Vingue-se Ou Morra. escrita por Holden


Capítulo 19
O sumiço da tábua.


Notas iniciais do capítulo

Heei pessoal o/ Então... Irei postar um dia sim e um dia não, porém com os capítulos maiores. A maioria disse que preferia assim :3
Outra coisa... Cheguei aos +200 reviews *u* Valeu cara, vcs são demais. Boa leitura!



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— Peter! — quase gritei de tamanha emoção, enroscando meus braços em seu pescoço o puxando para um abraço caloroso. O garoto ria de maneira deliciosa, jogando a mala no chão, retribuindo meu gesto com carinho.

Era ele.

Era o meu Peter de volta.

Seis anos atrás…

— Pit! — costumava chamá-lo assim na maioria do tempo, sabia que o irritava um pouco, mas era um bom apelido. — Olha o que eu achei! — acenei entre as árvores do sítio dos avós dele, enquanto o mesmo tentava me encontrar. — Aqui!

Senti o barulho de seus passos se aproximarem de encontro à grama recém molhada da chuva.

— Para de fazer barulho Lisa! — murmurou se agachando até onde eu estava. — O que foi?

— Você acha que ele está muito machucado? — ignorei sua ordem anterior, apontando para um passarinho marrom jogado no chão. Ele tentava se levantar, mas caía a cada tentativa.

— Provavelmente. — afirmou, chegando mais próximo do pobre animalzinho e agarrando-o. — Daqui a pouco Simas vem pegar ele.

— Não! — choraminguei sentindo meus olhos se encharcarem. Simas era o gato idiota dele. — Me dá aqui! — tirei o pobre animalzinho de suas mãos, levantando-me logo em seguida.

— Que tal cuidarmos dele?— propôs, levantando-se também.

Assenti tomando cuidado para não apertar o pássaro demais, enquanto caminhávamos para dentro do casarão antigo da fazenda. Era enorme, e meus pais confiavam nos pais de Peter para deixar eu dormir aqui quantos dias quisesse.

— Pit… — chacoalhei o garoto alguns dias depois de termos encontrado o passarinho. Ele dormia feito uma pedra. — Pit! Acorda!

— Ahn? Ah, Lisa. — coçou os olhos lentamente. — O que você quer?

— Vem comigo. — sorri, levantando-me e puxando seu braço com força.

— O que foi? — perguntou visivelmente irritado.

— Anda logo! — subimos correndo a grande escadaria do casarão em direção ao sótão. — Depressa, Peter!

— Estou logo atrás.

Abri a porta com uma euforia fora do normal do enorme cômodo abandonado repleto de móveis velhos e empoeirado, indo na direção da janela que ficava ao fundo.

— Você me acordou em um sábado de manhã pra me trazer no sótão?

— Não. — rolei os olhos. — Olhe aquilo! — apontei para o mesmo passarinho marrom que estava de pé no parapeito da janela.

— Ele vai cair, sua louca! — esbravejou, correndo até ele.

— Espera um pouco! — puxei a manga de seu pijama. — Fica olhando!

Breves segundos se passaram, e o pequeno bichinho saltou de uma altura de dois andares. O garoto ficou desesperado, finalmente se soltando de mim, enquanto corria para ver o quão dolorosa tinha sido aquela queda.

Mas então, o pássaro ficou na altura de nossas vistas, enquanto cortava um brilhante vôo no horizonte, perdendo-se do nosso ponto de visão enquanto se aproximava da floresta… O seu verdadeiro lugar.

— Você viu? — me aproximei de sua figura estática, rindo com gosto.

— E-ele voou… Ele voou mesmo!— alegrou-se, agora se virando em minha direção.

— Sim! — nesse momento, nos abraçamos enquanto pulávamos de forma eufórica. — Conseguimos! Conseguimos! — dizíamos juntos em meio às boas risadas.

**

— Ei! — cutuquei-o com o pé alguns dias depois do ocorrido. O garoto pálido se encontrava deitado no gramado, observando as estrelas que hoje pareciam estar mais brilhantes. — Ta fazendo o que?

— Olhando as estrelas, dã. — ajeitou seu corpo, agora se sentando relaxadamente. Eu o acompanhei. — Será que elas são bonitas assim em Roma?

— Creio que não. — suspirei chateada. — Acho que elas não são bonitas assim em nenhum lugar fora a fazenda. — estiquei uma colher ao seu alcance, e o mesmo balançou a cabeça agradecendo, afundando-a no pote de sorvete com M&M’s.

