Seeking Shelter escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 30
As Formas de Amor


Notas iniciais do capítulo

oie gostaria de avisar que no momento que vocês lerem isso (ou no momento que isso for postado porque tô usando aquele sistema de programação de postagem) eu vou estar NO MELHOR PARQUE DE DIVERSÕES DA HISTÓRIA NO MELHOR DIA DA MINHA VIDA e só gostaria de compartilhar com vocês a minha alegria então é isso aí boa leitura fiquem com inveja
mentira
mas boa leitura do mesmo jeito



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–Você ainda não me contou porque não conseguia dormir. -Max diz, depois de um segundo, que usamos para ficar encarando os barcos saírem da marina, afundando nossos pés na areia. Lentamente, sinto o cansaço voltando, então me abaixo e sento. Ele vem junto. Travo uma batalha interna, sem saber o que dizer e como dizer sem falar nada que eu não possa.

–É... é como se eu fosse divida em duas. Tem essa Carter, a de agora. E... e a antiga Carter. Eu não gosto da antiga Carter. Ela era superficial e fazia a vida de todo mundo um inferno, mas ela era feliz. E tem eu agora. A eu de agora é uma adulta, porque ela não teve escolha. Mas não é tão ruim, eu não sinto falta de como eu era, eu gosto de ser responsável e gosto de ser confiável para as pessoas. Mas eu não posso dizer que eu sou feliz. Quero dizer, eu não estou triste. Eu não tenho pensamentos suicidas ou odeio todo mundo, mas eu não vou pra cama pensando em como a vida é maravilhosa ou ansiosa pelo dia seguinte. Harvey... minha vizinha, -Explico. -Ela disse que eu deveria encontrar maneiras de ser feliz mesmo que seja impossível ser cem porcento. Tipo, sem os meus pais, etc. Eu não sei como. Eu não sei como conciliar essas duas pessoas, e eu nunca mais vou voltar a ser a antiga Carter. Eu não quero e não posso. Mas como eu vou ser feliz? -Ele deixa as minhas palavras fazerem sentido, depois responde, sem olhar pra mim.

–Lembra que as pessoas diziam que você era uma estrela?

–Sim. -Afundo minhas mãos na areia.

–Estrelas a beira da morte também brilham. -Sorrio um pouquinho.

–Você já me disse isso.

–Eu sei. -Engulo seco. -Mas ainda é verdade. É que nem a caixa e a luz.

–E se eu não tenho luz? E se... a pilha acabou? -Ele solta um riso fraco, olhando pra baixo.

–Essa conversa fica muito esquisita com essas metáforas, mas aqui vai outra: compra uma lanterna. -Lembro da conversa com Harvey outra vez.

–Harvey também me disse isso. Ela usou o sol como exemplo.

–Me explique como se eu tivesse seis anos.

–Olha só pra você! Quotando Philadelphia! -Dou um empurrãozinho nele e rimos. -Ela disse que tem gente que tem dificuldade de absorver a vitamina D no sol, então toma vitamina D. Dá pra entender?

–Dá sim. Ela está certa.

–O problema é como. Como eu vou achar a minha vitamina D?

–O que te fazia feliz antes dos seus pais morrerem? Exceto os seus pais? -Fico vermelha e agradeço por ele não estar olhando para mim.

–Você não quer que eu responda isso. -Então ele OLHA para mim. Ergue uma sobrancelha. -Você me fazia feliz. -Ele pega um punhado de areia e observa os grãos escaparem pelos seus dedos. Sinto como se esse ato fosse outra metáfora para a minha vida.

–Eu ainda estou aqui, sabe. Que mais?

–Música.

–Você já faz música.

–Às vezes.

–Faça mais, então.

–Vou andar com um microfone na minha bolsa, o que você acha? -Ele ri.

–Quer uma caixa de som também? -Minha vez de soltar uma risada.

–Entendi, entendi. Tudo bem. -Meu celular toca. Cyrus. -Ei, Brad Pitt.

