Laura E Edgar - Um Novo Olhar escrita por Bia


Capítulo 32
Depois daquela briga


Notas iniciais do capítulo

Oi meninas, tudo bem? Agora temos a Laurinha em evidência, ainda sofrendo pela briga com Edgar, mas tento uma boa conversa com Isabel... Nada como ter a melhor amiga por perto... Bjs e espero que gostem... Não deixem de comentar sempre é legal saber a opinião de vocês...



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Depois daquela briga (capítulo 32)

Por que tudo entre eu e o Edgar tem que terminar em uma briga... Nossa última briga me deixou tão triste... Eu o queria comigo e mesmo assim mandei-o embora... Não queria ficar longe dele, precisa dele ali, comigo, porém aquela briga, tudo estourou sobre nós de uma maneira. Já não bastava o que aquele homem tentou fazer e agora estava brigada com Edgar... Por que não me entendia? Quem me dera se a minha volta para casa fosse resolver nossos problemas... E eles parecem mais presentes ainda em nossa vida... Pensei que tivesse superado a questão daquela mulher, estava enganada... Apesar de estar consciente que não havia nada entre eles desde Portugal... Isso já era algo resolvido, pensava que era... Acabei jogando tudo isso em cima do Edgar.

Isabel me fez companhia durante aqueles dias, deixou de ir à noite ao teatro para ficar comigo, se não fosse sua amizade certamente estaria me sentido pior ainda. Sempre que podia estava comigo e não me deixava... Mesmo na companhia de Isabel, não conseguia de deixar de sentir a falta dele... Sempre ele... Edgar, mesmo chateada, não conseguia não sentir a sua ausência e parecia pior porque havia sempre a lembrança dos bons momentos que tivemos antes daquela briga e isso me deixava mais triste ainda, parecia que tudo ia bem e de repente, por causa daquele homem horrendo... Tudo mudou. Talvez se tivesse o ouvido quando pediu para ficarmos mais um tempo em Petrópolis, como poderia imaginar... E quem garante que nossa permanência ali fosse evitar os problemas que surgiram depois de nossa volta... Ninguém pode prever, simplesmente acontece....

Confesso que minha saudade aumentava cada vez mais, por um motivo simples, todos os dias pela manhã, chegava aqui um lindo arranjo de alecrim e como sempre não havia remetente e sabia perfeitamente quem os mandava... Pensei em pedir ao entregador que suspendesse a entrega, tampouco tive coragem de fazer isso... Receber os arranjos, era saber que o Edgar, mesmo chateado comigo, ainda pensava em mim, estava por perto... Mesmo que não me procurasse... Isabel sempre recebia e os trazia ao meu quarto...

– Bom dia mocinha, entregaram mais um arranjo e também te trouxe o jornal do Guerra para você ler, ainda não li... Reparou que mesmo depois da briga de vocês, todos os dias chega um lindo arranjo de alecrim para a senhora e sabemos bem que os envia diariamente... – Isabel arrumava na minha mesinha de cabeceira... Era tão agradável sentir aquele cheiro... O cheiro da saudade e isso aumentava a falta que tinha dele...

– Ele nunca esquece... – Peguei um raminho e o levei até o nariz para sentir o aroma...

– Se não esqueceu em seis anos, não seria agora... Mesmo brigados... – Isabel abre uma das janelas.

– Ele não quer que eu me esqueça dele... – Cheirei novamente a raminho.

– E algum dia você esqueceu Laura... Pelas cartas que trocamos estes anos todos... Estava em cada linha, em cada palavra a sua saudade... E apesar de não ter tido nenhum contato com o Edgar nestes anos, sei que com ele não foi diferente... Afinal de contas, quando nos vimos depois de todos estes anos... A primeira coisa que queria saber era onde você estava e se estava bem... – Isabel me olhou e colocou as mãos na cintura... - Ainda assim?

– Vou fazer minha toalete... – Isabel abre as cortinas do meu quarto.

– Não falo sobre isso e sim seu rosto... Ainda está triste... Laura, ele te faz muita falta... – Isabel abre mais uma das janelas.

– Sempre... Ele não me entende Isabel, como nós dois podemos ficar juntos se ele não me entende... – Senti um nó na minha garganta...

Isabel me olhava penalizada comigo...

– Laura, eu não sei se faço bem em te contar algo... Não sei se adiantaria muito agora falar...

– Aconteceu mais alguma coisa? – Estava desanimada.

