Laura E Edgar - Um Novo Olhar escrita por Bia


Capítulo 2
Seis anos - Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

No primeiro capítulo, você a oportunidade de ver o ponto de vista do Edgar, agora é a vez de Laura mostrar o seu. Espero sinceramente que gostem, fiz com muito carinho. Obrigada a todos que começaram a acompanhar minha história.



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Seis anos (capítulo 2)

Acordar hoje foi mais complicado que nos outros dias, faz seis anos que vi Edgar pela última vez, naquela sala no fórum, um juiz, meu advogado ao meu lado e Edgar na minha frente, esperando que eu tivesse voltado atrás na minha decisão do divórcio, não queria perdê-lo, mas não queria aquela vida que ele queria que aceitasse a qualquer custo. Ele assinou depois de mim, olhou para mim e saiu sem olhar para trás, vê-lo sair daquele jeito doeu tanto em mim, mas era preciso seguir em frente, não queria acordar um dia e ver que todo aquele amor tivesse se transformado em rancor e amargura, não suportaria odiá-lo, tanto pouco suportaria me odiar. Ao sair da sala e entrar no coche que me traria a fazenda de meus pais foi sofrido porque me despedia de uma vida que tinha sido perfeita até a chegada de todos aqueles problemas. Meu mundo perfeito tinha acabado e agora queria apenas sair dali e respirar novamente, mesmo pagando o alto preço de perder quem mais amava.

Ainda não acredito que se passaram seis anos, a saudade parece aumentar logo hoje, queria não pensar, mas não consigo. Queria tanto ter esquecido, mas não há dia que não pense na vida que poderia ter levado com Edgar, quero tanto saber dele, mas não tenho coragem. Quero seguir em frente, mas meu coração ficou com ele. Pensei que com o divórcio teria deixado para trás está parte sofrida da minha vida. Mas a verdade que, no início, poucas semanas depois do casamento, nossa vida juntos era um sonho, nunca pensei encontrar alguém como ele. Tinha tanto medo de me casar e perder a pouca liberdade que tinha, tinha medo que fosse sufocada por uma vida que não queria, mas de repente, Edgar me mostrou um novo mundo, no qual era poderia sim realizar meus sonhos e concretizar meus projetos. Ele estava disposto a me ajudar nisso. Queria meu bem, queria que eu fosse apenas eu, como não se apaixonar por alguém que te respeita, que quer saber como se sente e que te ama.

Confesso que se pudesse ficaria em casa hoje, mas é melhor ir trabalhar, ver as crianças aprendendo a cada dia ameniza minha perda. Gostaria de não pensar tanto, mas não consigo, não é natural não pensar no Edgar, ele sempre está em meus pensamentos, e apesar de não saber notícias suas ainda lhe quero muito bem. Espero que esteja feliz. Mas me dói imaginar que possa estar com aquela mulher, que ela possa pousar de esposa e ainda mais com a menina, Melissa. A filha que não consegui dar ao Edgar.

Arrumo meu material e tomo meu café, preciso pegar a charrete até a cidade, as crianças já começariam a chegar para a aula daquela manhã. Tomei meu café e me despedi de Dona Eulália que cuidava da casa. Preferi morar em uma pequena casa, longe do centro da pequena cidade, ali tinha a companhia de Dona Eulália, uma senhora já viúva e que não teve filhos, que morava perto dali, mas que gostava da minha companhia porque lia sempre para ela e a ensinava a ler. Era tão gratificante ver como ela conseguiu aprender, mesmo que devagar, mas tinha tanto interesse, mesmo sendo uma senhora de mais de sessenta anos e que não pode aprender quando mais nova por causa do pai conservador.

O caminho para a cidade durava pouco, mas o suficiente para ter meus pensamentos povoados pelas lembranças. Perto dali era capaz de sentir o cheiro que me era tão familiar, mas que agora me causava dor e saudades, todos os dias eu sentia aquele aroma de alecrim. Sempre o mesmo aroma, sempre a mesma saudade. Tinha vontade de descer da charrete e procurar pelo pé de alecrim, mas Dona Eulália me disse que era comum naquela região e que o cheiro ficava mais intenso depois que chovia. Logo onde fui morar, em um lugar com cheiro de saudade.

A pequena escola já surgia no horizonte, e a crianças começam a gritar pelo meu nome, Srta Vieira, o sorriso delas acalmava minha alma e por algumas horas esqueceria aquele dia, e principalmente aquelas lembranças que especialmente hoje são tão dolorosas.

A aula transcorreu normalmente, li para eles e depois passei um dever de casa, era tão bom lecionar, era bom me sustentar com meus próprios meios. Levava uma vida modesta e tranqüila, ninguém ali sabia do meu passado, era uma jovem professora que tinha que se manter. Não tinha a vida luxuosa proporcionada pelos meus pais e depois por Edgar. Mas era a vida que escolhi, sem todos aqueles tormentos que me martirizavam no final de meu casamento. Foi uma escolha minha e por mais sofrida que fosse era um sofrimento menor do que se tivesse ficado por lá.

