Seeking Shelter escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 24
Dançar


Notas iniciais do capítulo

eu ODIEI esse cap foi uma tortura mas era preciso para os proximos acontecerem e eu posso garantir que os proximos vão ser legais e emocionantes e tudo que esse capítulo não vai ser enfim



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Eu não falo com Max pelo resto da semana. Não me incomoda, porque eu me mantenho extremamente ocupada com os ensaios de dança para a nossa apresentação, e com os estudos para os SATs.

Minha parte preferida da semana é Carlo Rochelle.

Carlo é o coreógrafo que monta nossa apresentação, como ele sempre fez. Quando contrataram ele (no mesmo ano que eu entrei para o clube de música), ele estava no primeiro ano da faculdade de dança, em Los Angeles, e tinha estudado na nossa escola a vida toda. Carlo tem toda a confiança do mundo em cada molécula do seu corpo, assim como o talento.

–CARTER HALLAWAY! -Ele gritou pelo corredor, na primeira vez que nos vimos. Todo mundo que passava estava olhando pro seu collant alaranjado, mas eu estava focada no sorriso enorme que ele me deu, como sempre me dava nos ensaios. Ele é a personificação da felicidade, coisa que eu preciso bastante esses dias, então é sempre bom ter sua companhia. -O QUE ACONTECEU COM SEU CABELO? -Ele abriu os braços e me abraçou.

Alguma coisa em mim mudou naquela hora. Foi diferente. Não é como se eu estivesse apaixonada por ele, já que (1) ele é gay (2) eu não consigo gostar de ninguém desse jeito, não mais. Mas era tão familiar, porque nos abraçamos um milhão de vezes antes e isso tudo me trouxe memórias felizes de volta. É como se eu lembrasse de cada risada dos ensaios, cada piada interna, cada passo de dança que adorava fazer, e aquilo tudo estava tudo ali, me abraçando de volta. -Perdoe minhas palavras, mas você está sensual!–Carlo começou a mexer no meu cabelo, depois passou as mãos pela curva da minha cintura, me remexendo. Beijou minha mão, e quando viu a banda lá atrás, seu rosto se iluminou (Eis sua explicação: ele acha Marco lindo. Clark também. Ele só revelou que achava Max o mais bonito de todos depois que eu falei que não estávamos mais juntos há dois anos. Carlo ama garotos bonitos, já que ele é um ser humano normal.)

Ele abraçou cada um e eles sorriram educadamente, meio desacostumados com a presença estonteante de Carlo (e o collant laranja). Aparentemente, depois que eu fui embora o grupo de música se recusou a fazer uma performance de dança, porque eles achavam que não precisavam, então Carlo ficou sem vir durante dois anos. Esse ano, porém, Birkin fez questão que ele viesse, porque segundo ela, "estava cansada de perder". Não é um bom pensamento, mas estou contente por ele estar aqui.

Resolvi não participar do show principal na competição. Decidir não participar de nenhum show, pra falar a verdade. Acho que os outros tem um potencial melhor do que o meu, nessa altura e me livra de uma pressão enorme. A senhorita Birkin ficou meio triste, mas entendeu meus motivos.

Carlo ficou furioso.

–Você é uma estrela! Aja como uma! Mostre o seu brilho pra todo mundo! -E a cada ponto de exclamação, ele atirava as mãos para o alto, em um sinal de pura irritação. Não deixei aquilo me abater.

Cyrus me apoiou, como sempre. Na verdade, ele só deu de ombros e disse:

–Contanto que a gente vá, beleza. -Porque Cyrus sempre gostou das competições, apesar de não gostar muito da banda, ele ainda vai para ver como os alunos vão se sair, porque ele ama fazer uma análise das apresentações e das músicas que cada grupo. Ele ainda é um nerd de música.

Agora é sexta, e marca uma semana e meia de ensaios, e todo mundo olha pra mim como se me odiassem. E tem um bom motivo: Carlo exige muito de todos, esperando o melhor e não liga se o pé de uma aluna está com bolhas por causa do salto alto ou se outra pessoa está com dor de cabeça. E todo mundo odeia isso, e me odeiam por gostar dele. Até o Babaca está pior do que o normal comigo. Eu não ligo, porque tenho a confiança de que Carlo Rochelle vai nos levar a vitória, pois foi o que fez por anos. Estamos em um estúdio de dança na escola, e eu, a banda e a senhorita Birkin estamos sentados no chão, no canto, observando enquanto todo mundo joga as mãos pro alto enquanto dá um pulo, parecendo zumbis.

A coreografia é bonita, apesar de complicada. E combina com nosso setlist. Nossas músicas escolhidas foram Every Teardrop Is a Waterfall, Princess of China e por fim, Paradise, ou seja, um tributo a Coldplay. Foi uma jogada esperta da senhorita Birkin, porque todo mundo gosta de Coldplay, então evita brigas entre os alunos. Apesar das músicas não terem muito ritmo pra uma dança, Carlo faz o seu melhor, como sempre.

–Uma estilista um dia disse que antes de se vestir, você deve dançar. -Carlo comenta, quando todos fazem uma pausa e desabam no chão.

–Por quê? -Anne, uma menina do primeiro ano pergunta.