– Aconteceu sim... Ontem quando deixei você descansando, fui conversar com o Mário, acabamos indo a Colonial e presenciando algo que nunca imaginei...

– O quê? – Meu coração gelou... – Você viu o Edgar com a Heloísa, é isso?

– Não Laura... Vi sim o Edgar... Não sei se faço bem te contar... – Questionava a si mesma.

– Isabel, o quê foi? – Estava apreensiva.

– Calma, eu não sei se entendi direito, ao chegar à confeitaria, ouvi uma discussão... Eu e o Mario entramos e vi o Edgar discutir com uma senhora elegante... Pelo que percebi era a mulher daquele homem, a tal Gisele Laranjeiras...

– Como assim, discutir... Edgar discutiu em público com uma mulher... Na frente de todos? – Incrédula.

– Foi sim, Laura... Sei que ele jamais faria isso... Eu não acredito até agora... O Edgar sempre foi um perfeito cavalheiro... Ele e aquela mulher brigando, praticamente aos gritos... Todos que estava ali viram e ouviram a discussão...

– E por que eles brigaram... – Ainda sem acreditar, o Edgar brigar na frente de toda a Colonial.

– Não imagina?

– Por minha causa? – Não posso crer.

– Eu cheguei já no meio da briga. Edgar nem sequer me viu, estava junto com o Guerra.

– Edgar jamais brigaria com alguma mulher, assim, em público...

– Laura, pelo que percebi, aquela mulher do Laranjeiras foi ofensiva em relação a você e ele a defendeu... Ele realmente a defendeu a ponto de não se importar com quem estava ali, nunca imaginei ver tal cena... Era o seu Edgar e dando uma lição na tal Gisele...

– Defendeu-me? Diante de toda a Colonial... – Isso parecia piorar cada vez mais.

– É o que parece... Pelo pouco que presenciei, ele disse que era o culpado pelo fim do casamento de vocês... Que ele errou com você e por isso o casamento acabou e o erro dele não se compara ao do Laranjeiras... E o quanto ele lamentava por ter feito você sofrer...

– Ele me defendia? – Admirada, em dúvida, confusa. Senti outro nó na garganta.

– É o que parece... Ele disse bocas e boas para ela, falou em alto e bom som que o marido dela era um miserável que não respeitava nada e ninguém, tão pouco ela...

Ouvia o relato de Isabel, meu coração parecia que queria sair pela boca. Como poderia imaginar...

– Que você é alguém admirável, que tinha orgulho de você querer seguir seu próprio caminho sem precisar de um marido ao seu lado... De ser respeitada por ser quem é...

– Ele disse isso? – senti meus olhos marejados.

– Acredito que muito mais, deixou a Gisele Laranjeiras no chão. E na frente de toda a Colonial. E eu e você sabemos que Edgar sempre foi um perfeito cavalheiro, jamais exporia alguém assim, muito menos a si mesmo ou a você... Nunca o vi tão bravo...

– Eu sei... Eu acho... – Confusa.

– Ele disse mais, falou também que ela era uma mulher que aceitava as atitudes do marido por conveniência, afinal de contas ele pagava as rendas francesas e as jóias...

Não sabia o que pensar... O Edgar... Nem parecia aquele homem que praticamente me culpava pela atitude do Laranjeiras. Se Isabel estivesse certa... Era como se fosse outro... A nossa briga, ele me acusou...

– Laura, aquele dia não pude deixar de ouvir a briga de vocês... A casa é grande, e mesmo assim deu para ouvir a briga... E não quero tirar sua razão, você tem toda razão... Porém, não acho que Edgar não tenha razão também...

– Isabel, o Edgar estava praticamente me culpando pelo que aconteceu com o Laranjeiras...

– Eu ouvi também, acho que neste aspecto ele está errado... Apesar de que no fundo acreditar que esta não foi à intenção dele.

– Não estou te entendendo. – Ainda confusa... Enxugando uma lágrima.

– Eu já vi tanta coisa de vocês dois... Sei o quanto sentiu a falta dele nesses seis anos que tiveram longe um do outro... Lia na suas cartas, mesmo que fosse apenas uma pequena citação... Lá estava a saudade sua por ele... Não convivi com ele nesse tempo... Quando eu voltei para o Rio e o reencontrei, eu vi o desejo de saber do você de qualquer jeito, ele não acreditava em mim quanto dizia que não sabia de nada, que tinha perdido o contato... Tive que fugir dele... E só não foi atrás de mim porque aquela moça, a tal Heloísa, apareceu... Você mesmo me disse que vocês brigaram, mas pouco depois ele esta aqui, naquela porta, com a Melissa e te convidando para um piquenique... Vi a felicidade nos seus olhos, Laura e no dele também... Vi o desespero que ficou quando soube da agressão contra você e o vi ir embora porque você pediu...

