Laura E Edgar - Um Novo Olhar escrita por Bia


Capítulo 20
A fotografia


Notas iniciais do capítulo

Tenho certeza que vão gostar muito este capítulo...



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A fotografia (Capítulo 20)

O dia havia começado bem, para minha surpresa, ao tomar meu café da manhã, bateram na porta, Isabel foi atender, quando ela chegou à sala de jantar tinha em mãos um belo buquê de alecrim, fiquei encantada, não havia bilhete, nem precisava, sabia perfeitamente quem as enviava, como sempre era Edgar, peguei o arranjo e pus em um lindo vaso e levei para o meu quarto, como era bom sentir aquele aroma. Para mim, naquele momento, o dia estava perfeito, ao menos acreditei que começara perfeito, mas nada perdura para sempre.

Ao chegar ao colégio, vi uma estranha movimentação na porta, ao entrar pude perceber que o furdunço que acontecia ali tinha um único motivo e ainda não sabia que era eu a causa de tamanha confusão. A Madre Superiora trazia consigo um jornal.

– Senhoria Vieira pode me explicar o que significa isso? - A Madre quase joga o jornal na minha cara.

Eu pego a folha de jornal, sem entender direito o que acontece, mas logo vejo o motivo de tanto estardalhaço, uma foto minha com Isabel andando pela Rua do Ouvidor, e no anunciado: a senhora Laura Vieira desfila a elegância da mulher divorciada em companhia de sua amiga dançarina Isabel Nascimento, La Brèsilienne. Meu coração gelou na hora, mas os olhares inquisidores de muitos pais me deixavam mais alarmada ainda.

– Madre, se a senhora deixar, eu posso explicar. - Tentei argumentar com a religiosa.

– Suponho que tenha uma excelente explicação.

– Podemos conversar na sua sala? Por favor. – Tentava falar de modo a acalmar a situação.

– Entre, vamos conversar, mas de antemão já aviso que não vou admitir uma divorciada lecionando para minhas alunas.

Entramos a sala da religiosa, mas ela estava irascível.

– Então professora, qual é a sua explicação para tamanha barbaridade?

– Eu não entendo como está foto foi parar nas páginas deste jornal. Não consigo encontrar nenhum motivo para isso. – Tentei ponderar.

– A enunciado da foto diz que a senhora é uma mulher divorciada, é verdade? E por que não me falou nada? Se tivesse tido jamais a teria colocado no meio das minhas alunas, que péssima influência você pode ser.

– Madre, a senhora está me julgando sem ao menos conhecer o que de fato aconteceu. Mas isso não vem ao caso. – Tentei ponderar mais uma vez.

– Que tipo de mulher você pode ser para que seu marido a largasse a própria sorte. – A Madre, apesar de sua fé cristã me julgava como se fosse uma messalina.

– Madre, que eu saiba, o divórcio é lei, tenho o direito de desfazer meu casamento e foi o que fiz, mas não devo satisfação nem a senhora e tão pouco aos pais que estão lá fora, neste sentido, o meu divórcio diz respeito apenas a mim e ao meu ex-marido a ninguém mais.

– Mas o divórcio não é coisa de Deus, um casamento é para sempre.

– Madre, não quero questionar a sua fé, mas nenhum casamento precisa ser para sempre. Há inúmeros casamentos ruins porque as pessoas insistem em manter as aparências em vez de buscar um novo sentido para suas vidas, mesmo que para isso precisem se divorciar.

– Isto é uma heresia. Deus une e apenas Ele pode separar. Sem contar que aqui diz que está moça negra é sua amiga, como uma professora pode ter uma amiga negra, tão pouco uma meretriz como amiga e além de tudo uma dançarina.

– Pelo que eu saiba Madre, a escravidão acabou a pouco mais de duas décadas. Minha amiga é uma excelente pessoa, que me acolheu e sua casa e que ganha seu sustento de forma digna e honesta, fez fama sim, ganhou seu dinheiro honestamente e nunca agiu como uma meretriz. Ao contrário, é uma pessoa com brio, não é como muitas pessoas da sociedade que dizem ser pudicas e honradas, mas que mantêm uma vida secreta. Ela tem muito orgulho de ser sua raça. Tenho orgulho de ter Isabel Nascimento como minha melhor amiga, pode ter certeza que ela é muito melhor que muitos que estão aí fora e se dizem pessoas respeitáveis, e principalmente que estão me julgando como se fossem melhores do que eu.

