Jily - How I met you escrita por ChrisGranger


Capítulo 33
Sombras deslizando à luz da meia-noite


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal!! Espero que gostem!! Esse capítulo é o maior que já postei, então espero que aproveitem :)) !!!



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Frank levantou cambaleante e puxou consigo, uma Alice afundada em lágrimas. Seu rosto, normalmente tão sorridente e tranquilo, demostrava o quanto a garota sofria com o resultado dos últimos minutos do jogo. Uma reviravolta que ninguém esperava.

Grifinórios desciam ao campo desolados. Alguns tentavam consolar os jogadores, outros, não pareciam se importar. Lílian os fitou tristemente com um sorrisinho solidário e saiu do campo ao lado de Belle e Abbey.

Caius, ainda ao lado de Alice e Frank, os encarava com fervor. Ele deu uma leve empurrada em Frank e abraçou por sua vez, Alice. Frank revirou os olhos e fitou um grupo de alunos da Sonserina o qual, apontava para o time da Grifinória, rindo de desprezo.

– Ei, Frank… - chamou Abnara Chang, aparecendo ao lado do garoto.

Frank se virou para encará-la e viu seus longos cabelos negros presos numa trança com alguns detalhes azuis e prateados. O garoto ergueu levemente as sobrancelhas.

– Você foi muito bem - continuou ela, sorrindo. - não foi sua culpa, sabe. Se foi culpa de alguém, essa alguém é a Alice.

Frank balançou a cabeça incrédulo, e a ignorou completamente. Ele se virou ao ouvir Caius o chamando pela terceira vez.

– Você pode ajudá-la a ir para a sala comunal? Eu tenho que falar com aquele grupo enxerido de sonserinos - disse Caius, parecendo passar uma grande dificuldade ao tentar equilibrar Alice em seus braços. Ele a beijou na bochecha e a entregou para Frank.

No meio do caminho para o castelo, Alice tombou no gramado verde e brilhante dos jardins. Ela se inclinou na grama e parecia que poderia vomitar a qualquer momento. Frank a encarou pesaroso e abaixou-se ao lado dela.

– Lice, você não está bem. Deixe-me ajudá-la a ir até o dormitório. Por favor nós temos que… - ele interrompeu a própria fala quando visualizara o rosto de Alice. Ele nunca a havia visto daquele jeito. Parecendo tão derrotada, tão… perdida.

– Frank… isso tudo é culpa minha - sua voz era tão baixa que ele teve que se esforçar para ouví-la.

Frank balançou a cabeça sem saber o que dizer. As pessoas costumam responder “não foi sua culpa”. Mas ele não queria responder isso. Ele sabia que a culpa não era de Alice. Mas dizer isso à ela, não faria a menor diferença agora.

– Jogamos muito bem - disse ele, decidindo-se por um caminho diferente. - você foi incrível.

Alice o fitou por alguns segundos e assentiu levemente com a cabeça. Ela se levantou com grande esforço e com a ajuda de Frank e os dois voltaram o seu caminho para o castelo.

– Ano que vem nós venceremos, Lice. - comentou Frank, esboçando um mísero sorriso. - Sei que sim.

– Eu também - disse Alice, um som quase imperceptível, no meio de tantas lágrimas.

***

– Isso não foi justo! Eu vou fazer picadinho de quem deixou isso ser justo! - gritava Tiago, na sala comunal. - A Alice estava sendo perseguida por aquele bando de alunos!

– Agora não há mais nada há se fazer - disse Remus, anotando algo em seu pergaminho de Feitiços.

– Nós temos que reclamar! Temos que protestar! - continuou Tiago como se Remus não tivesse dito nada. O garoto andava de um lado para o outro há minutos.

– Toda a grifinória já fez - replicou Sirius, apesar de estar furioso com o resultado do jogo. - não adiantaria nada.

– Se o Zac é tão bom assim, porque ele não pegou o pomo antes do Dan ter parado? - questionou Tiago, ironicamente.

Nesse momento, Lílian entrou na sala comunal mexendo na fitinha azul em seu pulso. Tiago ficou completamente vermelho de fúria.

Por que você está usando isso?– perguntou ele, com puro desprezo na voz, apontando para o acessório.

– Não é da sua conta, Potter. Mas se você quer mesmo saber, o Zac me deu de presente. Ele disse que eu poderia torcer por ele.

Tiago pareceu incrédulo e se é que aquilo fosse possível, seu rosto ficou ainda mais vermelho.

– Ele é um idiota mesmo - disse Tiago, virando-se para Sirius.

Lílian apontou a varinha ameaçadoramente para Tiago.

– Não se atreva a falar assim dele, Potter! - disse ela, atraindo olhares de vários os alunos da sala.

