Seeking Shelter escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 22
Paz de Espírito


Notas iniciais do capítulo

oi gente como vão



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Eu já sabia que Ashley era uma entusiasta sobre tudo na vida, mas eu achei que depois da cena na casa dos meus dela, ela ia chorar ou algo assim. Afinal, esses são os pais dela, que acabaram de insultar seu noivo e comunicar que ela não é mais bem vinda ali. Ela não faz nada disso. Ela entra no carro e ao invés de irmos pra casa, paramos no parquinho e sentamos no balanço. Estou estranhando a situação toda.

Até eles começarem a rir. E é de surpresa, vindo do nada.

–Parabéns, baby, nós conseguimos. -Connor diz, como se eu nem estivesse ali.

–Do que vocês estão falando? Os pais da Ashley acabaram de jogar ela fora de casa. -Ashley sorri pra mim.

–Minha família não é como a de vocês. Nunca fomos unidos, nem nada. Eles tentaram, mas nunca nos demos bem. Eu não esperava que eles fossem aceitar, Carter. Eu só queria ser uma boa filha e comunicar pra eles que eu vou casar e dar o benefício da dúvida. Agora o problema é deles.

–Você não está triste?

–Eu sempre sonhei em entrar em uma igreja com meu pai e ver minha mãe chorando de felicidade, então é meio que um sonho acabado, mas não, não estou. Está tudo bem, de verdade. -Balançamos mais umas vezes antes de eu voltar a falar.

–Quando vocês vão casar? E o dinheiro?

–A gente não tem muito dinheiro, então vamos casar na praia. Sem alugar igrejas e sem festas. Tudo feito em casa.

–E a lua de mel? -Pergunto, hesitante.

–África. -Eles respondem em uníssono. Paro de balançar.

–Sério?

–É claro. Com o dinheiro que vamos ter até lá, dá pra irmos por alguns meses. -Meses.

–Ah. -Olho pra frente, tentando não parecer tão desesperada, mas Connor percebe.

–Mana, a gente vai ter tempo pra pensar nos detalhes, não se preocupe.

–E você vai participar do processo. -Ashley adiciona. -Preciso de sua opinião e de sua ajuda. Semana que vem acontecem os SATs, então finalmente você está livre pra me ajudar. Nossas aulas vão continuar ainda, até porque a graduação é só daqui há dois meses. Mas acho que conseguimos dar um jeito de lidar com o tempo que temos, você não acha?

–Claro. -Respondo. Algumas crianças passam correndo por nós, então eu penso como será quando Ashley ficar grávida. Como Connor vai reagir. Depois eu lembro do meu irmão e minha garganta se fecha. Meu celular vibra na minha mão, então vejo que é uma mensagem, de Max.

"Jill vai prestar queixa. Achei que você ia querer saber."

–Que foi? -Connor pergunta, do meu lado.

–Jill vai prestar queixa. -Respondo, contente, apesar de tudo.

–Que bom. Ei, querem um sorvete? Tem um cara vendendo ali do outro lado da rua. -Ashley olha para mim. Faço que sim com a cabeça e ela também, em seguida, então meu irmão atravessa a rua para comprar para nós.

–Você não está mesmo nem um pouco triste? -Pergunto outra vez. Aquela é a família dela. Entendo que são insuportáveis, mas não consigo pensar que ela não se sentiria nem um pouco abalada com isso, mesmo que já esperasse que isso iria acontecer.

–É claro que estou triste, Carter. -Ela diz, num tom mais sério do que na última vez que me respondeu. -Mas eu não posso mudar a situação. Eu já sabia que isso ia acontecer, porque eles já me falaram tudo aquilo antes. Não há nada que eu possa fazer. E eu me recuso a perder o sono por causa deles. Como eu disse, minha família não é como a sua, então não sei se você vai entender. Mas eu aceitei há muito tempo atrás que eles não eram meu tipo certo de família, e segui em frente. E quando eu formar minha própria família, pode apostar que não vou seguir os passos deles.

–Você acha que seu irmão foi pro exército por causa da sua família? -Ela pondera minha hipótese.

–Pode ser que sim. Mas acho que nós dois nascemos com uma vontade de ajudar outras pessoas, não sei de onde. Então não me surpreendeu quando ele disse que queria ir pro exército.

–Onde ele está agora?

–Eu não sei. -Ela suspira e eu olho, incrédula. Vendo meu olhar, se explica. -Ele não tem permissão pra dizer onde ele vai, mas sabemos que é em um dos lugares hostis do oriente. Ele corre perigo, mas é um cara esperto. Nós dois sabemos que algo pode acontecer, mas esse sempre foi o sonho dele estou feliz por ele.

–Tyler vem pro casamento? -Ashley sorri ternamente.

–É bom que venha. -Rimos.

–Me desculpe por seus pais. -Digo, sem saber porquê.

