Seeking Shelter escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 19
Confiança Desesperada


Notas iniciais do capítulo

acho que esse cap tá muito triste dfskjfhsdkjfhsdkjfhskdfjhskdfjhkjfh enfim



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Quando eu era mais nova (leia-se uns quatorze, quinze anos) eu era acordada no meio da noite pelos meus pais com velas e um bolo de chocolate, ou por ligações dos meus "amigos" ou de Cyrus no meu aniversário. Como eu faço aniversário na madrugada, duas e três da manhã, pra ser exata, eles sempre me acordavam nessa hora.

Então é engraçado quando eu acordo no meio da noite por causa do meu irmão, me chacoalhando. Primeiramente, acho que ele vai me dar parabéns... até ver sua expressão séria.

-Carter, acorda. -Ele sussurra.

-O que? Tem algo errado? -É óbvio que tem algo errado, respondo para mim mesma. Só de olhar para Connor. -É a Ashley? -Ele balança a cabeça, negando.

-É a Jill. -Meu corpo fica gelado e subitamente, estou acordada.

-Espera. O quê?

-A Jill, irmã do Max. Não sei como ela chegou aqui, mas ela quer falar com você. -Sento na cama, limpando os olhos.

-Cadê ela?

-No corredor. -Tento levantar, mas ele me segura.

-Carter, ela está chorando. Eu sei que você se importa com ela, e por isso estou te falando, não deixe ser levada por suas emoções, tá?

-Tá. -Concordo freneticamente, saindo do quarto e sendo atingida pela iluminação da pequena sala do apartamento. Assim que me vê, Jill corre para me abraçar. Abraço-a de volta, preocupada. Sempre gostei de Jill, e o término com Max não mudou meus sentimentos com relação a sua irmã. -Ei, calma... vai me contar o que aconteceu?

-Preciso te contar uma coisa, mas você não pode contar pra ninguém. -Ela sussurra, sem encontrar meus olhos. Isso não é nada bom.

-Jill, o que foi? -Pergunto, lenta e calmamente, tentando transmitir tranquilidade. -Vem, senta no sofá. -Assim que ela senta, tentando secar as lágrimas, olho para a porta do quarto do meu irmão, onde ele está parado, nos observando e lá dentro, posso ver a silhueta de Ashley, dormindo. -Pode ir. -Digo à ele. Volto a atenção para ela. -Acalme-se, respire fundo e me conte o que aconteceu, Jill. -Mexo em seu cabelo, enquanto ela tenta se acalmar. Me espanta o quanto ela é parecida com o irmão.

-Eu não sei por onde começar. Mas... mas... mas... eles fizeram isso comigo também. -Franzo o cenho, confusa.

-Eles? Fizeram o quê?

-Eles me levaram pra um quarto.

-Você tá bêbada?

-NÃO! -Ela grita, do nada. -Eles fizeram isso comigo. Eles... eles... eles me levaram pra um quarto. Mas só um deles me tocou. -Quando eu entendo o que ela quer dizer, meu coração acelera. Ela volta a chorar, descontrolada e nesse momento eu percebo que Jill é tão... caótica quanto eu era, com a idade dela. Tento processar o que ela me diz, mas a situação é tão desesperadora que eu não consigo, não de primeira.

-Jill, consegue... explicar melhor?

-Foi como você falou! Eu estava em uma festa, e esse cara começou a me beijar e eu disse que não queria e de repente uns três caras estavam me levando pra um quarto. -A voz dela se eleva e fica em um tom mais desesperado. -Eles escolheram entre si quem é que ia... transar comigo. Escolheram o cara por quem... eu tinha uma quedinha... então eu achei que não ia ser ruim... mas... mas... eu fiquei assustada... e...

-Não termine. -Repondo, sem fôlego. Jill ainda chora. Olho para ela diferente agora. Antes, ela era a irmã de quinze anos de Max.

Agora, ela é uma sobrevivente.