Tiago a encarou perplexo. Seu semblante se transformou de furioso para zombeteiro em segundos e um sorrisinho maroto formou-se em seus lábios.

– Qual azaração será dessa vez ruivinha? Porque eu posso te atingir com algumas bem piores… - replicou ele, puxando a varinha de um dos bolsos.

Lílian ficou escarlate e gritou “Colloshoo” que deveria supostamente grudar os pés do oponente no chão, porém Tiago pulou para o lado em questão de segundos e o feitiço de Lílian ricocheteou na parede.

– Parabéns Evans, conseguiu fazer com que eu me mexesse. Essa foi ótima - provocou Tiago, enquanto se defendia de mais uma azaração lançada pela garota.

– Como vocês o aguentam? - perguntou Lília, exasperada, virando-se para Sirius, Remus e Pedro.

– Nós não aguentamos - respondeu Remus, com um sorrisinho.

– Ei, você está de que lado, Aluado? - perguntou Tiago.

Remus virou-se para ele meio confuso.

– Aluado? De onde você tirou isso?

– Estava cansado de Lupino. Aliás, Aluado combina muito mais com o seu probleminha peludo. - respondeu Tiago.

Remus ergueu as sobrancelhas e deu de ombros.

– Eu não gostava de Lupino mesmo - comentou ele.

– Preferia Lupino - defendeu Sirius.

– Bom, isso não importa nesse momento porque o que realmente importa é que a Evans não admite que nunca vai conseguir me azar...

Nesse momento de distração, Lílian levantou a varinha e gritou mais uma vez “Colloshoo”. Tiago nunca havia se impressionado tanto na sua vida. Sua boca estava entreaberta e suas sobrancelhas poderiam alcançar o topo da cabeça. Ao mesmo tempo, o garoto estava vermelho como o brasão da casa da Grifinória e seus pés estavam completamente imóveis e grudados no chão.

– Muito engraçado Evans, mas essa não valeu… eu nem estava olhando!

– Agora aprenda que eu posso sim, te azarar, Potter - disse ela, convencida.

– Tiago, acho que se eu fosse você, mudaria meu nome, meu país e minha varinha - provocou Sirius. -, derrotado por uma garota!

– Eu já disse... - começou Tiago arfando depois das inúmeras tentativas de livrar seus pés do chão, sem nenhum êxito. - que isso foi injusto!

– Talvez eu possa ajudar - disse Pedro, levantando-se da poltrona e segurando um dos braços de Tiago. O garoto puxou o braço do amigo várias e várias vezes e o único resultado dessa tentativa foram gargalhadas. - Remus me dá uma mãozinha?

Remus estava vermelho de tanto rir e se levantou, segurando a mão de Pedro. O primeiro puxou com mais força os dois atrás e tropeçou na terceira tentativa, levando Pedro e Tiago ao chão.

– Vocês não estão ajudando muito! - gritou Tiago, tentando se livrar de Pedro e de Remus. O garoto arfava, vermelho de vergonha e de raiva. Seus cabelos castanhos, estavam mais bagunçados do que nunca, seus óculos escorregavam pelo seu nariz e seus olhos castanhos esverdeados fitavam Lílian ameaçadoramente. - Quando eu sair daqui, você vai ver Evans!

– Estou tremendo de medo, Potter - respondeu ela, gargalhando ao lado de Sirius.

Meia hora mais tarde, Tiago se livrara do feitiço e saíra em busca de Lílian com a varinha empunhada, mas a garota já havia saído há algum tempo, ainda rindo da situação em que o garoto se encontrava.

***

– E você viu quando ele pegou o pomo? Foi tão rápido! - dizia Lílian, entusiasmada. Belle estava prestes a dormir diante de tantos elogios e reclamações da amiga quanto ao último jogo.

– Líly, você está ao mesmo tempo parabenizando a Corvinal, e com isso eu quero dizer o Zac, e reclamando de o time da grifinória não ter ganhado. Decida-se! - exclamou Belle.

– Eu estava torcendo para a Grifinória! - enfatizou Lílian. - Mas também queria que Zac fosse bem, só isso. E ele foi! Foi simplesmente incrível o jeito que ele rodopiou no ar naquela ho… - a garota parou de falar assim que as duas dobraram a curva do corredor e deram de cara com Zac e Thomas.

Ninguém saberia dizer qual das duas ficou mais vermelha. Lílian que parecia ter devorado um prato de pimentas ou Belle, que parecia estar com vontade de cavar um buraco no chão. Os quatro se fitaram por alguns segundos, sem fazer ideia do que dizer. Zac estava tão vermelho quanto as duas. Thomas evitava olhar Belle diretamente.

