Encontro com Isabel (Capítulo 11)

Fui ao mais uma vez ao teatro Alheira, mas Mário ainda não tinha voltado de viagem. Também conversei um pouco com Diva Celeste, mas ela não acrescentou nada de novo ao que Guerra havia me dito alguns dias antes. Mas estava determinado em encontrar Isabel. Teve alguns dias que passava à tarde na Colonial, na esperança que a bailarina passasse por lá, mas não tive sucesso na minha busca. Porém, durante um passeio pela Rua do Ouvidor, vi Isabel caminhando à pé. Meu coração disparou de tanta alegria, corri até ela e chamei pelo seu nome.

- Isabel Nascimento. – Ela se virou e finalmente eu estava frente a frente com a melhor amiga de Laura.

- Edgar? - Isabel estava assustada com a abordagem.

- Finalmente, não tem ideia do quanto a procurei nos últimos dias. – Estava eufórico.

- Nossa, há quantos anos Edgar, não imaginava encontrá-lo tão cedo. Como vai?

- Bem, mas na realidade Isabel sabia que tinha voltado ao Brasil, e procurei muito por você?

- Por mim, por quê? – Isabel estava apreensiva.

- Faz muito tempo Isabel.

- Faz muito tempo, Edgar. – Ainda apreensiva.

- Preciso falar com você, não tem ideia do quanto preciso falar com você.

- Claro, podemos conversar, é só marcar um encontro e eu estarei lá.

- Não. Agora, por favor, preciso conversar com você agora!

- Desculpa, mas eu não posso. Tenho um compromisso agora e já estou em cima da hora. – Isabel tentava se desvencilhar da abordagem de Edgar.

- Eu preciso conversar agora com você, Isabel. Por favor.

- Edgar eu realmente tenho um compromisso...

- Agora mesmo, vamos a Colonial.

- Desculpa Edgar, mas não posso.

- Desculpa-me você Isabel, mas realmente preciso conversar com você agora. Edgar conduziu Isabel até a Colonial.

Os dois entraram na confeitaria, Isabel estava contrariada pela atitude do Edgar, mas o jovem advogado tinha um propósito e nada o faria sair dali sem que soubesse de alguma notícia de Laura.

- Edgar, eu estou feliz em reencontrá-lo, mas sua atitude foi grosseira, eu tenho compromisso agora mesmo. Se me dá licença. – Tenta se desvencilhar.

Assim que a dançarina fez menção de levantar, Edgar segurou a mão de Isabel e ela voltou a sentar.

- Desculpe Isabel, mas sei que estou sendo deselegante, mas preciso falar com você e tem que ser agora.

- Edgar isto é um absurdo...

- Eu só quero saber notícias da Laura.

Isabel recosta na cadeira.

- Isabel, você é a melhor amiga da Laura, eu sei que tem notícias dela, eu preciso saber notícias da Laura. – Edgar estava determinado e ansioso.

Isabel apenas observava o jovem.

- Por favor, Isabel, eu peço desculpa por trazê-la aqui, praticamente a força, mas preciso muito saber da Laura e você é a minha única esperança de ter, ao menos, uma notícia dela.

Isabel estava penalizada, mas sem saber o quê dizer. Tentou disfarçar.

- Ora Edgar, quem disse que eu tenho notícias da Laura?

- Isabel, por favor, não minta para mim, eu sei que tem notícias dela e eu preciso saber.

- Edgar, realmente... Eu não tenho notícias da Laura – Mentia.

- Desculpa Isabel, mas você está mentindo para mim. Eu sei que tem notícias. Por favor, pela sua amizade com a Laura me diga como ela estar.

- Edgar, eu não sei o quê lhe dizer... – Isabel tentava ganhar tempo.

- Se me dizer a verdade eu agradeço. – Edgar chateado.

- Edgar, você está me chamando de mentirosa?

- Desculpe mais uma vez Isabel, mas não acredito que não tenha notícias da Laura. Por favor, Isabel.

- Faz alguns anos que não tenho notícia dela. – Isabel mentia, mas acreditava ser por uma boa causa, afinal de contas, não podia falar nada sem autorização da amiga.

- Desculpa-me novamente, mas continuo sem acreditar em você.

- Edgar você está me constrangendo. – Isabel continua a tentar ganhar tempo.

Neste momento, para surpresa de Isabel e tristeza de Edgar, Heloísa entra na Colonial e vai ao encontro do advogado.

- Edgar, que bom encontrá-lo aqui.

