Seeking Shelter escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 11
Camarão




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-Então, vai me contar porque me ligou? -Ashley diz, tentando um sorriso enquanto se aproxima de onde eu estou sentada, em um banco perto do parque. Ela para na minha frente, com o carro.

-Pensei que a gente podia fazer alguma coisa. -Ela não acredita, dá pra ver, o que é engraçado porque é exatamente o motivo pelo qual eu liguei.

-Entra aí. Algum lugar em mente? -Subo no banco do passageiro e penso um pouco.

-Não, nenhum lugar.

-Então eu posso escolher?

-Claro. -Ela começa a dirigir e não sei pra onde está indo. Ficamos em silêncio um pouco, aproveito para olhar as ruas, coisa que eu faço com uma frequência alarmante, procurando diferenças em todos esses anos, e ouvindo as crianças brincando nas ruas com os pais.

Tudo a mesma coisa de sempre.

-Posso te fazer uma pergunta sincera? -Ela diz.

-...Pode?

-Prometa que vai responder a verdade. -Ela adiciona, olhando para frente.

-Tá bom, Ashley. -Só fale de uma vez, quero dizer.

-Foi Connor quem mandou você me ligar? -Quero ficar irritada com ela e gritar que estou magoada por ela ter pensado em uma coisa dessas, mas ambas sabemos que em circunstâncias normais eu nunca ligaria. O que é esquisito porque isso aqui são circunstâncias normais, Ashley é apenas a pessoa mais próxima, exceto meu irmão e Naomi, com quem eu posso falar. E eu aposto que Naomi está ocupada com a banda e meu irmão... não sei, só não consideraria chamar ele.

-Não, ele nem sabe que eu liguei. -Ela olha no relógio de pulso.

-É quase a hora do almoço, ele não está preocupado? -Ashley está certa.

-Verdade. Vou ligar pra ele.

-Vai falar que está comigo?

-Você quer que eu fale?

-Tanto faz. -Dá de ombros. Disco o número do meu irmão, que atende com a voz sonolenta.

-Carter?

-Estava dormindo?

-Sim.

-É meio dia.

-Eu sei.

-Quer algo pra comer? -Pergunto, embora ele saiba se virar mais do que eu.

-Onde você está? -Connor questiona, curioso.

-Com Ashley, indo pra... algum lugar.

-Ah, não quero nada. Só me liga quando chegar se eu não estiver em casa.

-Tá. Tchau. -Ele desliga. Ashley me olha de relance. Tenta parecer calma.

-Então... ele disse alguma coisa? -Mentir pra melhorar a autoestima dela ou contar a verdade?

-Não, não disse nada. Desculpe. -Não sei por qual motivo me senti na necessidade de me desculpar.

-Não tem problema.

-Por que você disse não? -A pergunta surpreende ela e eu.

-Eu tenho vinte anos, Carter. E você tem dezessete, e Connor é seu guardião legal. Não me leve a mal, eu amo vocês dois, mas não consigo imaginar estar casada aos vinte anos e com uma... filha.

-Falando assim, parece... esquisito.

-É esquisito. -Ela concorda.

-Faço dezoito em algumas semanas.

-Ainda assim. Seu irmão acha que estar apaixonado é a única coisa que sustenta um casamento, mas não é.

-Achei que você acreditasse no amor e toda aquela baboseira.

-Eu acredito no amor, e amo Connor, mas não me sinto preparada. Ponto. -Ela diz, convicta.

-Tudo bem.

-Não ache que eu disse não por sua causa.

-Não acho... eu até entendo, o que você quis dizer. -Ela concorda com a cabeça e paramos perto de uma rua cheia de gente.

É a feira do bairro.

Amo Ashley.

-Nossa, quanto tempo que eu não venho em uma feira... -Ela estaciona e saímos do carro.

-A comida continua a mesma. Vamos. -Entramos pela rua, apinhada de gente pra todo lado e com barraquinhas de comida feitas por todo mundo do bairro.

Corro para a barraquinha dos cookies, claro.

A idosa que faz sorri, me reconhecendo e me entrega três cookies sem dizer nada, apenas piscando e eu quero chorar.

Ela me dá três cookies porque era sempre um pra mim, Chaz e Connor.

Dou dois pra Ashley, que aceita sem falar nada e continuamos andando enquanto luto para comer o cookie sem chorar. O barulho ao nosso redor evita o silêncio entre nós e meus olhos começam a se acostumar com a multidão de gente. Quando começo a escutar a música, Ashley e eu seguimos em direção do som (pegando algodão doce no caminho) e paramos no palco no final da rua, onde Marco e Clark estão. Naomi e Max estão conversando embaixo, e quando nos veem, Naomi acena, enquanto Max só fica olhando.

-Vamos lá? -Ashley pergunta. Engulo seco. Lembranças de Jill ter contado tudo para a sua mãe e provavelmente levando Max junto entram na minha cabeça. Ele não deve nem me suportar mais.

Assim que vou dizer isso, Ashley começa a andar em direção a eles, e eu tenho que seguir, obrigada.

-Bom dia, raio de sol. -Naomi diz, quando me abraça.

-Hm, oi? -Digo, meio confusa. Para Max, murmuro um "Bom dia" e ele responde da mesma forma. -Vocês vão tocar? -Naomi bufa.

-Meu sonho tocar pra esse monte de gente de família. Não. Só Clark e Marco mesmo. Vão fazer guerra de violão.

-Que demais. -Eles são muito bons no violão, então isso vai ser incrível de se ver.

-O que vocês estão fazendo aqui? -Max pergunta, amigável.

-Dando uma volta. Carter me convidou. -Ashley explica.