–Porque dançando você libera seu verdadeiro eu. -Ele diz, mexendo as mãos enfaticamente. -Dançando você se libera, e ponto. E o único jeito de viver, assim como se vestir, é sendo autentico. Sendo você de verdade, então precisamos dançar. E dançar bastante pra conseguirmos o que queremos.

–Nem todo mundo aqui quer ser bailarino. -Um garoto comenta.

–Mas todo mundo aqui vai ter a sua hora de dançar na vida. -Carlo replica. Sorrio, observando o debate. -E também vai chegar uma hora onde vocês vão ter que parar de ter uma certa imagem de vocês mesmos e perceber quem vocês são de verdade. Dançar é uma boa maneira de fazer isso, e é por isso que nas performances vocês dançam. Porque ajuda a mostrar sensibilidade.

–Se ajuda, meus pés estão muito sensíveis.

–Isso ajuda sim. Sem dor, sem ganho querida! -Eles bufam, mas sorriem um pouquinho. E depois de um tempo, todo mundo volta ao trabalho. Ficamos apenas observando. Max está absorto em pensamentos, escondendo sua consciência atrás dos fones de ouvido que tocam uma música no volume máximo, que dá pra ouvir onde eu estou. Max me faz pensar em Jill. Ela faltou segunda feira, mas veio em todos os outros dias da semana. E ele estava certo sobre ela agir como se o odiasse, porque tem sido rude com o irmão em cada tentativa de contato essa semana. Por um lado, quero dar um tapa nela e por outro, quero abraçá-la e assegurar que tudo vai ficar bem.

Ela faltou hoje. Sei que é porque começaram as investigações ontem a tarde, então ela está em uma situação estranha. Com medo, com raiva, confusão. Não a culpo, mas eu fico com medo. O meu ponto de vista: ela é uma menina doce. Sempre foi. Mas coisas ruins mudam uma pessoa, pra pior ou melhor, e meninas doces como ela tendem a piorar. Parte de mim acha impossível que Jill, JILL, se torne a garota fria como vem se comportando, mas também, nunca me imaginei com dezoito anos, tomando decisões por mim mesma. Mudanças drásticas ou pequenas, elas sempre aparecem depois de uma tragédia.

Não sou idiota a ponto de comparar o que aconteceu comigo, com minha família, e o que aconteceu com Jill, são coisas diferentes. Mas as consequências parecem as mesmas, meio invertidas. Ela fica com o papel da fria e calculadora, uma vez que era gentil e frágil, e eu fico com o papel de frágil e sentimental, já que era uma rebelde. Ambos os fins parecem tristes, de certa maneira.

Eu só espero muito que ela fique bem.

Ela ainda sorri pra mim nos corredores, mas a menina de quinze anos dentro dela está lentamente se esvaindo. Espero estar errada. O ensaio acaba, os alunos são dispensados e no fim, só sobra eu e Carlo, sentados no chão do estúdio, tomando 7 Ups. Sei que ele vai embora em alguns dias, agora que o trabalho está feito, e preciso me prender as memórias boas com ele enquanto posso.

–Falando sério agora, o que houve com o seu cabelo?

–Eu decidi voltar pro natural.

–Esse é o natural? A cor também? -Ele parece chocado. E Carlo, pra expressar sentimento, é um livro aberto. Ele mostra o choque no seu rosto inteiro. Solto uma risadinha.

–Sim.

–E por onde você andou, já que não estava aqui? -Essa é a parte chata. A parte que eu venho evitando de falar com Cyrus. Carlo não sabe de nada. Não mantemos contato a distância, então ele não tinha como saber. Do acidente, da clínica, nem do término com Max.

–Meus pais morreram. -Não chore. -Eu me mudei pra uma clínica. -Ele não sabe o que falar, e o ar do lugar fica pesado demais pra eu aguentar.

–Não se mate. -É tudo que ele diz. O pai dele se matou, então ele tem trauma de suicídio. É meio esquisito, mas deve ser aterrorizante.

–Não vou.

–Já tentou?

–Uma vez. -Mostro pra ele uma cicatriz na minha barriga, por onde o tubo que fez uma lavagem intestinal passou. Tomei remédios demais, propositalmente.

–Não tenta de novo, estamos entendidos? -Ele aponta um dedo pra mim.

–Entendi.

–E Max? -O encaro, confusa.

–O que o Max tem a ver com isso tudo?

–Como ele ficou quando você foi embora?

–Não sei. -Respondo, verdadeira. -Ele terminou comigo antes de eu ir embora.

–Antes ou depois do acidente?

–Antes. No mesmo dia.

–Me diz que você tá brincando!

–Não. Mudando de assunto. -Ele abre a boca, querendo falar mais, mas em nome da nossa amizade, começa a falar sobre outra coisa. Quando terminamos de tomar nossos 7 Ups, nos despedimos e eu espero Connor na porta do estúdio, como sempre. Mas antes do carro dele, outra pessoa estaciona ali. É Ingrid. No começo, acho que ela veio buscar Max, mas não faria sentido, já que ele já foi embora. Ela vem até mim, segurando firme na sua bolsa de couro.

–Ingrid! -Exclamo, dando um abraço nela. Ela me solta, e então me olha, espectante, hesitante. Logo depois, fala, na sua voz de mãe dela, calma mas inquieta.

–Olá, querida. Será que... será que podemos conversar um instante?


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Notas finais do capítulo

n me matem