– Então… suponho que estava se referindo à mim quando disse “incrível o jeito que ele rodopiou no ar”. - disse Zac para Lílian, tentando aliviar a tensão.

Lílian riu envergonhada e acenou levemente com a cabeça. Zac sorriu e a abraçou, pegando Lílian de surpresa. Belle observava os dois juntos repreendendo a si mesma pela pontada de inveja que sentia. Ela tinha quase certeza que daquele abraço poderiam surgir vários corações flutuantes esfregando em seu rosto que ela não tinha com ninguém aquilo que eles tinham. Sem conseguir se conter, ela passou de relance os olhos por Thomas que também havia olhado para ela, embaraçado.

– Então, como você está? - disse Thomas, assustando tanto Belle, que ela dera um pulo. Ela olhou para os lados, imaginando com que Thomas estaria falando. - Belle?

A garota o encarou incrédula para dizer qualquer coisa. Mentalmente ela se obrigou a se recompor e limpou a garganta.

– Ah… desculpe, eu não sabia que você estava falan… eu estou ótima e você? - balbuciou ela, desejando poder enfiar seu rosto no gramado do campo de quadribol.

– Bem. - respondeu ele, dando de ombros. - Não joguei esse jogo porque só entro ano que vem no time, de novo.

Aquelas duas últimas palavras foram como uma martelada no rosto de Belle.

– Hum… legal - disse ela, engolindo em seco. - Boa sorte. Ano que vem, quero dizer. Mas você não precisa de sorte. Você é muito bom. Jogador! É muito bom jogador...

Thomas emitira um pequeno ruído no fundo da garganta. “Aquilo era uma... risada?” pensou Belle admirada.

Zac e Lílian haviam ido para o final do corredor e pareciam repassar cada segundo do jogo daquela manhã. “Isso é loucura…” pensou Belle.

– O que é loucura? - perguntou Thomas, parecendo curioso.

– Espere… eu disse isso em voz alta? - disse Belle, incrédula. - É que… é loucura como quadribol influencia cada pessoa do mundo bruxo. Como um esporte pode… mudar tantas pessoas. Criar novas amizades, ou destruí-las. E...

– E?

– É triste - concluiu Belle, com a garganta apertada.

Thomas permanecera calado por um tempo, olhando para Belle rapidamente em alguns momentos. Quando o garoto parecia estar prestes a dizer algo, Lílian surgiu com Zac ao seu lado.

– Belle? Tudo… bem? - indagou Lílian, postando-se ao lado da amiga, um pouco desapontada com a chegada dos dois.

– Bem, espero que tenham se acertado - disse Zac, sem a menor cerimônia. - não aguentava mais o Thomas suspiran...

Thomas deu-lhe um pontapé no calcanhar que fez Zac engasgar de dor.

– Cala a boca… - disse Thomas, puxando o amigo pelo corredor. - tchau, então.

– Tchau, Zac! - gritou Lílian, um tanto decepcionada.

Zac virou-se acenando meio encabulado e Thomas fitou Belle antes de virar no próximo corredor. Belle não estava muito certa do que tinha visto, mas ela poderia jurar naquele momento, que ele sorriu.

***

Uma semana se passou. Belle não havia falado nem topado com Thomas pelos corredores. Assim como Lílian também não havia visto Zac. Tiago ignorara a existência de Jane durante toda a semana assim como Sirius que ignorara todas as garotas que corriam atrás dele.

Não era à toa que os garotos já estavam se exaustando de entrar na sala de Augustus (que havia tentado ameaçar cada um deles a não contar nada do que ocorrera), de adentrar a biblioteca no meio da noite para ter acesso à Área Restrita, ou de ficarem acordados até tarde procurando por respostas que eles não tinham.

Eles haviam descoberto que Tom Riddle e Augustus estavam certos: Dumbledore havia de fato, saído para uma viagem, na missão de visitar algumas escolas bruxas de outros países. A professora McGonagall, naturalmente, o havia substituído.

Tiago havia elaborado um plano: toda a noite, eles fariam rondas pelos corredores do castelo, caso Riddle tivesse decidido vir mais cedo. Um dos sete normalmente permanecia guardando a sala do diretor, enquanto os outros se escondiam por trás de pilastras ou se dirigiam à biblioteca e à sala de Augustus.

– Uma semana exata se passou - refletiu Sirius, na sala comunal. - é hoje galera… tudo isso termina hoje.

– Foi legal conhecer vocês - comentou Pedro, abalado.

– Pessoal, se acalmem! Não é como se nós fossemos enfrentar um exército… - disse Tiago.

– Tom Riddle deve valer um exército inteiro - replicou Abbey, sorrindo de brincadeira, mas parecendo tensa em seu lugar.

