Seeking Shelter escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 32
O Casamento E Outras Coisas


Notas iniciais do capítulo

VOCÊS VIRAM O TAMANHO DESSE CAPÍTULO EWFKJDHKJFH EU TO FSDKFJHSDKJFHDKFHDK ENFIM EU ESPERO MUITO, MUITO, MUITO QUE GOSTEM eu tinha muita coisa ainda pra colocar aqui mas ia ficar enorme e eu deixo isso para os próximos bye



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Hoje é um ótimo dia pra se acordar sóbria. Principalmente quando você está rodeada por gente com ressaca que foi dormir as quatro da manhã. Quando todo mundo terminou de festejar na madrugada, eu tive que engolir meu trauma de dirigir e levar todo mundo que estava eufórico/passando mal pra casa e foi a pior hora da minha vida.

Mas não tenho como pensar nisso agora.

Eu não tenho como pensar no beijo de Max agora, porque a Ashley está chorando.

–Se acalme... se acalme... -Ela repete, para si mesma. Não consigo entender porque ela está chorando, e ela não vai me contar, então só posso olhar apreensiva esperando que se recupere rápido.

O casamento é hoje. Não é uma boa hora pra chorar, especialmente porque estão fazendo a maquiagem dela.

–Ashley, por favor, por favor, por favor, me conta o que está acontecendo.

–Se eu contar, vou chorar mais ainda.

–Então só me responde uma coisa: é por causa do... Connor? -Seria horrível se eles cancelassem o casamento. Porém, quando menciono o nome do seu nome, consigo ver a mudança no seu comportamento. Ela respira fundo e se recompõe.

–Não. É por causa dos meus pais. Onde... onde é que está o Tyler? -Ela olha em volta no nosso apartamento, procurando o irmão. Ele chegou hoje de manhã e não trocou o uniforme uma única vez.

–Ele está indo ver Connor, na casa do Max. -Max. Isso deve ser esquisito. -Eles estão se arrumando e aquele era o melhor lugar.

–A mãe do Max vai fazer um nó decente na gravata do Connor, espero. -Ela fecha os olhos quando Sandy, a maquiadora, faz a sombra dela. Meu coração aperta quando imagino Ingrid fazendo o nó da gravata dele, e não minha mãe.

Não é hora pra isso. Concentração.

–Querida, eu preciso que você pare de chorar agora está bem? -Ela diz, com um sotaque do sul. Ashley assente. Ela está totalmente uma noiva agora, sem parecer a Ashley da escola. O vestido dela é leve, branco e sem muito fru-fru, já que fru-fru não combina com praia e areia. É tomara que caia, que desliza perfeitamente pelo corpo dela. O meu vestido amarelo queimado é praticamente igual, a única diferença é a cor, e que estou usando uma flor rosa no cabelo, solto e com os cachos realçados. Como Ashley queria. Não sei se a flor combina, mas eu é que não vou discutir. Vou usar sandálias, assim como a noiva, e levarei o buquê de rosas na hora da entrada. Connor vai entrar sozinho, e Ashley, com Tyler, o único membro da família que concordou em vir para o casamento. O resto, nem os pais ou tios, não vêm. Me distancio de Ashley e ligo para o meu irmão, do meu quarto.

–Algum problema? -Pergunta, antes que eu fale qualquer coisa.

–Não, nada. Eu só... queria saber como você está. -Passei a noite pensando no que ia acontecer quando Connor fosse embora, e cheguei a conclusão de que eu ainda não estou preparada pra dizer adeus, por mais que não seja pra sempre. Odeio ver as pessoas partirem e ele é meu IRMÃO. Dez vezes pior.

–Eu estou bem.

–Bem nervoso? -Ele ri.

–É. Como ela está? -Não é uma boa ideia contar à Connor sobre a choradeira, só o deixaria mais nervoso.

–Bem. Estão maquiando ela agora.

–E como você está?

–Calma, mas um pouco ansiosa.

–Nunca viu seu irmão se casar.

