Laura E Edgar - Um Novo Olhar escrita por Bia


Capítulo 31
Confeitaria


Notas iniciais do capítulo

Oi Meninas, feliz Ano Novo... E como presente achei legal postar um capítulo novo, um dia antes do programado... Espero que gostem... Bjs e Um 2014 maravilhoso para cada uma de vocês...



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Confeitaria (Capítulo 31)

Ao entrar no Bar Guimarães eu estava arrasado, Guerra me acompanhava, estava triste por tudo que acontecia. Queria tanto que ela estive me entendido, no fundo eu me sinto chateado, com tudo. O quê aconteceu com a Laura mexeu comigo profundamente, porque fui incapaz de cuidar dela, de protegê-la.

– Cada briga que tenho com a Laura me machuca profundamente. Guerra queria tanto que ela entendesse meu ponto de vista.

– Eu sei disso... Por outro lado, Edgar... Você, por acaso se deu o trabalho de entender a Laura?

– Como assim? – Tão desnorteado.

– Edgar, a Laura é uma mulher diferente das outras, ela tem uma visão de mundo muito mais ampla... Ela quer trabalhar, ganhar seu próprio dinheiro, quer respeito. A Laura não tem culpa se aquele senador Laranjeiras tentou agarrá-la.

– Eu sei que não... Apenas achei que se a Laura trabalhasse comigo a teria junto de mim, a protegeria...

– Edgar, a Laura não precisa de sua proteção, pelo menos não da maneira como pensa, ela precisa de sua compreensão. Ela te ama muito e não há como negar isso, agora mais do que nunca é preciso que você a compreenda. É isso que ela quer de você.

– Guerra, juro para você, eu tento compreendê-la. – Triste.

– Então meu amigo, você não está sendo bem sucedido.

– E o quê eu faço? – Eu estava tão angustiado.

– Mostre a ela que você está e sempre estará ao lado dela.

– Queria tanto ser alguém melhor para ela, não ser igual a maioria dos homens que estão por aí. – Sentia-me o último dos homens.

– Edgar, se você fosse igual aos outros que estão aí, a Laura não teria se apaixonado por você... Definitivamente não é igual à maioria dos homens, ao contrário, nunca vi alguém tão moderno quanto você... Apenas está chateado por mais uma briga com a Laura, isso vai passar... Está certo que vocês não tiveram muita escolha quando vocês se casaram, mas eu acompanhei tudo e sei o quanto vocês se amaram... Edgar, ela te amou porque você era exatamente diferente dos outros. É claro que você pôs tudo a perder quando trouxe a Catarina de Portugal, temos que reconhecer que você errou... Por outro lado tinha a Melissa e não o culpo de querer ficar perto da sua filha, eu acredito que até a Laura compreenda isso agora... Mesmo assim, depois do divórcio, e todos esses anos que ficaram longe um do outro, vocês ainda se amam, meu caro, não há nada que irá mudar isso. – Guerra tentava me consolar, sem muito êxito.

Eu olhava para Guerra tentando entender assimilar tudo aquilo que o meu amigo dizia. Ainda assim, se sentia desamparado. Fui para casa e fiquei horas sentado no escritório, lembrava-me da nossa Lua de Mel e o quanto tudo tinha sido tão perfeito, lembrei-me,também, que tinha medo de voltar, parecia que estava adivinhando. Se dependesse de mim, não teria voltado tão cedo, queria tanto ficar mais com a Laura lá... Queria tanto que ela tivesse ali comigo... Ela, provavelmente, estava magoada comigo e isso me deixava tão angustiado porque não a queria magoar... E sempre metia os pés pelas mãos e agora estávamos brigados mais uma vez... Por que meu ponto de vista era tão errado assim, apenas queria protegê-la... A ideia daquele homem tocando nela... O sangue fervia em minhas veias... E me cortava o coração saber que mais uma vez a tinha decepcionado novamente. Como tudo isso me machucava...

