Seeking Shelter escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 2
As Coisas Ruins




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Minha vida era assim: eu era a cantora principal em todas as competições estaduais/regionais, conversava com todo mundo, usava roupas minúsculas e fumava maconha quando ninguém estava vendo. Eu bebia também, mas isso não era segredo, já que meus pais viviam brigando comigo e eu vivia me metendo em situações embaraçosas totalmente bêbada. Eu tinha um melhor amigo, Cyrus, que nunca concordava com nada que eu fazia, e um monte de "amigas" que falavam comigo para falarmos mal de outras pessoas. Engraçado, porque não consigo lembrar o nome de ninguém agora. Tinha um irmão de quatro anos, pais amorosos e um irmão dois anos mais velho com um futuro proeminente. Sem contar o meu futuro, que era de conseguir um acordo com uma gravadora e um contrato para um CD.

Parece idiota agora. Essa coisa de gravadora. Mas antes era meu maior sonho.

Então minha vida se resumia a isso. Eu usava o cabelo totalmente liso também, e preto, pintado em casa mesmo. Destacava bastante meus olhos verdes e todo mundo achava lindo, mas pessoalmente, meu castanho fica melhor agora. Não consigo mais me imaginar de cabelo preto. Nem liso.

Eu era inteligente e boa na escola. Me esforçava demais, por isso. Nunca prestava atenção na aula e vivia zombando dos professores, mas eu sempre chegava na hora e fazia meus trabalhos, graças aos meus pais e suas insistências. Ninguém fazia ideia do quanto eu amava a escola. Eu era livre lá, apesar de arranjar confusão sempre e eu me sentia... acolhida. Amada por todos. Onde todo mundo apreciava meu talento. Não que meus pais não apreciassem. Eles SEMPRE apreciaram. Mas eu tinha a necessidade irritante de precisar que o mundo todo reconhecesse meu talento, e todos da escola não podiam negar que eu tinha uma bela voz.

Connor diz que ainda tenho, mas é besteira, porque não canto mais na frente de ninguém.

Mas voltando para o assunto escola, era meu porto seguro. Agora parece o meio de uma guerra. Caminho ao lado de Connor e Ashley, que estão de mãos dadas e para dentro dos corredores, onde tem alunos por toda parte.

Seres humanos demais.

-Carter, caso esteja se perguntando, não se preocupe, vou estar com você em cada etapa da sua nova vida escolar. Vou ser sua tutora caso precise e vou te mostrar a escola toda.

-Lembro da escola. -Digo.

-Eu sei, mas algumas coisas mudaram. Salas e tudo mais.

-Ah. -Respondo, sem animação, tentando me esconder atrás do meu cabelo e Connor me dá uma cotovelada de leve. O som dos estudantes desaparece quando o sinal toca e todo mundo entra nas salas, mas nós continuamos no corredor. Aperto a alça da minha mochila mais forte. Memórias desses corredores vem a minha mente e tudo que eu quero é correr para bem longe. -Obrigada, de novo, Ashley. -Digo, pelo bem do meu irmão. Ele e Ashley se esforçaram muito nos últimos dias para que eu me sentisse sempre a vontade e feliz e eu não quero parecer ingrata.

-Sem problemas! -Chegamos no fim do corredor e damos de cara com uma porta marrom, pesada com uma placa indicando sala do diretor. Meu irmão e a namorada trocam olhares nervosos antes de eu abrir a porta, encontrando o diretor Wayman, o mesmo de dois anos atrás sentado em sua cadeira como se fosse o todo poderoso.

-Hallaway, é um prazer reencontrá-la. -Ele estende a mão, e eu a aperto.

-Sr. Wayman.

-Dou Diretor Wayman agora que você voltou para a escola. -Vou vomitar. Em vez disso, sorrio.

-Claro.

-Vamos falar de assuntos sérios agora, Srta. Fey, Sr. Hallaway, sentem-se. -Eles sentam um do lado do outro nas cadeiras e eu fico do lado de Connor, esperando o diretor terminar de falar. -Como você sabe, Catherine, aceitamos que você voltasse a todas as suas atividades normais, exatamente como eram antes, com descontos, devido a condição financeira em que você e seu irmão se encontram no momento.

-Entendo. -Respondo, porque é a coisa certa a se dizer para um adulto em uma hora dessas.

-E que, para darmos o desconto, tivemos que conversar com todos os membros do conselho dessa escola. -Apenas concordo com a cabeça. Meu pai era bom nessas reuniões. Sempre firme. Sempre amigável.

Quero meu pai de volta.

-E o conselho tomou uma decisão, baseada no seu histórico social e estudantil, assim como nas suas atividades extracurriculares também.

-O que isso quer dizer?

-Quer dizer que nós lhe damos o desconto. Todas as despesas pagas, almoço, livros, mensalidades. E, o que eu quero dizer, é que continuaremos a bancar tudo isso se você concordar em prestar serviços para essa escola durante os meses em que estiver nessa instituição. -Eles vão continuar pagando se eu trabalhar para eles, é a tradução do que ele disse. Mas trabalhar como?

-Eles conversaram comigo antes. -Connor diz, sua voz séria. Ele se inclina, descansando os cotovelos no joelho e então parece muito mais velho do que realmente é. Parece... um pai. Me recuso a vê-lo desse jeito. -E eu concordei. Honestamente, acho que será uma boa terapia para você, Carter. Então quero que saiba que tem meu consentimento.

-Que tipo de serviço vocês estão falando?

-Aulas.

-Não tenho certeza de que sou inteligente o suficiente para dar aula de alguma coisa. Nem ser tutora. -Digo, lembrando de Ashley. O diretor Wayman balança a cabeça.

