Seeking Shelter escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 4
Outro Dia




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/425955/chapter/4

Cyrus estava certo. Os amigos dele são legais. Eles me fizeram sentir acolhida e amiga e achei vários assuntos em comum com todos eles. Apesar disso, o resto da semana foi brutal. O clube de música só começa na próxima semana (AKA amanhã) e consegui evitar Max.

Não consegui fugir de Naomi, nem de Marco e muito menos de Clark, os integrantes da banca de Max, que tem praticamente todas as aulas da semana comigo. Meu primeiro encontro com os três foi em educação física, quando Max tinha sido escalado pra jogar e os três estavam na arquibancada. Estava andando com Cyrus quando ouvi um:

–Carter! -Depois, mais alto. -CARTER! -E me virei, e lá estava Naomi, com seu cabelo loiro e as pulseiras cobrindo todo seu braço. Do sei lado, Clark, o melhor amigo tatuado demais de Max e Marco (o que secretamente me introduziu a maconha quando eu tinha quinze anos), estavam todos sorrindo para mim, então avisei Cyrus que ia falar com eles e ele foi com o seu grupo de amigos, então segui até a banda.

Eu gosto deles. Cyrus não gosta muito, porque ele é meio nerd e eles são rebeldes, mas eu gosto, ainda. O tempo não mudou esses sentimentos. Eu estava alerta toda hora caso Max aparecesse, mas eles pareciam relaxados e nem um pouco surpresos com minha presença.

–Você está arrasando, garota! -Naomi diz, me abraçando.

–Como vocês estão? -Passo para Clark, que depois do abraço, me dá um soquinho no punho. Marco pisca pra mim, sem me abraçar, porque ele é esquisito e não gosta que pessoas o toquem, disso eu lembro, então respeito o gesto.

–Nós conseguimos um lugar bom pra cacete pra tocar sábado a noite, dá pra acreditar? -Marco diz. Várias conversas com a banda voam na minha mente enquanto eu deixo as memórias de lado para não começar a chorar também. Ninguém comenta o aconteceu comigo, minha aparência ou Max.

–Parabéns! Isso é ótimo, gente! -Digo, genuinamente feliz por eles.

–Você voltou pra ficar? -Clark perguntou, depois disso. Balancei a cabeça. -Que bom. Vamos nos encontrar todos juntos uma hora dessa. Festejar.

–Não vou mais a clubes. -Avisei, e eles parecem surpresos, enfim.

–Deixa a gente te pagar uma cerveja então.

–Não bebo mais, gente.

–Maconha? -Marco pergunta.

–Não.

–Wow. -Naomi disse, se reclinando na parede. -Então é verdade? -Encarei-a confusa.

–O que é verdade?

–Que você mudou pra caralho. -Marco responde.

Respondi que sim, meio apreensiva, porque a banda sempre olhou de lado para "certinhos", apesar de que o cantor principal, Max, sempre foi um desses. Mas eles só sorriram e olharam para trás e eu virei e vi Max, então sai de lá bem rápido, temendo um encontro.

Isso significa que as pessoas sabem que eu mudei bastante, apesar do comentário na hora do almoço, mas meus sentimentos estão em conflito. Parte de mim entende porque: quer ser a rebelde de sempre. Mas só dá vontade de ser a vaca de sempre porque daria a sensação de flashback. De voltar no tempo, pra quando as coisas ainda eram boas, apesar de eu não ter sido tão boa assim. E a outra parte quer ser melhor. De uma coisa eu tenho certeza: ambas as partes não sabem o que fazer, mas vou continuar como estou dia após dia, até aceitar que esse é o caminho certo. É o que meus pais iriam querer.

São três da manhã, e é aqui que meus sentimentos conflitantes explodem. Tem sete páginas de cadernos jogadas de letras de músicas que escrevo no calor do momento, e que me recuso a analisar agora, já que vou achar tudo uma porcaria. Provavelmente vou mostrar para Connor pela manhã.

Saio do meu quarto. Ando pelo apartamento, tentando sentir alguma coisa, mas não vem nada. Nenhuma onda pra acabar comigo, só o silêncio da noite que faz eu querer romper meus tímpanos.

Uma pergunta vem na minha cabeça. O que aconteceu com a nossa antiga casa? Mas não vou descobrir agora, já que tenho trauma de dirigir e Connor nunca vai me levar, principalmente a essa hora. E Ashley está dormindo aqui, então não mesmo. Mas eu continuo andando, perambulando pelo quarto extra do apartamento, a sala, cozinha, vou no banheiro e me olho no espelho.

Pareço uma Carter fantasma. Quero conversar com alguém, quero dormir, mas não consigo.

Me obrigo a voltar para a cama, e fico contando minha respiração até esquecer de contar e lembrar de dormir.

E então, quando acordo, é imediatamente o Pior Dia Da Minha Vida, mais conhecido como o dia do clube de música. Segunda feira, dia dos namorados. Corações por toda parte.

–Bom dia, flor do dia. -Meu irmão, sem camisa, aparece na cozinha enquanto eu como cereal.

–Bota uma camisa. -Ele pega o leite da geladeira.

–E perder a chance de seduzir minha namorada? Não, obrigado. -Bom humor dispensável.

–Não quero saber do relacionamento de vocês. -Mas então tenho uma dúvida, porque sou uma garota, apesar de tudo. -O que você vai dar de dia dos namorados?

–O de sempre. Flores, depois chocolate, depois ursinhos. -Faço uma careta.

–Desse jeito ela vai terminar com você. -Ele só sorri e eu sei que ele vai fazer muito mais, mas não vai me contar.

