Seeking Shelter escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 20
Estruturas de Uma Família


Notas iniciais do capítulo

eu juro solenemente que eu vou responder os reviews todos eles só não sei quando mas eu vou adeus



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O nome de verdade do Max é Maxim, porque a mãe dele gostava do livro Rebecca demais. Me lembro que ela considerou chamar Jill de Rebecca, mas Rebecca era uma vaca, e ela não queria influenciar a filha. Se a personagem principal tivesse um nome além de Mrs. de Winter, com certeza esse seria o nome de Jill.

Me lembro disso tudo, porque a primeira coisa que a mãe de Max faz quando abre a porta da sua casa para mim e Max, é dizer:

-Maxim, o que está acontecendo? Você não tem que estar na escola? Sua irmã está com você? -Então ela vê seus olhos. -Você está chorando? -Então ela me vê. -Carter? Entrem, os dois e me expliquem porque não estão na aula, e é melhor terem um bom motivo, mocinhos. -Ela tenta ser severa, mas está mais preocupada do que brava.

-Cadê o papai? -Max pergunta.

-Foi trabalhar, e você sabe disso. -Ingrid trabalha em casa, então deve estar sozinha. Max olha pra mim, e eu transmito pelo meu olhar que não estou com vontade de contar de novo o que aconteceu. Ele parece entender e se vira de novo para ela.

Meu celular toca. É a médica da clínica que a gente levou Jill, antes de vir pra cá.

-Preciso atender. -Aviso, e saio da sala, para dar privacidade à eles. Estou com muita pena da mãe dele, e estou grata pela ligação para me distrair da notícia que Max vai dar.

-É a Catherine?

-Sim.

-Aqui é do Simmons H.

-Doutora Lily, eu sei. Como ela está?

-Chamamos uma psicóloga e ela está com ela agora. Ela teve sorte, porque a consulta é de graça, senão a quantia seria alta. Fizemos exames e demos um remédio para ela relaxar. Segundo ela, o ataque aconteceu há mais ou menos três meses, por um cara da faculdade local. -Merda.

-Mais alguma coisa?

-Estamos tentando fazê-la prestar queixa. Perguntamos se ela reconheceria a pessoa ou as pessoas e ela disse que sim, mas está com medo. É compreensível. Ela não tem trauma nem nada, embora isso seja um assunto delicado para uma menina de quinze anos. Daqui a pouco ela vai ser liberada e vocês podem pegá-la. Você vai ter que assinar mais alguns documentos, já que tem dezoito anos e a trouxe aqui.

-Tudo bem, obrigada.

Desligo a ligação, mas continuo no mesmo lugar, com medo de entrar e ver a mãe de Jill chorando. Quinze minutos se passam e Max vem me encontrar.

-Ela foi trocar de roupa, e então vamos para a clínica. O que a mulher disse?

-Elas estão tentando convencer ela a prestar queixa, e ela disse que reconheceria os caras que fizeram isso, então é um bom sinal. Daqui a pouco podemos sair com ela, e a médica disse que ela não tem trauma, só está lidando com tudo isso da mesma forma que uma adolescente de quinze anos lidaria. Com um pouco de ajuda, acho que ela vai ficar bem logo.

-Vou matar aqueles filhos da puta. -Fico com medo, porque sei que Max está furioso. -Ela tem sóquinze anos.

-Max, eu sei que isso é difícil, mas sua irmã não precisa de um vingador. Ela precisa do irmão dela. Então, na frente dela, não fala dessas coisas, tá? Vai apavorá-la.

-O que eu faço, então?

-Mostre que você a ama e que vai amar não importa o que aconteça com ela. Ela precisa de apoio emocional. Ela precisa da família. -Minha voz vacila quando digo a última parte. Ingrid se joga nos meus braços quando nos encontra, no corredor. Seu corpo treme e então percebo que ela está se segurando para não desabar.

-Fico contente que você esteja bem. -Ela diz, para mim e eu sinto uma pontada de culpa. Irracionalmente, me sinto culpada por ter me livrado dessa situação e Jill não.

O resto do dia me deixa exausta. Primeiro, encontramos Jill, depois o pai dela aparece na clínica e mais uma rodada de choro acontece, enquanto contam para ele o que aconteceu, Jill parece cansada, triste e assustada, mas o desespero passou um pouco, já que seus pais já sabem. Na verdade, eles estão pior que ela, mal conseguindo se conter. Abraço Jill e seu pai, dando meu apoio e todos nós vamos até a casa deles outra vez. Não sei porque eu vou, já que meu trabalho acabou, mas é quase automático e eu só paro pra pensar nisso quando os pais de Jill e ela entram no seu quarto e Max vai até a cozinha, me deixando plantada ali, sem saber o que fazer. Vou caminhando, redescobrindo a casa e é com pesar que eu percebo que nada mudou. Não sei porque isso me deixa triste, mas talvez seja porque me traz muitas lembranças. Os quadros estão no mesmo lugar, os móveis também. Apenas as pessoas que moram aqui mudaram, principalmente agora.

-Você acha que foi o mesmo cara? -Ouço a voz de Max, e dou um pulo, me afastando de um quadro que estava vendo e me virando para ele.

-Pode ser. Eu estava em uma festa da universidade aquele dia e ela disse que foram caras da universidade.

-Eu preciso te contar uma coisa. -Ele diz, meio tenso. -Eu estava lá naquele dia.

-Lá aonde? Que dia? -Me aproximo dele e encostamos na parede.