–Eu não preciso deles. Vocês são minha família. -Meu coração aperta, mas nesse momento, Connor volta com nossos sorvetes e mudamos de assunto, rapidamente. Ficamos mais uma hora no parquinho, até os casais e crianças começarem a chegar, por volta das quatro da tarde, então voltamos para casa. Assim que entro no meu quarto, me deparando com as paredes horríveis desnudas, me sinto conflituosa, pela primeira vez desde semana passada. É a primeira vez que eu tenho tempo para pensar sobre algo que não seja o caso do estupro e as consequências disso. De súbito, estou cansada e atordoada, encarando as paredes do meu quarto.

–CONNOR! -Grito.

–QUE FOI?

–A TINTA PRA MINHA PAREDE! -Ele não responde, mas em um minuto está parado na minha porta. Segurando uma lata de tinta. Azul. Com um laço vermelho colado em cima. Ele bota no chão.

–Achei que você nunca ia pedir. Seu presente de aniversário. -Um riso escapa de mim, e acaba virando uma gargalhada, porque o senso de humor do meu irmão é incrível.

–Nossa, muito obrigada!

–Melhor presente. -Ele pisca pra mim, me atenho a balançar a cabeça, observando ele sair do quarto. As caixas do meu quarto vão facilitar a pintura, mas não começo logo de cara.

Pra falar a verdade, eu não começo. Uma cena me vem a mente.

É bem engraçado, na verdade, mas me faz fungar, tentando conter o choro. Foi um dia no verão, quando minha mãe decidiu pintar a parede da nossa garagem. De amarelo. Então começamos logo de manhã, eu e ela, porque Connor tinha saído. Foi engraçado porque enquanto estávamos suando pra pintar a parede, meu pai estava cuidando do bebezinho Chaz e preparando o almoço. Quando minha mãe apontou essa inversão de papeis, ela no lugar do homem da casa e meu pai como a dona de casa, rimos por hora.

Eu sinto falta deles. Eu queria que meu pai estivesse na cozinha agora e que minha mãe estivesse do meu lado, tagarelando sobre pintar da maneira certa e reclamando que eu precisava trocar de roupas senão ia sujar uma roupa boa de tinta. Mas agora tenho que fazer tudo sozinha. E não ia ser a mesma coisa com Connor, porque nada pode substituir meus pais nessa situação.

Caio na cama, me perguntando se pressionar o travesseiro contra o rosto mata, uma vez que é exatamente isso que eu estou fazendo.

Será que eu ligo para Cyrus?

Ou Naomi?

O que eu faço agora, em um sábado a tarde?

Meia hora se passa enquanto eu penso na melhor decisão a se tomar, tentando me livrar da memória dos meus pais, mas ao mesmo tempo, não querendo. É como se eu quisesse as memórias, menos a dor que vem com elas. Infelizmente, sei que isso não é possível. Sei que vou ter que viver com isso pro resto da vida, então entro em outra encruzilhada sobre como lidar com essas memórias e com essa dor da perda.

Em outras palavras: o que eu façoagora? Nesse exato momento?

Nesse exato momento,Jill me liga. Agradeço a Deus pela ligação, uma distração, e atendo animada.

–Jill!

–Posso passar aí? Por favor? -A voz dela está rouca e sei que estava chorando. Minha animação vai embora.

–Claro. Você vem agora?

–Max vai me levar. Agora. -Ela funga.

–Pode vir. Como você está?

–Converso com você aí, pode ser? -Quinze minutos depois, ela aparece, com Max. Já esperava isso, então apenas abro caminho para eles entrarem pela cozinha. Como tinha avisado Connor e Ashley, eles só acenam, levantando as suas latinhas de cerveja, da sala, como cumprimento. Jill está com os olhos inchados e uma bagunça. Max não está muito melhor, com olheiras e parecendo meio ferrado na vida, porém eu não comento nada.

–Por que você está toda arrumada? -Aí eu percebo que estava com as mesmas roupas que antes, junto com a maquiagem.

–Oh. Fomos almoçar na casa dos pais da Ashley. Eu nem lembrei de me trocar, só um segundinho. -Declaro, indo até o meu quarto e trocando de roupa, depois tirando a maquiagem. Em seguida, deixo a porta aberta, para eles entrarem.

Só Jill vem. Max só acena do sofá, indicando que essa é uma conversa que é melhor apenas eu e ela termos. Dou um sorriso fraco em resposta, me virando para Jill. Ela sentou no canto da minha cama, olhando as caixas e os objetos ao redor.

–Então... -Começo, me aproximando. -Max me disse que você decidiu prestar queixa. -Ela confirma com um movimento. -Que bom. Isso é ótimo.

–Não estou fazendo isso por mim. Estou fazendo pelos meus pais. -Ela suspira.

–Mas isso é sério, Jill.

–Eu sei. Mas eles não parecem ligar para o fato de que todo mundo vai saber disso. Sem contar que aquele cara tem amigos.

–E eles não vão chegar perto de você. -Seus olhos focam em mim.