- Heloísa, como vai. Está é Isabel Nascimento, amiga de Laura.

- Prazer em conhecê-la. Desculpe, mas você me parece familiar, Por acaso não estava em Paris até há alguns meses atrás, não seria La Brèsilienne, a dançarina brasileira que faz tanto sucesso na capital francesa? – Heloisa cumprimentou educadamente Isabel a reconhecendo.

- Prazer. Sim sou eu, mas me aposentei e resolvi voltar. Desculpe-me, mas estava de saída. Prazer em conhecê-la, mas preciso ir. Edgar, eu lamento, mas não posso ajudá-lo. Com licença. - Isabel conseguiu sair dali rapidamente e pegou um coche de aluguel.

Edgar teve que ficar ali, com Heloísa. Sem querer jovem viúva tinha estragado a chance de continuar conversando com Isabel.

- Não imaginava que conhecia La Brèsilienne, mas que bom vê-lo aqui Edgar, eu marquei um encontro com sua mãe aqui para tomarmos um chá, ela não tarda a chegar. Não quer nos fazer companhia.

Edgar estava sem reação, tinha Isabel finalmente na sua frente e a perdeu com a chegada de Heloísa. Dona Margarida chegou pouco depois e percebeu a decepção do filho.

- Edgar algum problema meu filho, você parece triste.

- Nada mamãe, eu estou bem, apenas problemas no trabalho, mas nada que não consiga resolver.

- Tem certeza? Não gosto de vê-lo assim.

- Não tem motivos para se preocupar, apenas é um pequeno problema. Mas tenho certeza absoluta que encontrarei uma solução em breve.

- Fico feliz encontrá-lo aqui, você e Heloísa marcaram aqui.

- Não senhora, Dona Margarida, eu encontrei Edgar por acaso aqui e pedi que nos acompanhasse em um chá. – Heloísa não comentou sobre a presença de Isabel.

- Fez muito bem minha querida. Há momentos que este rapaz trabalha tanto que tenho a impressão que esquece da própria mãe. – Dona Margarida estava feliz com a presença do filho ali, sem contar que era mais uma oportunidade para Edgar conhecer melhor a jovem viúva.

Dona Margarida gostava de ver o filho conversando com a jovem. Tinha esperança que eles, quem sabe no futuro, pudesse formar um belo casal, mesmo que não pudesse oficializar a união. Edgar como sempre era um perfeito cavalheiro e atendia às senhoras em todas as suas solicitações.

Mas, na realidade sua mente estava em Isabel, a moça tinha fugido dele, sem responder nada sobre o paradeiro de Laura. Mas por quê? Assim que Isabel o viu ela ficou apreensiva e apenas consegui fugir por causa da chegada de Heloísa. Não achou natural a atitude da dançarina. Por que ela agiu daquela forma e saiu praticamente fugida da Colonial. Havia alguma coisa, mas o quê era? Não acreditava que a melhor amiga de Laura não soubesse notícias da amiga.

Por mais que fosse atencioso com as duas senhoras, a única coisa que Edgar queria era sair dali e se encontrar com Guerra e falar do encontro com Isabel.

Mas antes, como bom cavalheiro acompanhou a mãe e Heloísa até em casa. Dona Margarida fez questão que o filho permanece mais um pouco na casa, Edgar fez um pouco de companhia para a mãe.

- Meu filho, o conheço muito bem e sei que, apesar de ter nos acompanhado no chá percebi que sua mente estava em outro lugar. O quê está, de fato, acontecendo Edgar?

- Mamãe não é nada eu já lhe disse, apenas trabalho demais. – Tentei desconversar.

- Não é trabalho Edgar, algo mais o perturba e não é de hoje? O quê é?

- Mãe, por favor.

- Edgar, eu sou sua mãe e não vai me acalmar tentando me esconder o quê o angustia? Sei que não é trabalho.

Edgar olhava a mãe, não tinha certeza que queria que ela soubesse do que lhe tanto atormentava, mas não gostava da ideia de esconder algo de sua mãe. A relação deles era baseada na confiança. Edgar sabia que não conseguiria mentir para mãe, mas também estava consciente que o desejo da mãe em que ficasse com Heloísa, mas isso não estava em questão. O que teve com sua ex-esposa foi apenas com ela. Apenas Laura tinha alcançado seu coração, e sabia que ninguém conseguiria o quê apenas Laura tinha conseguido.

A mãe esperava uma resposta mais clara do filho. Sabia que deste o aniversário do divórcio que o jovem advogado estava angustiado.

