Seeking Shelter escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 12
Cantar


Notas iniciais do capítulo

oi gente olha aqui eu sei como é chato quando mandam um review e a pessoa não responde e eu prometo que vou responder ok só que eu to sem tempo e eu leio todos pelo celular mas não dá pra responder por lá e quase não entro por muito tempo no computador enfim im sorry mas vou responder uma hora dessas beleza boa leitura



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/425955/chapter/12

Como andei pensando, decidi tentar cantar. Talvez porque, da antiga Carter, essa era a única característica que meus pais se orgulhavam mesmo. E agora que estou tentando saber a coisa certa a se fazer, talvez seja bom começar por aí. Durante toda a aula no clube de música eu fiquei pensando na melhor hora de fazer isso, subir lá e cantar, mas não me sentia confortável com todo mundo olhando, então esperei a aula acabar e todo mundo sair pra subir lá.

-Até quinta. -Algumas meninas me falam, antes de saírem, e eu aceno um adeus, enquanto observando a banda saindo do auditório, junto com Jill. Subo no palco, e vou até o piano. É o único instrumento que sei tocar, exceto o violão, e é o único que tem no palco. Sento ansiosa no banquinho, meu coração acelerado e batendo forte, já sabendo o que vou fazer em seguida.

Cantar sempre foi um ato quase sagrado para mim. Nas aulas teóricas, era dito que cantar é um ato divino, mágico, conectado aos sentimentos crus do seu interior. Uma forma de expressá-los e botá-los para fora. Sou firme nessa crença, e trato as músicas como se fossem meus bebês, qualquer uma que eu cante. Porque são obras de arte. Obras de arte que mexem com você lá dentro e as vezes você nem sabe porque. Um estudo feito alguns anos atrás provou que a quantidade de consoantes e vogais na letra de uma música pode influenciar o humor passado por ela. A assonância e aliteração. O fato de que as próprias letras do alfabeto te puxam para uma letra de música e como cada nota do piano em uma certa canção te fazem entender que aquele artista praticamente leu seu coração -isso me fascina. Isso é o mais perto de acreditar em Deus que eu posso chegar.

Começo a tocar as notas, uma por uma, até a música que eu estou tocando vir na minha cabeça. Walk Away, Janet Devlin. Acho que ouvi essa música alguns meses atrás e a melodia me atraiu. E, depois, eu pesquisei as notas certas, embora faça algum tempo, porém ainda me lembro.

A letra é triste. Mas parece um crime não cantar algo triste no momento. Embora possa se ajustar a minha vida nesse momento, quando começo a cantar, memórias do ANTES voltam. Lembranças da decisão de irmos para bem longe, para conseguirmos botar nossas cabeças no lugar -eu e Connor. Ir embora.

Com as imagens na minha cabeça, eu canto. Fechando meus olhos, e por um segundo, ou pelo tempo que a música dura, estou entorpecida. Não tem morte, não tem perda, não tem término, nem tristeza. Tem uma música, tem um piano e a minha voz e eu me pergunto como,comonão comecei a cantar antes, sendo isso a melhor forma de tirar o vazio da falta deles no meu coração?

Pelo tempo de duração da música, estou feliz.

Então acaba, as últimas notas acabam, e eu não consigo respirar. Porque tudo que eu esqueci durante a música volta.

Ouço palmas, e quando me viro, uma pequena plateia me encara lá de baixo. Connor, Ashley, Marco, Clark, Max, a senhorita Birkin. Todos eles, batendo palmas, sem ter ideia de como eu estou me sentindo até eu começar a chorar.

E como eu choro. Levanto do banquinho, desço correndo e vou até a saída, mas no meio do caminho, Connor me para e eu abraço ele.

-Carter! -A senhorita Birkin diz, correndo em nossa direção. Respiro fundo, me preparando para minhas próximas palavras e olho para ela, observando de relance a banda atrás dela.

-Não posso mais fazer isso. -Minha voz está rouca. -Me perdoe, eu não posso.

-Mas... mas por quê? Você é maravilhosa. -Os soluços saem altos agora e me pergunto quão horrível deve estar minha expressão. -Você parece tão... bem cantando.