–Exatamente. Acho que eu preciso ir. -Aviso, quando chamam meu nome. -Eu sei que isso é estranho, mas eu te amo.

–Minha própria irmã dizendo eu te amo? Isso não é estranho.

–Deveria fazer isso mais vezes.

–Eu também te amo, mana. Agora vai lá porque eu não quero que a noiva chegue atrasada.

–Mas essa é a tradição. -Eles me chamam de novo, então cedo e desligo o celular. Na hora que eu entro no espaço aberto da sala, onde toda a bagunça se encontra, vejo Ashley se olhando no espelho e sorrio.

–Você está maravilhosa. -Espelho o modo como ela falou comigo tantas vezes. O cabelo loiro dela está preso em um coque suave e a maquiagem é tão discreta que se não tivesse presenciado o momento, acharia que ela não tem nenhuma no rosto. Mas mesmo assim, ela está radiante. Nem um sinal das marcas vermelhas ao redor dos olhos, por causa do choro. Ela é mesmo linda.

Ashley se vira para mim e me abraça.

–Ah, Carter, você também. Eu não consigo pensar em uma pessoa mais apropriada para ser minha dama de honra.

–Acho que já é hora de dizer isso, então vou falar. Você é uma parte da família. Sempre foi. -Ela usa aquela expressão de quem está prestes a chorar. -E não chore. Mas eu estou contente pelo meu irmão ter encontrado você e não uma garota patética do ensino médio. Meus pais sempre souberam que ele ia ficar com você. Tipo, desde sempre. Então não se preocupe com nada, porque isso foi feito pra dar certo. -Ela deixa um soluço escapar, me envolvendo de novo nos seus braços.

–Eu estou tão feliz. Obrigada. -Me solta, limpando cuidadosamente os olhos. Meu celular vibra com uma mensagem de Max.

Estamos chegando aí. Tyler vai subir e eu, Max e a família dele vamos para a praia. -Connor. (estou usando o celular do Max porque o meu está em algum lugar dentro de uma mala)

Sorrio, ignorando o pulo do meu coração de quando percebi que era uma mensagem de Max.

–Espero que esteja pronta, porque o seu irmão está chegando.

–Ai meu Deus! -Ela se abana e as maquiadoras lentamente explicam que ela vai estragar o penteado se continuar assim. A noiva anda de um lado para o outro, quase explodindo de ansiedade e os minutos parecem demorar a passar, como se esperássemos uma eternidade até um carro lá embaixo buzinar. Sem pensar, saio correndo escada abaixo, acidentalmente esbarrando em um loiro enorme com smoking.

–Ela está na porta quatro! -Grito, sem olhar para trás. Abro as portas do apartamento em um rompante e encontro o carro preto no meio fio. Na mesma velocidade, Connor sai de lá, com terno e gravata e uma flor da mesma cor da minha flor e eu engulo o choro para não borrar a maquiagem, pulando em seus braços e o apertando como se minha vida dependesse disso. Ele me aperta de volta com os braços familiares, que me abraçaram desse jeito quando eu chorei por garotos que não gostavam de mim, quando o garoto que eu amava terminou comigo, quando nossos pais morreram e sempre que eu precisei. Preciso de toda minha força para não chorar aqui mesmo.

–Connor... você... você... -Não consigo achar palavras.

–Eu sei. -Ele dá um sorriso, indicando que entende o que eu estou querendo dizer. Depois, faz uma pose e eu sorrio. O vidro do carro se abaixa, e Jill, produzida e maquiada, bota a cabeça para fora, com um sorriso.

Não parece a mesma garota que chorava no tribunal.

Ela parece recuperada, renovada. O sinônimo de superação, mesmo que seja cedo pra falar. O olhar diz tudo.

–Que gata! -Ela diz, brincalhona. Faço uma pose, junto com meu irmão. Connor me abraça de novo e fala no meu ouvido.

–Então eu perguntei para o Max o que aconteceu ontem a noite e ele ficou muito confuso. Disse pra ele perguntar pra você e acho que ele quase adivinhou o que aconteceu, só pelas entrelinhas das minhas palavras. -Aperto os olhos com força enquanto dou um tapa em Connor.

