

– Edgar, já disse você não tem que me dá nenhuma explicação... Sua vida particular e profissional não cabe a mim...

– A profissional pode até ser, mesmo assim gosto quando participa dela... Já a particular, não há como falar sem que você esteja nela... Afinal de contas você é importante demais para mim...

Laura ficou surpresa com minha resposta.

– Edgar... Eu...

– A Heloísa precisa de um advogado... Infelizmente o que a ajudava em seus negócios faleceu há poucos dias... Ela pediu minha ajuda temporária, pelo menos até arrumar outro...

– Edgar eu já disse...

– Eu sei perfeitamente o quê você disse... Não me importo em falar sobre isso, afinal de contas, não tem nada de mais. – Estava enciumada, ao menos isso.

Ela ficou em silêncio. Era tão bom vê-la ali, em nossa casa, mesmo sem ter a menor ideia que a levava ali... Ao menos a Laura estava perto de mim, veio até mim...

– Então Laura, o quê deseja falar comigo? – Como era bom tê-la por perto, mesmo ainda estando magoada comigo.

– Edgar... Eu soube do que aconteceu outro dia na Colonial... A discussão que teve com a Gisele Laranjeiras. Foi por isso que eu vim.

– Laura, realmente não gostaria de falar disso... – Era bastante desagradável ter que falar logo disso com a Laura, se dependesse de mim, nem disso ela saberia...

– Mas eu quero... Eu soube e fiquei pensando...

– Pensando? Pensando em quê, Laura. – Por um motivo que não sei explicar tive a esperança que algo entre nós poderia mudar naquele momento.

– Edgar, você não é de brigar... Quer dizer, nós brigamos vez ou outra, sei que não é de brigar, principalmente em público e com uma mulher...

– Laura, ela falou de você. Eu não podia deixar que falasse de você daquela maneira e ficasse quieto, ouvindo e sem reação... Será que não bastou o que o marido daquela lá vez... – Não acredito que ela estava me recriminando.

– Não é isso... Ao contrário... Na realidade eu gostei de você ter me protegido dos ataques dela... Sei que foi um escândalo na frente de todos...

– Ela mereceu... – Fiquei ressabiado. – Como soube do que aconteceu na Colonial?

– Você não viu, a Isabel chegou no momento em que tudo estava acontecendo, ela me disse que você brigou feio com aquela mulher... Você me defendeu diante dela e de todos que estavam ali...

– Laura, ela falou coisas horríveis ao seu respeito... Foi horrível ouvi-la falar todos aqueles impropérios... Eu não ouviria calado... Ela te ofendeu e você nem estava lá para se defender...

– A Isabel me contou... Ela foi bastante cruel... Indelicada mesmo...

– Foi sim, eu não podia ficar quieto ouvindo tudo aquilo sem dá uma resposta a altura.

– Lamento por ter passado por isso.

– Apenas fiz o que achava certo... Para ser bem honesto gostaria que não tivesse chegado aos seus ouvidos àquela discussão.

– Sempre querendo me proteger... – Esboçou um leve sorriso.

– Fazer o quê, é um vício que eu tenho... Mesmo que você não goste muito dele. – Ri para ela que me retribuiu.

– Não precisa me proteger... – Observava-me de uma maneira tão delicada...

– Laura, será que é tão ruim assim ser protegida por mim... Eu sei que não posso de proteger de tudo, mesmo que quisesse... Ninguém pode... Não sou onipresente e muito menos onipotente... Apenas me preocupo porque te amo muito, e a ideia que algo possa acontecer...

Ela apenas me lançou um olhar de dúvida, esboçou um sorriso mais tímido ainda. E eu sentido um imenso medo que aquela conversa se tornasse mais uma discussão nossa.

– Não. Não é ruim ser protegida por você... – Olhava-me de um jeito.

– Desculpa, o quê foi que disse. – Incrédulo.

– Eu disse que não é ruim ser protegida... Principalmente se for por você em quando...

– Você concordou comigo? É isso mesmo...

