Laura E Edgar - Um Novo Olhar escrita por Bia


Capítulo 26
Viagem à Petrópolis


Notas iniciais do capítulo

Oi meninas, tudo bem? Desculpe pela demora, espero que gostem deste capítulo... Ele ficou grandinho...



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Viagem à Petrópolis (Capítulo 26)

A última briga com Laura por causa do emprego novo havia mexido comigo. Não gostava de brigar com ela, por outro lado, tinha tantas esperanças que viesse a trabalhar comigo, queria tanto Laura a meu lado. Não nego que fiquei profundamente chateado com tudo, ela se recusava a trabalhar comigo. Eu tentava de todas as formas convencê-la e sempre recebia recusas como resposta.

Se ao menos conseguisse ficar um pouco mais de tempo com ela, sair um pouco do Rio de Janeiro talvez, ficar ao menos, um final de semana longe de tudo e todos. Sei que com o emprego novo ela não teria muito tempo, porém precisávamos de um tempo para nós e uma viagem, mesmo que curta, poderia fazer com que o clima ruim da última discussão dissipasse de vez. E já tinha o lugar ideal, Petrópolis, a cidade é linda e poderíamos pegar o trem no final de tarde de sexta feira.

Pedi para Matilde fazer um belo jantar e colocasse flores pela casa. Queria criar um clima romântico. Á noite Laura finalmente chegou, para minha alegria, não pude e tão pouco quis me conter... Apenas desejava beijá-la e ainda bem que ela não resistiu a mim. Como era bom estar com ela, senti-la tão próxima de mim e saber que era apenas minha assim como eu era dela.

– Quantas flores? – Ela nunca havia visto a casa assim, mesmo no dia do nosso casamento havia tantas flores.

– São para você.

– Para mim? E o que fiz para merecer tantas flores? – Sorriu para mim.

– Você está aqui, para mim é o suficiente para encher a casa de flores... – Queria agradá-la.

– Eu já vim aqui outras vezes e a casa não estava tão florida... Até parece um jardim.

– Há um motivo especial...

– Um motivo especial? Agora estou curiosa, é alguma data importante? Agora o senhor me deixou muito curiosa.

– Eu quero lhe fazer um convite e não aceito uma recusa sua.

– Um convite? E qual seria?

– Sei que começou a trabalhar há pouco tempo. – Falei pausadamente, tinha receio que alguma palavra mal colocada pudesse causar mais uma briga.

– Sim, mas se for para eu trabalhar com você Edgar, já sabe minha resposta...

– Não é nada disso, deixe-me falar, depois você pode criticar. – Não queria entrar novamente em uma nova briga.

– E o quê é então? – Parecia ressabiada comigo.

– Uma pequena viagem, apenas nós dois, para Petrópolis, minha família tem uma casa na cidade, ia muito lá quando era criança, é um lugar lindo, e podemos passar o final de semana, eu e a senhora na Cidade Imperial.

– Eu e você, em Petrópolis? – Parecia surpresa.

– Se não me engano eu e você não viajamos em Lua de Mel.

– Tivemos uma sem sair de casa, se esqueceu? E, também, não somos mais casados... – Brincava comigo.

– Infelizmente eu tenho consciência disso, mas seria uma pequena viagem. Reparou que enquanto estávamos casados não fizemos nenhuma viagem juntos. Acho que nos devemos isso.

– Bem, deve aquela sua para Port... Não vamos nos lembrar disso... Não sei dá onde você tira estas ideias, Edgar... – Ela quase falou da minha viagem a Portugal e a tempo se conteve antes de continuar.

– Apenas gostaria de viajar com você... Prometo que estará aqui para voltar a tempo de ir ao trabalho.

– Não sei se é uma boa ideia... – Laura parecia em dúvida com o meu pedido.

– É uma viagem romântica, assim poderíamos ficar mais tempo juntos. Se a senhora não quer trabalhar comigo, não posso fazer nada a respeito, mesmo que não concorde, isso não vem ao caso agora... Apenas peço que passe um final de semana comigo, longe da cidade, em um lugar lindo como Petrópolis, apenas eu e você, a ideia não é ruim.

– Mas Edgar...