– Mesmo assim Isabel, ele ainda não me entende... Não compreende as minhas necessidades... Ele quer que eu volte para casa, quer que passe por cima de todos nos nossos problemas...

– E você Laura, você o entende?

– Como assim Isabel? – Cada vez mais confusa...

– Eu entendo você, já disse... Sei o quanto gosta de trabalhar e que precisa e isso é admirável... Dou todo meu apoio nisso... Quando eu te conheci, naquela igreja, no dia dos nossos casamentos... Você tinha tantas dúvidas e eu tinha tantas certezas... Você se casou e eu saí de lá, triste, humilhada, acreditando que tinha sido abandonada... Perdi minha casa... Deixe-me enganar pelo janota de seu irmão... Engravidei... Perdi meu emprego... Perdi meu filho... Perdi o Zé Maria... Pouco depois me vi em um navio a caminho de Paris, cheia de dúvidas... Cheia de sofrimento... Longe das pessoas que amava... E com esperança e que algo de bom poderia acontecer... Tornei-me Isabel, La Brésilienne... Mesmo assim Laura, eu sofri preconceito, por ser negra, por ser mulher, por ousar em ter um filho, solteira... Tantas outras coisas... E mesmo assim eu tinha uma certeza, tinha encontrado você e se não fosse a sua força... Sua amizade... Você me deu força e eu estava morta de medo, mas tinha vocês ao meu lado... Eu não teria feito nem metade do que fiz... Provavelmente ainda seria criada em alguma casa de família, isso se tivesse sorte... Na época que fiquei grávida e você e o Edgar me acolheram, me senti tão acarinhada por vocês, não me julgaram... E vi o quanto eram apaixonados... Nem parecia aquela moça cheia de dúvidas prestes a se casar... Eu vi no olhar de vocês o quanto se amam...

– Aqueles tempos eram outros... Ainda não havia Catarina... Nem todos os problemas que nos aflige hoje... Não somos mais aquele casal... Tudo ali era tão encantador, era mágico... Nem imaginava que poderia me apaixonar pelo Edgar e tão pouco pude imaginar a avalanche que sacudiria nossas vidas... Tudo parecia tão mais simples... Como nossa vida mudou tanto e tão de repente...

– A vida não é isso... Uma constante mudança... O quê aconteceu com você e com o Edgar foi horrível, tinham um casamento perfeito e que foi maculado pela presença nefasta daquela mulherzinha... Por outro lado, esta avalanche que você disse trouxe a Melissa e vi o quanto à menina gosta de você... Se Deus tirou de um lado, deu de outro, e a Melissa é o presente de vocês, mesmo que tenha vindo daquela lá... Aquele dia do piquenique eu vi ali, uma família, vocês três são uma linda família, e em momento algum vi a imagem daquela lá rondando...

– Eu amo a Melissa... Amo o Edgar e detesto quando a gente briga... Não queria brigar e de repente estava no meio de uma... Nem sei como começou direito, apenas me vi no meio dela... – Estava tão chateada com tudo aquilo.

– Sabe Laura, ninguém não é perfeito, nem eu, nem você, nem o Edgar... Não o culpo por quer proteger você... Afinal de contas, aquele homem... – Revoltada. - Nem quero falar... Só de pensar... Se eu penso assim, imagine o Edgar...

– Só que ele colocou de uma maneira que parecia que eu tinha culpa por aquele homem tentar me agarrar...

– Como eu disse, acho que ele agiu errado... Mesmo assim não acredito que tenha agido por mal... Sei o quanto ele te adora... É natural ficar preocupado... Laura já imaginou se eu e a Celinha não tivéssemos chegados a tempo... O que aquele monstro poderia ter feito com você? E pensar nisso me assusta... Como você acha que o Edgar pensaria...

– Você também está me culpando?

– É claro que não Laura, jamais faria ou pensaria isso... Sei a mulher que é... E também sei que homens como o Laranjeiras são capazes de tudo para satisfazer seus desejos... Passam por cima de qualquer um... Não se importam...

– Edgar me disse isso, antes de brigarmos...

– E ele estava errado?

– Não...

– Então minha amiga... Será que o Edgar estava tão errado em querer de proteger?

– Isabel, a forma como ele colocou, parecia que queria me ver dentro de uma redoma de vidro...