Volto para casa e novamente sinto o aroma do alecrim, respiro fundo e seguro o choro, mas sinto as lágrimas em meus olhos. Ao chegar em casa, Dona Eulália esperava por mim, com um sorriso no rosto e uma carta na mão.

- Laurinha, sua amiga de Paris lhe mandou uma carta, chegou agorinha o correio veio trazer aqui.

- Obrigada Dona Eulália a senhora não sabe o quanto precisava de uma notícia da Isabel, sinto tantas saudades de minha amiga e esta missiva não poderia ter chegado em melhor hora.

- Sabia, minha filha, que ficaria feliz, por isso te esperei chegar, o moço queria levar de volta, mas disse que eu cuidava de lhe entregar. Sei o quanto preza por sua amiga e que vive escrevendo para ela.

Dona Eulália e eu entramos na minha casa e ela apanhou seu bordado e um livro que havia emprestado para ela.

- Filha, eu fiz um almoço para você, coma direito que você está tão magrinha, precisa de sustança.

- Não precisava D. Eulália, eu como qualquer coisa, não se preocupe comigo.

- Como não? A menina trabalha tanto, e precisa se cuidar para não cair doente numa cama. Mas agora tenho que ir, se cuida e amanhã eu volto. Até logo minha filha.

- Até...

Assim que Dona Eulália saiu, deixei meu material de lado e fui direto ler a carta de Isabel, como minha amiga me faz falta.

Querida Laurinha,

Paris continua linda, os parisienses continuam maravilhados com o espetáculo de Isabel, la brésilienne. Mas confesso que começo a sentir falta de casa e me cansar dessa vida tão agitada, sinto saudades de tia Jurema, do meu pai Afonso e até do Zé Maria. Sei que não o verei mais, mas sempre me pego pensando nele, por onde andará meu Zé, Laura. A vida nos separou. Se alguém me dissesse que nossas vidas mudariam tanto eu não iria acreditar. A vida é como um rio, cheio de obstáculos mais que sempre corre para o mesmo destino, o mar.

Laura, há poucas semanas fez seis anos que perdi meu pequeno Afonso, nunca imaginei que depois de todos o sofrimento causado por ser mãe solteira, ainda teria que enterrar meu pequenino bebê. Se não fosse por sua amizade e da tia Jurema não suportaria tudo aquilo. Quando surgiu a oportunidade de vir para Paris com Dorleac, confesso que pensei que fosse deixar para trás todo aquele sofrimento, mas não, ele atravessou o oceano comigo e sempre me acompanha, nunca deixo de pensar no meu filho e rezo por ele todas as noites. Há momentos em que eu chego em minha casa, depois do teatro, e me vejo sozinha, pensando no que deixei para trás. Meu coração fica apertado, respiro fundo e deito minha cabeça no travesseiro e as lembranças me consomem.

Penso seriamente em voltar. Outro dia procurei por Madame Besançon, foi tão bom revê-la depois de todos estes anos, ela foi cordial comigo e desfrutamos de uma bela tarde de conversa. Ela me contou que ficou profundamente decepcionada comigo naquela época, mas que agora a mágoa tinha passado e que ficava feliz com meu sucesso em Paris. Perguntei a ela se não tinha vontade de vender a casa do Cosme Velho e ela disse que gostaria que ficasse com alguém da confiança dela e me ofereci para comprar. Ela ficou radiante com minha proposta e aceitou de pronto vender a casa, apenas me pediu para cuidar do lugar, afinal de contas tinha sido muito feliz ali com seu falecido marido. Provavelmente é o meu primeiro passo para voltar ao Brasil, ao menos uma casa já tenho agora falta a coragem, mas caso volte quero que venha morar comigo.

Querida Laura começo a ver que meu tempo em Paris esta chegando ao fim. É melhor sair de cena enquanto tenho fama, sair por cima, no auge. Quero respirar o ar da minha terra e ver a minha gente. Quero andar pelas ruas do Rio de Janeiro, comer o bolo de mandioca da tia Jurema e poder rever meu querido pai, apesar de não entender a vida que levo aqui ser honesta e decente. Quero abraça minha adorada amiga e conversar com você pessoalmente e não mais por cartas, abraça-la. Se eu voltar, quero que venha morar comigo, a casa é grande e tem lugar para nós duas e nossas lembranças. Pense no meu convite com carinho.

Fique com Deus minha querida Laura.

De sua amiga...

Isabel

A carta da Isabel me trouxe alento. Ela pensar seriamente em voltar e até a casa já comprou, então é quase certo que minha amiga volte. Mas seria uma boa ideia voltar a morar no Rio perto de tantas lembranças e principalmente do Edgar? Meu coração ficava mais apertado ainda. Não sei se seria conveniente, mas por outro lado teria a companhia da minha querida Isabel, ninguém melhor que ela sabe de todo meu sofrimento e de minha dor, sua força me dava forças, sua coragem de buscar algo novo em sua vida em um momento tão difícil e repleto de dor. Como não admirar Isabel, como dizer não ao seu convite.