–Se arrume logo, porque vou te levar pra escola. -E então, sai, me deixando sozinha. Olho em volta e percebo que a luz do dia deixa o apartamento bem mais inofensivo, e mesmo sendo o Pior Dia Da Minha Vida, eu uso um vestido comportado (até o joelho) e boto o cardigã que minha mãe me deu um dia por cima, tentando não ficar muito nostálgica, porque isso iria significar lágrimas. Ashley aparece toda arrumada e feliz, comendo o chocolate que Connor deve ter dado e então vamos todos pra escola como uma grande família feliz. Yay.

Ashley dá o seu discurso motivador e até para no caminho para comprar uma rosa para mim, sorrindo como uma mãe e eu fingo um sorriso enquanto Connor nos olha super feliz porque ele deve estar mesmo feliz.

E tudo está bem, até mesmo na escola, quando Cyrus me dá oi, e os amigos dele também e eu entro na sala de aula para literatura e Lynn, uma garota que usa uma camiseta do Star Wars e é super amiga de Cyrus (possivelmente uma quedinha, porque posso ver os sinais) começa a conversar comigo sobre livros e me faz sentir muito inteligente.

Mas então, depois do almoço, Connor aparece na escola. Tipo, na porta do auditório, onde as aulas de música acontecem, e eu olho desconfiada.

–Você não devia estar trabalhando?

–Quis vir pra ver como você se sai. -Reviro os olhos.

–Ótimo, vamos de uma vez. -Abro a porta do auditório e encontro vinte alunos sentados nas poltronas, abaixo do palco, a senhorita Birkin no centro e...

Max, Marco, Naomi e Clark, mais conhecidos como Tiptoes.

A banda.

–CATHERINE, CATHERINE! -A senhorita Birkin desce as escadas do palco e corre em nossa direção e todos os alunos se viram para nos encarar e eu aperto o braço de Connor, procurando apoio. Mas ele me deixa para abraçar a senhorita Birkin, que depois diz no microfone, fazendo eco em todo o auditório. -Senhoras e senhores, gostaria de apresentar a mentora mais talentosa e brilhante que vocês vão ter nas suas vidas, Carter Hallaway! -Ela nem espera a reação, já começa a falar. Estou vermelha de vergonha. Olho pro chão, desconfortável.

–Caso tenham esquecido, sou Connor, o irmão lindo da Carter. -Isso me faz sorrir e levantar os olhos para Connor, que pisca.

–E ele tem namorada, senhoras e senhores. -Respondo. A senhorita Birkin ri como se isso fosse a coisa mais engraçada do mundo. Quase esqueço da banda. Os alunos riem e escaneio seus rostos, procurando alguém familiar, mas só acho o de Jill, a irmã mais nova de Max, que acena animada quando nossos olhares se cruzam e eu só balanço a cabeça pra ela.

–Vou explicar direito pra vocês. Carter Hallaway foi a razão de termos ganho quatro vezes seguidas a conpetição Burton-Tedder de canto regional, três vezes a estadual e o segundo lugar na competição do coro nacional! -Odeio como ela fala sobre mim, como se eu fosse uma deusa que todo mundo sabe que eu não sou, mas não falo nada. Sento em um dos lugares do lado do meu irmão e olho pro nada enquanto ela continua a falar. -Esperem pra ver ela cantar. Você vai conseguir ouvir a a alma na voz dela.

–Senhorita Birkin, eu...

–Eu sei, querida. Mas com o tempo, tudo vai se ajeitando. -Ela responde para mim. -E quanto a vocês, terão a orientação dessa incrível jovem ao longo do caminho para nos levar a vitória novamente. Foram anos difíceis, Carter.

Posso imaginar.

–E para ajudá-la, Tiptoes vai ser a banda de apoio nas apresentações de ensaio e orientação enquanto cada um de vocês encontra sua voz. -Ai, meu Deus. Fecho os olhos. Respire fundo, respire fundo, respire...

–Carter? -Alguém me chama. Connor.

–Sim?

–Tá tudo bem? -Ainda de olhos fechados.

–Por que?

–Parece que você vai morrer. -Isso é o suficiente pra me assustar. Reabro os olhos e encaro meu irmão. Parece preocupado. -Melhor agora. Seja corajosa e vá falar com eles.

–Eles quem? -Connor revira os olhos.

–Os estudantes. -Travamos uma batalha com o olhar e ele acaba me convencendo a pegar o microfone e falar. Paro do lado da senhorita Birkin enquanto falo.

–Hm, acho que vocês já sabem que meu nome é Carter. -Eles riem. -E... bem, vou tentar ajudar vocês. -Friso o "tentar" olhando para minha mentora.

–Vai tentar e conseguir. -Ela replica.

–Alguma pergunta? -Questiono. Um garoto levanta a mão, no fundo da sala. -Pode falar.

–Posso pegar seu número? -Eles se desmancham de rir e eu escondo meu rosto com meu cabelo, enquanto respiro fundo várias vezes até eles pararem de rir. Quero sair daqui.

–Não. -Respondo, fria e rápida e sons de gozação aparecem, mas logo somem devido aos olhares severos da senhorita Birkin.

–Bem, agora sem gracinhas, Carter, pode sentar com a banda... e chame Connor! E alunos, vamos testar um pouco a voz de vocês. Merda pra todo mundo. -Ela diz, e eu não consigo evitar sorrir, apesar de ter que sentar com a banda do meu ex-namorado. Por sorte, Connor aparece em tempo. -Ação! -A mentora grita, mesmo não fazendo sentido, já que não estamos em um filme. Mas as luzes se apagam e as cortinas descem como nos teatros, e por um segundo acredito que estou dentro de um cinema, prestes a ver algum tipo de filme. Espero que não seja de terror.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!