Laura E Edgar - Um Novo Olhar escrita por Bia


Capítulo 1
Seis Anos - Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

O primeiro capítulo é dedicado ao Edgar, como todos os acontecimentos do passado ainda estão presentes nele.



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Seis Anos (Capítulo 1)

Hoje faz seis anos, é o primeiro pensamento que vem a minha mente, ainda estou de olhos fechados. Deitado na nossa cama -“nossa?”- penso eu sozinho nela a seis anos. Abro os olhos e vejo que tudo está exatamente igual como nestes últimos anos, inclusive a ausência. Levanto sem vontade e vou ao quarto de banho, faço minha toalete, mas desta vez é mais difícil que nas outras.

Desço e o desjejum já está na mesa, Matilde como sempre eficiente, tomo meu café naquela mesa grande e vazia, me vem à mente o tempo em que tomava café junto a Laura, seu entusiasmo pela manhã, sempre sorridente, sempre falante e sempre encantadora. Adorava tomar café com ela, mas de que adianta pensar nisso agora, olho para a cadeira onde costumava se sentar e tem apenas o vazio.

Matilde aparece com uma jarra de cristal na mão com suco.

- Bom dia Seu Edgar, o café está a seu gosto?

- Bom dia, está tudo perfeito como sempre, disse.

Olhei para Matilde e perguntei pelo jornal, ela me respondeu que estava no escritório.

- Matilde sabe que dia é hoje?

- Sexta feira Dr. Edgar – respondeu a moça sem pensar.

- Isto eu sei Matilde, mas hoje não é um dia qualquer.

Matilde olhou para Edgar com o semblante cheio de dúvidas.

- É alguma data comemorativa?

- É uma data importante, mas nada comemorativa.

- Desculpe Dr. Edgar, mas esqueci de alguma coisa?

- Não Matilde, está tudo bem. Sorri timidamente para ela.

- Arrume o quarto da Melissa, hoje ela dorme aqui e não precisa se preocupar como o almoço, vou tentar tirar o Guerra da redação do jornal e almoçar como ele. Apenas faça um lanche para minha filha, mas no final da tarde. Preciso ir, tenha um bom dia Matilde.

- Um bom dia para o senhor também.

Senti um peso no coração ao ouvir o bom dia da Matilde, como poderia ter um bom dia logo hoje, queria apenas não ficar em casa, nem tinha vontade de trabalhar, mas precisava apenas para não pensar. Buscar minha Abelhinha já trazia algum conforto para minha alma, o coração ficava menos pesado. Ao menos isso, tinha Melissa, minha querida menina. A benção que Deus me deu em um momento tão difícil. Por ela eu vivia deste o divórcio, aliás, se não fosse minha filha e meu trabalho não estaria de pé, não saberia como seguiria em frente.

Ao chegar à porta da casa de Catarina, respiro fundo, pois teria que lidar com ela novamente, mas valia a pena por minha filha. Bato e quem abre é a empregada, Melissa vem ao meu encontro, já uniformizada e me dá um abraço apertado, como precisava daquele abraço, confesso apertei até demais minha pequena Abelhinha, eu fiquei até com medo de machucá-la, mas ela não reclamou.

- Bom dia papai, como é bom ver o senhor, estava com saudades.- Seu sorriso era radiante.

Catarina desce a escada com sua malícia rotineira.

- Nossa assim fico com ciúmes. Bom dia Edgar, Como estar?

- Bem Catarina. Não queria dá satisfação a Catarina. – Por favor, faça uma pequena mala com quarto ou cinco mudas de roupas para Melissa, quero que este final de semana ela fique comigo. Espero que não tenha nenhuma objeção. Disse impacientemente.

- Claro que não. Tenho certeza que Melissa vai adorar ficar mais tempo com o pai. O ar de satisfação era quase explícito na sua declaração.

Preferi ignorar o que Catarina disse e aproveitar minha filha, a levei para a escola. Ela adora a escola, apenas lamento que a asma não deixe que brinque com as outras meninas como gostaria. Sinto minha filha isolada das brincadeiras de corrida, pique-pega, mas tendo compensar lendo livros e mais livros para ela, fazendo as vozes, quase um teatrinho e vejo sua alegria com isso. Será que os outros pais fazem isso também, o que importa é o bem estar da minha menina e nada mudará isso. A quero sempre ao meu lado. Quero dá a ela todo o amor que merece.

Depois que deixei Melissa na escola fui direto a redação do Correio da República, Guerra, como sempre, na frente de sua máquina de escrever.

- Qual é a grande manchete que o grande jornalista está escrevendo. - Disse debochando do meu velho amigo.

- Edgar, hoje é dia de trabalho, não deveria está no fórum agora?

- Mais tarde, vim te convidar para almoçar comigo? Sei que não sou a dona Celinha, mas...

- Não seja bobo Edgar, disse aos risos.- Mas estou ocupado.

- A notícia é tão importante assim?

- Na realidade, não. É sobre um roubo em uma granja aqui perto.

- Você está brincando. Isto é motivo para não almoçar comigo.

- Tem razão, não é motivo. - Falou desanimado – Mas Edgar, apesar de seu aparente bom humor, tem algo mais, você não veio aqui à toa, não é mesmo.