–Eu tenho um problema.

–Diga.

–Eu tenho um encontro.

–Outro? Legal!

–É, outro. Mas não é com Alana. É com uma menina da igreja da minha mãe. Minha mãe me forçou a ir.

–Espera... você tem um encontro com uma garota... um dia depois de ter um encontro com a sua... com a sua... namorada?

Exatamente.

–Por que você quer a minha ajuda?

–Posso dizer pra minha mãe que você pediu ajuda para a prova de história de semana que vem e eu estou na sua casa? E pode confirmar caso ela ligue pra você?

–Sem... sem problemas. Estamos estudando a Bastilha agora mesmo.

–Você é a melhor.

–Tchau, Cyrus. -Ele desliga.

–Cyrus?

–É. -Jogo meu celular na areia. Meu estômago ronca. Fecho os olhos, deixando a vitamina D (de verdade) entrar no meu corpo. Começo a cantar baixinho, uma música que eu ouvi meu pai cantando um dia, e lembro das coisas na caixa. As fitas e DVDs, a maior parte pelo menos, são caseiros, coisas que meus pais fizeram, e os CDs também. Mal posso esperar para vê-los. Mas eu não falo nada, mesmo que esteja cansada e com fome. Max também não. Por quinze minutos, a única coisa que fazemos é dividir oxigênio e areia, coexistindo sem nenhum movimento brusco, nenhuma palavra dita.

–Acho melhor a gente voltar. -Ele é o primeiro a falar. Pego meu celular outra vez e vejo uma mensagem, de Connor.

–Na verdade... eu tenho que ficar aqui. O ensaio do casamento é um pouco mais pra lá -Aponto para a esquerda. -e eles já estão vindo.

–Casamento?

–É. Dá pra acreditar?

–Nossa. -Ele parece genuinamente surpreso. Levanta e me ajuda a levantar. Lembro da caixa.

–Será... será que eu podia passar na sua casa depois pra pegar a caixa?

–Claro. Se eu não estiver lá, é só pedir pra Jill ou pra minha mãe.

–Obrigada. -Sorrio e percebemos que essa é a hora que ele tem que ir embora, e eu não sei o que fazer. Abraçar ele? Apertar a sua mão? Desde quando isso ficou tão complicado?

Ele me abraça. E eu o abraço de volta, grata por ele ter feito isso, assim não teria que escolher entre as minhas opções. Depois, me viro para ir embora.

–Uh, tchau. E muito obrigada por ter me levado lá e... me ajudado. -Ele sorri. É impressionante como Max consegue pertencer a esse cenário, a praia, perfeitamente. Como se vivesse ali sempre. Balança a cabeça. -Ei, espera um segundo. Ontem, quando você me disse que eu estava diferente...

–Sim? -Ele bota as mãos no bolso da bermuda.

–O que quis dizer? -Max olha ao redor e encolhe os ombros.

–Você parecia...

–A antiga Carter? -Pergunto, me sentindo derrotada. Sua expressão é de remorso, provavelmente depois de ver minha expressão torturada.

–Me desculpe. É, como a antiga Carter. Mas você está errada. Você não pode ser feliz agora porque você ainda está pensando na antiga você. Você só era feliz naquela época porque não tentava ser outra pessoa. Você vai ser feliz quando for você, não pedaços de uma equação que você tenta resolver sobre a sua identidade. E a única pessoa que acha que a antiga você era uma vaca é você. Me desculpe. -Ele repete, mas não estou brava. Não estou sentindo... nada.

–Você não acha que eu era uma vaca?

–Não.

–Nem quando eu bebia e agia como uma idiota?

–Isso não era você. Era o que você fazia. Você não era uma vaca. -Repete, enfático. Tenho que usar toda minha força pra não sorrir, por isso viro o rosto, focando nas ondas da praia e arrumo meu cabelo, todo espalhado pelo vento.