-Na festa em que você estava. Eu fui lá porque eu resolvi dar uma chance e me divertir com vocês. Só que eu cheguei lá e te vi beijando aquele cara, então eu fiquei furioso e sai da casa pra tomar um ar e voltar sem fazer besteira aí, quando eu voltei, você não estava mais lá, então eu voltei pra casa...

-...E no outro dia...

-...É. -Ele diz, num tom de voz baixo, sem querer mencionar o término do namoro. Engulo seco, sem saber como reagir.

-Hm, tá tudo bem.

-Não tá tudo bem. Eu terminei com você e na verdade você estava sendo quase estuprada.

-Ei, não se deixe levar. Está tudo bem mesmo.

-Me desculpa, Carter. -Pronto. Olho para ele, e ele parece tão aliviado por finalmente ter dito que eu percebo que nesses dias em que ele estava agindo estranho, ele se sentiaculpado.Culpado por ter me abandonado na festa. E, o estranho é que eu não sinto nem uma pontada de raiva. Não tinha como ele saber. Ninguém sabe quando algo ruim vai acontecer.

-Você precisa de perdão? Eu te perdoo, Max. -Levo minha mão até seu ombro e aperto, solidária. -De verdade. Eu nunca te culpei. -Sei que isso é a conversa mais pessoal que tivemos desde que voltei, mas sei que as minhas palavras podem livrar Max da culpa que ele não precisa ter. Então eu me aprofundo no assunto, para deixar claro que nem por um segundo eu pensei que ele era o culpado disso tudo.

Max é uma boa pessoa. E o problema com as boas pessoas é que o coração delas é bom demais, e ele acaba se afetando com tudo que acontece ao seu redor, se envolvendo emocionalmente e se achando na responsabilidade de proteger a pessoa, uma vez que nutre sentimento por ela. Mas não é bem assim; ele não pode proteger todo mundo, e eu falo para ele exatamente isso.

-Não tente distorcer a história com Jill para parecer que isso é sua culpa também. Você sabe que não é. Não tem como evitar que coisas ruins aconteçam, elas acontecem toda hora. -E isso é uma realização grande para mim também. Não posso dizer que lava toda a culpa dentro de mim com relação a minha família, mas alivia um pouco o peso do meu coração, sabendo do que eu sei. Aquele instante, o momento do acidente, foi tecido por tantos outros detalhes, outros motivos de ter acontecido, outros finais que não vão acontecer, mas a certeza é que, se eu tivesse como saber como aquilo tudo iria acabar, eu faria o máximo para evitar a tragédia e isso é suficiente.

Infelizmente, não posso mudar o passado.

Max parece melhor depois da nossa conversa, mas todo mundo fica pra baixo quando eu conto para Jill que não fui estuprada (ela, inicialmente, fica furiosa com a revelação, como se eu tivesse a traído, mas depois se acalma), mas que posso ter uma ideia de quem fez aquilo com ela e Max procura no Google e nas redes sociais os estudantes da universidade local, até achar o rosto familiar. O do show, o do cara dos meus pesadelos e no final, com temor, Jill confirma que é o cara que a machucou, provocando mais uma rodada de lágrimas da parte dela e histeria dos seus pais. Joel, o pai dela, tem um ataque de raiva e eu e Max usamos toda nossa energia para convencê-lo a não sair com uma arma procurando o "desgraçado dos infernos" pela rua. A essa altura, já é a hora do almoço, então como Ingrid e Joel estão em choque ainda, assim como Max, eu me viro na cozinha e faço macarrão.

-Obrigada, Carter. -Ingrid funga. -Por tudo.

-Não tem problema. -Como na cozinha, com Max e os pais de Jill comem no quarto dela, sem querer deixar a filha sozinha. Até entendo. Era isso que meus pais fariam e Jill deve estar grata por isso, depois de passar esses meses com medo. Connor me liga, algum tempo depois e pergunta como foi, então conto os eventos da manhã, e ele pergunta se eu quero sair pra comer alguma coisa por causa do meu aniversário.

Que para ser honesta, eu nem lembrava.

-Não, não precisa. Podemos ficar em casa. -Respondo. O resto da tarde se reveza entre ligações de advogados perguntando o que é a melhor coisa a se fazer para pegar o "desgraçado dos infernos" e conversas com a Jill, para ela prestar queixa. As minhas conversas são rápidas, porque não sei o que dizer, mas em compensação, cada um dos pais dela fica no quarto por meia hora, e seu pai começou a gritar, em uma das vezes. Eu realmente espero que Jill fique bem logo, porque lembro da sua risada e das suas brincadeiras quando era mais nova e é quase doloroso imaginar uma versão fantasma dela em seu lugar.

Uma versão Carter.

-Vou te levar pra casa. -Max anuncia, por volta das sete horas da noite e eu concordo. Dá pra ver que ele está louco para sair de casa, sair do drama e do choro de Jill e clarear a mente. No carro, seu celular toca e ele bota no viva-voz, porque Max é assim: certinho demais pra dirigir falando no telefone. E sou muito grata por isso, considerando que meus pais morreram num acidente de carro.

-Onde você tá? -É a Naomi, tenho certeza.

-Aconteceu umas merdas. Eu estou levando a Carter pra casa agora e depois eu explico. Não tem ensaio da banda hoje. -Ele diz, parando num sinaleiro e então bota o celular na orelha, tirando do viva-voz. Ele tem uma conversa rápida, terminando quando o sinaleiro fica verde de novo. Terminamos o caminho até o apartamento em silêncio, e eu saio do carro sozinha, com os pés doloridos e necessitando de uma boa noite de sono, sem interrupções.

-Carter? -Max chama, do carro. Eu me viro.

-Sim? -Ele abaixa o vidro do carro, para falar comigo.

-Feliz aniversário.


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