Edgar desabou na cadeira em frente a mesa de Guerra, estava sem ânimo.

- Guerra, eu não vou mentir para você, mas hoje faz seis anos que assinei meu divórcio com a Laura. Mal tinha acordado e foi o primeiro pensamento que veio a minha mente.

- Edgar, meu amigo, isto não te faz bem. Já passou da hora de esquecer a Laura.

O advogado se levanta de subido.

- Esquecer eu já esqueci Guerra, o que eu sinto muita raiva.

- Raiva!? Sei. - Guerra incrédulo.

- Claro que é raiva. Laura não me deu nenhuma chance.

- Edgar, não vamos ter esta conversa pela milionésima vez.

- Mas eu preciso conversar hoje com você, não vai me deixar na mão.

- Claro que não meu amigo, vamos falar o que sempre falamos, seu assunto favorito: A senhora Laura Assunção Vieira.

- Não debocha, por favor.

- Não é deboche é apenas uma constatação.

Os dois saíram em direção a velha e boa Confeitaria Colonial, antes Edgar passou, com Guerra, na livraria Garnier (local onde havia encomendado a grande remessa de livros que Laura havia perdido para o casamento, era uma época boa, foi ali que conquistou a amizade definitiva e provavelmente o amor da esposa.), tinha feito uma encomenda de livros de Direito e comprou alguns para ler para Melissa, a menina iria adorar ouvi novas historinhas. Deixou tudo pago e pediu para entregar na sua casa.

- Sabe que não consigo vir a Garnier e não pensar na Laura.

- Edgar, você vive em uma cidade em que não é possível você não pensar na Laura, vocês viveram aqui enquanto foram casados. Ela, ao menos foi embora, enquanto você ficou.

Entraram na Colonial. O Maître os levou a uma mesa na parte superior do estabelecimento.

- Quer dizer que a Laura pode ter me esquecido, ou tudo que vivemos juntos? Disse desnorteado.

- Não sei Edgar, não a vejo a seis anos. O quê eu disse é que ela saiu da cidade, não tem que olhar para cada lugar desses e lembrar. Não acredito que tenha esquecido o casamento de vocês, vi o quanto ela sofreu e por mais que os anos passem, não acredito que tenha esquecido. Quando você viajou para conhecer a Melissa, a Laura ficou aqui as volta com uma gestação difícil e descoberta depois do seu embarque. A falta de notícias...

- Mas eu mandei duas cartas, disse o quanto estava feliz pela gravidez, que não via a hora de voltar, que queria está ao lado dela...

- Mas as cartas não chegaram... e você sabe disso... ninguém sabe o quê aconteceu até hoje com as cartas, evaporaram no meio do caminho. Enquanto isso a Laura aqui sozinha, cheia de incertezas, com medo de ter perdido você, com a gravidez complicada, em seguida a perda do bebê. Apesar de está na casa dos pais, vivia sobre pressão, principalmente da D. Constância. Edgar, a angústia dela começou muito antes da sua.

- Eu nunca quis que ela passasse por nada disso.

- Mas ela passou mesmo assim. Trazer a Catarina foi apenas a gota d’água.

- Mas eu não podia deixar a Melissa em Portugal, o médico disse que os ares do Rio de Janeiro fariam bem aos pulmões de minha filha. Também não queria ficar longe dela. É minha filha Guerra.

- Não estou falando da Melissa, sabe disso, refiro-me a Catarina e sei que ela não facilitou sua vida e provocava Laura o tempo todo.

- Como trazer a Melissa sem trazer a Catarina, é mãe da menina. Eu iria dá um jeito de resolver tudo. Conseguiria administrar tudo, colocar a Catarina no lugar dela.

- Mas não conseguiu, e o divórcio é a concretização disso. Catarina chega com uma criança e Laura havia perdido o bebê vocês.

Edgar olha para o amigo, desnorteado com tudo ainda.

- Meu amigo, eu sei o quanto sofre ainda, basta olhar para você. Tenta seguir em frente, tenta encontrar uma outra pessoa, quem sabe um novo amor.

- Um novo amor? Guerra sabe que não posso me casar com outra mulher, não tenho como oferecer um casamento à outra mulher. Nunca mais poderei me casar novamente... Estou condenado a solidão.

- Sem contar no amor que ainda sempre pela Laura.

- Amor pela Laura? Mas é claro que não! Eu já lhe disse eu sinto é raiva, muita raiva por ela ter me deixado. Ódio por não ter me compreendido, mágoa por ela não se importar com meus sentimentos. Eu me entreguei a ela como nunca imaginei que pudesse me entregar, eu abaixei toda a minha guarda e acabei abandonado e sozinho naquela casa imensa. Somente me restou lembranças de uma vida que perdi para sempre.

Guerra olha o amigo, fica sem palavras...

Edgar mal toca na comida e fica ali pensando em toda aquela conversa. Guerra respeita o silêncio do amigo e fica ali fazendo companhia. Mas Edgar estava inquieto e pergunta a Guerra, sem esperar uma resposta...

- Como será que ela está Guerra?


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, seria interessante se colocasse a opinião de vocês.



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