Guerra me convidou para fazer uma matéria, sobre o que tinha ocorrido com a Laura, queria tanto fazer algo por ela, queria mostrar que me importava e o quanto estava indignado como os últimos acontecimentos. A princípio fiquei apreensivo, talvez tirasse do baú, meu antigo pseudônimo, Antônio Ferreira. Guerra me deu a lista de algumas mulheres que eu poderia entrevistar e fui atrás de cada uma delas. Ouvia os relatos mais absurdos sobre como a mulher que tinha que trabalhar fora, ficava, muitas vezes, a mercê, de situações que a deixavam desconfortáveis. Cada relato me fazia pensar na Laura, e na dor que aquele miserável quase imputou a ela... Revoltava-me cada vez mais e era na Laura que pensava... No seu sofrimento... Ao terminar a fase dos relatos e comecei a esquematizar a matéria, meu pensamento era todo para a minha esposa. Escolhia cada palavra com todo o cuidado. Assim que terminei li e reli, queria que ela lesse e visse que alguém se importava, mesmo que ela não reconhecesse as palavras do seu marido no texto. Mas, ao menos, ela saberia que alguém sabia do seu sofrimento e se importava. Ela não estava sozinha, mesmo que não soubesse que havia sido eu... Estaria ao seu lado... Mesmo que a distância... Ela saberia que alguém realmente se importava...

Os dias passavam, não queria impor minha presença a ela, mesmo sentido cada vez mais saudades, ligava para Isabel para saber notícias, mesmo assim, isso não emplacava a falta que ela me fazia... Saber que ela ainda poderia está magoada comigo me entristecia profundamente... Pensava sempre nas palavras que Guerra havia lhe dito, começava entender melhor Laura e seus motivos. Em outra conversa, dessa vez com dona Margarida, a minha mãe me chamou a atenção para que Laura ser uma mulher admirável, e que por seis anos se manteve por conta própria, uma pessoa que tinha conseguido sua independência financeira e que não precisava que nenhum homem pagasse suas contas, e não ser apenas uma senhora de sociedade que vive em função do marido... Também me lembrou, e sabendo como sou, eu nunca me apaixonaria por uma mulher que fosse submissa... Que meu amor pela Laura vinha do fato de ela ser alguém que jamais se rebaixaria a mim, como seu marido, ou a qualquer outra pessoa. Minha mãe tinha razão, jamais me apaixonaria por alguém que fosse submissa... A Laura me fascinava tanto por ter opiniões fortes, por saber se impor, por nunca se rebaixar, por querer ter uma profissão, por querer ser respeitada por ser quem é, e não pelo fato de me ter ao seu lado... Quando achei que tinha me apaixonado pela mãe de Melissa que, assim como Laura, ela também tinha as rédeas de sua vida e não abria mão disso... Era isso que sempre admirei, mulheres fortes, assim com Laura.

A admiração pela sua ex-esposa aumentava e via o quando fui tolo ao querer colocá-la em uma redoma de vidro... O que mais admirava nela era justamente o fato dela ser independente e agora entendia isso. Queria ter a Laura ao meu lado, e nem me dei conta, porém não pensei nela, fui tão egoísta em querer que voltasse para casa... Ela tinha razão, a vida que tínhamos antes, havia ficado no passado e cabia a nós construir uma nova vida... Não éramos mais os mesmos... Eu queria a Laura de volta, mesmo assim, não parei para pensar nas suas necessidades... Sei que me ama, ela quer está ao meu lado... Quer ser respeitada por ser quem é e não por ser casada comigo... Está comigo porque me ama e me admira... Eu não estava reconhecendo isso... Apenas a queria de volta e não compreendia a dimensão disso, fui tão tolo por não entender... Aquele homem a atacou porque era um miserável... Assim como outros fizeram com as mulheres que entrevistei... Elas não têm culpa... Elas, assim como Laura, querer o direito de serem respeitadas pelo que são... Muitas têm que trabalhar porque ficou sem o apoio financeiro de seus maridos por uma série de razões, ou foram abandonadas, ou ficaram viúvas e tiveram que assumir suas casas... Como eu fui estúpido... Laura tinha razão quando falou de Melissa, tinha medo que fosse desrespeitada por ser minha filha ilegítima... Mulheres como a minha esposa, lutavam para que isso acabasse... Foi necessário acontecer tudo isso para que eu, finalmente, a entendesse. E eu que pensei que fosse moderno, fui tão idiota... Cego...