— Talvez eu concorde. — disse por vencido, engolindo aquela massa calórica com vontade. — Você sempre exagera na calda.

— Ei! É sua última vez comendo comigo. — provoquei-o. — Então é necessário adoçar um pouco mais.

— Sempre com uma desculpa esfarrapada, não é senhorita Borns Wel? — o encarei séria, contudo não demorou muito, e caímos na gargalhada.

— você não vai conseguir sobreviver sem mim. — bati meu ombro no seu fazendo pirraça. — Se achar outra Elisa por lá, eu te mato!

— Se você achar outro Peter aqui, eu te mato! — retrucou, mas ainda com seu bom humor rotineiro. Ficamos conversando por bons minutos coisas bobas e sem sentido e depois de um tempo conseguimos acabar com o sorvete. Aproveitamos a noite estrelada, admirando-a.

— Você vai voltar? — murmurei do nada, quebrando o silêncio que nos envolvia. Enterrando minha face na dobra do seu pescoço e sentindo pela última vez seu cheiro adocicado.

— Ei, eu já disse que sim! — respondeu de prontidão, um pouco nervoso.

— Eu espero que sim. — sorri, agora fitando seus olhos cor de mel. — Porque estarei aqui te esperando.

**

O abraço demorou mais que o esperado. Peter havia mudado muito, mas eu reconheceria aqueles olhos em qualquer lugar. Seus cabelos castanhos lisos agora estavam ralos, e sua barba por fazer me machucava um pouco. Seu corpo havia melhorado em muitos quesitos, estava mais atlético, e suas roupas um pouco mais desleixadas. Ainda sim, continuava sendo o meu Peter.

— Ah garota! Deixa eu olhar pra você! — ri com suas palavras, desvencilhando-me de seu abraço. — O que fizeram contigo? Cadê aquela garotinha de dez anos birrenta? — questionou, ainda gargalhando.

— Idiota! Eu cresci! — bati em seu peito com um pouco de força. — O que aconteceu? Como foi em Roma? Você vai ficar por aqui? Como estão seus pais?

— Muitas perguntas para quem acabou de chegar. — alertou ainda sorridente. — Mas sobre ficar aqui… Preciso de um lugar por uns dias… Até minha situação com meus pais melhorar.

— Quanto tempo precisar! — afirmei, abrindo um pouco mais a porta. — Só que… Você vai ter que ficar no quarto do Nick.

— Será uma honra… Você ainda o trata como um matemático louco?

— Longa história! — revirei os olhos. — Vamos! Entre!

O garoto pegou a mala preta do chão, jogando-a em suas costas entrando em minha casa com aquela expressão de que estava em um lugar familiar. E bem… Estava. Passávamos dias um na casa do outro sem mal notar o tempo passar.

— Elisa. — uma voz desconhecida soou atrás de mim, e foi só aí que eu percebi que Carter ainda estava ali. — Não vai me apresentar às visitas?

— Ah… Er… Claro! — gaguejei um pouco confusa. — Pit… Quer dizer, Peter! — segurei em seus ombros, apontando na direção do loiro. — Aquele ali é o Carter, o meu… hã…

— Namorado. — o maldito Singleton completou por mim, aproximando-se de nós.

— Ah. — Peter arregalou os olhos na minha direção, como se não estivesse acreditando. — Tem certeza?

— A-absoluta. — larga de ser idiota Elisa! — E Carter… Esse é o Peter Jones… Meu melhor amigo!

— É um prazer, Jones. — meu carma esticou o braço para o outro, e ambos se cumprimentaram. — Por que nunca me falou dele, Elisa?

— Por que… Hã… Coisa minha. — tentei desviar o assunto. — E…

— Peter! — uma voz animada e infantil ecoou atrás de nós. Era Nick. E viva, ele havia me salvado.

— Fala garoto! — o menor correu até o mais velho, abraçando-o com empolgação. — Como você está?

— Fiz uma prova pra advocacia ontem. — deu de ombros, ajeitando os óculos que escorregavam em seu nariz. — Fiquei em segundo… Bem, não se pode ganhar todas.

Se algum dia eu ficasse em segundo lugar em alguma coisa, faria um stripper em uma casa noturna em Las Vegas. E isso vale até pra atendente de Mcdonalds.

— Isso foi incrível! — o moreno incentivou-o. — Ei Elisa, posso comer alguma coisa?

