"Inimigos são poderosos e estão em todos os lugares aonde existem mais de três homens vivendo. Eles estão no ar, eles estão no espírito."

- John Lennon

***

Quando a aula acabou, quase todos os alunos saíram rapidamente da sala de História da Magia, deixando o professor Binns, que, por sinal, ainda era um bruxo vivo e não um fantasma, falando consigo mesmo. Hermione parou ao lado da porta da sala, esperando Harry e Ron, que no momento conversavam com Charlus Potter e Septimus Weasley, o avô de Ron, provavelmente sobre Quadribol.

- Hey, Hemione – a garota viu Minerva acenando enquanto ia em sua direção – Vai ir no encontro do Slughorn hoje?

- Vou, e você?

- Não, quero terminar essa redação sobre a Revolta dos Goblins ainda hoje – ela ergueu o livro de História da Magia e deu de ombros – Prefiro fazer o mais rápido possível.

- Entendo...

- Mas, não se preocupe – McGonagall sorriu – As reuniões do Slughorn são legais... Ele sempre serve chá e alguns biscoitos.

Hermione riu, olhando outra ver para os amigos que continuavam conversando com os outros dois grifinórios. Suspirando, ela olhou para o relógio que o professor mantinha no canto da sala, antes de virar-se para Minerva.

- Você tem mais aulas hoje?

- Não... E acho que nem agüentaria mais, não depois de dois períodos de História da Magia seguidos.

- Então... Que tal voltarmos para a Torre? Parece que eles – a menina apontou para os rapazes – Não virão tão cedo.

- Tem razão – Minerva riu – Charlus não vai deixá-los em paz tão cedo. Eu lhe digo, Hermione, coitada da mulher que casar com ele, terá que agüentar a tagarelice dele pelo resto da vida.

- Você quer dizer coitada da Dorea.

- Muito provavelmente – as duas garotas riram enquanto saíam da sala.

***

Tom Riddle olhou para o relógio logo pendurado na parede da sala de Slughorn e suspirou ao perceber que nem quinze minutos haviam se passado desde que chegara àquela reunião ridícula que seu professor insistira em realizar. O garoto deixou os seus pensamentos vagarem para longe da conversa entediante que se desenrolava entre os outros alunos e o Mestre das Poções, ocupando-se em pensar em tudo o que deveria fazer durante aquela semana, fazendo uma pequena lista de “o que fazer” em sua mente.

- Ah, Srta. Granger, entre! – o sonserino foi arrancado de seus pensamentos ao ouvir a voz do professor, que agora acenava para a garota grifinória que havia acabado de entrar na sala – Sente-se, senhorita... Há um lugar vago ao lado do Sr. Riddle.

O rapaz olhou para a menina que agora se ajeitava na cadeira ao seu lado. Ela parecia estar nervosa por estar no meio de todos aqueles garotos que não lhe eram conhecidos... Bom, ele não podia culpá-la por estar se sentindo daquela maneira.

- A Srta. Granger, como vocês já sabem, foi educada em casa pelos pais de seus amigos, os Senhores Pevensie e Purkiss – Slughorn falou – O que me chamou a atenção foi a sua perícia no preparo de poções... Principalmente por ser uma nascida trouxa.

- Senhor – todos viraram o rosto para olhar para Riddle, que agora sorria sutilmente – Não sei quanto ao senhor, mas, no meu ponto de vista, o sangue não muda absolutamente nada quando estamos falando sobre a nossa habilidade em magia. A Srta. Granger pode ser uma grande bruxa, não importa se ela é nascida trouxa, mestiça ou puro-sangue...

O rapaz olhou para a garota, que o encarava com um olhar irritado.

- Você tem toda a razão, Tom. Todos em Hogwarts tem o potencial de serem ótimos bruxos – o professor tomou um gole de seu chá, antes de continuar – A diferença está no quanto eles se esforçam para serem ótimos.

- Isso foi exatamente o que a Srta. Granger me disse há alguns dias, senhor – Riddle riu baixinho, ignorando a maneira como a grifinória ao seu lado respirou fundo, como se estivesse se contendo para não falar algo.

Os outros rapazes, todos sonserinos, sorriram de maneira irônica, lançando olhares rápidos na direção de Tom. O Monitor Chefe olhou rapidamente para Hermione, que agora olhava para os outros com uma expressão séria no rosto.

- Senhorita, fiquei sabendo sobre a morte de seus pais e devo dizer que sinto muito por isso ter acontecido – disse Slughorn, não percebendo a atmosfera tensa que começava a se formar entre todos ali presentes – Mas, será que você poderia nos dizer com o que eles trabalhavam no mundo trouxa?

