Seeking Shelter escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 5
Aulas




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Sento do lado de Marco O palco é grande e alto, então os alunos tem que usar o microfone, e me sinto um pouquinho no American Idol, embora já esteja acostumada, já que tive que fazer a mesma coisa quando entrei para o clube.

-E ai, -Marco diz, do lado de Max, que vira para me olhar. Ele acena com a cabeça, com o olhar pesado e eu só olho por mais um segundo depois de virar para o palco.

Max deve me odiar. E eu não posso culpá-lo, mas dói do mesmo jeito. Queria ter coragem de pedir desculpas pelas coisas que eu fiz pra ele quando éramos mais novos mas não consigo, porque a coragem de virar e falar com ele foge no segundo que eu penso nisso.

-Oi. -Respondo. Uma garota loira entra no palco e começa a cantar Teenage Dream. Sem falar nada para nós, só... começa a cantar. E eu espero sentir alguma coisa, aquilo se eu sempre sinto quando alguma música muito bonita começa a ser tocada, mas não sinto nada. A voz da menina é bonita, admito, mas parece que ela está odiando cada segundo. Quando termina, sai sem dizer nada e começo a achar isso estranho, mas quando o próximo aluno entra, canta sem falar nada e sai sem dizer um pio, percebo que essas são as novas regras das audições.

E isso é ridículo.

Na minha época aqui, a senhorita Birkin nos chamava para um grande grupo no palco e falava por vinte e cinco minutos conosco sobre os objetivos na música e nossas aspirações.

Me levanto e vou até a senhorita Birkin, no outro lado do corredor de cadeiras.

-Porque mudaram o script? -Ela entende o que eu quero dizer.

-Os alunos não nos escutam. Pensamos que essa era uma maneira mais rápida de fazer eles cantarem do que conversando.

-Posso falar com eles? -Digo, totalmente séria. Eu não queria ser mentora de ninguém, mas já que estou aqui e estamos falando de música, uma das coisas mais sérias da minha vida, tenho que fazer isso direito. No palco o garoto que está cantando tropeça em suas palavras na mesma hora em que a senhorita Birkin dá o sinal verde. Subo no palco, ele para e eu faço um sinal para ele esperar ali enquanto abro a cortina vermelha, revelando todos os alunos nervosos atrás dela.

-Vamos todos pro palco. -Instruo a eles.

Todos me seguem até o centro e o aluno que estava cantando se junta a eles.

Não penso que meu irmão está aqui, nem que a banda está aqui. Nesse momento, eu me foco no que costumava ser minha vida e eu espero que se torne a vida deles também.

-Sei que vocês estão nervosos. -Olho nos olhos de cada um e posso ver que estou certa.

-Carter! Use o microfone. -Birkin joga um microfone, que por sorte consigo pegar.

-O.K. Uh... -Minha voz ecoando pelo auditório me faz perder a linha de pensamento, mas logo me recupero. -Sei como vocês estão, porque já passei por isso antes. Imagino que se vocês estão aqui, é porque querem muito estar. -Alguns concordam, outros negam, então tenho uma ideia. -Sentem no chão.

-Quê?

-É sério. Sentem no chão. -Eles sentam. -Agora respirem fundo. E me contem porque estão aqui.

-Isso não é meio clichê? -Uma garota pergunta. Considero.

-Claro que é. Mas se você pensar bem, alguma coisa só é clichê porque acontece bastante. E só acontece bastante porque é a lei natural das coisas. Então é natural que eu pergunte pra vocês porque estão aqui, porque não quero ouvir ninguém cantando se está cantando pelos motivos errados. Quem vai começar? -Alguém se voluntaria e o grupo começa falar. Me surpreende a banda não ter subido até o palco, nem Connor e me sinto desconfortável liderando isso sozinha, como se fosse um ato egoísta, mas não me dão tempo de chamar os outros, porque tenho que prestar atenção nos alunos.

-Tô aqui porque minha mãe disse que eu tenho uma voz boa. -Uma garota loira diz.

-Você acha que tem uma voz boa? -Questiono, mas ela só dá de ombros.

-Estou aqui porque quero ser uma estrela.

-Preciso de nota extra. -Outro garoto fala.

-Amo cantar.

-Quero dançar e nas apresentações eles sempre dançam, então estou aqui. -É um bom motivo.

-Gosto de cantar minhas músicas preferidas.

-Quero atenção das garotas. -O cara que pediu meu número diz.

Não tenho certeza de que gosto dele.

Eles continuam. Falam que ficam confiante, outros que querem ser os próximos rappers da atualidade, as garotas dizem que lembra Glee e por assim vai. Ao contrário do que Birkin pensava, eles falam bastante. Apenas se concentram nos assuntos errados.