– Quem disse? Ele não me parece tão perigoso… talvez ele só seja um covarde, sem coragem de matar sequer uma mosca! - retrucou Tiago, tentando convencer tanto aos outros quanto a si mesmo.

– Ele matou Amelia… - disse Lílian tristemente, lembrando-se da história mal contada da mulher do professor de DCAT.

Os garotos permaneceram em repleto silêncio por alguns segundos. Remus checava seu relógio a toda hora, como se estivesse em seu período de lua cheia. Porém o período em que eles se encontravam, era ainda mais perigoso do que um lobisomem correndo solto pela floresta proibida.

– Nós deveríamos ir… - murmurou Belle, depois de algum tempo.

– Sim… é verdade - apoiou Remus, já cansado de mexer no relógio de pulso.

Os garotos se levantaram e olharam para os lados. Todos já haviam ido dormir, depois de um longo dia de estudos. Tiago subiu as escadas do dormitório masculino e voltou segundos depois, segurando sua capa de invisibilidade.

– Eu irei atrás do Oswell. Nós podemos ir em duplas, rondar o castelo atrás dos dois. Alguém tem que proteger a sala do diretor com a capa. - explicou ele.

– Eu posso ir com você atrás dele - elegeu-se Remus, puxando a varinha de um dos bolsos.

– Eu posso ir com a Abbey - disse Belle.

Nem pensar! - exclamaram Tiago e Sirius em uníssono.

– Sério, gente? De novo o machismo? - questionou Abbey, irritada. - Já não bastava na Floresta Proi…

– Nós sabemos, mas… será melhor se vocês forem com um de nós. - retrucou Sirius. - Nós não dizemos isso querendo ser machistas, sabemos que vocês são fortes. Mas nos importamos com vocês. E eu ficarei mais seguro se vocês duas forem com um de nós.

– Resumindo: machismo. - concluiu Abbey, irritada.

– Eu vou com você e Belle, com Pedro - decidiu Sirius, ignorando-a.

Abbey deu um muxoxo contrariado e cruzou os braços. Eles viraram então, o olhar para Lílian.

– Parece que você protegerá a sala do Dumbledore, Evans - disse Sirius.

– Tudo bem - concordou Lílian sem hesitar.

– Tem certeza, ruivinha? - disse Tiago, parecendo pela primeira vez na noite, um pouco nervoso.

Lílian fez uma careta e o deu uma leve empurrada.

– Sou melhor em azarações do que você, não é? - provocou ela.

– Acho que está tremendamente enganada - replicou ele, esboçando um sorrisinho maroto.

Lílian já estava preparando-se para responder quando Sirius a interrompeu.

– Não é hora para namoro agora, galera, temos que ir!

Lílian ficou escarlate e balançou a cabeça.

– Eu nunca serei a namorada dele! - protestou ela.

– Se quer saber, eu sou incrível e também sou um homem livre, então provavelmente nós só nos beijaríamos algumas vezes - começou Tiago, sem um pingo de vergonha. - Além do mais, eu sei que você me ama, ruivinha, não precisamos fingir - disse Tiago, lhe dando uma piscadela.

Lílian engasgou imaginando algum universo onde ela e Tiago Potter se beijariam. Ela não conseguia nem ao menos pensar. Antes que conseguisse dizer mais alguma coisa, os sete já estavam saindo do salão comunal da Grifinória e se depararam com o escuro e sombrio corredor.

– Certo, eu e Remus iremos para a sala de Augustus que fica alguns andares abaixo de nós. Sirius e Abbey, acho que deveriam começar rondando o segundo andar e Pedro e Belle, o terceiro. O escritório de Dumbledore fica no sétimo andar, isso é, aqui. - instruiu Tiago. - Assim que verificarmos todos os andares, subiremos novamente para o sétimo, para nos encontrarmos com a Evans. Lembrem-se, Tom Riddle provavelmente está sob efeito da Poção Polissuco. Ele pode ser qualquer um. Tomem cuidado com isso.

Sirius e Abbey assentiram, sem aguardar nem mesmo mais um segundo e seguiram o corredor, descendo as escadas em direção ao segundo andar. Pedro e Belle os seguiram, e Belle se virou para Lílian antes de ir.

– Tenha cuidado - sussurrou ela, num abraço apertado com a amiga.

– Terei - disse Lílian, com um sorrisinho tranquilizador.

Quando só haviam Tiago, Lílian e Remus no corredor, um silêncio constrangedor se instalou. Lílian se lembrou do começo do ano. Como havia conhecido aqueles dois. Como Tiago pareceu extremamente charmoso no início, mas acabara provando ser um irritante, apesar de não perder o seu charme nem mesmo por um segundo. Como Remus estava sozinho em uma cabine e Lílian o conheceu. Como Tiago havia dito que Remus não era só amigo dela, mas dele também. Um arrepio passou por todo o seu corpo. O tempo havia passado.