- Eles são... Eram... Dentistas – a bruxa falou e dessa vez Tom teve que se conter para não rir da expressão quase cômica que tomou conta dos rostos de seus colegas e de Slurghorn. É claro que eles não entenderiam o trabalho de um dentista, afinal, era preciso apenas alguns feitiços simples para dar conta de dentes tortos ou cariados no mundo bruxo – Eles cuidavam dos dentes das pessoas.

- Ah! Interessante, muito interessante – o professor sorriu.

- Eles trabalham com... os dentes dos outros? – um rapaz de cabelos escuros e olhos cinzentos perguntou, fazendo uma cara de nojo – Quer dizer, eles arrumavam os dentes dos outros? Sem feitiços? Como?

- Sim – Granger deu um sorriso sem graça – Eles colocavam aparelhos na boca das pessoas, sabe... Aparelhos de metal que colocam os dentes no lugar certo, desentortam e essas coisas.

- Bom, Sr. Black – o garoto que havia feito a pergunta virou-se para o Mestre das Poções – Como está o seu pai? Muito trabalho no Ministério?

- Ele está bem, senhor, investigando as supostas aparições de Grindelwald na Ingalterra.

- E seu primo, Cygnus, por que ele não se juntou a nós hoje?

- Ele teve que terminar um projeto de Transfiguração, senhor.

- Ah, Dumbledore quer matar nossos alunos com tarefas logo nas primeiras semanas do ano letivo! – Slughorn riu e alguns alunos se dignaram a lhe dar um sorriso falso.

Enquanto o professor continuou a falar sobre como Albus Dumbledore parecia louco para enterrar os alunos debaixo de livros, Tom olhou para a xícara vazia na sua frente. Pelo menos para uma boa xícara de chá aquelas reuniões serviam. O rapaz esticou o braço para alcançar o bule logo a sua frente, colocando mais um pouco do líquido na sua xícara, antes de olhar para o lado e ver Granger olhando fixamente para as suas mãos, que, por sinal, estavam ocupadas em torcer o tecido de seu suéter.

- Srta. Granger? – a bruxa ergueu o rosto e olhou para ele com uma expressão quase assustada – Chá?

- Ahm... – a menina olhou para a xícara vazia à sua frente – Sim, obrigada.

O sonserino serviu o chá para a outra e, colocando o bule de lado, encarou-a seriamente por um tempo depois de ouvi-la rir baixinho de alguma coisa.

- O que é tão engraçado, Srta. Granger? – Tom sussurrou.

- Nada, Riddle – ela parou de rir, mas um sorriso brincalhão ainda estava em seus lábios enquanto ela olhava para a xícara de chá.

- O que foi?

- Não vai me servir leite?

- Por Merlin – o rapaz revirou os olhos, voltando a se ajeitar em sua cadeira e tomando um gole do seu chá – O leite está ao seu lado, sirva-se.

- Você bebe chá assim? Puro? – a grifinória murmurou, encarando-o.

- Sim, algum problema?

- Nenhum.

- Ótimo.

Os dois ficaram quietos, ambos parecendo irritados só por ter que estar naquele lugar.

O resto da reunião foi entediante... Bom, pelo menos para Tom. O rapaz odiava admitir que ficava perdido no meio de toda aquela conversa sobre parentes puro-sangues que trabalhavam em altos cargos do Ministério ou sobre as tradições de algumas famílias, como os Black e os Malfoy. Vez por outra, Slughorn se dirigia a Hermione, perguntando coisas simples sobre a vida dela entre os trouxas, mas a garota não se estendia muito no assunto, sabendo que a maioria dos sonserinos presentes não davam a mínima para como a sua vida era.

- Ora, ora, já está tarde! – o professor falou, finalmente olhando para o relógio de bolso dourado que carregava para lá e para cá – Vocês deveriam voltar para as suas casas. Boa noite... Eu avisarei quando houver outro encontro.

Lentamente, Tom esticou os braços e respirou fundo, antes de se levantar, vendo Granger levantar-se rapidamente. O rapaz riu ao ver que os esforços da garota para sair dali o mais rápido possível foram frustrados pelo professor, que a chamou quando ela já estava quase saindo da sala.

- Você parecia um pouco perdida, Srta. Granger – Riddle ouviu o bruxo mais velho falar enquanto terminava de tomar o seu chá e deixava a xícara sobre a mesa, vendo que todos os outros alunos já haviam saído.

- Bom, eu sou a única garota aqui... E a única grifinória – Hermione respondeu, rindo nervosamente.

“E a única sangue-ruim,” Tom pensou, enquanto se dirigia para a porta, rindo ao pensar em como Slughorn não iria parar de falar durante um bom tempo. Bom, Granger que agüentasse ele.

- Isso é verdade – o professor de Poções riu –Mas esses rapazes são muito amigáveis... O Sr. Riddle, por exemplo,... Ah! Tom, você pode vir aqui por um minuto?

O sonserino não pôde deixar de revirar os olhos e amaldiçoar-se baixinho por não ter sido tão rápido na hora de sair da sala, antes de ir até o professor, sorrindo falsamente.