–Seu idiota. -Ele me solta.

–Eu te fiz um favor, otária. -Ele empurra meu rosto e eu reviro os olhos, relutante em subir de novo. Por fim, eu digo um até logo e subo, encontrando dois irmãos conversando como velhos amigos no sofá. É até bonito de se ver. Tyler e Ashley esparramados ali na sala, ambos vestidos para um casamento, mas agindo como se fosse um dia normal. Acho que é pra isso que os irmãos servem: trazer normalidade e familiaridade para qualquer situação.

–Gente, acho que está na hora de ir. -Tyler segura a mão da irmã, enquanto ajuda ela a subir e eu olho em volta, para ter certeza que está tudo em ordem, e então vamos para o carro.

Na praia, as trinta pessoas convidadas para o casamento já chegaram, e consigo ver pela janela do carro todas elas sentadas em seus lugares, iluminadas pelas luzes douradas do lugar, que dão um ar aconchegante.

Saio do carro primeiro, indo até o meu lugar, escondido atrás de cortinas de seda branca, que envolvem todo o perímetro usado para a cerimônia.

Estou tão nervosa que eu podia vomitar agora.

Mas eu não vou, é claro. Só respiro fundo. E de novo.

Você consegue.

A planejadora, Bonnie, faz um sinal positivo em minha direção e as cortinas de seda são abertas por dois ajudantes enquanto o violino celebra com sua melodia que chega a ser quase dolorosa.

Eu não estava preparada para isso. Nenhum ensaio vai ser o suficiente para me preparar pra isso, e eu começo a andar. Cada passo em direção ao meu irmão, que me olha com emoção contida e eu capto expressões dos convidados, gestos e movimentos, encontro os olhares de todo mundo, mas quando eu chego ao fim, Connor aperta minha mão e eu vou até o meu lugar, sorrindo mas ao mesmo tempo chorando. O violino muda de melodia. Agora não é uma que beira a tragédia, é uma homenagem ao amor, a única forma que eu consigo descrever. Ashley entra e todo mundo suspira. Todo mundo. Tyler do seu lado, com um sorriso do tamanho do mundo, iluminando o rosto da irmã deixa o cenário perfeito para uma foto, aquelas que você guarda para mostrar para os filhos, e mais tarde os netos. Eu não tenho palavras para explicar como tudo é bonito. É um conto de fadas. É o resumo de todas aquelas músicas de amor, ou aqueles que fazem você se sentir vivo. Elas traduzem esse momento, exatamente desse jeito. Mágico. Impossível de desviar os olhos.

Os dois, Connor e Ashley, se encontram no fim do corredor e ela abraça o irmão, que vai para o lado de Connor, enquanto Ashley vem para o meu.

Eles não conseguem parar de se olhar, de sorrir.

Quando o padre fala, todos prestam atenção e os rituais normais são feitos, sem muita atenção, até as alianças aparecerem. Nessa parte, todo mundo já está chorando.

Connor começa a falar.

–Eu, Connor Hallaway, prometo que eu vou te amar para sempre, assim como eu te amo desde sempre. Porque você é minha melhor amiga, o amor da minha vida e uma das pessoas mais incríveis que eu já conheci. Quando eu vejo algo legal, a primeira coisa que eu penso é que eu quero que você veja aquilo também, e quando eu estou triste, o que me alegra é compartilhar a tristeza com você, porque sei que você vai aceitá-la sem questionar e me ajudar a superá-la. E de sete bilhões de pessoas, você é a única que faz meu coração pular, a única que me ajuda, me faz ser uma pessoa melhor. Você não se assustou quando eu contei que precisávamos ir embora, dois anos atrás, porque sabia que nossa relação ia aguentar aquilo. E aguentou tantas outras coisas e estou orgulhoso de estar aqui, casando com você, pra tornar oficial esse amor. Eu te amo de todo o coração. -Ashley seca as lágrimas de Connor enquanto eu seco as minhas.