Sorri, acenando com a cabeça calmamente.

— Tem sorvete de flocos com M&M’s. — murmurei timidamente. — É o nosso preferido, lembra?

— Há! Essa é minha garota! — piscou em minha direção, entrelaçando seus braços no meu ombro. — Não exagere na calda, por favor!

— Certo capitão Jones! — tirei seu braço de meu ombro, caminhando na direção da cozinha com animação. Seria a primeira vez depois da viajem que comeríamos juntos novamente. — Porque você não guarda suas coisas no quarto do Nick e troca de roupa? Até lá nosso sundae a moda Elisa, já estará pronto!

— Você que manda! — sorriu, fazendo com que eu matasse a saudade de suas risadas.

**

— Ele vai ficar por muito tempo? — um Carter insatisfeito questionou pela quinta vez, com os braços cruzados se apoiando na bancada da cozinha. Eu começava a pegar os ingredientes, enquanto Peter tomava um banho no andar de cima. Nick fora arrumar a cama ao lado da sua para nosso novo “convidado.”

— O tempo que ele achar suficiente! — vociferei, pegando caldas de sabores variados na prateleira de cima. — Por quê?

— Eu não confio nesse cara. — esbravejou com a cara amarrada. — Você não deveria dar tanta intimidade pra ele.

— Ei! Ei! — virei em sua direção, com as duas mãos na cintura. Alguém tinha que impor ordens na casa… E esse alguém certamente era o Nick, mas ele não estava presente. — Eu o conheço desde criança, confio nele de olhos fechados!

— Não deveria. — murmurou, aproximando-se de forma lenta.

— Olha Carter! — recuei um pouco, ainda com certo autoritarismo na voz. — Jones é um irmão de outra mãe, não aceito que fale mal dele desse jeito!

O maldito rolou os olhos, suspirando entediado.

— Certo, certo. — sua voz rouca quebrou o silêncio de segundos atrás. — Só… Tome cuidado. — mexeu nos fios que agora pareciam mais compridos com insistência. Já era hora de cortá-los.

— Obrigada, mas não precisarei. — respondi um pouco mais amena, evitando encará-lo. — Você… Vai querer sorvete?

Ele deu risada. Não uma risada qualquer. Uma risada provocativa. Aquelas que eu odeio, mas que me deixam louca. Eu sei. Estranho.

O bronzeado foi se aproximando de forma segura e eu não tinha mais para onde correr. Senti a bancada impedindo minha ultrapassagem e as mãos pesadas do Singleton se apoiando em minha cintura de forma ousada.

— Se você me der na boca… — sussurrou ao pé do meu ouvido, fazendo com que eu fechasse os olhos e sentisse sua respiração ao lóbulo de minha orelha esquerda. — É bem capaz de eu aceitar. — um sorriso safado preencheu seus lábios me deixando completamente a sua deriva e vergonhosamente arrepiada.

— Seu maldito… — retruquei no mesmo tom de voz, ainda com os olhos fechados.

— Elisa, parece que o… — outra voz se infiltrou no ambiente. — Ah, desculpe, eu…

— Peter! — empurrei o peitoral do garoto para longe. — Vo-você já acabou o banho?

— Parece que sim. — sorriu de maneira envergonhada. — Atrapalhei alguma coisa?

— Na verdade…

— Claro que não! — interrompi Carter quase que momentaneamente. — O sundae já está quase pronto. — olhei para a mesa e nada estava pronto. — Quer dizer… Já vai ficar.

— Ãhn… Tudo bem. — encolheu-se sem-graça. — Posso assistir TV?

— À vontade! Ela é toda sua.

— Obrigado.

O moreno caminhou rapidamente para o outro cômodo, enquanto um Singleton nada satisfeito me fuzilava com os olhos. Fingi que nada havia acontecido, e finalmente comecei a preparar o bendito sundae.

— Acho que já perdi a vontade de ficar aqui. — anunciou, vestindo sua jaqueta que estava jogada em uma das cadeiras.

— Ah… Ta bem então. — dei de ombros. Aliás, ele nem deveria estar aqui mesmo.

Argh! Pensamentos inúteis!

— Não vai me levar até a saída? — contestou, com os braços cruzados como se eu tivesse a obrigação de fazer aquilo.

— Carter! Você já conhece a saída! — rolei os olhos, impaciente. — Tudo bem, vamos.