Convidei Guerra para almoçar comigo na Colonial, conversei com ele sobre minhas reflexões... Disse a ele que suas palavras e as de minha mãe tinham sido bastante esclarecedoras para mim. O quanto fui tolo por não ter percebido isso antes. Que agora, sabia que o fato de Laura querer tomar as rédeas de sua vida a fazia ser alguém tão admirável e por isso a amava tanto, independente de estar ao não ao meu lado.

Entretanto, não havia notado que perto de nossa mesa, uma senhora ricamente vestida, estava sentada em outra, não perto o suficiente para ouvir a minha conversa com o meu amigo. Percebi que ela se levantou e veio ao nosso encontro.

– Senhor Edgar Vieira? – A voz da senhora cortou a conversa com Guerra.

– Sim? – Respondi, sem reconhecer de imediato a senhora altiva.

– Sou Gisele Laranjeiras, esposa do senador Laranjeiras. – Com ar de superioridade.

Ao ouvir isso, eu ainda não tinha noção das palavras desta senhora, apenas sabia que o marido dela era alguém desprezível e que tinha atacado Laura, eu havia me vingado, indo ao seu escritório e socando-o várias vezes por sua atitude covarde... Se juridicamente estava impedido de fazer algo, me senti livre para ir até lá e quebrar a cara daquele asqueroso e mesmo assim ainda não me senti aliviado... Tinha vontade de acabar com aquele miserável de uma vez por todas... Tampouco valia a pena ir para a cadeia por causa de alguém tão vil.

– O que a senhora deseja? – Meu tom era de alguém cordial.

– O senhor fez muito bem em se divorciar daquela mulherzinha ordinária. Alguém como ela deveria ser escorraçada da cidade. – Com um tom de arrogância e superioridade.

A minha indignação me fez perder todo o cavalheirismo que teria diante de qualquer dama..

– O quê a senhora disse? - Senti uma imensa raiva da maneira como aquela mulher se referia a Laura.

– Eu disse apenas a verdade, o senhor fez muito bem em se livrar daquela mulherzinha que flertou com meu marido descaradamente. – Sua altivez me impressionava.

– Perdoa-me, de quem a senhora está falando? – Estava prestes a explodir com ela.

– Oras, de Laura Assunção. – mulher respondeu-me arrogantemente.

– Se há alguém descarado aqui, este alguém é seu marido, Senador Laranjeiras – Disse em voz alta para que toda a Colonial ouvisse. – Não agüentei e explodir.

– Como ousa falar comigo dessa forma. – Gisele Laranjeira ficou assustada com a minha reação.

– Errado, como ousa a senhora falar da minha esposa, eu não admito que ninguém fale dela na minha frente... Aconselho à senhora a lavar a boca ao pronunciar o nome da minha esposa novamente. Eu não lhe dou o direito de falar o nome Laura.

– O senhor defende aquela mulherzinha nojenta... - Ainda tentava agredir a honra de Laura.

– Eu defendendo uma mulher digna, que foi casada comigo sim, que se divorciou de mim sim, e por minha culpa, não dela. Laura sempre foi impecável, ao contrário de outras pessoas, com seu marido por exemplo. – Estava com tanta raiva.

– O senhor não tem vergonha? – Não perdia sua imponência.

– Se tenho vergonha é de ter deixado que uma mulher tão admirável como a Laura saísse da minha vida. E por minha culpa. – Sentia tanta raiva.

– O senhor tem que dá graças a Deus por ter se livrado dela. - Alterava sua voz também...

– Será que a senhora não entendeu? Não fui eu quem me divorciei da Laura, foi ela que se divorciou de mim e por minha culpa, pelos erros que cometi no passado... E olha que não chega nem perto dos erros de seu marido. Este sim um homem vil e horrendo que ataca mulheres indefesas... Seu marido é um canalha da pior espécie... Se fosse a senhora teria vergonha de defendê-lo, principalmente em público... – Todos na confeitaria olhavam para nós... Não me importava...

– O meu marido...

– A senhora ainda enche a boca para falar “meu marido”, definitivamente a senhora merece o marido que tem... Se tem a coragem de defender um patife como aquele, que não respeita ninguém e começando pela senhora... Realmente vocês dois se merecem... E digo mais, certamente seu marido fará novamente e a senhora fechara seus olhos como faz agora... Provavelmente o que tem feito sua vida inteira, é o pior é perceber que a senhora não faz por cegueira, e sim por comodidade, aposto que sofre por isso, mas sua arrogância a impede de encarar o marido que tem. Laura me deixou por um erro meu... Teve a dignidade de se manter integra, e é isso que admiro na minha esposa, sua integridade, coisa que a senhora definitivamente desconhece... E pensar que meus erros não foram nada comparados ao do “seu marido”... E não fale mal da minha esposa...