-Você não percebe? Eu estou bem. Esse é o problema. Porque aí eu paro de cantar e eu lembro que minha vida é uma merda. Eu sei, eu sei. Eu tenho que ser grata por estar viva e etc, etc, mas eu não consigo. A realidade é tão... tão sufocante, senhorita Birkin. É como receber a notícia que eles morreram tudo outra vez. Eu não sei mais o que fazer. Eu não sei quem ser. Eu tentei cantar porque eles sentiam orgulho de mim por isso, mas... como eu posso fazer algo que me traz tanta... dor? Eu não quero mais sentir isso. E eu não sei mais o que fazer! Há dois anos, cada coisa que eu faço é incerta. Eu não sei mais se o que eu estou fazendo é certo. Não sei mais como viver. Não sei mais como... como viver com essa...coisano meu coração. Sem eles. Você entende? Você pode me perdoar por nãopodermais fazer isso? Me desculpe. -Ela parece desolada e isso está partindo meu coração mais ainda.

Mais uma pessoa na lista das que você decepcionou.

-Eu sinto muito mesmo. -Ashley segura minha mão e me puxa para fora e me recuso a olhar no rosto de todos da banda porque só quero morrer de humilhação e vergonha e tristeza. Ela entra no carro, seguida por Connor, que começa a dirigir e passamos a viagem inteira em silêncio. Entro em pânico por causa dos olhares preocupados de Connor, já que ele nunca me viu chorar desse jeito, e me forço a parar. Entramos no apartamento e passamos direto por Harvey e Fletcher, na escada, que viram e começam a perguntar, mas corro para dentro sem dizer uma palavra e me jogo na minha cama.

Ouço Ashley e meu irmão conversando, mas não entendo nada do que dizem, minha cabeça está doendo e algo vem na minha cabeça: preciso de um drinque.

Mas obrigo com tudo que tenho dentro de mim a afastar esse pensamento. Fico com raiva de mim mesma por pensar nisso. Não acredito que pensei mesmo em bebida. Dou um tapa em mim mesma, depois me afundo no travesseiro.

Algum tempo depois, Connor aparece no meu quarto e percebo que acabei dormindo. Senta no canto da cama.

-Oi.

-Oi.

-Trouxe uma coisa pra você. -Aponta pra uma caixa de remédio.

-O que é isso? -Ele hesita e faz uma careta, como se tivesse comido algo que não gostou.

-Vamos chamar de "pílulas felizes" tá bom? -Já sei o que é.

-De novo? -Tive que tomar essas "pílulas felizes" antes.

-É. Tome antes de dormir, com água.

-Tá bom. -A expressão de meu irmão muda, passando pra uma expressão de... quase de dor.

-Você quer ir embora? Se for ajudar, podemos ir de novo.

-Não.

-Carter, não se preocupe com Ashley ou a escola...

-Não.

-Por que não? -Não sei a resposta.

-Não sei, mas não. Está tudo bem. Não vou tirar sua vida de novo.

-Você não estaria...

-Connor, é sério. Eu tenho que resolver isso. Não posso... não posso ficar assim. Fugindo. Você estava certo. -Embora doa, isso é o certo. Ele concorda, quietamente.

-Qualquer coisa, você pode me falar.

-Eu sei. Te amo, Connor.

-Eu também te amo. -Ele me dá um beijo na testa, e então sai do quarto, deixando a caixinha com as pílulas ali. Fico encarando a caixa até ter certeza que ela vai pegar fogo se eu olhar por mais um segundo e levanto, trocando de roupa e saindo do quarto.

Meu irmão e Ashley estão assistindo tevê juntos, abraçados, e isso melhora um pouco meu humor, então aviso que vou até a porta do lado, eles concordam e bato na porta de Harvey e Fletcher.

-Ah, Carter. -É a Harvey. -O que aconteceu?

-Me desculpe por não ter falado com vocês mais cedo.

-Não tem problema. Entra... me conta essa história direito. -Então eu entro, percebo que ela está sozinha em casa e ela me oferece pizza de chocolate.

Enquanto como, começo a contar para ela sobre minha família, e choro também, e ela só passa a mão no meu cabelo, dizendo que está tudo bem. Eu não conheço ela há muito tempo, mas exceto Ashley, ela é a pessoa mais perto de uma adulta que eu cheguei a confiar. E ela é legal. E eu percebo que não podemos mesmo nos mudar, porque eu dei muita sorte de encontrar pessoas assim outra vez.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!