– A senhora é uma imensa vergonha para esta instituição, nunca deveria ter colocado os pés em meu colégio. Agora saia e nunca mais ponha seus pés imundos aqui.

Laura respirou profundamente e pediu a Madre que, ao menos, tivesse a oportunidade de se despedir de suas ex-alunas.

– Dois minutos e saída do meu colégio, eu não vou deixá-la sozinha com as minhas meninas.

Ao chegar à escadaria, vi as meninas me olhando e não entendendo nada, conversei com elas, entre elas havia uma que chorava copiosamente para mim e segurou a minha mão. Era Melissa. A filha de Edgar estava triste.

– Senhorita Vieira, a senhorita tem mesmo que nos deixar, por favor, fica conosco, não nos deixe. Por favor. – Suplicava a menina.

– Queria muito poder ficar, mas tenho que ir minhas queridas, mas tenho certeza que ficaram bem. Se pudesse levaria todas comigo, mas não posso. – Falava a elas, mas meu coração estava despedaçado por ter que deixá-las.

– Por favor, senhorita Vieira, ao mesmo me leve com a senhorita, não me deixe aqui sozinha. – Melissa pedia aos brandos.

– Melissa, eu levaria você comigo sim, mas não posso, tenho certeza que ficará bem, confia em mim.

– Então me deixa falar com alguém, quem sabe assim a senhora pode ficar? Eu falo com esta pessoa, eu peço... Por favor...

– É hora de a senhorita Vieira ir, meninas voltem para a sala, que eu vou logo em seguida. – Ordenou a Madre.

As meninas foram, apenas Melissa ficou abraçada em minha cintura.

– Melissa isso vale para você também. Vá agora para a sala... – Ordenava mais uma vez a Madre.

– Mas a senhorita Vieira... Deixa ela ficar... Por favor... Ela é boazinha...

– Melissa obedeça agora, ou vou colocá-la ajoelhada no milho, por desobediência. – A Madre parecia mais irascível ainda e temi que fizesse alguma coisa contra Melissa.

– Madre isso realmente não é necessário, me dê um minuto para falar com ela. – Disse tentando impedir que fizesse algum mal a Melissa.

– Seu tempo já acabou, vá agora embora e não perturbe mais minhas meninas.

– Melissa, meu anjo, por favor, volte para sala, eu prometo que vou ficar bem. Vá para a sala. Por favor...

A menina olhou para a Madre como os olhos jeitos d’água e saiu como pedi em direção à sua sala.

– Por favor, apenas não a castigue por minha causa. Ela apenas quis entender o que aconteceu aqui, está muito assustada. – Tentei justificar, mas a Madre estava intransigente.

– Senhorita Vieira não sei o que faz ainda aqui. E aproveita e tire esta imundice do meu colégio, jogou novamente o jornal sobre mim.

Peguei as minhas coisas e saí, mas não abaixei a cabeça como muitos poderiam imaginar, mesmo saindo da escola praticamente escorraçada. Para meu alivio, assim que saí vi Isabel chegando com outro exemplar do jornal na mão. Minha querida amiga apenas me abraçou, sabia pelo meu semblante o que tinha acontecido pouco antes. Ao abraçá-la deixei cair a primeira lágrima.

– Lamento tanto Laura, quem fez isso fez por pura maldade. – Isabel abraçava a minha com tanto afeto.

– Eu quero apenas voltar para casa Isabel, sai daqui. Foi horrível.

– Quanta gente preconceituosa. Os anos passam e as pessoas continuam julgando como se estivessem acima do bem e do mal, bando de hipócritas. – Isabel estava indignada.

Isabel me levou dali, pegamos um coche de aluguel e voltamos para casa. Naquele momento era o único refúgio que queria. Sentei no sofá e tentei deixar meu corpo relaxando um pouco, Isabel me trouxe uma xícara de chá de camomila e me serviu. Estava tão abatida com todos aqueles acontecimentos, nunca imaginaria que meu divórcio fosse para nas páginas de um jornalzinho mequetrefe. Isabel tinha razão fizeram por pura maldade, mas a questão é quem fez isso e por quê? Não consegui imaginar ninguém que pudesse praticar um ato tão horrendo, tão vil.