– Uma mulherzinha que se oferece como uma meretriz? – Mais agressiva ainda com suas palavras.

– Se oferece como uma meretriz? A senhora é louca. Seu marido atacou a Laura porque é um miserável que não respeita nada e ninguém, nem mesmo a senhora... Um homem que tenta abusar de uma mulher é um desgraçado. Seu marido não tem respeito por ninguém e menos ainda pela senhora... Deveria se envergonhar de defendê-lo. Mas é conivente com ele porque ele paga as suas contas, agüenta calada todas as safadezas dele, mas, é claro, desde que ele pague por suas rendas francesas e suas jóias caras.

– Meu marido é um senador da república?

– Seu marido é um cafajeste, um canalha da pior espécie, já disse... Só para que a senhora saiba: Um cargo não faz um homem, mas um homem faz um cargo... Seu marido pode ser um Senador da República, nem por isso deixa de ser um patife, miserável que usa do poder para dispor das pessoas, achando que pode passar por cima delas... Lamentavelmente seu marido é um senador... Meu sogro também é um senador e posso te garantir que sabe perfeitamente honrar o cargo que lhe deram... Não é como seu marido...

– Não admito...

– Sou eu que não admito... Mulheres como a senhora deveriam ser envergonhar... Mulheres como a Laura são dignas de respeito e admiração. Eu perdi a por tolice minha e agora tenho que conviver com isso... E eu admiro o fato dela querer ser dona de si, não precisar de um marido apenas para ter respeito, mas porque o ame e admire... Eu tive isso e perdi e agora pago um preço muito alto... Jamais me casaria com uma mulher com a senhora, que agüenta calada toda e qualquer humilhação que o seu marido te imputa... Eu jamais desrespeitaria Laura, ao contrário, se pudesse a teria novamente ao meu lado... – Busquei o ar e continuei. - Ela é uma mulher com a grandeza de caráter que a senhora jamais terá e tão pouco possa imaginar o que seja.

– Quem o senhor pensa que é para falar comigo dessa forma? – A mulher estava indignada.

– Errado! Quem a senhora pensa que é para falar de Laura, ouça bem. Não se aproxime dela, não ouse falar dela. Se a senhora falar algo que possa denegrir a imagem, ou a moral de Laura novamente e juro que a processo de calúnia e difamação, entendeu... Eu posso até colocar o nome da minha família na lama, certamente levarei o nome do seu marido e o da senhora também junto... Nunca mais ouse falar de alguém da minha família. Não ouse chegar perto de alguém de minha família... Se eu souber que falou novamente de minha esposa, eu a processo e ouvi bem... A processo!

– O senhor...

– A senhora me dê licença, mas eu não fico mais um minuto aqui. - Peguei algumas notas de dinheiro e joguei sobre a mesa. Fui embora e Guerra me acompanhou. Porém antes de ir tive o prazer de ver que a vergonha nascer na face da senhora Laranjeiras. Adorei a ver perder sua altivez e empáfia e sair da Colonial humilhada... Normalmente não faria isso, apenas não agüentei vê-la tentar humilhar a Laura... Não permitiria que ninguém fizesse isso... Poderíamos estar separados... Não deixaria de proteger a Laura, mesmo de longe...

Saí apressadamente da confeitaria e nem olhei para trás. Fomos direto para a redação do Correio da República. Eu andava de um lado para o outro, Guerra me acompanhava com o olhar... Ofereceu-me uma taça do seu conhaque... Bebi de um só gole e meu amigo me acompanhou.

– Edgar, o quê foi aquilo? Pela primeira vez na vida eu vi você ser descortês com alguém e principalmente com uma mulher... Tudo bem que aquela senhora fez por merecer, ela não tinha o direito de falar da Laura daquela forma...