– Laura, naquele primeiro momento, até eu queria colocar você em uma redoma de vidro, para ninguém fazer mal a você...

– Só que a vida não é assim Isabel...

– E não é mesmo... Há tantos perigos ai fora... Quem dera se pudéssemos evitar a todos, porém é impossível...

– O Edgar não entende isso...

– Será Laura? Será que não entende mesmo...

– Eu não consigo ver dessa forma... Eu não entendendo Isabel, ele veio aqui e me consolou em um primeiro momento e depois praticamente me culpava pelo que aconteceu... – Um aperto no coração.

– Laura, já parou para pensar que até ele ficou assustado... Ele te consolou, mas também estava assustado... Com raiva... Revoltado... Parou para pensar que isso o atingia também... Laura, se alguém tentasse fazer algum mal ao Edgar, algo tão terrível como te aconteceu... Como você ficaria?

– Eu não iria tentar colocá-lo dentro de uma redoma, ninguém protege ninguém desse jeito...

– Tem razão... Para pra pensar... Se alguém tentasse fazer algo de muito ruim com o Edgar? O quê você faria? E você tivesse a chance de tentar protegê-lo... O quê faria...

– Iria tentar protegê-lo... – Balbuciei.

– É o que o Edgar tentou fazer em um primeiro momento... Tudo bem, eu reconheço que meteu os pés pelas mãos, apenas não fez por mal... Foi porque te ama muito...

– Ah, Isabel, mesmo assim... Ele não tem o direito de achar que pode me resguardar de tudo e de todos...

– Ninguém tem o poder de fazer isso... Por outro lado, temos um instinto natural de proteger a quem amamos... Uma mãe protege seu filho... Um marido pode querer proteger sua esposa... Se até no mundo animal é assim, imagine com a gente... Temos um instinto natural de proteção, está em todos nós... Se queremos proteger é porque nos importamos...

– Eu não preciso que o Edgar queira me proteger o tempo todo...

– Sei que não, mas se sentir protegida, vez ou outra, não faz mal a ninguém, nem mesmo a você Laura...

– Ele queria me impor isso...

– É, talvez em um primeiro momento tenha sido isso mesmo... Tenta se colocar no lugar do Edgar... Tenta ver um pouco o ponto de vista dele...

– Eu já fiz isso...

– Fez mesmo? Será que a senhora tentou se colocar no lugar do Edgar... Ninguém melhor que você o conhece... Sabe que ele não é um homem como os outros por aí que acham que são donos de suas esposas, senhor do destino delas... Se o Edgar fosse um homem assim, nunca teria assinado aquele divórcio...

– Eu teria indo embora de qualquer jeito...

– Eu sei disso... E o Edgar também... Se ele assinou foi porque você, Laura, quis assim... Já parou para pensar que ele sempre acaba acatando as suas vontades...

– Você fala de um jeito... Assim me sinto uma menina birrenta...

– Definitivamente você não é nenhuma menina birrenta... – Isabel riu disso. – Ao contrário, é a pessoa mais determinada que eu conheço, e eu sinto um imenso orgulho disso... Porém, ponha-se um pouquinho no lugar de Edgar...

– Já disse, eu já me pus no lugar do Edgar.

– Será mesmo, Laura?

– Eu não entendo porque insiste tanto nisso? E Edgar me magoou ao insinuar que a culpa fosse minha no caso do Laranjeiras.

– Laura, talvez em um primeiro momento... Eu não creio que tenha feito por mal... O Edgar sabe perfeitamente que você não tem culpa... Você o conhece melhor do que eu... Sabe disso... Será que temos quer repetir sempre isso...

– Ele disse que se eu tivesse aceitado trabalhar com ele, nada disso teria acontecido... É, ou não é, uma forma de me culpar?

– Aparentemente sim, apesar de acreditar que não... – Firme comigo.

– Isabel? – Incrédula com minha melhor amiga.

– Ora Laura, eu reconheço que o Edgar errou em muitos pontos, mas acertou em outros e isso deve ser levado em consideração...

– Não é tão simples?

– Ou a senhora não quer que seja tão simples... Em outra conversa me disse que tinha medo de voltar para sua casa porque tinha sido tão feliz lá que tinha medo que algo acontece e a visse sair novamente daquela casa, você não agüentaria... Foi mais ou menos isso que eu entendi... Foi o que você disse... Ainda tem medo Laura, de voltar para casa...