–Exceto o meu irmão, eu nunca tive uma família antes, alguém que cuidasse de mim e se importasse comigo. Que prestasse atenção no que eu digo, mesmo que seja a décima vez que eu falo essa mesma coisa. -Ela abre um sorriso. -E em toda a minha vida, eu procurava alguém em que eu pudesse confiar minha alma, todas as coisas ruins e as boas. E eu estou tão feliz de ter encontrado você. Porque você sabe exatamente quais são os meus problemas, e como lidar com eles, e como me acalmar quando as preocupações estão demais e eu não tenho certeza de que eu vou aguentar. Obrigada por ter me dado uma família, mesmo que uma não tão convencional, -Ela olha para mim, sorrindo torto. -Mas é a melhor que eu poderia pedir. E isso é o maior presente que alguém poderia me dar, e você me deu. Eu também te amo, querido. -As alianças passam para os dedos de ambos, com as mãos meio trêmulas, os olhos sem conseguir enxergar muita coisa por causa das lágrimas, mas todos envolvidos pela onda de amor emanando dos dois. Eu não imagino como seria se meus pais estivessem aqui, ao invés disso, eu aperto um play invisível, na minha mente, e observo meus pais secando as lágrimas e olhando para o filho deles com sua nova esposa, minha mãe com o seu sorriso de sempre e meu pai sério, como ele sempre ficava quando tentava esconder uma emoção. Observo eles olharem para mim e minha mãe sussurrar que eu estou linda, e o momento é interrompido quando escuto Ashley gritando "estou casada!" naquele tom de voz de sempre.

As pessoas aplaudem, e é um som que combina perfeitamente com o momento, aquela sensação de estar vivo de novo. Eles se beijam, rendendo alguns assobios e gritinhos dos seus amigos e algumas risadas dos mais velhos.

Olho para os convidados até achar o olhar de Max e sorrio para ele.

Ele parece encantado e sorri de volta. Por enquanto, está tudo bem.

Por enquanto o amor de Connor e Ashley é capaz de fazer sumir todos os meus medos e preocupações e permitir que eu sinta apenas felicidade por eles, refletindo suas emoções. Ninguém me pergunta porque eu estou chorando e pra falar a verdade ninguém liga, já que os próprios noivos estão com lágrimas nos olhos. Ashley vira para os convidados, e dá um gritinho. Todo mundo ri em resposta, levantando dos seus lugares e as cortinas de seda se abrem para dar entrada a banda, e a "pista de dança", na direção da praia. Abraço Ashley e depois Connor, que seca as minhas lágrimas.

A ficha ainda não caiu que meu irmão, que jogava videogame comigo e falava sobre carrinhos de corrida, está casado. Não é uma coisa ruim, mas vai demorar um pouco para que entre na minha mente. E eu me sinto naquele estado entorpecido de novo.

Como uma boa irmã, vou passando pelos convidados, dando olás e perguntando sobre a vida de cada um, pelo menos dos que eu conheço. Alguns, a maioria, são amigos dos dois, mas Harvey e Fletcher estão aqui, assim como a família Ellis.

–Você está incrível. Com certeza já te falaram isso, mas é verdade. -Harvey diz, quando eu chego até onde ela está.

–Obrigada. -Sorrio.

–Diga para o seu irmão depois que foi uma cerimônia maravilhosa. -Ingrid diz.

–Preciso falar com você depois. -Max sussurra no meu ouvido, quando abraço ele.

–Sobre?

–Depois. -Ele me lança um olhar misterioso antes de eu me afastar e puxar Jill para um abraço.

–Você está mil vezes mais linda que eu. -Ela abre um sorriso enorme e eu quase fico sem fôlego por ver ela tão feliz.

–Já se olhou no espelho? -Faço uma careta, de brincadeira e todo mundo silencia, quando os noivos vão para o meio da pista de dança e começam a dançar. É uma valsa, música lenta, a primeira como um casal e ninguém consegue fazer outra coisa, exceto olhar. Depois de um tempo, outros casais vão para a pista, incluindo Harvey e Fletcher, Ingrid e John, e nós só ficamos observando. Em seguida, sinto uma mão na minha, e me viro para encontrar Max do meu lado.