— Foi o que eu pensei. — zombou, atravessando a sala onde Peter estava com os pés esparramados no sofá.

Assim que paramos na área, abri o portão para que o maldito pudesse passar, contudo ele havia empacado ali mesmo.

— Você não ia embora? — bufei.

— Acalme-se garota. — sorriu como se achasse graça da situação. — Te vejo amanhã. — piscou, finalmente destravando seu carro e entrando no mesmo. Os pneus derraparam no chão, enquanto eu via seu porsche sumir no horizonte com rapidez.

Voltei à cozinha, inspirando novamente a calma que me fora roubada minutos atrás.

**

— Uau! Isso está maravilhoso, Liza! — Peter me elogiou pela enésima vez.

— Prática, meu bem. — o encarei com ar de superioridade e caímos na gargalhada momentos depois. — E você está diferente! Precisa raspar essa barba.

— Não vai rolar, as gatinhas adoram ela. — piscou mexendo em seu queixo demonstrando todo seu “charme”, enquanto eu empurrava seu peito levemente, em reprovação.

— Idiota! — mais uma colher cheia daquela delícia. — E você está mais bombado! — comentei de boca cheia. — Lembro que parecia uma palha na nossa época.

— E você está com seios, nem por isso fico te atazanando. — confessou, rindo de forma estrondosa.

— Peter! — censurei-o empurrando-o com o meu pé. — Fique sabendo que eu já tinha muito seios naquela época. — glorifiquei-me mordendo um M&M.

— Oh, claro! Pareciam bolinhas de gude.

Peguei a primeira almofada que encontrei ao meu lado, tacando-a com força em sua direção.

Eu havia acertado sua taça com sorvete.

Que havia caído em sua camiseta.

— Droga! — corri em sua direção. — Desculpe!

— É… Parece que você só mudou na aparência. — zombou, levantando-se e observando o estrago que eu havia feito.

— Mas vou concertar. — coloquei-me de pé também. — Anda, tira.

— O-o quê?

— Tira a camiseta.

— Não vou tirar minha camiseta. — concluiu se afastando.

— Tira. A. Porcaria. Da. Camiseta. — indaguei lentamente, aproximando-me de sua figura estática. — Quer que as formigas te visitem a noite?

O garoto bufou, dando-se por vencido.

Em frações de segundos sua camiseta manchada de sorvete estava esticada em minha frente, enquanto seu peitoral nu ficava completamente a mostra.

Meu deus! A tábua de seis anos atrás havia sido substituída por um abdômen definido e novinho em folha. Sua barriga estava curvada em formato de “tanquinho” perfeito e uma Elisa idiota estava estática de boca aberta bem na sua frente.

O que fizeram com Peter Jones?

— Liza? — sua voz voltou a ecoar em meu subconsciente fazendo com que eu acordasse daquele transe pós-barriguinha-definida. — Você está bem?

— Ahn? Ah… É c-claro! Me dá isso aqui! — peguei a peça de roupa estirada em minha direção com certa raiva, dirigindo-me até a lavanderia em passos firmes. — Vista outra camisa enquanto isso. — não, não vista não! Não de ouvidos a essa garota de seios pequenos!

— Ok, vou lá em cima buscar. — droga. Eu e minha boca grande.

**

Estávamos reunidos na sala de jantar enquanto mamãe preparava sua famosa lasanha de calabresa. Papai e Peter conversavam animados, enquanto Nick quase cochilava de tamanho tédio. Eu estava na mesma.

Passado o jantar e toda aquela euforia do nosso novo convidado, eu já estava mais do que acabada. Apenas tomei um bom banho, vestindo meu pijama de estrelinhas e me jogando na cama no momento seguinte.

Mas como sempre a vontade de fazer xixi aparece quando você está mais relaxado, tive que me levantar novamente, indo na direção do banheiro.

Quando finalmente terminei minhas “necessidades noturnas” lavei minhas mãos quase que capengando de sono, não vendo à hora de chegar a minha cama novamente.

— Liza? — uma voz da cozinha fez com que eu me sobressaltasse assustada.

— Ah, oi Peter. — bocejei minimamente. — O que ta fazendo há essa hora acordado?

— Vim tomar um pouco de água. — sorriu. — Ei… Posso te fazer uma pergunta?

— Claro. — assenti, com um sono sem fim consumindo meu corpo.

— Esse seu namoro com aquele garoto… É de mentira não é?


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