Enquanto me alimentava com a comida que Dona Eulália tinha preparado carinhosamente para mim, pensava no convite de minha amiga e em tudo que aquilo implicaria. Não era má a ideia de voltar ao Rio, a cidade onde nasci, cresci e me casei, mas, também era o lugar onde Edgar mora, e provavelmente com aquela mulher odiosa. Isso doía profundamente em minha alma. Mas, também, não poderia me privar de viver um pouco na minha cidade, o Rio de Janeiro é uma cidade tão grande, as chances de encontrá-lo não era tão grande assim. Mas tínhamos praticamente o mesmo círculo de amigos, mas tenho meu pai de quem eu tinha tantas saudades e de meu irmão Albertinho.

Voltar? Será? Eu me questionava.

Sentei a mesa e peguei uma folha de papel e comecei a escreve a Isabel, precisa desabafar com ela, principalmente hoje, queria falar do significado do dia de hoje, a saudade que sentia do Edgar, mesmo sem saber o que se passava em sua vida, apenas escrevi.

Querida Isabel,

Não imagina o quanto fiquei feliz em receber a sua carta, suas palavras, como sempre, me fizeram muito bem, não imagina como é bom receber uma carta sua, principalmente, no dia de hoje. Isabel, hoje faz seis anos que assinei meu divórcio e vi Edgar pela última vez. Sabe que conto apenas para você meus sentimentos mais íntimos. É exatamente hoje que faz seis anos do meu divórcio, acordei com meu coração apertado, precisava tanto de você ao meu lado. Não imagina a saudade que sinto do Edgar, mas hoje foi maior que nos outros dias, gostaria de não sentir, mas não consigo evitar. Isabel, eu não entendo, faz muitos anos e ainda sinto como se fosse ontem, é como se tudo tivesse sido ontem.

Você, querida Isabel, sabe o quanto fui feliz com Edgar, mas também, presenciou todo o sofrimento que passei naqueles dias, depois de toda aquela tempestade. Reconheço que até hoje espero a bonança, mas essa, de algum modo, nunca veio. Se, ao menos Edgar tivesse trazido apenas a Melissa, mas tinha que trazer aquela mulher. Só de pensar todo aquele sofrimento aflora em meu peito.

Sei que já se passaram muitos anos e que deveria esquecer como você me sugeriu diversas vezes, mas meu coração é teimoso demais e insiste em não esquecer. O trabalho é um bálsamo que ameniza meus dias. Mas pensar que aquela mulher vulgar ficou com meu marido, meu ex-marido e ainda deu a ele a filha que eu não consegui dar ao Edgar... Isabel foi apenas isso que me restou, lembranças dolorosas?

Sempre penso no filho que não tive, sei o quê você sente minha amiga, mas lembre-se que ao menos teve seu filho, por um pequeno momento, em seus braços, você teve esta pequena alegria de ver o rostinho de seu filho, nem disso fui merecedora, apenas o perdi antes de mesmo de senti-lo em meu ventre. Nunca saberei se era uma menina ou um lindo menino. Nunca saberei se puxaria aos olhos do pai ou os meus.

Sabe Isabel que, às vezes, tenho vontade de perguntar por ele a tia Celinha ou mesmo a Sandra, mas não tenho coragem. Fico com medo que me digam que o viram feliz passeando pela Rua do Ouvidor, ou Jardim Botânico, com ela e Melissa. A família que era para ser minha.

Provavelmente Edgar viva feliz com a família que Deus lhe deu e tenha esquecido de mim. Talvez eu seja para ele apenas uma lembrança, imposto por um casamento indesejado inicialmente. Um engano que passou pela sua vida.

Desculpe amiga por essa missiva triste, mas estou radiante com a sua possibilidade de volta, vou pensar com muito carinho no seu convite de morar como você, estou muito propensa a aceitar, mas preciso pensar um pouquinho mais. Sabe que não é uma decisão fácil para mim, mas se estiver ao meu lado, passarei por isso com mais força. Sinto tanto a sua falta e preciso tanto de sua companhia. Se voltar será uma grata alegria. Não vejo a hora de abraçá-la novamente.

Com todo meu carinho

Laura.

Reli a carta e já a pus no envelope endereçado a cidade Luz. Aproveitei que ainda estava no meio da tarde e fui até o correio local e enviei a carta a Isabel, queria que minha amiga recebesse logo notícias minhas. Mesmo não dando a resposta definitiva a Isabel, dentro de meu coração já a tinha. Voltarei ao Rio de Janeiro, a minha cidade, se tiver que enfrentar os fantasmas do passado eu os enfrentarei de cabeça erguida. Mesmo que isso me doa, mesmo que encontre com o passado, mesmo que me encontre com Edgar. Era a minha vida e agora quero encarar de frente o que vier, mesmo que seja o Edgar com aquela mulherzinha.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Por favor, não deixem de comentar, mesmo que seja para criticar. Obrigada pelo carinho