Permaneci um pouco mais ali, até ouvir batidas na porta, não tive coragem de sair do sofá, mas Isabel atendeu e para minha surpresa vejo Guerra e Edgar entrarem. Não posso negar que ver Edgar ali me deu um alento.

– Laura eu lamento tanto... O Guerra me trouxe o jornal esta manhã eu não acreditei quando vi, apenas pensava em você. Fui à escola, mas a uma das freiras disse que você havia sido mandada embora.

– Eu sei Edgar... – Queria tanto um abraço dele naquele momento...

– Ao ver aquela fotografia eu fiquei tão preocupado com você, não é justo como você, não era para ser assim. Se quiser posso processar este jornal de quinta.

– Não adiantaria de muita coisa, o estrago já foi feito Edgar. - Guerra tenta alertar o amigo.

– Mas alguma coisa pode ser feita? Não sei, pedi uma retratação. Se quiser podemos dizer que não passa de maledicências, que não existe divórcio... Mas também sei que jamais aceitaria tal coisa. – Edgar lamentava que tudo aquilo fosse verdade.

– Mas apesar da maldade o que diz o jornal é verdade, sou divorciada, não é com uma mentira que vamos resolver o problema. Nunca aceitaria isso...

– Que pena que o jornal disse a verdade, porque queria que não fosse verdade. – Edgar neste momento olhava a figura de Laura com tanto pesar, desejava que aquilo tudo não passasse de fofocas, e não a realidade de um divórcio doloroso.

Neste momento Guerra e Isabel perceberam que a sala tinha fica pequena para tanta gente e se refugiaram na cozinha. Edgar e Laura nem perceberam, a princípio, que os amigos já não se encontravam mais ali. Os dois estavam sentados no sofá e Edgar acariciava as mãos de Laura que não impedia o gesto, ao contrário, gostava de ser tocada naquele momento. Precisava sentir aquele carinho.

– Mas, a verdade Edgar, é que somos divorciados.

– Ninguém melhor do que eu sabe disso... Eu lamento tanto que seja verdade, que de fato somos divorciados, que você tenha que passar por todo este transtorno. Mas também sei que as coisas a partir de agora serão mais difíceis ainda. Agora sim, as pessoas vão mostrar suas verdadeiras faces em relação ao divórcio e Laura, não vou mentir para você, ainda mais agora, tudo será mais complicado. O preconceito é muito grande, não sei do quanto esta gente pode ser mais cruel ainda mais com você. E eu não vou negar, isso me assusta. Quando fui falar com a Madre, mas ela não pode me atender, uma freira me disse quanto estava irada com a situação. Nem parecia uma representante de Deus. Tive vontade de falar que eu era seu marido, mas tive que pensar na Melissa, de piorar uma situação que já estar ruim.

– Fez bem em não falar nada, se ela me escorraçou de lá, certamente não permitiria a permanência de Melissa lá por muito tempo se soubesse a verdade. Provavelmente ela seria um pouco mais condescendente com você. Não o expulsaria como fez comigo. Não vou negar foi humilhante. Mas foi bom falar em Melissa, ela ficou muito triste com a minha saída, por favor, não deixe de consolá-la, não deixe de falar com ela hoje ainda, ela ficou muito assustada com tudo que aconteceu. Ela chorava muito, tentei acalmá-la, porque tive medo tivesse uma crise de asma. Ela não merecia vê toda aquela cena. Eu fiquei com medo que a Madre a castigasse, mas acho não fará, mas mesmo assim, não deixe de conversar com a Melissa...

– Não se preocupe com a Melissa, daqui a pouco vou buscá-la, ela ficará bem, prometo. – Edgar abraçara a sua ex-esposa carinhosamente.

– Ao menos isso. – Laura ficou um pouco mais aliviada.

– Laura, eu tenho uma proposta para você.

– Que proposta?

– Laura, sei que a partir de agora tudo ficara mais difícil, não tenho idéia de como todos vão reagir, mas sei o quanto esta sociedade é hipócrita e cruel, por que você não se muda para lá para casa, sabe que é grande teria espaço para suas coisas, eu fico a maior parte do tempo no escritório e você teria praticamente toda a casa para você.

Laura olhava complacentemente para o antigo companheiro.