- Mãe, antes de Heloísa chegar à Colonial, estava lá com outra pessoa.

- Outra pessoa? Quem?

- Isabel, antiga amiga de Laura.

- A dançarina?

- Sim.

- Mas ela estava em Paris até pouco tempo.

- Sim, estava, mas voltou ao país e parece que agora é definitivo.

- Isso que o angustiava, mas por quê?

- Na realidade, encontrei Isabel por acaso, mas já a procura há alguns dias. Eu queria saber se tinha notícias da Laura.

- Como assim Edgar?

- Isabel é, ou era muito amiga de Laura. E eu tenho tentado de todas as formas saber alguma notícia sobre a Laura, mas não consegui nada até agora e é isso que me angustia.

- Laura ainda meu filho, faz tanto tempo que vocês se separaram. É melhor você superar isso Edgar, seguir em frente.

- Eu sei mãe, ninguém melhor do que eu sei disso. Mas gostaria de saber alguma notícia, apenas isso.

- Esta história já não lhe faz bem. Meu filho eu rezo tanto para você conseguir superar isso. Ninguém mais do que eu gostaria que vocês tivessem permanecidos juntos, mas a vida, as circunstâncias separaram vocês.

- Eu que o diga.

- Edgar, se dê uma segunda chance. Tente ver a Heloísa com outros olhos, quem sabe vocês dois não possam se conhecer melhor. Ela é uma ótima moça, já realizou o sonho do casamento, é uma moça fina, requintada e bastante discreta. Mesmo que você não possa oficializar uma união, seria uma boa ideia encontrar uma nova companheira, alguém que, talvez, você possa vim a amar um dia.

Edgar ficou admirado com a modernidade da própria mãe.

- Dona Margarida, nunca imaginei a senhora com um olhar tão moderno. Estou espantado. - Edgar conseguiu sorrir daquela situação inesperada.

- Apenas quero que pense nisso com carinho. Eu quero que o melhor para você e não me agrada vê-lo assim, solitário, triste e angustiado. Querido, adoraria que você voltasse a ser feliz novamente, você é tão bonito, um pai tão atencioso, um homem tão bom e merece ser feliz meu filho.

- Obrigado Mãe, não vou negar, mas precisava de um elogio mesmo, mas não é me amancebando com outra mulher que vou resolver meus problemas de solidão.

- Meu filho não fale dessa forma.

Edgar segurou as mãos da mãe e falou calmamente.

- Mãe, eu não vou negar para a senhora, apesar de não ter esperanças que um dia possa viver novamente com a Laura, ou mesmo saber alguma notícia dela. Eu ainda amo a Laura. Não seria justo com a Heloísa, ou com qualquer outra mulher, me relacionar amando outra pessoa.

- Será que é amor mesmo meu filho? Mesmo depois de todos estes anos.

- Eu já me fiz esta pergunta inúmeras vezes, mas eu sei que é. Eu já tive tanta raiva, já odiei a Laura tantas e tantas vezes, odiei o fato dela ter ido embora, por ter menosprezado meus sentimentos, por minha entrega, por amar tanto. Eu senti tantas coisas pela Laura estes anos todos. Mas no fundo o que eu sentia, e sinto, é um amor muito grande e que não passou. Eu nem sei se gostaria que ela estivesse aqui, mas gostaria de saber que está bem, feliz em algum lugar. Pelo menos um de nós dois estaria bem.

- Meu filho, escuta a sua mãe, por favor, lhe peço, escuta a sua mãe.

- Mãe, eu prometo que vou ficar bem. Não precisa se preocupar comigo, não quero que fique preocupada. Estou bem, apenas senti vontade de saber como a Laura está. Acho natural querer saber, afinal de contas, fomos casados. Não quero voltar e nem nada disso, mas gostaria de saber notícias, não é nada de mais. Saber se precisa de alguma coisa, se está bem... – O advogado estava cabisbaixo.

- Como não me preocupar Edgar.

Edgar abraçou a mãe por um bom tempo.

- Preciso ir agora. Mas não se preocupe mesmo, estou bem. – Edgar deu um beijo no rosto da mãe.

- Edgar...

- Até mais mãe.

Dona Margarida vê o filho indo embora, mas sabe que coração dele está pesado.

Edgar volta para sua casa, como sempre o silêncio tomava conta de todos os ambientes da casa, ele vai até o escritório, pega o porta-retrato em cima da mesa e olha a foto do dia do casamento, ele e Laura, de noivos... Tem que haver uma maneira de descobrir.