Ele me puxa para a pista de dança e eu solto um risinho, meio nervoso. Ele coloca as mãos na minha cintura e eu, em volta do seu pescoço. Durante alguns momentos, isso é a única coisa que fazemos:dançar. Porém, logo eu ouço sua voz no meu ouvido novamente.

–O que aconteceu ontem? Ou... hoje de manhã? Não sei bem que horas eu fui dormir.

–Acho que não é um bom lugar para se falar sobre isso. -Ele se afasta um pouco, para olhar nos meus olhos. Sua expressão é preocupada.

–Foi tão ruim assim? -Quase sorrio.

–O que você acha que é?

–Eu não sei! Eu não lembro de nada! -Max exclama, a voz alta.

–Tá, calma. -Olho em direção da praia. -Vem comigo. -Agora é a minha vez de puxar ele, até o limite da areia. Ao passar por Connor, ele pisca pra mim e eu reviro os olhos. É uma sensação estranha estar de mãos dadas com Max. É... legal. Relutante por ter que sujar meu vestido, eu sento na areia e ele desce junto. Não olho para ele quando começo a falar. Ao invés disso, encaro as ondas e um começo de pôr do sol, no horizonte.

–Você me beijou. E falou umas coisas. -Espero sua resposta, mas ele não fala nada por um longo período de tempo e me sinto obrigada a encará-lo.

Ele não está olhando para mim, está olhando para as ondas também, com o maxilar tenso.

–Max?

–Eu não acredito que eu fiz isso. -Solto uma risada fraca, incerta de como interpretar a reação dele. Esse é o Max: não dá pra saber o que ele está sentindo a menos que ele te fale ou que você o conheça muito bem. E apesar de conhecê-lo desde sempre, não sei o que levar em consideração nesse momento. -Eu te beijei? E eu nem lembro? -Dou meu olhar solidário em apoio e um sorriso hesitante. Sua expressão é de pura incredulidade.

–Hm, é. -A incredulidade dá lugar a algo parecido com... medo.

–O que foi que eu disse?

–Quê?

–Você falou que eu disse algumas coisas. Que coisas? -Engulo seco, um pouco mais nervosa agora.

–A mais... relevante foi uma pergunta. Você me perguntou porque eu fui embora. Ah, você disse que tinha que perguntar algumas coisas, mas nunca disse o que eram. -Ele fecha os olhos. -E foi só isso. -Max não diz nada.

Por um longo tempo, outra vez.

–Você sabe porque eu fui embora, não sabe? Sabe que não foi por sua causa? -Me olha de lado, incerto do que responder. A realização me atinge: ele não sabe. Mesmo que seja óbvio, ele ainda acha que eu sai da cidade por sua causa. -Não, não, não. -Balanço a cabeça e respiro fundo, me preparando para o que eu vou dizer. -Não foi por sua causa. Se eu estou sendo honesta, tenho que admitir que você foi o motivo pelo qual eu não voltei durante todo esse tempo, mas o motivo principal da minha partida foi que eu não conseguiria sobreviver nesse lugar. Eu via meus pais e Chaz em todos os lugares, eu não conseguia respirar. Se eu ficasse aqui, eu provavelmente estaria morta. Morta de espírito ou morta mesmo, porque a sensação era insuportável. -Seguro a mão dele, e ele entrelaça os dedos nos meus. -Eu não vou entrar em detalhes, mas foi isso que aconteceu. Sair daqui era necessário pra que eu sobrevivesse... -Ele parece sob efeito da dor, e eu aperto sua mão mais forte. -Mas voltar foi essencial para que eu começasse a viver. Eu tinha que ir embora da mesma forma que eu precisava voltar. Então, pare de se culpar. Você sempre faz isso. -Meu tom de voz beira a raiva. -Mesmo quando não precisa.