– É o quê parece... – Sorriu timidamente para mim...

– Não imagina o quanto lamento por tudo aquilo...

– Eu sei que sim, infelizmente aconteceu... Não foi nada agradável... Foi horrível... Não quero pensar nisso... Quero seguir em frente... Deixar tudo isso para trás.

– Você quer deixar tudo para trás? Laura.

– Tudo que me faz mal... Quero sim deixar para trás...

– E isso inclui? – Medo da resposta.

– Inclui apenas o que me fez muito mal... Mas não inclui a gente... – O seu olhar. Quando dei por mim já a beijava... Como sentia a falta dela... Nem sei por a beijei...

– Laura, eu andei pensando muito naquela discussão... Sobre o quê me falou... – Ainda abraçado a ela... Não queria largá-la...

– Edgar, por favor, podemos não falar disso agora... Esta discussão me fez muito mal, sei que um dia teremos que falar, mas pode não ser agora... – Parecia um pouco desconfortável.

– Então porque veio?

– Para agradecer... Mesmo não tendo presenciado o que aconteceu naquela confeitaria e saber que me defendeu e me protegeu dos ataques daquela mulher... Eu vim agradecer...

– Eu não fiz por agradecimento...

– Sei que não... Jamais faria por isso, fez porque se importa comigo e isso... Foi tocante... Quando a Isabel me falou... Não sabia o quê dizer... Fiquei assustada, confusa, emocionada... Foi um turbilhão de sentimentos... – Se desvencilhou de mim.

– Laura, já disse não foi por reconhecimento.., Nem mesmo queria que soubesse...

– Edgar, nestes últimos tempos, a maneira como muitas pessoas me olham, me julgam, nem sequer me conhecem, e mesmo assim se acham melhor do que eu... Elas acham que qualquer um, talvez, seja melhor do que eu... Dói muito ver que as pessoas preferem julgar a tentar entender... Quem sabe da dor do nosso divórcio somos nós e não eles... Divorciei-me de você porque naquele momento eu não podia ficar e aceitar tudo aquilo, eu não iria aguentar ficar não suportaria, eu sei dos meus limites... Eu sei o quê passei... Quando fui embora e não contei para ninguém minha verdadeira situação na cidadezinha onde eu morei, até para D. Eulália, uma pessoa que aprendi a gostar como se fosse minha mãe, preferi calar-me... Era por imaginar que não seria aceita... Sempre soube que seria difícil... Não vou negar não imaginava o quanto seria... Deveria ter imaginado quando minha própria mãe me virou as costas... O quê aquele homem fez, sua esposa... Tudo isso é parte do preconceito que tenho que enfrentar todos os dias... Não achei justo não vim agradecer... Você colocou aquela mulher no lugar dela... É claro que isso não vai resolver, nem vai mudar quem são... Foi uma lição que deu nela... Foi um começo...

– Não era necessário vim agradecer... – Queria tanto abraçá-la.

– Para mim era... – Seu olhar para mim...

Estávamos sem jeito, um diante do outro... Não sei a Laura, porém minha vontade era segurá-la pela beijá-la novamente, envolvê-la em meus braços e dizer que tudo ficaria bem... Sabia que não era assim, por mais que desejasse.

– Então Laura, o quê pretende fazer agora... Tem procurado algum emprego? –Não ousaria convidá-la novamente a trabalhar comigo, mesmo que ainda desejasse isso... Não quero outra briga.

– Não, na realidade já tenho um. – Seu sorriso.

– Um emprego? Fico feliz... E vai trabalhar em que agora?

– E é para ficar muito feliz porque vou voltar a lecionar em breve. – Um sorriso entusiasmado.

– Que bom, sei o quanto gosta de lecionar... Alguma escola que eu conheço...

– Na realidade é uma escola nova... No momento passa por uma reforma, mas acredito que em pouco tempo será inaugurada. É pequena, mas finalmente poderei colocar em prática tudo aquilo que acredito que deve ser a Educação... O aprendizado tem que ser por prazer, sem castigos físicos, sem ajoelhar no milho ou rezar cem Ave-Marias ou Pai-Nossos...