-Eu estava saindo com Holder naquela época. Foi ele que me levou pra essa festa. Ele me viu entrando no quarto com eles e espalhou pra todo mundo que... eu tinha dormido com aquele cara porque eu quis. Eu virei uma vadia. -Ela esconde o rosto nas mãos, tremendo. Não sei como consolá-la. Não sei como reagir. Não sei qual a melhor hora pra dizer pra ela que eu não fui estuprada, agora que ela me confiou essa informação, então não digo nada. Ela continua chorando por um tempo, meia hora no mínimo e consigo identificar a culpa e arrependimento nos olhos dela, tão parecido com os meus próprios, então, umas três horas da manhã, eu lhe dou remédio para dormir e levo ela até o meu quarto, onde ela se deita, sonolenta e sem uma palavra, adormece.

Fico no sofá.

E ligo para Max, mas cai na secretária eletrônica.

-Ei, Max, aqui é a Carter. -Decido deixar de lado a estranheza entre nós em prol da Jill. -Escuta, me liga assim que puder. É sobre a Jill. Ela não está machucada... fisicamente, mas me contou umas coisas e... é urgente.Por favor, me liga.-Sussurro, desesperada. Tomo um remédio para dormir também, e sou acordada às cinco da manhã, por batidas desesperadas na porta. Connor não sai do quarto, e eu vou abrir a porta.

É Max. De boxers e camiseta, com um casaco e chinelo de dedo, olhando furioso.

Me dê um tempo.

-Cadê a minha irmã, Carter?

-E-ela tá dormindo. -Ele entra no apartamento subitamente e eu puxo a camiseta dele pro outro cômodo, ao invés do meu quarto. -Não. Acorde. Ela. A gente precisa conversar. -Sussurro, para sua expressão surpresa.

-Sobre o quê?

-A Jill.

-O que ela fez? -Fico encarando ele, quase com medo de contar o que ela me disse e estragar seus sonhos de que sua irmã não seja tão ferrada quanto sua ex-namorada.

-Vamos falar no corredor. -Puxo ele para fora do apartamento e fecho a porta. Procuro uma forma de começar.

-...Você sabe sobre o meu flashback, né? -Ele desvia o olhar, tenso.

-Sim.

-Jill me ligou. Ela perguntou se eu estava bem, e eu contei para ela que eu não sabia ao certo, mas eu podia ter sido... estuprada. -Me forço a dizer a palavra e parece que Max está com dor. -Ela ficou estranha, depois desligou. Ontem, eu me encontrei com a doutora Bernard, minha psiquiatra que fez exames em mim quando eu cheguei na clínica, e ela disse que não, eu não tinha sido estuprada. O que aconteceu foi que, por causa da cocaína que eu tinha ingerido, meu corpo usou uma força a mais do que o normal para escapar dos braços daquele... cara e eu fugi. Eu não lembro de nada, por causa das drogas, mas no exame eu falei sobre isso.

-Por que você está me contando isso?

-Hoje, duas horas da manhã, Jill aparece no meu apartamento, chorando desesperada, Max. Então eu perguntei o que tinha acontecido, claro, e ela... ela me contou que tinha sido... você sabe... estuprada. -É horrível demais imaginar. -A forma que ela me contou me fez perceber que ela achava que podia confiar em mim pra contar isso, já que tínhamos passado pela mesma coisa. Ela me deu alguns detalhes. -Max cai para trás, e me olha horrorizado.

-Me diz que você tá brincando.

-Me desculpa.

-Não, não, não.

-Ela me disse que tinham três caras, mas só um fez isso com ela. Era um cara que ela tinha uma quedinha, então achou que não ia ser ruim, mas ela ficou com medo e quis parar e eu não consigo continuar.

-Isso é demais pra mim.

-Eu sei. -Ficamos ali, nos olhando assustados e meu coração se parte quando eu percebo que ele está prestes a chorar. -Eu sinto muito, Max.