- Tom, não é verdade que a Srta. Granger não deveria ficar tão tímida perto de nós? Quero dizer, somos sonserinos, mas não somos as piores coisas do mundo.

- É claro, senhor – o jovem concordou com a cabeça – Tenho certeza de que a Srta. Granger achará essas reuniões muito... interessantes com o passar do tempo.

- É verdade, Tom – o rapaz respirou fundo quando o professor levou uma mão ao seu ombro e outra ao ombro da garota, guiando-se até a porta. Ele odiava quando alguém o tocava, era quase agonizante – Da próxima vez, senhorita, você não precisa ficar tão preocupada... Agora, acho melhor vocês voltarem aos seus dormitórios, afinal, já está tarde. Boa noite.

- Boa noite, professor – a menina murmurou.

- Boa noite, senhor.

O corredor do lado de fora da sala de Slughorn estava vazio e escuro, como sempre ficava naquela hora da noite. O rapaz viu a menina suspirando enquanto começava a andar.

- Você não deveria ficar muito animada com isso o que Slughorn está tentando fazer... Sabe, tentando enturmá-la – Riddle murmurou ao alcançá-la.

- Eu sei, mas não é como se eu estivesse muito animada em me enturmar com vocês – ela sorriu sarcasticamente.

- E não é como se nós a quiséssemos por perto.

- Ai! Dessa maneira, Sr. Riddle, você machuca os meus sentimentos! – a garota riu alto, levando uma mão até o peito – Será que não poderia ser um pouquinho mais gentil?

Tom ergueu uma sobrancelha e a encarou por um tempo. Aquela sangue-ruim realmente não sabia com quem estava brincando... A maioria das pessoas, ao ouvi-lo falar naquele tom, ficaria quieta e o deixaria em paz, mas Granger parecia se animar cada vez que ele tentava repeli-la.

- Desculpe-me, mas acredito que minha gentileza não deve ser desperdiçada  com sangues-ruins.

A grifinória parou de andar abruptamente ao ouvir o que ele dissera e respirou fundo, antes de falar novamente, com a voz muito calma.

- Riddle, Riddle... É realmente uma tristeza o fato de que nós, pobres sangues-ruins, não somos abençoados com a seua gentileza, ó grande Tom Riddle!

Assim que disse isso, Hermione voltou a andar, deixando o sonserino para trás. Tom pressionou os lábios um contra o outro e estreitou os olhos.

- Você irá aprender a não brincar com aqueles que são mais poderosos do que você, Granger – ele falou, tentando controlar a sua voz – Esteja avisada, sangue-ruim.

***

Assim que chegou na Torre da Grifinória, Hermione Granger não sabia o que queria fazer mais: dormir, ir atrás de Harry e Ron ou amaldiçoar Riddle e todos os seus antepassados até se cansar.

- Hey, Mione.

A garota virou-se para ver Harry e Ron sentados em um canto do salão comunal, jogando xadrez bruxo. A cena fez com que a garota sentisse uma estranha nostalgia... Parecia que ela estava, mais uma vez, no seu tempo, vendo seus amigos jogando xadrez bruxo da mesma maneira descontraída em que jogavam quando estavam no primeiro ano.

- Oi.

- Como foi o Clube do Slug? – perguntou Ron, erguendo os olhos do jogo.

- Foi legal – a bruxa viu os amigos a encarando de uma maneira engraçada – Tudo bem, foi terrível – ela riu – Tão sem graça quanto já era ano passado, mas agora com o agravante de que Riddle está lá para me perturbar.

- O que foi que ele fez? – dessa vez fora Harry quem perguntara.

- Nada, Harry... Quero dizer, ficou sendo o babaca que é, mas isso é da natureza dele, acredito – ela deu de ombros – É engraçado pensar que o futuro Lord das Trevas me serviu chá hoje.

- É esquisito.

- Nem me diga – Hermione riu – Ele é esquisito.

- Não diga – o rapaz de óculos riu.

- E um mentiroso...E hipócrita – a menina revirou os olhos – Não parou de dar razão ao Slughorn enquanto ele falava sobre como o sangue não influenciava na nossa magia, mas, assim que o professor deu as costas, não hesitou em me chamar de sangue-ruim.

- Ele o que?

- Ron, eu já estou acostumada com isso, certo? Não precisa ir atrás dele para tentar azarar ele só porque ele me chamou de sangue-ruim.

- Bom, se isso serve de consolo – disse Harry, olhando para o tabuleiro de xadrez um longo momento – Riddle também pode muito bem ser considerado um “sangue-ruim”... Vocês sabem... Mãe bruxa e pai trouxa. Uma bela mistura de sangue bruxo e trouxa.

***

Desenho do cap...

Slug sendo inconveniente {desenho antigo e tenso}