Remus limpou a garganta.

– Acho melhor nós irmos… - sugeriu ele.

Lílian concordou e olhou para os dois lados do corredor do sétimo andar. Cada um deles parecia mais sombrio que o outro.

– Tenha cuidado, Líly - continuou Remus, abraçando-a.

– Está tudo bem - disse ela, observando Tiago. Seu sorrisinho típico estava começando a falhar, sendo substituído por uma expressão séria, como se tivesse consciência da imensidade de coisas ruins que poderiam acontecer naquela noite.

Você não está preocupado? - indagou Remus olhando para Tiago, parecendo um pouco surpreso por o garoto não estar agarrando Lílian ou fazendo piadinhas sobre a situação.

– Não - respondeu Tiago, dando de ombros. -, eu sei que ela consegue.

Uma onda de gratidão invadiu o peito de Lílian, sentido-se feliz do garoto confiar nela. Lílian sabia que podia fazer aquilo. E ela não sentia um pingo de medo.

– Obrigada - disse ela, sorrindo para Tiago. Uma coisa rara de acontecer.

Tiago deu de ombros novamente e aproximou-se dela, estendendo-a a capa de invisibilidade.

– Não quero nem um rasgo nela - disse Tiago, com um sorrisinho maroto.

Lílian fez um muxoxo irritada.

– Como eu iria rasgar a sua ca… - a garota interrompera sua própria fala com um engasgo quando Tiago se inclinou e a beijou na bochecha.

Ele se afastou com um sorrisinho ainda maior estampado naquele rosto maroto. Suas bochechas estavam levemente avermelhadas, já Lílian, sentiu-se ruborizar como um tomate da horta de sua mãe.

Potter! – esganiçou ela, o mais alto que pôde. - Seu abusado!

Remus gargalhava num canto, esperando Tiago que ainda fitava Lílian como se tivesse acabado de lhe dizer que havia se tornado milionário.

– Eu poderia ter feito bem melhor - sussurrou ele, num tom que Lílian imaginou que ele usasse com garotas como Jane. -, mas provavelmente se eu fizesse você estaria ainda mais vermelha e teria me matado, então...

Lílian se afastou ainda mais corada, pensando em todos os xingamentos que poderia ter dito naquela hora.

– Argh! Potter! - mas ela só conseguira dizer isso, antes de sair correndo pelo corredor com a capa de invisibilidade do garoto balançando atrás de si.

– Um dia ela ainda admite - comentou ele, virando-se para Remus.

Remus o encarou com um sorrisinho de desdém.

– Admite o quê, Tiago? - perguntou ele.

– Que ela está completamente apaixonada por mim. - respondeu ele, seguindo o amigo pelo corredor. - E quem não está?

***

– Aposto que não encontraremos nada - disse Sirius, checando uma das portas do corredor.

– Por que? Oswell e Riddle podem estar no castelo nesse exato minuto e nós temos grandes chances de encontrá-lo. - ponderou Abbey, rodeando uma estátua de um bruxo sem uma das pernas.

– Acho que ele não chamaria nenhuma atenção se passasse por nós agora mesmo. Ele iria direto para a sala de Dumbledore e nós nem perceberíamos. - replicou Sirius.

Claro que perceberíamos - respondeu Abbey, sentindo um arrepio percorrer toda a sua espinha.

Sirius deu de ombros e tentou ouvir algo no corredor escuro. Nada. Nenhum som ecoava.

– Quem você acha que é? Quero dizer… de quem você acha que Riddle se disfarçaria? - questionou Sirius.

– Hum… não sei. Imagina se fosse do Hagrid! - exclamou Abbey, rindo.

– Iria ser difícil não perceber - disse Sirius, dando uma risadinha. - o Hagrid é… bem, o Hagrid.

– É… além disso nós... AH! - gritou Abbey, pulando nos braços de Sirius assim que um vulto se aproximou dos dois. Uma sombra na escuridão parecia deslizar de tão lentamente que vinha na direção deles, fazendo-os sentir uma sensação fria, como se estivessem se deparando com seus piores pesadelos.

– Quem está aí? - exigiu Sirius, apontando a luz de sua varinha na direção do vulto. O garoto mal parecia ter percebido a presença de Abbey, tremendo ao seu lado. “Ou talvez ele esteja acostumado a esse tipo de reação vindo das garotas” pensou Abbey, agradecendo silenciosamente por estar escuro o suficiente para que o garoto não visse a vermelhidão de seu rosto.