– Laura, eu já tive que aceitar sua recusa em trabalhar comigo, tenho que aceitar sua demora em voltar para nossa casa... Será que não pode fazer uma viagem comigo... Pegaríamos o trem na tarde de sexta feira e chegaríamos a tempo do jantar. Seria uma viagem muito agradável e merecemos ficar um tempo juntos, mesmo que seja por dois dias apenas... – Não sei se agi certo ao falar assim, apenas desejava ficar mais junto a ela.

Laura ainda tinha um sinal de dúvida no seu olhar.

– Por favor, estou lhe pedindo com todo amor, sem briga, vem comigo à Petrópolis lhe peço. Devemo-nos isso. – Era quase uma suplica.

– Está bem, vamos viajar para Petrópolis, acho que nos fará muito bem ficar um pouquinho longe da cidade. – Parecia que não queria me negar isso, também estava consciente que seria importante para nós termos aquele momento juntos.

Não pude conter minha felicidade e quando percebi já a beijava novamente minha querida namorada. Tinha ficado tão aliviado por ela finalmente por ter aceitado o meu convite, tinha tanto medo que recusasse e isso levasse a mais uma discussão. Sei que tinha dito a Laura que preferiria brigar com ela a ter que evitá-la, porém odiava quando não conseguia me entender com ela e ultimamente era o que mais fazíamos. Não a queria longe de mim, tampouco queria me desentender com ela.

Aquela semana passou tão devagar, pelo menos para mim, deseja tanto embargar no trem que nos levaria para Petrópolis, minha ansiedade apenas aumentava. Aproveitei a semana para resolver tudo da viagem, sabia que o tempo seria curto e por isso quis aproveitar cada minuto. Minha família tem uma bela casa na cidade, queria que tudo fosse perfeito, seria nossa pequena Lua de Mel.

E a noite, Laura sempre vinha me vê, e adorava quanto ficava até de manhã. Não queria brigar com ela, apesar de ainda me sentir um tanto contrariado com seu novo emprego de secretária, o desejo de ficar com ela era muito maior e era nisso que pensava. Consegui convencer Laura de trabalhar na parte da manhã e assim, à tarde, poderíamos embarcar para nossa viagem. O caminho para Petrópolis era lindo e queria aproveitar isso como ela. Lembro-me de sempre fazer está viagem com os meus pais. O clima estava muito agradável, aliás, tudo estava maravilhoso, ela observava pela janela a paisagem passar enquanto eu apenas tinha olhos para ela. Como estávamos em um pequeno camarote, pude ficar mais próximo dela, sempre de mãos dadas, namorando um pouco.

Ao chegar à casa de minha família fomos recepcionados pelo Seu José e Dona Carmen, eles cuidavam do lugar havia muitos anos.

– Dona Carmen, Seu José esta é Laura, minha...

– Esposa... – Mal deixou-me terminar a frase. – Prazer em conhecê-los.

– O prazer é todo nosso, senhora Vieira. Edgar nunca nos disse que tinha uma esposa tão bonita. Aliás, faz anos que não vem aqui, pensei que tivessem desistido desta casa. Sua mãe vem às vezes com seu pai, seu irmão é outro que também sumiu. A casa fica tão vazia, nem parece aquela da época enquanto eram crianças, vinham todas as férias, nas datas importantes... Que bom que vieram... Só assim para conhecer sua esposa, meu filho.

– Faz muitos anos D. Carmen, acho que mais de dez... Fui para Portugal estudar... Depois me casei... Os anos passaram... E eu nunca tinha muito tempo de vim... O que importa agora é que estamos aqui.

– É um prazer conhecer sua esposa... Seja bem vinda minha filha... Seu marido é como um filho para nós... Sinta-se acolhida aqui minha querida.

– O prazer é todo meu... Eu já me sinto...

– Esta casa, Laura, era mais usada quando eu e o Fernando ainda éramos pequenos, sempre nossos pais nos traziam aqui, passávamos longas temporadas. Mas depois fui estudar fora, houve o casamento... Nunca mais pus os pés aqui.

– E é uma casa tão bonita, nem seus pais vêm aqui com tanta frequência?

– Minha mãe vem, às vezes, e meu pai, também, menos vezes, ele sempre está às voltas com a fábrica e com a política. É uma pena, pois poderia aproveitar mais isso tudo.