-Gente. -Informo. -Quero ouvir algo mais... profundo. Por que vocês cantam? O que isso significa pra vocês? Não precisa responder agora. Podem pensar um pouco, porque quero respostas boas. -Deixo eles por um minuto pensando na resposta. A primeira a erguer a mão é a irmã de Max.

-Sim, Jill? -Ela sorri quando percebe que me lembro do seu nome, e sorrio de volta.

-Eu gosto de cantar porque me faz sentir útil. -A resposta me deixa um pouco triste. Não por não ser o que eu esperava, já que ela foi sincera. Mas me deixa triste que ela pense assim porque eu costumava pensar a mesma coisa.

-O.K. Hm, que mais? -Uma garota tímida levanta a mão. Ela usa laços no cabelo e está vermelha, mas percebo que está louca para falar alguma coisa.

-Sabe quando você ouve uma música muito boa e você quer espalhar pro mundo que ela é boa? Não só o ritmo, a... musicalidade, por assim dizer, mas a letra é genial e as batidas meio que te chamam?

-Sei, sim.

-Quando eu canto, posso contar pro mundo sobre essa música da melhor forma possível, que é... cantando. Dá pra entender?

-Perfeitamente.

-Você só gosta de bandas góticas. -O cara do número replica.

Não gosto mesmo dele.

-Bem, você deve gostar de pop, e ninguém está falando nada. -Sei que não é o certo a fazer, já que estou sendo profissional aqui, mas sou uma adolescente e ele está me irritando.

Isso cala sua boca. -Continuem. -Digo.

-Gosto de cantar porque eu fico feliz. Não é uma resposta muito longa, mas é o que resume o que eu sinto.

-Gosto de cantar porque eu tenho atenção.

-...Dos meninos. -Algum sussurra e a garota ruiva que falou aquilo olha pra baixo.

-Está tudo bem. -Consolo-a.

-Estou aqui porque eu quero fazer alguma coisa da minha vida. Não sei se sou bom cantor, nem se vou gostar. Mas vou tentar.

-Minha mãe me obrigou.

-Acho que tenho uma voz boa.

-Meu namorado está aqui, então vim apoiar ele. -Uma menina diz, antes de beijar o garoto do seu lado.

Eles continuam. E são sinceros. Algumas garotas que poderiam ser facilmente minhas antigas "amigas" dizem que está na hora de elas serem as principais, depois um grupo de nerds diz que está aqui porque quer ter voz para opinar na escolha das músicas nas apresentações.

-DIGA NÃO AO POP. -Um deles grita.

Meia hora depois, a senhorita Birkin diz que somos obrigados a parar e começar a cantar, porque nosso tempo é curto. Então, eles fazem uma fila, mais relaxados e o primeiro a cantar é o Babaca.

Estou descendo do palco quando Lolly começa a tocar, então entendo o que Birkin quis dizer. Ele faz gestos obscenos, principalmente na minha direção e me olha sedutor, mas só sinto nojo, então a raiva toma conta de mim.

-Pare. Agora. -A música para e ele me olha de sobrancelha erguida. -Qual seu nome?

-Holder.

-Escute aqui, Holder. Você se acha sexy, eu entendo. Mas sabe o que mais é sexy? Respeito. E se você fizer esses... gestos pra mim mais uma vez, você está fora. Entendeu? -Isso, surpreendentemente, só aumenta a cara de desafio dele.

-Eu posso fazer o que eu quiser.

-Senhorita Birkin. -Chamo, e ela vem ao meu socorro.

-Holder Gates, não me faça chamar seus pais outra vez. -Isso parece deixá-lo mais assustado. Apenas me viro e sento no meu lugar, entre Connor e Marco e respiro fundo pra tirar a raiva de mim.

-Melhor? -Connor pergunta.

-Quem ele pensa que é?

-Um babaca. -Me exalto com a voz de Max.

-Ano passado, ele pegou a Jill. -Marco explica, já que Max não diz mais nada.

-Não acredito. Por que ele está aqui?

-Você não sabe? Depois que você saiu essa escola ficou cheia de idiotas. -Naomi diz. Não entendo minha relação com a entrada de idiotas, mas não digo nada. -E os idiotas querem chamar a atenção das garotas então vem pra esses cursos.

-Que nojo.

-Sim. -Connor diz. -Preciso ir.

-Pra quê? -Ele sorri o sorriso misterioso. -Ashley?

-Sim. Boa sorte. -Ele me dá um abraço depois acena para os outros.

-Se ela ficar toda sentimental hoje, eu vou te matar! -Ele só pisca e vai embora, me deixando com a banda. Por sorte, Marco está entre mim e Max, então não é (tão) esquisito. Principalmente quando, um por um, os alunos vão cantando e minha cabeça sai do mundo dos problemas de sempre e entra no mundo onde meus últimos problemas são encontrar o tom perfeito para uma certa música.


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