– Black? E… Abbey? - questionou uma voz feminina mandona, e o vulto correu em direção aos dois. Abbey já sabia desde o primeiro segundo de quem pertencia aquela voz. E quando a pessoa se aproximou dos dois, ela só veio a confirmar sua suspeita. Os cabelos longos com algumas mechas loiras, as curvas de seu corpo e o jeito como se posicionava quando falava com qualquer um, acreditando que possuía alguma superioridade. Miandra era iluminada pela luz da varinha de Sirius e ela esboçou um sorrisinho de desdém ao fitar a varinha.

– Brincando de Caça às Bruxas? Ou só decidiram vir a um encontro romântico fugindo de Filch? - disse Mia.

– Estamos estudando - respondeu Sirius, com um mísero segundo de hesitação que Abbey só percebera pois sentira seus músculos tensos ao seu lado.

Estudando? No meio da noite? E no meio do corredor? - esganiçou Mia, gargalhando.

– Eu estou ensinando ao Sirius como conquistar garotas. - respondeu Abbey, sentindo uma vontade tremenda de rir. Ela sentiu Sirius encarando-a com indignação mas evitou olhar para o garoto.

– Jura? - perguntou Miandra, incrédula.

– Eu realmente preciso de ajuda - murmurou Sirius, entredentes. -, é uma questão séria, sabe?

– O que você está fazendo aqui? - questionou Abbey, percebendo que a garota também não deveria estar rodando pelo castelo no meio da noite.

Miandra abriu um sorrisinho e fez um gesto displicente com a mão.

– Ah… vocês sabem. Não consegui dormir, entendem? - respondeu ela, franzindo o cenho, diante da luz da varinha de Sirius que ainda estava em cima de seu rosto. - Você se importa de abaixar isso? Incomoda sabe…

Sirius encarou-a desconfiado e virou seu olhar para Abbey. A garota entendeu o que Sirius pensava. O que Miandra estava realmente fazendo ali?

– Miandra? Quero que você me responda uma pergunta e que você seja completamente sincera. - pediu Abbey.

Mia fez uma careta e deu de ombros.

– Se eu quiser responder - respondeu ela.

– Certo... o que você ameaçou fazer com Sirius se eu não ficasse ao seu lado e ignorasse a todos os meus amigos? - perguntou Abbey.

Mia pareceu irritada com a pergunta da garota e cruzou os braços.

– Você estava lá, por que quer que eu responda?

– Porque nós precisamos que você responda - respondeu Sirius, com a varinha ainda apontada para a garota.

Miandra pareceu relutante em responder e os fitou por alguns segundos ainda mais desconfiada do que os dois.

– Eu não sei porque vocês querem saber isso - comentou ela, após um longo tempo. - Mas acredito que seja hoje, não é? O que quer que esteja acontecendo entre o professor Oswell e vocês. E essas perguntas estranhas… tem algo relacionado a isso.

– Como você sabe disso? - indagou Sirius, sem nenhuma hesitação. - Por que estariam relacionadas as duas coisas?

– Tem algo acontecendo aqui. Algo acontecendo no castelo essa noite. E eu quero fazer parte. Eu quero entrar - respondeu Mia, com os olhos brilhando de malícia.

– Miandra isso não é uma festa ou um clube. Você não pode “querer fazer parte”, simplesmente! - protestou Abbey, impaciente.

Eu posso e vou - retrucou ela, puxando a varinha do bolso. -, onde estão os outros?

Sirius e Abbey se entreolharam, incrédulos. Sirius estava na linha da zombaria e da descrença com Miandra.

– Vamos continuar, Abbey - disse Sirius, abaixando a varinha do rosto de Miandra. -, ainda temos muito o que checar.

– Eu vou com vocês - afirmou Mia.

– Por favor, não me obrigue a te azarar - disse Sirius, com a voz soando entediada.

– E depois o que? Azarações não duram mais do que alguns minutos! Quando os efeitos passarem eu vou correndo chamar um dos professores. O que eles diriam se vissem o seu grupinho andando pelo castelo depois do horário? - Mia continha um sorriso estampado no rosto sabendo que a partir daquelas palavras ela havia conseguido conquistar algum resultado.

Sirius e Abbey estavam prestes a esganar a garota e ainda a encaravam como se ela tivesse acabado de dizer que o mundo havia declarado guerra contra o suco de abóbora. Com uma expressão incrivelmente incrédula.

–Eu não acredito nisso… - murmurou Sirius, balançando a cabeça. - está bem, pode vir conosco. Mas você tem que ficar quieta. Não quero ouvir nada sobre Zac ou sobre como você detesta a Evans ou qualquer outra coisa que você faça na sua vida.