– Clima é tão agradável, eu me lembro que vinha para Petrópolis quando criança também. Faz muitos anos que não venho também, nem me lembrava mais como era direito.

– Dona Carmen, a senhora fez o que lhe pedi no telegrama.

– Tudo está como pediu Edgar, tenho certeza que vai gostar. O quarto já está pronto, apenas esperando por vocês.

– Como assim? Tudo está pronto?

– Tenho algumas surpresas para a senhora.

– Surpresas? Quais?

– Se lhe contar agora não será mais surpresas... – Brinquei com a Laura.

Minhas ordens haviam sido acatadas e a casa estava perfeita para receber minha namorada. D. Carmen nos levou até o quarto e ao chegar lá Laura já encontrou um belo arranjo com alecrim.

– Alecrim? Até aqui? – Estava tão contente e surpresa de ver sua florzinha favorita ali.

– Era o mínimo que poderia arrumar, só que não agradeça a mim e sim à dona Carmen.

– Procurei muito e o José encontrou em uma propriedade perto daqui. O resto está ao agrado de vocês?

– Está tudo perfeito... – Queria muito que Laura achasse tudo perfeito. O nosso quarto estava como havia pedido a Dona Carmen e com aroma de alecrim tudo parecia deixar tudo mais perfeito ainda.

– Eu vou deixar vocês sozinho agora... Qualquer coisa é só chamar... Fiz um jantar e assim que quiserem posso servir aqui no quarto. – Dona Carmen se retirou do quarto deixando o casal sozinho.

– Então é minha esposa? – Não nego que adorei ter ouvido isso vindo dela.

– Pelo menos pelos próximos dois dias. Desculpa pela mentira não sei de D. Carmen está a par de tudo, apenas achei melhor assim, já acho confuso para nós, imagina para quem está de fora. De certa forma, não é uma mentira tão grande assim, afinal de contas, eu posso não ser sua esposa... Mas nunca deixei de ser... Sua mulher... Ou estou enganada.

– Pois para mim nunca deixou de ser... Minha esposa... – Não conseguia deixar de admirar Laura.

– Na realidade eu nunca deixei de me senti assim, sua mulher, mesmo separados.

Não conseguia não contemplar a Laura. Ela parecia estar um pouco encabulada com que acabara de dizer. Sabia que era sincero e ouvir dela que nunca deixou de ser minha mulher...

– Eu também nunca consegui me sentir divorciado de você. Este é o verdadeiro motivo pelo qual nunca tirei a aliança. Se a tirasse, era como se rompesse de vez um vínculo que não queria que terminasse. A farsa que sua mãe manteve era apenas uma desculpa para continuar usando. Nunca quis tirar minha aliança por isso, nunca me senti divorciado de você, mesmo que estivesse longe de mim.

Peguei a sua mão esquerda sem a aliança e acariciei seu dedo anelar e a delicada mãozinha de Laura.

– Mas tirou a sua. – Não gostava de ver aquele dedo vazio, lamentei.

– Como mantê-la se havia rompido um vínculo com você. Sem contar que, como explicaria um anel de casada se para todos eu era solteira. Guardei minha aliança comigo. Eu não a carrego junto a mim, ao contrário da importância do seu significado para mim.

Percebi Laura acariciar a mão e talvez tenha sentido falta da aliança em seu anelar esquerdo.

– Eu tenho um presente para você?

– Mais um? – Ficou surpresa.

Eu tirei do bolso uma pequena caixa preta e abriu, nela havia um anel de ouro preso a uma corrente.

– Uma nova aliança, em uma corrente? Por quê? – A surpreendi. Não esperava que lhe fizesse tal surpresa.

– Representa um novo compromisso, sei que não carrega sua aliança, apenas queria que usasse uma. Não sei se sentiria confortável em usá-la por isso coloquei em uma corrente, pois não precisa colocá-la na sua mão, com ela na corrente pode usá-la no pescoço, ao menos o anel estará perto do seu coração. Tem toda a liberdade de querer usar ou não. Você quer usá-la? – Estava inseguro e morrendo de medo que ela dissesse não.