Não dizemos nada. Só encaramos o pôr do sol de mãos dadas.

–Eu não acredito que eu te beijei e não lembro. -Dessa vez, solto uma risada despreocupada, feliz que o assunto mais triste tenha sido deixado para trás.

–Minhas habilidades no quesito beijar não ficaram melhores com o tempo, então você pode ter uma ideia de como foi. -Ele olha para mim, divertido, mas seus olhos têm um peso que eu não consigo medir e decifrar.

–Eu beijei bem? -Caio na risada, na gargalhada, tão alto que eu mal consigo respirar.

–Eu não acredito que você está me perguntando isso! -Max começa a rir, também.

–Você é a única que eu tenho coragem de perguntar! -Rimos em uníssono.

–Ai meu Deus. -Recupero o fôlego. -Sim.

–Sim, eu bei...

–É. -Interrompo. Ele franze o cenho.

–Espera. Você estava bêbada? -Espelho sua expressão, confusa.

–Não.

–Mas você me beijou de volta? -Seu rosto é que nem o nascer do sol, logo antes de explodir em cores e iluminar tudo. Olho para frente, sorrindo da minha própria situação constrangedora. Faço que sim com a cabeça. -Interessante.

–Deve ser. -Sinto seus dedos no meu queixo, virando meu rosto em sua direção. Ele me beija de novo, sem pedir ou falar qualquer coisa. Não é um beijo como o da boate, quente e desesperado. Bêbado. É um beijo relaxado, de quem tem todo o tempo do mundo para fazer isso e vai aproveitar cada segundo, lentamente.

É o Max quem eu estou beijando.

As borboletas voltam.

É um beijo extremamente familiar. Me lembra o nosso primeiro e as borboletas se transformam em dinossauros no meu estômago.

Tão lento quanto o beijo, ele se afasta e olha nos meus olhos. É como se conversássemos sem dizer uma palavra e ambos sorriem.

–Ai! -Max exclama, do nada e leva uma das mãos até a cabeça. Olho em direção da festa, confusa e vejo, a alguns metros de nós, Jill e Tedd, com coquinhos de árvore nas mãos. -Quem foi que jogou em mim?! -Jill aponta para a cara inocente de Tedd, que nem nega, já que não sabe o que Max está falando.

Eles se aproximam. Jill do meu lado e Tedd no colo de Max, e nos lançamos em uma conversa. Ela não comenta sobre nosso beijo, embora eu tenha certeza de que ela viu. Ao invés disso, conversamos sobre a escola, faculdade, dinheiro, o baile, formatura, qualquer coisa que venha a nossa cabeça. Não mencionamos o caso do estupro em nenhum momento, e tenho a sensação de que Jill já teve seu tempo para superar o que aconteceu. Depois, vamos para a pista de dança de novo, e dançamos músicas dos anos 80, pagamos alguns micos, e eu faço uma dancinha coreografada com Connor, uma que sempre costumávamos fazer em casamentos. As horas passam tão rápido que quando meu irmão diz que está na hora de eles irem embora, demoro um segundo para perceber que ele está falando a verdade.

Meu coração aperta de novo, e as lágrimas voltam.

Eu nunca vou estar preparada para dizer adeus para o meu irmão, e isso é um fato. Ele é minha cara metade, e uma das pessoas que eu mais amo no mundo, a única que nunca saiu do meu lado, em nenhuma situação. E apesar de estar triste, ao mesmo tempo não estou, porque sei que ele merece ser feliz e ter uma vida ao lado da pessoa que ele ama. Quando Connor e Ashley terminam de abraçar todo mundo, eles vem até mim. Abraço Ashley primeiro.

–Tenham uma boa viagem e me liguem assim que puderem.

–Pode deixar, Carter. Eu te amo. -É a primeira vez que ela me diz isso.

–Eu também. Bem vinda a família. -Sorri e eu passo para o meu irmão. Pulo em seus braços.

–Vou sentir muito a sua falta, mas eu quero que você aproveite o máximo que puder. E eu sei que isso é meio mórbido, mas se acontecer alguma coisa, saiba que eu te amo. -Ele entende.