Seu rosto se iluminou ao falar da nova escola, ficava mais bonita ainda.

– Onde fica está escola?

– No Morro da Providência... Isabel tinha o sonho de fazer algo pelo seu povo e eu de ter minha própria escola... Assim podemos levar a possibilidade daquelas crianças no morro terem um futuro diferente dos seus pais, um futuro um pouquinho melhor... Isabel queria muito retribuir a acolhida que deve quando perdeu sua casa, desejava fazer algo de bom para seu povo e chegou à conclusão que uma escola seria uma maneira de ajudar... Ela quer retribuir o carinho. Serei sua sócia, ela entra com o capital e eu com o trabalho, também temos a Sandra que aceito trabalhar conosco... É uma pequena escola com grandes sonhos e planos.

– Então é realização de um sonho... – Era tão bom ver a felicidade dela, seu sorriso, seu sonho se realizar... Como adorava a ver assim... Feliz...

– Na realidade são dois, o meu e o da Isabel...

– Estou muito contente com vocês duas...

– Naquele dia que aconteceu tudo aquilo, eu tinha ido até lá para pedir demissão... Só que... Enfim... Vamos deixar isso no passado...

– Isso mesmo deixe no passado... É o melhor que temos que fazer...

– Edgar... Mudando de assunto há algo que quero te perguntar...

– O quê?

– Você leu o Correio da República ontem?

– Li sim...

– Então leu a matéria sobre a violência contra a mulher... Do Antônio Ferreira...

Ela leu.

– Li... – Será que ela...

– Edgar, eu não sei como... O quê o Ferreira escreveu... Eu fiquei muito emocionada quando li, sei que parece presunção minha, era como se escrevesse para mim... Eu sei que não era... Ele me entendeu Edgar, entendeu meu sofrimento... Foi assim que eu senti... Eu sei que é uma imensa tolice minha... Ele nem me entrevistou, acho que o Guerra pode ter falado com ele sobre meu caso...

O que poderia dizer... Ela tinha lido como Guerra falou que aconteceria, porém achava que era outra pessoa... Que poderia pensar... Ela falava de outro homem e não de mim...

– Eu li sim Laura, o Ferreira foi... É... A matéria...

– É como se me entendesse Edgar...

Ela falava de mim, ou melhor dele... Eu nem consigo pensar direito.

– Eu...

– Edgar, algum problema? Parece que ficou tenso de repente.

– Nada, apenas me lembrava do que li.

– Você gostou da matéria?

– Gostei muito...

– Você conhece este jornalista, o Ferreira?

– Eu? – Assustado.

– É, você o conhece?

– Por que quer saber?

– Oras Edgar, o Guerra é o seu melhor amigo, sei que frequenta a redação do jornal do Guerra, talvez conheça o Ferreira... Eu gostaria muito de conhecer o Ferreira... Conversar com ele...

– Desculpe Laura eu não vejo razão para querer conhecer o Ferreira...

– Você o conhece ou não, Edgar.

– Eu sou amigo do Guerra... Sobre o Ferreira, eu...

– Você o conhece ou não, Edgar. – Ela começava a ficar impaciente comigo.

– Não, eu não conheço, nem sequer o vi na vida... Provavelmente seja algum jornalista que escreva ocasionalmente para o jornal do Guerra... Não sei nada a respeito... Para você ter uma ideia, eu nem sabia que esta matéria sairia... Foi uma surpresa para mim... Ler nas páginas do jornal... Sobre um assunto que todos parecem querer não enxergar...

– Sabe Edgar, pode parecer tolice minha, mas fiquei comovida com ela... Li e reli algumas vezes... Quero muito agradecer ao Guerra e ao Ferreira... Gostaria muito de conhecer este jornalista...

Era tudo o quê eu não precisava ouvir... É isso mesmo? Ela quer conhecer outro homem? A Laura quer conhecer o tal Ferreira?