– Eu não agüentei... Como poderia ouvir calado todas as barbaridades que ela falou da Laura, sei que fui mal-educado e não me arrebento... Sinceramente para mim, não bastou dá uns bons socos na cara do Laranjeiras... E também não ia aguentar ver aquela mulherzinha se achar superior a Laura... Como pode ter coragem de defender aquele patife. Diga-me Guerra, como alguém tem coragem de defender aquele miserável... A vontade que tinha era falar ainda mais meia dúzia de verdade a ela... - Respirei fundo – Sabe Guerra, no fundo senti foi pena dela, ser casada com um homem daquele e aguentar quieta todas as safadezas dele e não poder dizer nada... Quantas mulheres, como ela, agüentam calada as barbaridades dos maridos... Lembrei-me da minha mãe... Quantas meu pai aprontou... O Fernando é prova disso... Filho ilegítimo do meu pai que minha mãe criou como se fosse dela... Isso é o que sabemos... Falei do Laranjeiras, mas meu pai não se difere muito dele... Pelo menos nunca soube que tenha atacado nenhuma mulher...

– Lembre-se que você não é o seu pai... Sei o homem integro que você é... Sei que seu pai aprontou bastante... Porém sua mãe soube educar você muito bem... Não sei se apoiaria ter destratado uma dama na frente de toda a Colonial... Pensando bem, talvez Dona Margarida abrisse uma raríssima exceção...

Ainda andava de um lado para o outro... Ainda estava com raiva... Daquele homem, daquela esposa dele, como ousou falar mal de Laura na minha frente.

– Como ela ousa chamar a minha Laura de meretriz? – Estava ainda tão indignado.

– Edgar, mulheres como Gisele Laranjeiras, são vítimas dos próprios preconceitos. Como você mesmo disse, é digna de pena por ter que aturar aquele marido dela... Deve ser muito humilhante ter que conviver com alguém assim... É uma coitada que nunca terá o que você e a Laura tiveram. Você fez muito bem em falar tudo aquilo, não só para ela, mas para todos que estavam ali. Se a Laura tivesse ali, meu amigo, ela teria muito orgulho de você... –Guerra tomou mais um gole do conhaque enquanto pegava um papel qualquer em cima da mesa.

– Não fiz isso para Laura ter orgulho de mim, o fiz porque não agüentei as sandices que daquela mulher falou... Chamar a Laura de mulherzinha ordinária e meretriz... Foi tão revoltante ouvir aquilo tudo, e pior, quem ela pensa que é para falar mal da Laura... É uma pessoa digna de pena por ter que aturar aquele marido ordinário... Homenzinho horrendo. Canalha, isso sim! – Revolta.

– O que importa Edgar é que finalmente você mostrou sua indignação. Ela achou que ofenderia você. E quem saiu ofendida foi ela... Certamente pensará duas vezes antes de denegrir a imagem da Laura novamente... Dessa aí, não terão mais notícias...

– Não me importa que tente me ofender, mas ofender a Laura na minha frente e achar que eu ouviria aquilo tudo sem resposta foi seu erro... E pior, ela foi tão cruel que a Laura nem estava ali para se defender... Acho que dei a Gisele o lugar que lhe cabe... – Tomei mais um gole do conhaque e me servi um pouco mais.

– Deu sim. Agora tenta se tranqüilizar, a Gisele, com você e com a Laura não mexerá mais... Depois, também, dos socos que você deu naquele senadorzinho, e pelo jeito a Gisele nem sabe quem golpeou o marido dela, caso contrário teria falado algo a respeito... – O meu amigo esboçou um leve sorriso de satisfação.

– Se há algo que não me arrependo foi meter uns bons socos naquela cara miserável. E olha que nem a idade dele me impediu de desferir os socos naquele rosto nojento. Se eu pudesse faria novamente. Só de pensar nele tentando... Sinto tanto ódio... Ele não tinha o direito tentar tocar na Laura, e nem em mulher nenhuma... Se esse cretino tivesse conseguido, eu era capaz de matar aquele desgraçado. Porco. – Mais um gole. - Guerra, a Laura e Melissa são as pessoas que mais amo nesta vida e se depender de mim nunca vou deixar que nada e ninguém façam nenhum mal a elas, com a minha família ninguém mexe...

– Meu amigo, eu estou tão orgulhoso de você, não imagina o quanto cresceu em meu conceito... Olha, minha admiração por você aumentou ainda mais hoje... Fez muito bem em defender sua família, tenho muita sorte de ter você como meu amigo...