–Eu também te amo. Você foi a melhor companheira de apartamento que eu poderia pedir. -Rio e choro ao mesmo tempo. Solto Connor, e ele me dá um olhar doce antes de entrar de me entregar um envelope escrito "Carter."

Com a letra da minha mãe.

–Abra quando eu for embora, pra ser mais dramático. -Connor pisca e entra no carro antes que eu consiga responder qualquer coisa. Rápido assim, eles vão embora, deixando apenas as pessoas acenando felizes e eu, chorando com o coração partido pelo melhor motivo possível. Meio abalada, eu volto para onde meus amigos estão e limpo meu rosto, claramente vermelho por causa das lágrimas. Eles voltam a conversar, e eu ouço sem prestar atenção, ocupada demais com a mão de Max segurando a minha e um vazio no meu coração, agora que eles foram embora. Não vou dizer que estou sozinha, porque isso seria ignorar todas essas pessoas ao meu redor, as que me conhecem e se importam comigo.

Uns dez minutos depois, eu noto que um carro para na frente da onde estamos, e de lá sai...

O Sr. Beacon. Pai de Ashley.

Oh-oh. Me levanto.

–Eu já volto. -Aviso para eles, e corro ao encontro dele, curiosa. Ele me olha, aflito. -O que o senhor está fazendo aqui?

–Eu tinha que falar com Ashley antes de ela partir... -Ele procura a filha, com o olhar. Fico triste pela resposta que vou dar.

–Ela já foi. Está a caminho do aeroporto. -A chama de esperança reascende.

–Será que o voo já foi chamado? Eu preciso falar com ela.

–O senhor me empresta o celular? -Ele me dá. Disco o número de Connor, mas ninguém atende, então lembro que está em uma mala e ele não vai atender mesmo. Disco o número de Ashley e cai na caixa de mensagens. -Droga. -Não sei porque, mas sinto que o Sr. Beacon é uma pessoa boa e merece uma última chance, mesmo que a sua mulher seja uma idiota. -Podemos ir até o aeroporto e ver se eles ainda estão lá. -Digo, sem saber se é uma boa ideia.

–Ótimo. Claro. -Assinto e olho para a mesa onda a família Ellis está. Meus olhos cruzam com o de Max e eu mando um olhar que diz, silenciosamente, para ele vir até aqui.

Ele levanta em um segundo, e no outro, está do meu lado.

–Oh. -O Sr. Beacon parece surpreso com a presença de Max, mas não diz mais nada com relação a isso. Abre a porta de trás para nós. Vou até a mesa, correndo e aviso Harvey e Fletcher (que vão me levar pra casa) que eu já volto, então corro de volta para o carro e entro, do lado de Max.

–A sua mulher não vem? -Ele dirige rápido.

–Não. Ela não... quis.

–Ah. -Explico em voz baixa para Max o que está acontecendo, e o Sr. Beacon, em toda a velocidade, consegue chegar no aeroporto em menos de quinze minutos. Nós três saímos e começamos a procurar Ashley e Connor. O Sr. Beacon até grita os seus nomes e quando estamos quase desistindo, achamos eles na fila de embarque. Ashley parece paralisada em choque, mas logo em seguida corre em direção ao pai e o abraça. Meio sem fôlego, procuro o braço de Max a procura de apoio e ele me abraça, fazendo minha cabeça se aninhar no seu peito, quase na volta do seu pescoço. Connor acena para nós de longe, e acenamos de volta.

Eu não sei bem como descrever esse momento, exceto com palavras clichês e cenas de filmes, mas é uma das melhores sensações do mundo; a de estar no lugar certo na hora certa, a de ver pai e filha se abraçando em um dia tão importante, sentir como se tudo no universo conspirasse a meu favor, ao nosso favor hoje. E mesmo que meus pais não estejam aqui hoje, mesmo que tenham coisas ruins no nosso passado, presente e futuro, é momentos como esse que fazem tudo valer a pena.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?