– Ótimo. - aceitou Miandra, com um sorrisinho triunfal. - Por onde começamos?

***

– É estranho… - disse Tiago, examinando a sala de Augustus de cima a baixo. - eu achava que estaria acesa ou… eu não sei, pelo menos com alguma movimentação.

Tiago e Remus haviam acabado de entrar na sala do professor, e se depararam com um profundo e imenso espaço sem nenhuma iluminação. Tiago tossiu um pouco diante da poeira que o lugar continha. Parecia que a sala mal havia sido tocada na última semana.

– Eu não me surpreendo tanto - falou Remus, fechando a porta. -, acho que ele está por aí, ajudando Riddle a entrar por alguma passagem secreta ou algo assim.

– Não deve ser muito difícil para o Riddle entrar. Ele já entrou uma vez, não é? O que o impediria na segunda vez? - replicou Tiago.

– Dessa vez, Dumbledore não está em Hogwarts. De algum jeito, o castelo fica muito mais seguro quando ele está aqui. Sem ele, é como se a base principal da segurança de Hogwarts tivesse sido destruída. - disse Remus

– Riddle deve ter conseguido entrar por pura sorte naquela noite que o vimos... Ele devia estar esperando do lado de fora, mas como Oswell demorou, ele não quis perder tempo.

– Ele parece o tipo de cara que não tem medo de nada - comentou Remus, esfregando os olhos quando acreditara ter visto um vulto passando rapidamente numa das janelas do corredor.

– Ah… ele tem medo. - disse Tiago, franzindo a testa como se esse pensamento também já lhe tivesse ocorrido. - Tem medo de Dumbledore.

– Como você sabe?

– Eu só… percebo - respondeu Tiago, iluminando um espaço mais amplo de onde eles estavam. - tem algo ali.

– Como assim? - sussurrou Remus, num tom esganiçado. - O que é?

Tiago se aproximou mais e mais do que quer que ele havia visto e se deparou com uma massa de cabelos escuros e olhos azuis. A pessoa tinha ombros largos e era ao mesmo tempo ágil, quando puxou sua varinha em segundos de seu bolso e a acendeu.

Zac? - disse Tiago, com a voz soando irritada.

– Potter? Remus? O que vocês dois estão fazendo andando pelo castelo no meio da noite? - perguntou Zac, balançando a cabeça.

Agora os três podiam se ver um pouco melhor, pois se encontravam no final do corredor, que possuí uma janela alta e grande, que os iluminava suficientemente para que pudessem distinguir o rosto um do outro.

– Eu te faço a mesma pergunta! - exclamou Tiago.

Zac ficou escarlate e olhou para o chão por alguns segundos, pensando em algo para dizer.

– Espere! - Remus interrompeu. - Tiago, pergunte alguma coisa para ele. Alguma coisa que somente ele saberia.

– Certo… - disse Tiago, esforçando-se para pensar em algo. - hum… você beijou Lílian Evans?

O quê? – balbuciou Zac, balançando a cabeça. - Você não acha que isso é um pouco pesso…

– Sério, Tiago? De todas as coisas, você tinha que perguntar… - começou Remus, quase rindo da situação.

– Não foi nada demais. Agora responda, metido a apanhador - disse Tiago, calmamente, apontando sua varinha para o pescoço de Zac.

– Sim! Eu dei um selinho nela, e daí? - admitiu Zac, lançando as mãos ao ar, exasperado.

Tiago o fitou por alguns segundos como se o garoto tivesse dito que encontrou uma máquina de destruição dentro do Lago de Hogwarts.

– S-selinho? - balbuciou Tiago, parecendo não ter entendido direito a situação. Subitamente ele começou a rir descontroladamente e teve que se apoiar à parede do corredor para recuperar o fôlego.

– O que tem de demais? - perguntou Zac, defensivo.

– Ah… nada, é só que haviam me dito que vocês estavam se agarran…

Um rosnado baixo e sombrio surgiu atrás dos três, arrepiando-os até o último pelo da nuca. Tiago se virou lentamente, assim como Zac e Remus com as varinhas apontadas para as sombras. A lua refletida da janela iluminou um homem alto e com ombros largos, possuía caninos finos e afiados e pelos espalhados por todo o rosto. Usava uma jaqueta escura e surrada, que batia até os joelhos, e uma calça jeans rasgada e manchada de vermelho.

– O que criancinhas estão fazendo andando pelo castelo no meio da noite? - disse o homem, com um rosnado baixo, vindo do fundo da garganta.

Tiago limpou a garganta. O que um homem como aquele fazia em Hogwarts? O garoto tinha a ligeira impressão de já tê-lo conhecido antes. Aqueles olhos escuros e misteriosos, porém claros quando a lua passava pelo seu campo de visão.