-O que eu faço agora?

-Ela me disse que não era pra contar pra ninguém, mas você é irmão dela e eu também não sei o que fazer. Não chora, por favor. -Mas isso só faz ele começar a chorar, e eu hesitante, dou um abraço nele, procurando consolá-lo. Me seguro para não chorar, porque Connor estava certo quando disse que eu não podia ser levada por minhas emoções, não ia ajudar ninguém. Max me aperta e enterra o rosto na curva do meu pescoço e eu posso sentir suas lágrimas quentes, meu coração se partindo lentamente com essa situação. Aperto ele.

-Ela é forte, Max. Bem mais forte que eu. Ela vai superar.

-O que eu faço agora? -Ele repete e se afasta para me encarar. Penso um pouco nas nossas possibilidades.

-Conversa com ela. Tenta convencer ela a prestar queixa. Abrir um processo.

-Ela sabe quem é?

-Se sabe, não me falou.

-Quem foi o seu... -Ele não termina, mas eu entendo.

-Aquele cara do show. -Uma coisa me vem a mente. -Por que você pirou quando eu citei ele, Max?

-Merda. Merda. Merda. Merda.

-Max, não pire outra vez, tá bom? Jill já vai acordar. A gente pode falar disso depois. -Tento o tranquilizar, apesar da minha curiosidade querer saber mais.

-Você acha que pode ser o mesmo?

-Tudo é possível. Vai falar com ela, Max. -Abro a porta para ele, e ele, meio abalado, vai. -Vou dizer a mesma coisa que Connor me disse: não seja levado pelas emoções, isso não vai ajudar, tá?

-Tá.

-Boa sorte.

-Valeu. -Ele entra no quarto, me lançando um último olhar antes de fechar a porta.

Ele fica lá dentro por uma hora. Eventualmente, Connor e Ashley acordam, e eu explico para eles a situação. Ashley suspira e diz:

-É uma coisa atrás da outra, meu Deus. -E Connor pergunta se eu estou bem.

Não tenho certeza.

-Suponho que você não vai pra escola hoje?

-Vou ficar com a Jill. Posso repor depois com as aulas da Ashley.

-Tudo bem. Quer ajuda com isso? Pra quem vocês vão pedir ajuda?

-Eu não sei. O que você faria se fosse comigo? -Connor faz uma careta.

-Ligaria pra polícia e procuraria o desgraçado. -Imagino que Max já tenha isso em mente. -Mas eu procuraria ajuda psicológica pra menina. Imediatamente.

-Tudo bem, vou fazer isso. Obrigada, mano.

-Feliz aniversário, Carter. -Ele abraça, antes de sair para o quarto.

Os dois se vestem, para ir para o trabalho e para a escola e Max sai com os olhos mais vermelhos do que antes, e parecendo exausto. Ele fecha a porta e posso ouvir os soluços lá de dentro.

-E aí?

-Ela está com medo de denunciar. Está chorando muito.

-Meu irmão disse que a gente tem que procurar um psicólogo.

-Como eu vou contar pra minha mãe? -A voz sai estrangulada de emoção.

-A gente lida com isso mais tarde. Toma. -Dou para ele uma caneca de chá, pra ele se acalmar. Sentamos na mesa da cozinha, emocionalmente e fisicamente exaustos. Sinto que não dormi nada.

-Um passo de cada vez. -Digo, e ele concorda com a cabeça. -Primeiro, vai vestir uma calça do meu irmão e lavar o rosto. Vou falar com a Jill, e depois a gente leva ela até a clínica algumas quadras abaixo daqui. E ligamos pra polícia. Acha que consegue? -Pergunto, delicadamente.

-Não tenho escolha. -E é triste, porque ele não tem mesmo. A vida não deixa a gente estar preparado para jogar merda na nossa direção, e a nossa única saída é aguentar tudo isso.

-Eu sei. Então vamos lá.


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Notas finais do capítulo

n me matem