– Quero... Perto do coração... Pode colocá-la em mim, por favor. – Notei que ficou tocada com a minha atitude, ao menos não rejeitou, por um momento pensei que pudesse e vê-la aceitar foi um alívio.

Laura se posicionou em frente ao espelho e eu coloquei nela a corrente. Ela contemplou a joia que acabara de ganhar, acariciou a aliança e a segurou com força na mão.

Assim que coloquei a corrente no pescoço, contemplei a figura de minha esposa através do espelho e beijei-lhe o pescoço. A virei para mim e a admirei, apenas desejava beijá-la e assim o fiz sendo correspondido com o mesmo ardor.

– Dona Carmen espera por nós... – Falou ao meu ouvido, enquanto estávamos abraçados.

– E eu sempre espero por você... – Murmurei para ela.

– É melhor jantarmos... – Ela não deixava de me olhar.

– Se deseja assim... Posso pedir para servirem aqui no quarto... – A beijei mais uma vez.

– Melhor descermos... – Completava-me.

– Como queira... – Eu não conseguia deixar de admirá-la.

– Vamos? – Ela segurou a minha mão e descemos juntos até a sala.

Dona Carmen já esperava pelo casal, a mesa estava posta à francesa e velas iluminavam o ambiente deixando o clima mais romântico. Namoraram durante todo o jantar, no final preferiam tomar o Porto no quarto. E ali permaneceram durante até o dia seguinte, entregando-se ao que sentiam.

O dia mal amanhecerá e eu já completava a silhueta de sua esposa deitada ao seu lado. Laura ainda dormia, seu semblante estava tão tranquilo. Durante anos acordei sozinho, e naqueles últimos dias, e agora, tinha junto de mim quem mais desejava, mesmo ali, ao seu lado, sentindo o seu perfume, eu não conseguia deixar de admirar minha esposa e sempre temendo que aquele momento fosse uma ilusão e acordaria novamente, sozinho, em meu quarto. Sentia tanta a ausência de Laura e parecia um sonho tê-la ali, junto a mim. Não quis acordá-la, deixei que isso acontecesse naturalmente. Também não saí do seu lado, queria vê-la despertar, mesmo não importando o tempo que levasse, apenas queria ficar ali, junto à minha mulher que eu nunca consegui tirar de meu coração.

Laura, por sua vez, parecia não ter pressa para despertar. Ela acordou lentamente, os olhos abriam preguiçosamente e primeira imagem que viu foi a minha junto dela, acordou sem pressa...

– Devo está horrível... Para me olhar assim... – Parecia brincar comigo.

– Pois, para mim, está mais linda do que nunca. – A beijei delicadamente.

– Eu nem fiz minha toalete, não me olha assim, devo está horrível e toda despenteada.

– Não seja boba, você é sempre linda... De qualquer jeito você é linda... – Para mim Laura estava belíssima.

– Ninguém é bonito ao acordar... – Enviou o rosto no travesseiro...

– Não faz isso sua boba, eu quero continuar admirando você... – Tentei tirar o travesseiro dela inutilmente.

– Não, virá para o outro lado...

– Eu já vi você assim antes, vamos, me deixa olhar para você.

– Não, estou com a cara amassada, estou horrível... – falou manhosa.

– Já disse, é linda de qualquer jeito...

– Não. – Ficou mais manhosa ainda...

– Certo, vou deixá-la fazer sua toalete. Vou buscar nosso desjejum e você se arruma. Pode ser assim? Vou descer, porém antes disso eu quero o meu beijo de bom dia...

Laura tirou o rosto do travesseiro e me fitou, deu-me um beijinho rápido e ela voltou com o rosto o mesmo lugar de antes.

– Bom dia para você também, meu amor. – Coloquei o roupão sobre o pijama e desci.

Como havia tido a Laura fui buscar nosso café, Dona Carmen havia feito um pão que eu adorava quando era criança, tinha certeza que Laura também adoraria. Subi com a bandeja, a porta estava entreaberta e vi, através da imagem do espelho, Laura experimentar a aliança que havia dado a ela na noite anterior, fiquei radiante com o gesto, ela olhava para o anel e chegou acariciar o dedo onde estava, em seguida a retirou do dedo, talvez não quisesse que a visse com ele, mas eu vi e por um momento tive esperança que não a tirasse, não entendi o gesto de Laura e resolvi que não comentaria nada, pelo menos naquele momento. Vi Laura voltar para a cama e entrei em seguida.