– Quem é você? - perguntou Tiago, atormentado.

O homem gargalhou friamente e se aproximou ainda mais dos três, com os caninos à mostra. Tiago os fitou por um longo instante e percebeu, tarde demais, quem deveria ser aquele homem. Ou melhor dizendo, o quê.

– Eu conheço você - continuou o homem apontando para Remus e ignorando a pergunta de Tiago. -, mas você provavelmente não se lembra… afinal, era só uma criança.

Remus ficou tenso e suas mãos começaram a tremer. Ele sabia exatamente quem era aquele homem. Poderia até não se lembrar, mas fora de longe o pior dia de sua vida, pois aquela noite, o condenara para sempre.

– Greyback - disse ele, friamente.

– Você é o lobisomem que estava na floresta! Você é o lobisomem que quase atacou a Lílian - exclamou Tiago, chocado.

– O que você disse? - perguntou Zac, dando um passo a frente. - Atacou a... Líly?

Greyback parecia quase entretido na conversa dos três, e se aproximava lentamente, lambendo os lábios com a língua. Tiago apontou a varinha firmemente para o lobisomem.

– Pare onde está, filhote de pastor! - gritou ele, lançando um feitiço de proteção ao redor dos três que fez Greyback recuar um passo, com uma careta de dor.

– Quantos anos você tem para lançar esse tipo de feitiço, menininho? - disse Greyback, fitando Tiago com uma certa curiosidade.

– Fique longe de nós… - respondeu Tiago, olhando de relance para Zac. - na verdade, se você quiser pode levar o Zac, não faz muita diferença…

– Cala a boca, Potter… - murmurou Zac, fervorosamente.

– O quê? Eu não o estou vendo ajudar em muita coisa… - disse Tiago, olhando com espanto, os pelos no corpo de Greyback ficarem maiores e mais grossos, as unhas se alongarem, os dentes crescerem ainda mais, se é que isto era possível. Tiago via tudo aquilo com a boca entreaberta de horror. - Hum... Remus, o que está acontecendo?

– Ele está se transformando… - respondeu o garoto, com o rosto pálido como cera. - agora seria uma boa hora para correr.

Os três se entreolharam sem conseguir pronunciar nenhuma palavra. O som simplesmente não saía de suas bocas. A forma de um lobo enorme se formava diante deles. Zac engasgou enquanto Tiago tentava se lembrar de qualquer feitiço, um mínimo que fosse. Entretanto nada vinha em sua mente naquele momento. Ele gritou mais um feitiço de proteção e enquanto o lobo se contraía para trás ele se sentiu ser puxado por uma mão firme.

Remus havia agarrado os pulsos de Tiago e de Zac e os guiava pelos corredores que pareciam infinitos do castelo, enquanto eles sentiam uma enorme sombra os seguindo. Estranhamente, o lobisomem era silencioso, parecia que poderia simplesmente deslizar na escuridão do castelo e aparecer na frente deles sem eles nem perceberem.

– Vamos para o sétimo andar - disse Tiago, ofegando quando eles se esconderam atrás de uma pilastra do quinto andar. -, temos que encontrar a Evans. Existem mais do que só o Oswell e o Riddle. Greyback está com eles. E se tiver mais gente?

– Lílian está no sétimo andar? - balbuciou Zac, espantado.

– Não pode ser… como tanta gente conseguiria entrar no castelo sem ninguém perceber? - questionou Remus, ignorando a pergunta de Zac.

– Oswell os ajudou - respondeu Tiago, entredentes.

Zac deu um grito de pavor quando do seu lado esquerdo, olhos grandes e amarelos surgiram. O rosnado ainda estava lá, ainda mais alto do que antes devido à proximidade do lobo e dos três. Tiago puxou Zac num ímpeto rápido quando ele vira o reflexo da cabeça do lobisomem voando para trás, indo em direção à perna do garoto. Zac gritou novamente, com a mais pura incredulidade.

De repente, uma luz vermelha piscou clara e nauseante do lado direito de Tiago. Uma luz como um fogo em brase ardente queimando os olhos dos três, que fizera com que o lobisomem caísse desamparado no chão, inconsciente.

Tiago olhou em volta espantado, procurando quem lançara o feitiço. Minerva McGonagall se encontrava num canto próximo a eles, com os lábios contraídos e o rosto pálido de horror. A varinha, ainda apontada firmemente para Greyback, foi abaixando aos poucos, à medida que a professora se direcionava até os três.

– O que, em nome de Merlin, está acontecendo aqui? - indagou sua voz, que continha uma mistura nada agradável de horror e de espanto.


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Notas finais do capítulo

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