-Eu ouvi que você encontrou minha mãe hoje. -Ele comenta para mim. Provavelmente Jill já deve ter contado. Assinto.

-Ela, Jill e Tedd. -Ele assente, também, e não sei mais o que falar. Travo.

-Carter, você viu como a Jill está grande? -Ashley entra no modo irritante e fala animada, como se eu não tivesse visto Jill desde que fui embora. Porém, deixa as coisas menos esquisitas, então entro na onda, querendo sumir por dentro.

-Tedd também. -Ashley conhece toda a família de Max porque meus pais eram amigos dos dele quando começamos a namorar e eles iam bastante lá em casa. E na maioria das vezes, Ashley estava lá também, por causa de Connor. Era uma mistura enorme.

-Ele acabou de fazer sete. -Max diz, quietamente. Isso é tão esquisito. Conversar como conhecidos, sem termos conhecimento um do outro realmente.

-E passou da fase de ser um pirralho. -Naomi diz. Sorrio. Ela vivia falando que Chaz estava na fase de ser um pirralho.

-Continua fofo. -Comento.

-Carter, vamos ir comer alguma coisa? Estou faminta.

-Vamos com vocês! -Naomi diz. Depois, grita para Clark e Marco: -A GENTE JÁ VOLTA! -E então, os quatro vamos andando, procurando uma barraquinha com algo bom pra comer. Fico do lado de Max, infelizmente, porque me remoo em tensão, já que a parte automática em mim ainda me diz que eu devo segurar a mão dele, como fazíamos quando estávamos juntos e vínhamos na feira.

Deus, isso é esquisito. Já falei isso?

-O que vocês querem comer? -Naomi pergunta.

-Camarão. -Eu e Max respondemos na mesma hora, pra oficializar o acordo da esquisitice entre nós. Me recuso a olhar pra ele, porque sei que estou vermelha. Até Ashley me dá uma cotovelada.

-Quero bolo, e você Naomi?

-Brigadeiro, que é do lado da barraquinha do bolo. Vamos nos separar. Vocês dois e nós duas. -Ela diz. Quero morrer, porque não sei a coisa certa a se responder.

Elas somem antes de eu abrir a boca.

Odeio Ashley.

Olho para Max.

-Camarão? -Questiono, incerta.

-Camarão. -Ele responde, então andamos novamente na nossa caminhada esquisita até a barraquinha de camarão, pedimos nossas porções, pago a mulher e sentamos embaixo de uma árvore, já que todas as mesas na rua estão ocupadas por famílias.

-Isso é meio esquisito. -Comento, sem dizer exatamente o que é o "isso".

-É. -Ele responde. Como o primeiro camarão e quase derreto.

-Hmmmmm. Hmmmmmm. Hmmmmmmmmmmm. -Não consigo evitar. -Camarão dos deuses. -Digo, na mesma hora que Max diz, e eu percebo que ele está me imitando. Olho pra ele, alarmada, mas não falo nada porque agora estou de boca cheia.

-Eu sabia que você ia falar isso.

-Tô vendo. -Olhamos pra frente, eu envergonhada e triste demais pra falar alguma coisa, muito menos encará-lo, e ele concentrado em comer em paz. Olho pro pulso dele, de relance, o que está segurando o seu prato de camarão e vejo uma tatuagem que quase me faz engasgar.

Ele tem uma estrela tatuada no pulso.

E isso não significa nada. Ele nem deve lembrar da conversa que ele teve comigo, e não ia querer tatuar algo relacionado a sua ex-namorada. Então fico quieta. Comendo. Até o silêncio ficar insuportável.

-Como você está? -Pergunto, educada.

-Bem. -Ele diz, e acho que acabou por aí. Parte de mim acha que ele está mentindo, mas novamente, não é da minha conta. -E você?

-Também. -Ele me olha como se tivesse certeza que eu estou mentindo, mas também não fala nada. Tanta coisa guardada que nem eu nem ele falamos, que mal dá pra acreditar que tínhamos um relacionamento. Parece tanto tempo. -Ei, Max?

-Sim?

-Me desculpe. -Pronto. Pronto, eu falei.

Mas não consigo respirar até ele responder. O que, a propósito, demora muito, porque ele até para de comer.

-Pelo quê? -Não consigo botar em palavras. E todos os meus motivos parecem idiotas.

-Por tudo. -Isso resume, basicamente. Voltamos a comer.

-Tá tudo bem. -Ele responde, casual, e eu acredito nele.

-Me desculpe por ter sido uma vaca com você.

-Oh. -Ele parece surpreso. -Nossa, isso... -Olho pra ele, tentando parecer... normal.

-Eu fui uma vaca. Me desculpe.

-Ok. -Ele responde, rápido, desconfortável. Caímos em um silêncio chato, sem saber o que dizer, só comendo pra ficarmos ocupados. -Você tá mesmo bem? -Ele pergunta.

-Não sei.

-Me desculpe, também. -Minha vez de ficar surpresa.

-Pelo quê?

-Não ter falado com você direito nos primeiros dias.

-Eu posso entender.

-Eu achei que você me odiava.

-Achei que VOCÊ me odiava. -Ficamos nos encarando, chocados.

-Não.

-Também não. -Contra minhas expectativas, caímos na risada. Vemos Ashley e Naomi vindo em nossa direção. A esquisitice volta. -Hm, dá pra não contar sobre nossa conversa pra Ashley? Ela vai... me encher de perguntas. -Desvio o olhar.

-Não conte pra Jill.

-Pode deixar.

-Fico feliz que conversamos, Carter.

-Igualmente, Max. -E então elas chegam e guardamos nossa conversa para nós mesmos. Mas guardar esse segredo, ao invés de guardar qualquer outro, me deixa mais... leve.


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