– Trouxe nosso café, Dona Carmen fez um pão delicioso que adorava quando eu era criança, tenho certeza que vai adora... – Lhe ofereço um pequeno pedaço.

– Que bom, eu confesso que estou faminta...

– O dia está chuvoso se importa se ficarmos no quarto um pouco mais... – Sugeri maliciosamente...

– Pode ser, mas com uma condição?

– Condição? Qual?

– Eu prefiro ficar conversando um pouco mais com você... – Laura pegou um pedaço do pão que D. Carmen havia preparado e ela me deu razão o achou delicioso...

– Conversar? – Me surpreendi.

– O dia está chuvoso... Estamos neste quarto lindo e com cheirinho de Alecrim que eu adoro... Um passeio pela cidade terá que esperar um pouco mais... Apesar de não achar sua sugestão de toda má... Eu adoraria ficar aqui, nesta cama, abraçadinha com você e conversando... – Tomou um gole do café com um pouco de leite que eu lhe servi.

– Você está falando sério? Temos algo mais interessante que fazer... – Sugeri.

– Eu não sei se o senhor sabe, se houve algo que me fez me apaixonar pelo senhor foi justamente por poder conversar com você, assim, como estamos agora... Não vou negar que adoro estar com você... – Disse-me maliciosamente. – Se há algo que amo, também, é poder conversar com o meu namorado.

– Se a senhora Vieira deseja apenas conversar... Não vou negar que tenho esperança que mude de ideia. – Não tinha desistido de fazê-la mudar de ideia e esperançoso que aceitasse minha sugestão.

– Mudarei... Não agora... – Sorriu para mim, provocando-me ainda mais.

– Promete? – Ainda não havia perdido as esperanças.

– Prometo.

– Então, sobre o que deseja conversar? – Tentava me conformar enquanto lhe beijava o rosto...

– Não sei... Minto, sei sim... Hoje tive um sonho com Dona Eulália.

– A senhora que cuidou de você enquanto esteve longe de mim?

– Isso mesmo. No sonho conversávamos.

– Sobre o quê? – Dei mais uma mordida no pão.

– Sobre minha vida, sobre você... Sabe que eu nunca contei sobre você para ela e isso era tão estranho para mim porque gosto muito dela e não tive coragem de contar de você, que é tão importante para mim... Tive medo...

– Por quê? – Não compreendia a atitude de Laura.

– Ah Edgar, não sabia qual seria a reação dela. Tinha medo de perder o carinho, a dedicação que ela me dava e sem cobrar nada em troca. Ela foi muito importante para mim naquele momento e não imagina o quanto precisei dela naquela época.

– Nunca me disse com a conheceu? – Acariciei seu rosto.

– Foi quando sai da fazenda do meu pai. Não podia ficar lá. Meu pai me contou que você procurou por mim naquela época... Pedi a ele para não falar sobre meu paradeiro, fiquei com medo que viesse atrás de mim... Arrumei minhas coisas e fui embora... Quando cheguei naquela cidadezinha fiquei hospedada em uma pensão e não podia ficar ali por muito tempo... Primeiro arranjei um emprego e depois fui atrás de uma casa para alugar, nisso conheci Dona Eulália, ela morava na casa ao lado da minha e ficamos amigas. É uma pessoa encantadora... Ela não teve filhos e já era viúva quando a conheci, acabei me tornando uma filha para ela.

– Lembro que quando perguntei para seu pai sobre seu paradeiro, ele se negou a me dizer, fiquei muito chateado, pois me disse que você havia pedido para não me contar... Se ele tivesse me contado eu teria ido atrás de você...

–Pedi para não contar, mas não me entenda mal, eu não tinha condições de me encontrar com você naquele momento... Sabe Edgar, ao vê-lo ali, diante de mim, perante aquele juiz para assinar nosso divórcio... Por um momento tive vontade de voltar atrás... Só que não podia, eu estava tão ferida e ainda com tudo aquilo... Eu me sentia pior ainda porque não sentia raiva de você e sim de tudo aquilo que nos levou aquela audiência. Foi duro vê-lo sair daquela sala sem olhar para trás... Você, simplesmente, saiu e eu nem pude dizer nada, me despedi, nem sei se caberia dizer alguma coisa... E você se foi, da minha frente, porém não da minha vida... – Parecia sentir um nó tão grande na garganta.