– Um amigo que perdeu a esposa para o próprio egoísmo. – Lamentei.

– Não acho que tenha perdido a Laura, dê tempo ao tempo, tenho certeza que esta briga vai passar... A Laura te adora e eu sei disso... A propósito, li a matéria que fez, ficou maravilhosa, tenho planos de publicá-la manhã.

– Não sei se é uma boa ideia. Agora fiquei em dúvida, não sei... Tenho receio que alguém descubra quem escreveu, afinal de contas sou parte interessada... Não sei como a Laura vai receber isso... – Outro gole.

– Claro que a Laura vai adorar ler, quando souber que você fez a matéria sobre a violência contra as mulheres... Tenho certeza que ela ficará muito orgulhosa de você.

– Ela não vai saber...

– Como não? – Guerra ficou surpreso.

– Não sei se vou deixar que publique...

– Meu caro, você me entregou a matéria... Eu vou publicá-la... Faz anos que não faz nenhuma matéria e não perdeu a mão... Deveria voltar à ativa... É um excelente jornalista.

– Sempre quis viver do jornalismo. Cabei estudando Direito e ainda tinha meu pai que queria porque queria que eu o ajudasse na fábrica. Pelo menos da fábrica consegui sair...

– Ainda bem que neste aspecto virou advogado, tenho certeza que seus honorários são infinitamente superiores a minha renda do jornal... Por que não faz matérias ocasionalmente... Tenho certeza que isso não atrapalharia sua banca de advocacia... Por que volta a usar seu pseudônimo então? Assim ninguém vai associá-lo ao Antônio Ferreira. Agora esta matéria sai sim, amanhã e assinado pelo Ferreira. A Laura terá muito orgulho de você...

– De mim ou do Ferreira?

– E não são a mesma pessoa? – Guerra ironizou.

– Ninguém sabe disso além de você... – Sentei e me servi outra vez.

– Isso é verdade... – Guerra olha para a garrafa. – Agora é bom o senhor parar de beber, assim fico sem meu conhaque favorito... – Guerra fez menção de pegar a garrafa em cima da escrivaninha...

– Eu compro outra depois. – Outro gole.

– Edgar, brincadeiras a parte, como você está... Acabou de dá uma bela lição na senhora Laranjeiras, e mesmo assim continua com uma cara...

– Como você quer que eu esteja... Brigar com a Laura novamente, não quero isso... Não aguento ficar longe dela... Sinto tanta saudade... E a magoei novamente... Achei melhor ficar longe, dói ficar longe dela, principalmente, por ter ficado todos estes anos longe e agora ela está tão perto de mim e, outra vez, há um imenso abismo entre nós... Tentei ser compreensível sobre a história toda... Quando dei por mim, já a estava sufocando de novo... Ela tem razão fui tão egoísta em querer ela de volta que não prestei atenção nas suas necessidades... Fui um tolo... Pensei que pudesse ter nossa vida de volta, todavia não há volta... Temos que reconstruir uma nova vida, nos redescobrir... A Laura não quer voltar comigo apenas para ser minha esposa... Quer voltar para estar ao meu lado, como minha amiga, companheira... Quer está lado a lado comigo, não atrás ou à frente, mas junto a mim... Não quer respeito por se a senhora Edgar Vieira... Ela quer respeito por ser quem é e isso é admirável... Como pude ficar tanto tempo sem entender isso... Sem enxergar...

– Nem sempre enxergamos tudo de primeira e é isso que nos torna humanos... Que bom que começa a entender as necessidades da Laura... Quem sabe assim, vocês possam finalmente se entender...

– Ela está magoada comigo... Não quero impor minha presença a ela... Morro de saudades, mesmo assim prefiro me manter distante, deixar a mágoa dela diminuir um pouco mais.

– Vocês dois... Quantos encontros e desencontros, meu amigo...

– Quantos encontros e desencontros... – Lamentei. – Preciso de mais um gole.

– Pensando bem, pode beber à vontade, daqui a pouco peço ao Jonas buscar outro.

– Sabe que estava tudo bem entre nós... Cheguei a viajar com ela, em Lua de Mel, foi tão bom ficar com ela... Se pudesse não teria voltado, teria ficado em Petrópolis, parece que estava adivinhando... E depois veio essa história toda...