-Não, não é esse tipo de aulas que estamos falando. Queremos você como líder, tutora e mestre do clube de música. -Não. Minha garganta arde, porque quero chorar, mas me recuso. Se eu chorar, vou parecer desesperada, e ninguém me quer desesperada por aqui. Connor iria se assustar, já que não choro na frente dele há um século.

-Não canto mais.

-Seu irmão nos informou; Mas não seria necessário. Espere um segundo. -Ele levanta um dedo, depois com o mesmo aperta um botão na máquina do telefone. -Senhorita Birkin, você poderia vir até minha sala um segundinho? -Olho para Connor, alarmada. Eles não estão jogando limpo. A senhorita Birkin era minha mentora na época em que eu fazia as performances com o clube de música, e ela era uma das únicas pessoas em que eu confiava. Ele me dá um olhar severo em retorno, mas no fundo, consigo detectar remorso. Ele está odiando tanto quanto eu.

A senhora Birkin, uma mulher de agora trinta anos, entra pela porta, com seu vestido longo florido e me olha. Por um segundo, acho que ela vai chorar, mas depois abre um sorriso enorme.

-Carter, Carter, Carter. -Ela canta meu nome, depois vem ao meu encontro e me levanto para abraçá-la. Ela não mudou nada. -Bem vinda de volta.

-Obrigada, eu acho. -Ela ri e me olha nos olhos, depois ergue uma sobrancelha e olha meu cabelo. -Adorei a inovação. -Tusso, sem graça.

-É... hmm, meu cabelo natural. -Ela não sabia, então está surpresa, mas logo se recompõe e olha para o diretor. Assente e olha de volta para mim.

-Catherine, precisamos de você. As últimas competições forem um fracasso. Os nossos jovens perderam o espírito, a alma e o amor pela música. Querem o pop. Não podemos deixar que o consumismo mude a alma da nossa música. Sei que você entende isso.

Eu entendo. Música é uma das únicas coisas na minha vida que eu ainda entendo.

-Precisamos de você para guiá-los. Para que as garotas dessa escola parem de se preocupar com o namorado que terminou pelo maldito celular e comecem a se concentrar no auto conhecimento. Os meninos estão perdendo o respeito pelos outros. Perdidos. Precisamos da sua ajuda. -Olho para baixo, fecho os olhos bem forte e sussurro.

-Eu só tenho dezoito anos. -Gostaria que tivesse menos. Queria ser dependente de alguém, apenas para não ter que enfrentar isso sozinha.

-E com quinze, você era nosso maior orgulho. Agora, pense no quanto você pode ensinar para esses adolescentes! Quantas memórias você pode partilhar?

De jeito nenhum.

-Carter, por favor.

-É o que vai garantir seus estudos. -Ashley adiciona, delicadamente. -Você precisa estudar para garantir o seu futuro. -Bem, estudos não garantiram o futuro de Connor. Olha onde ele está agora. Bancando o pai da irmã mais nova.

-Não posso.

-A terapeuta também concordou. -Connor diz. -Disse que seria um processo de transformação.

Não quero ser transformada. Mas eu amo meu irmão. E sei que se quer que eu faça isso, é porque quer meu bem. Acho que ele quer que eu me reconcilie com a antiga Carter, que mesmo que vaca, era mais feliz que a nova.

-Tudo bem. -Todos suspiram aliviados.

-Ótimo. -A senhorita Birkin diz.

Depois, quando termino de assinar um contrato, Connor e Ashley me guiam até a minha sala de aula. Ashley não para de falar, e eu sei que é porque acha que vou explodir, e Connor está quieto porque sabe que estou com raiva. Mas eu lido com a raiva internamente, porque não quero magoar os sentimentos dele.

-Na hora do almoço, vou sentar com você. -Diz Ashley. Connor não vai ficar na escola, já que tem que trabalhar na loja de auto peças de alguém.

-Claro. -Digo. -Obrigada por me trazerem.

-Não tem problema. -Ashley sorri, e Connor passa um braço pelos meus ombros, me apertando. Paramos na porta, e eu espero eles se despedirem, mas Ashley abre a porta.

-O que você vai fazer? -Pergunto, mas ela já está chamando o professor. Connor e eu damos um passo para trás enquanto conversam e eu dou uma olhada por cima do ombro para os alunos dentro da sala. Nenhum que eu vejo, conheço. O professor olha para mim.

-Catherine, bem vinda. -Aperta minha mão.

-Obrigada. -Sorrio. Ele bota uma mão no meu ombro. -Vamos entre. -Dou um passo para dentro na mesma hora que viro para olhar uma última vez para Connor. Ele acena um tchau, depois Ashley entra junto com o professor, que descubro ser de álgebra, e também percebo que metade da turma que eu não consegui ver são pessoas que eu estudei há dois anos.

-Senhores. -O professor diz, depois olha para Ashley. Ela assume sua pose de adulta, sorrindo grande para todos e me apertando com a mão.

-Meninos, e com meninos quero dizertodos vocês, quero que recebam de volta nossa querida aluna, Carter Hallaway. -Estou morta. Ninguém fala nada por um segundo, nem as "amigas" que eu costumava ter. Elas parecem meio surpresas demais para falar, mas me olham com... repulsa.

Não as culpo.

O silêncio já começa a ficar desconfortável quando alguém no fundo da sala, arrasta a cadeira, fazendo um sol alto, depois começa a falar.

-Ora, ora, ora. Quem é vivo sempre aparece. -Sorrio.

É Cyrus.


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