–...O.K. -Viro para ele novamente. -Tudo bem. -Assinto, e a tensão do corpo dele parece sumir, as linhas de expressão também. -Obrigada. Preciso ir agora mas obrigada. -Sorrio para dar a ele a certeza de que está tudo bem, então me viro, caminhando pela praia no meu próprio ritmo, tentando pensar nas vezes que vim aqui com meus pais, mas não consigo raciocinar sabendo que Max está atrás de mim.

Eu não menti. Eu realmente amo ele como pessoa. Não quero pensar nisso na forma romântica nesse momento. Tem outras formas de amor: às vezes você ama uma pessoa porque ela é bonita, por dentro, fora, apenas um dos dois ou por nenhum dos dois. Ou ama ela pelas palavras que ela diz, do jeito que diz, ou pelas coisas que ela faz. Ou ama as coisas que ela possui, o talento que tem ou ama por algum motivo que não consegue descobrir e que não se encaixa em nenhuma das alternativas acima. Meu caso, nesse momento, é que eu amo Max por todos esses motivos. Não é nada dissimulado, inautêntico ou irreal. É o amor de ter uma admiração pela pessoa, pelas coisas boas e ruins. É o amor que eu dedicava aos meus pais. A inocência de Charlie e a meu irmão que eu tenho agora. Não vou comparar Max com meu irmão (porque ele foi meu ex-namorado e isso ia ser estranho), mas eu amo os dois de formas diferentes (como um apoio e outro como irmão) e de formas iguais (como pessoas, serem humanos que compartilham o planeta comigo). Posso incluir Jill e Ashley nessa categoria, igualmente. Meu coração se incha de amor e quando eu estou longe o suficiente para pensar direito, eu olho para cima, e eu quase rio novamente, como no cemitério. Talvez seja o amor que me salve.

–Ei! Carter! -A voz de Ashley ecoa. Viro para trás. Meu irmão, conversando com uma mulher mais velha e do lado Ashley, com um vestido e acenando animada. Aceno de volta. Vou até eles.

–Olá, você deve ser a Catherine?

–Ah, sim. -Estendo minha mão.

–Ótimo, temos bastante coisa para fazer. O casamento é daqui a uma semana e precisamos acertar todos os detalhes. A propósito, meu nome é Bonnie. -Diz, profissional. Eles me lançam em uma conversa sobre lugares programados, after-party, coquetéis. Como é tudo feito local, sem ajuda de grandes empresas (até a banda que vai tocar é de uns amigos de Connor e Max) as coisas são bem mais simples. Só tenho que me arrumar, levar as flores e parecer bonita. A parte mais importante vem de Connor, depois que terminamos de estabelecer os lugares de cada pessoa na cerimônia. Ele me faz sentar em uma das cadeiras preparadas e me olha sério.

–Vou me casar em uma semana... -Começa. -E isso significa que eu vou pra África em uma semana, e eu vou ficar fora por seis semanas.

–Eu sei.

–Sabe o que isso significa? Você vai ter que se virar, Carter. -Engulo seco, meio inquieta de novo. -Mas eu falei com Harvey e Fletcher, eles vão cuidar de você. -Ele sorri. -Mas eu quero ter certeza que você vai se virar... sozinha. Entende? Não vou poder te levar pra escola e pra nenhum lugar. Nem fazer comida. E pagar a conta do mês. -Olho séria pra ele. Aí é que eu percebo que eu não estava sozinha esse tempo todo, eu tinha Connor. E com ele indo para a África, é a primeira vez que eu vou ter que viver comigo mesma sozinha naquele apartamento, sem meu melhor amigo.

Estou preparada? Provavelmente não, mas sinto que isso pode ser uma experiência. Uma experiência meio triste, mas como tantas outras coisas na vida, eu não tenho escolha, então respondo que sim, e forço um sorriso por tanto tempo, que Connor espelha meu ato e assim, involuntariamente, meu sorriso se torna genuíno.


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Notas finais do capítulo

o que acharam? tá faltando alguma coisa na opinião de vocês? idk espero que gostem ily