– Isabel... Eu... Ainda tenho medo sim... Porém não é apenas isso... Esta briga com Edgar... Sua insistência em que eu volte... Como se todos os nossos problemas fossem se resolver com a minha volta... Em um passe de mágica... Não é assim...

– Tem razão, não é assim... Tampouco vão resolver os problemas de vocês se cada um estiver para um lado... Vocês têm que sentar e acertar suas diferenças... Laura, um relacionamento se constrói a cada dia e nunca é fácil... Sabe disso, já foi casada... É difícil mesmo... Conviver não é fácil... Você sabe que nem sempre as coisas serão da maneira como gostaria... Mas isso vale o sacrifício de manter o Edgar longe... Aquele arranjo de alecrim ali, mesmo distante de você ele insiste em te mandar todos os dias... Laura, ele não quer ficar longe de você e a conheço o suficiente para saber que também não quer ficar longe dele... Olha seu rostinho, é uma tristeza só... E sei que esta tristeza, não é apenas pelo que aconteceu com aquele nojento... Tem haver com a ausência do Edgar... Eu tenho certeza que se pegar aquele telefone e ligar para ele... Ele estará aqui em dois minutos... Vocês estão distantes porque você quer... Lembre-se disso...

– Eu sei disso e o quanto me doeu pedir para ele ir embora, era como se cortasse minha própria carne...

– Então minha amiga... Será que vale o sacrifício de ficar aí, tristonha, com esta carinha desanimada e morta de saudade de seu amor... Ou será que um telefonema não resolveria tudo... Tenho certeza que ele adoraria falar com você...

– Edgar está magoado comigo... E ainda não decidi se devo ou não procurá-lo... Eu tenho que pensar... Já disse, não é tão fácil...

– E quem disse que a vida é fácil?

– E você diz isso para mim... Se esqueceu tudo que passei até hoje...

– Por outro lado a vida te trouxe o Edgar... E não foi apenas uma vez pelo que eu saiba...

– Trouxe sim... – Pensativa. - E trouxe também sofrimento...

– Laura, me mostre apenas uma pessoa neste mundo todo que não tenha sofrido... Não existe... Por mais que a pessoa seja afortunada pela vida... Sempre haverá algum sofrimento pelo qual tenha passado... A vida não é fácil para ninguém... Nem para o Edgar, nem para você e nem para ninguém...

Apenas fitava Isabel... Tinha tantas dúvidas... Tantos medos e muita saudade... E não sentia que ainda era o momento de procurar o Edgar, precisa pensar, esfriar a cabeça...

– Ainda não é o momento Isabel, não nego que morro de saudades do Edgar, sempre sinto tanto sua ausência, apenas preciso pensar, tentar enxergar de outra forma... Eu não sei... Isabel... Preciso de um tempo ainda... Vou pensar em cada palavra que me disse, prometo... – Desnorteada, sentindo-me mais confusa ainda.

– Sabe Laura, vendo o que você está passando... Nestes últimos dias tenho pensado muito no Zé Maria... Sabe que mesmo passado todos estes anos, mal tendo notícias dele, soube que está na Inglaterra há algum tempo... Não vou negar que me sinto tentada a ir atrás dele... Muitas vezes eu sinto que nossa história ficou pela metade... Sei que errei com ele... Também não o culpo... Se tivesse tido a chance de sentar com ele e tentado conversar... Não sei que rumo nossa vida teria levado se ele tivesse aceitado meu bebê... Sempre soube que não aceitaria o filho de outro homem sendo seu, está é a realidade... A vida nos separou, cada um seguiu um rumo e não nego que até hoje sinto muita falta dele... Também nada adianta ficar pensando nisso agora... – O rosto a minha amiga ficou tão triste.

– Você pouco fala disso... Então ainda pensa no Zé Maria...

– Penso sim... E sinto saudades... Laura eu te entendo... Porém não deixa de pensar no que te disse... O Edgar está ali... Perto de você e não do outro lado do Atlântico... Ele te quer por perto... O Zé Maria deixou bem claro que não queria me ver mais... Aquele arranjo de alecrim é a prova que Edgar quer continuar perto de você... – Ela apontou para o jarro com o arranjo. - Dê uma chance a ele...

– Eu preciso pensar... Acalmar meu coração... Isabel, eu sinto como se houvesse uma imensa tormenta dentro de meu peito, revirando tudo aqui dentro...