– Edgar, obrigada pela sua oferta, mas não é certo. Voltar para casa, fingir que retomamos nosso casamento, eu não estou preparada para morar novamente com você, mesmo que fosse para dividir a casa apenas como amigos.

– Por que não? – O olhar de Edgar era de tristeza.

– Dividir o mesmo teto que você Edgar, eu não consigo.

– Mas Laura é para seu bem estar, me deixa te proteger um pouco, isso vai amenizar este escândalo.

– Não será voltando para casa que você vai me proteger e muito menos acabar com o falatório alheiro.

– Laura, eu não concordo com você. As coisas ficariam mais tranqüilas se voltasse para casa. A notícia desse jornaleco cairia em descrédito. E com o tempo as pessoas esqueceriam esse mexerico.

– Edgar, eu não me importo com que as pessoas vão falar, nem tão pouco com o julgamento alheiro. Voltar para casa nestes termos, não é justo nem com você nem comigo. Se um dia eu voltasse, não seria por isso, mas porque ainda te amo, porque conseguimos superar nossos problemas do passado. Isso sim, me faria voltar para casa e não por causa de maledicências.

– Você ainda me ama Laura? – Edgar mal acreditava no que ouvira, mas tinha esperança que pudesse ser verdade, mas seu coração estava angustiado demais.

– Ah Edgar, não é o momento de falar sobre, fiz mal em falar...

– Fez mal em falar... – Estava mais angustiado ainda.

– Edgar, é tanta coisa junto, vamos conversar sobre isso sim, mas não agora, por favor.

– Mas Laura eu também te amo, tenho amado você todos estes anos... Eu nunca consegui te esquecer...

A única reação de Laura foi abraçar o marido e deixar que a envolvesse em seus braços. Queria beijá-lo, mas não teve coragem, mas percebeu que Edgar também queria aquele beijo e assim foi, um beijo esperado e desejado a cada dia dos últimos seis anos. Naquele momento não havia fotografia, Madre, colégio, nada que tirasse deles aquele momento, nem mesmo a dor da ausência. Por um momento era um porto seguro, uma sensação, um desejo guardado que surgia. E mesmo abraçados, sentido o coração disparado, a respiração ofegante, a vontade de voltar a um tempo passado em que tudo se resumiram a eles...

– Laura, eu te amo tanto ainda, se você soubesse... – Edgar a abraçava querendo sentir ela mais perto dele ainda.

– Eu sei Edgar, e comigo não é diferente. Eu te amo muito também, nunca te esqueci por um momento. Mas por favor, entenda, não é o momento ainda. Por favor...

– Eu não entendo... Mas por hora vou respeitar... Temos sim que conversar.

– Obrigada por respeitar isso...

– Eu só quero nós dois juntos novamente... – Edgar a beijava mais uma vez. Buscava mais uma vez por um beijo...

– Cada coisa de cada vez, está bem. Foi muito bom ter você aqui, mas estou preocupada com a Melissa.

– Não se preocupe, vou buscá-la no Colégio e conversarei com ela, está bem, se isso a tranquiliza?

– Por favor, não deixe de falar com ela, meu coração ficou dolorido de ver ela naquele estado. Ela é ainda muito pequenina... Não quero que sofra.

– Você gosta muito dela. Não é?

– Eu adoro sua filha, sou apaixonada por ela. Cuida dela, por favor.

– Não se preocupe, eu sempre cuido. Queria muito ficar, mas eu tenho que ir, eu tenho uma audiência no fórum, não tem como desmarcar. Então conversamos depois. – Edgar acariciava o rosto de Laura enquanto enxugava mais uma lágrima.

– Vamos conversar, mas não agora... – Laura segurava as mãos de Edgar.

– Vamos conversar sim... Então te amo... – Edgar dava mais um beijo em Laura.

– Eu também... Mas vá cuidar da Melissa.

– Eu vou, mas estou esquecendo o Guerra... Ele e a Isabel sumiram...

Os dois riram da situação ridícula. E se deram conta que os amigos estavam na cozinha.

– Eu vou buscá-lo. – Laura foi até lá.

– Laura, por favor, não demora não.

Laura sorriu para Edgar que ficou na sala, sabia que ele não se referia a ida a cozinha.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado... Eles mereciam se entenderem um pouco... Espero que tenham gostado bastante e até o próximo... Bjs e não deixem de comentarem... Fico curiosa para saber se gostaram ou não.



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