– Sabe o quê é admirável?

– O quê?

– Vocês dois... Passaram mais de seis anos, se encontraram, desencontraram... Edgar, certamente irão se reencontrar... Tenho certeza que isso tudo vai passar... Vocês merecem ficar juntos... Quantas vezes eu vi você sofrer pela Laura durante todos estes anos e pelo visto não foi apenas você, ela também deve ter sofrido muito também... Não deixa que mais uma briga separe vocês... Os anos passaram e os dois continuam apaixonados...

– Nosso problema nunca foi falta de amor, ao contrário temos até demais, só que não conseguimos nos entender... – Outro gole.

– Pelo que me disse a pouco, vejo que começa a entender a Laura um pouco melhor, isso é já um começo...

– Ela está magoada comigo e não é pouco... – Outro gole.

– Você falou isso... Dê tempo ao tempo... Deixa-a esfriar um pouco a cabeça... Quem sabe se entendem novamente...

– Eu não consigo me olhar no futuro, sem ter a Laura ao meu lado. Não me vejo sem ela... Mesmo quando estávamos longe um do outro, quando não sabia onde estava, não conseguia imaginar minha vida sem ela. Isso é errado?

– Não... Pelo menos não acho que seja... Sabe Edgar, eu tenho acompanho a história de você de tão perto que nem sei se tenho o discernimento necessário para opinar... Não é sempre que se vê um casal tão apaixonados como vocês... São poucas as pessoas que passam nesta vida e tem a sorte de ter o que vocês tiveram... Veja o caso da Gisele Laranjeiras... A pobre nem sequer imagina o quê você e a Laura têm... Se ela tivesse uma pequena parte, jamais se submeteria aos caprichos daquele marido...

– Pode ser... – Infeliz.

– Não Edgar, é! Amar é uma arte, é sofrido, é conquista, admiração, desejo, amizade, vontade, é um ato de coragem e isso é a para poucos... Acredito que se passaram séculos e muitos não terão o que vocês dois têm... Mesmo com todos os infortúnios, vocês foram afortunados em ter um sentimento desses... Terem um ao outro... É meu caro, vocês são dois sortudos por se amarem, se quer dá um tempo para a Laura, então dê... Apenas não a deixe sair da sua vida novamente como ocorreu há seis anos...Não vou aguentar ver você choramingar novamente... – Zombava de mim. - Sou seu amigo e sei como você ficou... Lute por ela... Ou melhor, por vocês dois...

– Um jornalista romântico... Esta sua faceta eu não conhecia... – Debochava de meu amigo.

– Acho que desde que a Celinha entrou na minha vida, percebo que a vida pode ser um pouco mais leve. O Amor... Mesmo que traga sofrimento, ainda assim vale à pena... Sempre achei que terminaria meus dias como um solteirão solitário e mal humorado... E a Celinha surgiu na minha vida, ainda bem. Ela me faz muito bem... Assim como a Laura te faz muito bem. Quando está com ela você é outro, é muito mais feliz... Aliás, isso vale para ela também... Apenas não volte a ser aquele Edgar de antes da volta dela... Triste... Solitário... Quase sentido pena de si mesmo...

– Era assim que você me via? – Estava surpreso com meu amigo.

– Era sim... Só que a Laura voltou, mesmo agora, vocês brigados, não lembra aquele Edgar... Seja um novo homem para esta nova Laura... Ela mudou então mude também... – Enfático.

– Você me surpreende...

– Agora é a sua vez de surpreender a Laura... Mostre a ela este novo Edgar... E a matéria sai amanhã. Acho que o Antônio Ferreira vai te ajudar muito nisso...

– Será?

– Acredite em mim... Tenho certeza que terá uma grata surpresa no futuro...

– Queria ter a sua confiança...

– Ah Edgar... Vocês nasceram para ficarem juntos...

Fitei o Guerra, desconfiado e sem muita esperança...

– Será Guerra? Será que vamos nos entender um dia... – Desanimado.

Meu amigo me olhou e lançou um sorriso.

– Será? – Pensei comigo...


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Notas finais do capítulo

Meninas, espero que tenham gostado... Edgar deu uma bela lição na esposa do Laranjeiras... Não deixem de comentar... Gosto de saber a opinião de vocês... Bjs e até o próximo capítulo