–Eu estou meio brava com você também. Achei que você ia entender. E não contar pra ninguém. -Seu tom é acusador.

–Eu queria que não tivesse acontecido com você. Se eu pudesse trocar de lugar com você, eu trocaria, Jill. Eu sinto muito que isso tenha acontecido. Mas eu tinha que contar. Não era o certo guardar pra mim algo tão horrível assim. E você está lidando bem com a situação. -Ela bufa.

–Estou lidando bem com a situação porque isso aconteceu dois meses atrás. Eu estava pirando, depois que aconteceu. Mas agora é diferente. Eu conseguiria lidar com a situação perfeitamente sem levar isso pra um tribunal.

–A questão não é como você vai lidar com isso agora. A questão é o peso da sua consciência, alguns anos depois. Você está no primeiro ano, Jill. Tem mais três anos aqui, quase. Você vai ter que aguentar esse pessoal por bastante tempo. Uma hora ou outra, o medo vai te limitar na vida, por causa do que aconteceu. Por causa daquele cara. A questão é a paz de espírito. Entendo que seus pais estejam mais desesperados que você. Mas eles estão desesperadospor você.Porque eles te amam. -Seus olhos brilham com algumas lágrimas.

–Eu entendo. Mas eu nãoqueroir pra um tribunal e ver esse cara. Eu não quero toda aquela dor de cabeça. Foi por isso que eu não contei pra ninguém antes.

–Você sabe o que aconteceu com o cara que bateu o caminhão no carro dos meus pais e matou quase todos que estavam lá dentro? -Quase todos menos eu? Ela faz que não. -Nada. Ele desviou e saiu. Não deu tempo nem de anotar a merda de placa dele, pra procurar depois. E ninguém apareceu, assumindo a culpa. Então eu assumi. Não do jeito que você está pensando. Emocionalmente, eu assumi a merda da culpa, porque não tinha mais ninguém pra culpar, além de mim naquela situação. Eu sei que isso vai parecer egoísta, mas você sabe quanto estrago emocional poderia ter sido evitado se o caso do acidente tivesse tido um culpado, na justiça? Se o caminhão tivesse esperado um pouco a tempo de alguém conseguir o memorizar, ou tivesse saído um pouco mais devagar a tempo da polícia conseguir identificá-lo na área suspeita? Quantas noites eu podia ter dormido, ao invés de ficar chorando por aí, sabendo que o cara não devia nem saber o quanto ele fodeu com o minha vida. Quantas vidas ele matou.É tão injusto, Jill.É por isso que todo mundo quer que você preste queixa. Porque o filho da mãe precisa assumir a responsabilidade por ter sido um cretino e você pode seguir em frente. Fechar esse capítulo da sua vida e pronto. -Respiro fundo, retomando o controle das minhas emoções. -Fazer o que eu não consegui.

–Eu já fui lá, sabe. Eu já prestei queixa. -Ela sussurra, deixando algumas lágrimas caírem. -Eles estão processando e vão chamar um investigador hoje a noite pra falar comigo. Eu só precisava de certeza, que era isso que eu ia fazer. Eu vou fazer. Obrigada por me contar tudo isso. E eu sinto muito pelo que você passou, de verdade. Eu só estou com medo.

–É normal. Mas você acha mesmo queMaxvai deixar alguma coisa acontecer com você? O seu irmão? -Ela solta um riso curto.

–Não. Ele não me tira de vista, o que é irritante. Mas ele não iria deixar.

–É claro que não! -Digo, sorrindo pra acabar com o clima pesado. -Posso provar que as habilidades de luta dele não são tão boas, mas ele sabe cuidar de você, tenho certeza. -Ela dá um sorriso, me abraçando.

–Obrigada, Carter.

–Não tem problema. -Me soltando, ela encara a lata de tinta.

–Por que tem um laço naquilo ali?

–É meu presente de aniversário.

–Oh. Aniversário? Quando?

–Ontem. -Os olhos dela se abrem.

–Feliz aniversário!

–Obrigada.

–Me desculpe, eu não sabia, que loucura...

–Relaxa, ninguém sabia. -Menos o irmão dela. E Cyrus.

–O que você vai pintar?

–Minha parede. -Aponto para as paredes. Ela me olha, esperançosa.

–Precisa de ajuda? -E eu planejava fazer isso sozinha, pra sofrer um pouco a solidão. Mas algo me diz que Jill precisa de uma distração mais do que eu.

–Quer saber, eu preciso. -Ela sorri. -Então, mãos a obra.


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Notas finais do capítulo

o que acharam????
a cena da garagem aconteceu com a minha familia então foi tirado da minha propria vida e quase me fez chorar enfim NO PROXIMO CAP O MAX APARECE BASTANTE BYE
ps alguém de vocês tem twitter porque eu gostaria de saber ksdjfhksdj e pps VAI FAZER UM ANO QUE EU TENHO ESSA CONTA NO NYAH DA PRA ACREDITAR FSDKJFHSDKJFHSKDJFH BYE