– Aquele dia foi um dos piores dias da minha vida... Não... Foi o pior. Tinha tantas esperanças que tivesse mudado de ideia, que aquilo tudo era um imenso absurdo e ver que não havia mudado... Machucou-me tanto... Eu rezava para que voltasse para casa... Fui àquela audiência com esperança que tivesse reconsiderado, quando vi que estava decidida não me restou nada a fazer a não ser assinar aquele papel e sair dali o mais rápido possível... Queria muito chorar e não queria que me visse chorando... Tolice minha... Eu sei... Voltar para casa naquele dia foi impossível para mim, não tive coragem, fui para a casa do Guerra e ficamos ali durante horas, eu chorando e bebendo e meu amigo me fazendo companhia, sem dizer uma palavra, apenas vendo meu sofrimento sem sair do meu lado. Naquele dia não voltei para casa, apenas apareci no dia seguinte... Mesmo assim, entrar foi doloroso demais para mim, pois sabia que você não voltaria... E ter isso como uma certeza... Era como uma morte...

Os meus olhos ficaram marejados por lembrar-se daquela época. Os de Laura não se diferenciavam dos meus.

– Estava decidida a continuar sozinha... Quando aluguei a minha casa e me dei conta que ficaria sozinha ali, sem você... Eu não queria olhar para trás... E não conseguia esquecer você... Foi tão difícil recomeçar... Precisava... Tinha que levantar a cabeça e seguir em frente. E mesmo assim estava destroçada... Foi tão difícil esconder de Dona Eulália o que sentia e, acredito eu, que parecia adivinhar que algo me consumia, ainda que não fizesse perguntas... Apenas estava ali... Fazendo-me companhia... Mesmo nunca contando a ela sobre você... Sobre nossa história... Sobre o nosso filho... Ela foi muito importante naquele momento... Seu silêncio foi respeitoso e acolhedor... Ao contrário da minha mãe que preferiu me renegar... – Notei que seu rosto ficou mais triste ainda.

– Isso ainda machuca você? Não é mesmo?

– Como não machucar, Edgar? No momento mais difícil da minha vida fui renegada como se fosse uma criminosa... Como se tivesse cometido o pior dos crimes. Naquela época precisava de apoio e encontrei apenas incompreensão vindo da Baronesa da Boa Vista... E ao conhecer D. Eulália apenas recebi amor e compreensão, de uma desconhecida, mesmo escondendo minha condição. Não é irônico?

Eu a abracei, eu queria acalentá-la, e lhe beijei a testa.

– Acho que o melhor que temos a fazer é tentar esquecer aquilo tudo e olhar para o presente, para o agora e para o futuro... Estamos os dois aqui, juntos e isso é o que importa agora. Quero aproveitar cada momento dessa viagem com você e se depender de mim, tudo isso ficou no passado e quero pensar no presente e em você. E essa viagem é para isso, ficarmos juntos e felizes... – Queria tanto poder consolar a Laura. Ficar ali abraçado a ela.

– Pode ser... Talvez tenha razão... Melhor, concordo com você... Vamos aproveitar um pouco mais nosso final de semana... Já que o dia está chuvoso ainda, que tal ficarmos um pouco mais aqui no quarto... Quero ficar abraçadinha a você... Aproveitar sua companhia... Não vamos ficar pensando no passado neste momento. Vamos pensar no agora... E o que importa neste instante é que estamos aqui... Juntos...

– Adoro quando concorda comigo... – Eu a beijei delicadamente.

– Viu só... Não tem porque perder a esperança...

– A senhora disse: ficar um pouco mais no quarto... – Aproximei-me dela.

– A ideia não é maravilhosa? – Insinuou-se a mim.

– Concordo... – Disse a ela maliciosamente.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, nosso casal favorito merecia esta viagem de Lua de Mel... Por favor, não deixem de comentar o que acham, as opiniões de vocês são importantes... Obrigada pelo carinho com esta fanfic e até o próximo capítulo. Bjs



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