– Lembre-se que depois de um dia de tempestade, sempre vem um dia de Sol... Se acha que tem que pensar... Então pense... Só não perca o Edgar... Ele pode ficar cansado de tanto esperar... E vocês dois já esperaram por tanto tempo... Não deixe que cada um tome um rumo que os deixe distantes novamente... E pior, de maneira que se torne impossível juntar os caminhos de vocês depois...

– Você está me dizendo que ele pode me esquecer...

– Eu disse que ele pode cansar de esperar e seguir em frente, sem você... Laura, seja sincera comigo... Consegue se imaginar sem ter o Edgar ao seu lado... Daqui alguns anos... Consegue imaginar longe um do outro, cada um de para um lado, separados... E infelizes...

– Nossa Isabel...

– Pense nisso minha querida... E depende apenas de você... Edgar pode ter esperado por você durante esses seis anos... Ter aceitado participar da farsa que sua mãe arquitetou... Ter protegido sua reputação...

– Eu não pedi nada disso...

– Realmente não pediu... E mesmo assim ele fez sem ter a menor obrigação... Protegeu você... Será que isso foi tão ruim assim... Se ele fez tudo isso foi porque se importa... Por que ainda te ama muito, algum mérito isso deve ter.

Apesar de todas as incertezas que cercava meu coração... Ver a defesa de Isabel em relação a Edgar me impressionou... Por um momento não tive como conter um sorriso para minha amiga...

– Senhorita Isabel Nascimento, sei que é dançarina, mas seria um excelente advogada...

– Pode ser... – Riu – Apenas quero ver muito minha melhor amiga feliz, você merece isso mais que ninguém... Não deixe de pensar... Coloque-se no lugar dele... Talvez não seja tão ruim assim... Agora eu preciso ir ao teatro, faz alguns dias que não apareço por lá... Quer ler o jornal agora? Vou deixar aqui do seu lado... Depois conversamos mais... Laura, não esquece o quê te falei, pensa com carinho... Quero ver os dois felizes e vocês merecem isso... Daqui a pouco eu volto... – Minha amiga me beijou na testa e me deu um abraço, depois saiu.

Pego o jornal e logo na capa, uma matéria chama a minha atenção “A violência contra as mulheres” assinada por Antônio Ferreira. Comecei a ler e cada uma daquelas palavras parecia dirigidas a mim, era como soubesse tudo o quê acontecera comigo e lia com mais atenção e mesmo assim pareceria que não compreendia, tive que reler para entender... Era a minha história, ele nem me conhecia e contava a minha história, era claro que o nome daquele miserável foi omitido... Com certeza o Guerra havia falado de mim para ele... Aliás, quem era Antônio Ferreira, sempre lia o Correio da República e ainda não tinha lido nada deste jornalista... Ele me entendeu... O Ferreira me entendeu... Eu nem o conheço e ele havia compreendido o quê havia acontecido comigo... Li e reli mais outras vezes me emocionei... Com cada palavra... Sentia como se aquela reportagem fossem para mim, aquelas mulheres, seus relatos... Não consegui conter o choro... Alguém havia entendido, compreendido a minha dor, não apenas a minha, também as das outras mulheres... Era um alívio saber que alguma coisa havia sido feita... Mesmo que não fosse arranhar a reputação daquele senador... Ainda assim era bom saber que não caiu no esquecimento... Será que o Edgar leu? Era irônico... Nem conhecia o Ferreira e ele disse o que desejava ter ouvido de Edgar... Naquele momento ele me compreendeu mais que o meu marido.

– Quem é o Antônio Ferreira? – Pensei alto. – Gostaria de agradecer... De conhecê-lo...

Ainda com o jornal na mão, admirando aquela página como se fosse uma bela visão, não conseguia de pensar... Era um alento ver aquela folha impressa... Era como se o Ferreira tivesse acarinhando o meu espírito depois de toda aquela tormenta. Ele me entendeu. - Pensei... - Depois de um longo tempo tive vontade de sorrir novamente... – Afinal de contas, quem é o Antônio Ferreira? E em relação ao Edgar? Será que fui injusta com ele? Ele brigou com aquela mulher por minha causa... Nunca pensei... O Ferreira havia me entendido...

– Edgar... Antônio Ferreira... Meu marido não me entendeu... E um desconhecido parecia ter lido a minha alma... – Murmurei... - Será que devo procurar por ele?


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Notas finais do capítulo

Então meninas, espero que tenham gostado... Laura leu e se encantou com a matéria escrita pelo Antônio Ferreira... O quê acharam? Opinem a respeito... Não deixem de comentar, Gosto de saber se estou ou não no caminho certo... Bjs e até o próximo capítulo.