– Agradecer pela matéria, conversar com ele sobre como foi feita... Um homem que teve a sensibilidade de entender as dificuldades que nós mulheres passamos no nosso dia a dia... Ele foi muito corajoso em falar sobre isso e principalmente não deixar em branco tudo o que me aconteceu... Felizmente não creio que vá mudar a forma de pensar de muitas pessoas, porém é um sinal que os tempos estão mudando, não tem como continuar preso ao passado, achar que ainda vivemos em um mundo que não se admite a mudança... Ferreira percebeu isso... Gostei muito da forma como escreveu... Realmente se sensibilizou...

– Então você gostou muito da matéria?

– Como não gostar Edgar... Não é todos os dias que alguém tem a coragem escrever o que ele escreveu... Ver-se pelo texto que pesquisou a fundo, entrevistou estas outras mulheres que passaram pelo que eu passei, normalmente por mais que gritemos, mesmo assim quase ninguém nos ouve e ele nos ouviu e ainda escreveu um belo texto... Eu gostei muito...

– Ao menos isso...

– Edgar, o mundo muda o tempo todo, todavia muda lentamente, sei que é uma mudança constante, porém nem sempre vivemos para ver... São nossos filhos e netos que virão, talvez, desfrutar delas... Estamos aqui hoje, e como será o mundo daqui a cinqüenta, cem anos, não sabemos, se deixarmos de lado, provavelmente pouca coisa de modificará... Se plantarmos hoje, acredito que nossos descendentes poderão viver em um lugar menos injusto... Leva tempo, muito tempo nem sei prever o quanto... Apenas não podemos aceitar e cruzar os braços... Somos nós que fazermos a diferença... O Antônio Ferreira certamente é uma dessas pessoas que farão a diferença.

– Pode ser, Laura... – Isso começava a me deixar irritado.

– Não Edgar... É! Espero poder um dia, conversar com o Ferreira como estou aqui com você... Ou melhor, todos nós conversando juntos.., Eu, você e o Ferreira...

O que poderia fazer além de olhar para ela... Além de querer pular na jugular do Ferreira...

– Quem sabe um dia...

Respirei fundo... Queria explodir de tanta raiva do Ferreira... Laura querendo conhecer outro homem... Era tudo o quê eu não precisava...

– Eu preciso sair... Desculpa-me, tenho que me encontrar com outro cliente... Falamo-nos depois... Eu tenho que sair... Se quiser ficar, a casa sempre é sua... Eu preciso ir, com licença...

– Edgar, falei alguma coisa errada? – Desconfiada. - Você está com ciúme do Ferreira, é isso?

– Não! Não tem motivo para sentir ciúmes dele... Afinal de contas... Nem sequer o conheço... Pelo que soube, talvez não seja grande coisa... Pode ser um jornalistazinho comum, nada mesmo fora disso... Não há razão para querer conhecer... Na realidade este assunto está me irritando...

– Edgar, você está com ciúme porque eu quero conhecer o Ferreira é isso? Não acredito que você está com ciúme... – Irritada.

– Não sei do que a senhora está falando? Eu disse apenas que tenho um cliente... E definitivamente, não conheço o tal Ferreira e não acho necessário você querer agradecer a ele também... Pelo que me consta é um jornalista fazendo apenas seu trabalho... Apenas isso... Quer saber... Com licença, Laura, nos falamos em outro momento.

Sai deixando a Laura sem entender nada e ainda mais irritada comigo, provavelmente aumentei a sua mágoa em relação a mim... Querer conhecer o Ferreira... Apenas queria o matar e precisava falar com o Guerra sobre a péssima ideia dele que publicar aquela matéria no nome deste jornalistazinho mequetrefe...

– Só me faltava isso... Laura querer conhecer o Ferreira... Que raiva... Este jornalista...


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Notas finais do capítulo

Então espero que tenham gostado... Gostaria muito de saber a opinião de vocês... Edgar passou por algumas emoções neste capítulo... Bjs e até o próximo...