–Mas que porra?- Jillian Johnson despertou no dia 1 do ano, deitada em sua grande cama com os lençóis brancos bagunçados, ao som de um alarme extremamente irritante que tocava alto em algum lugar de sua cobertura. Ela se sentou na cama, coçou os olhos e esperou até despertar completamente. Assim, colocou suas pantufas para aquecer seus pés do frio do inverno e desceu as escadas, onde sua mãe, com seu roupão que usava para dormir, estava tomando café com René, na sala de jantar. As panquecas do francês estavam nos pratos dispostos na frente deles, e eles tinham várias revistas sobre casamento espalhadas pela mesa de vidro. A adolescente pôde sentir o cheiro enjoativo da calda especial de René, e fez uma careta. Que nojo!- Mãe, que barulho irritante foi aquele?

–Bom dia pra você também, reclamona- Louise falou, sem tirar os olhos de uma página de revista com um longo vestido branco de noiva cheio de babados e renda, com mangas longas demais Marchesa. Segundo a revista, era vintage. Ou seja, velho?- Era só um alarme que eu botei para nós acordarmos na hora certa. Não podemos perder tempo em organizar o casamento.

–Vocês só vão se casar na primavera- Jill andou até a geladeira, pegou suco e colocou num copo de cristal, descansando na bancada.

–Exatamente- Louise falou enquanto sua filha bebia o suco- A primavera está logo na esquina. E nós temos muita coisa pra fazer.

–Por que não contrata os Clark de novo?- a morena perguntou, apoiada na bancada fria.

–Depois do trabalho horroroso que eles fizeram?- a mãe de Jill finalmente levantou os olhos da revista e encarou a filha- Nem pensar.

–Como assim? O natal foi um sucesso- respondeu a garota alta, se sentando na mesa com eles, e coçando o olho, ainda cansada. René a ofereceu uma panqueca de seu prato, mas ela recusou, enojada. Ela ainda suspeitava que naquele molho especial tinha baba de sapo.

–Só se for pra você- Louise revirou os olhos- Aqueles dois babacas quase arruinaram tudo. Principalmente aquele arranjo de flores barato... Argh!

Jill riu, e Bárbara de repente apareceu nas escadas, usando meias brancas e seu pijama lilás da Hello Kitty, esfregando os olhos com sono.

–Por que vocês já estão acordados?- ela perguntou, confusa.

–Mas que mal humor!- exclamou Louise, jogando a revista que lia na mesa com força. Ela deu uma última garfada na panqueca e se levantou, apressada- Vocês me atrapalharam. E agora tenho que ir trabalhar. René, tente decidir as cores predominantes, pelo menos, ok?- ela falou enquanto subia as escadas correndo.

Bárbara pegou uma caneca, colocou café com açúcar e sentou na mesa com a irmã e o futuro padrasto. Puxou o celular do bolso do pijama e começou a checar seu facebook, enquanto Jill comia um pedaço de bolo, pensativa. Logo, partiram para o colégio.

X-X-X

Dylan Greene, andando pelos corredores de sua mansão, em direção à cozinha, ouviu seu pai falando, sozinho em seu quarto. Ele estranhou a situação, então parou na frente da porta aberta e viu que o pai pegava papeis de uma grande caixa de madeira amarela e lia o nome escrito no mesmo. E, depois, deixava os papéis na mesa que a caixa estava.

–O que está fazendo?- o garoto quis saber, entrando no quarto. O Sr. St. Jude levantou a cabeça e encarou o garoto.

–O que você acha?- ele perguntou, mesquinho- Contando os votos pra presidência da escola. Vou anunciar amanhã a presiden...- ele não terminou de falar, porque o telefone no primeiro andar soou pelas paredes da grande casa. O idoso resmungou, saiu de trás da caixa e desceu as escadas, vagorosamente, deixando o adolescente sozinho na suíte.

Ele caminhou até os papéis, os tênis desgastados arrastando no carpete creme. Passou os olhos pelos papéis, e pegou um na mão forte. Numa caligrafia terrível ,o nome “Nikki Wayne” estava estampado no papel amarelado. Pegou outro, e o mesmo nome estava rabiscado. E outro, e outro. Quando olhou para os papéis novamente, notou que havia um certo padrão. Praticamente todos os papéis tinham o nome da estudante de pernas peludas. Finalmente, D achou um papel com o nome de Jill, e ele reconheceu a boa caligrafia de Matt. Aparentemente, ninguém queria ela como presidente depois dela ter dormido com o melhor amigo e desafiado a nova rainha do colégio.

Se a votação continuasse daquele jeito, era óbvio que Jill iria perder. E Dylan sabia o quanto isso seria injusto, visto que a garota tinha se dedicado tanto àquilo, além do fato que CeCe havia sido suspensa para a amiga vencer. Tudo aquilo não podia ser em vão. Ele abriu o cadeado da caixa, já que a senha de seu pai era sempre a data de aniversário de sua mãe, e começou a procurar o papeis que votavam em Nikki. Quando encontrava um, rasgava e escondia nos bolsos da jaqueta, até que só sobraram votos para Jill. Saiu correndo do quarto quando ouviu os passos do pai pela escada, e jogou os papéis rasgado na privada. E deu descarga, aliviado.

X-X-X

Uma semana depois, no dia 8, uma quarta feira, CeCe voltou à escola. Quando colocou seus Dr. Martens pretos no piso de pedra molhado por causa da chuva fraca, todos olharam para ela, desde alunos até funcionários. A suspensão tinha acabado finalmente, e ela estava de saco cheio daquela escola. Porém, por pura obrigação de seus pais, ela tinha que ficar nele, mesmo odiando o lugar. Segundo eles, “sem escola, sem faculdade, e sem faculdade, sem futuro”. Ela suspirou. E continuou andando.

–Amiga!- uma Jill mais sorridente que o normal surgiu detrás da escada de mármore e correu até ela, as botas castanhas fazendo as águas das poças no chão voarem para todos os lugares, com cuidado para não escorregar. Ela jogou os braços ao redor da ruiva e a apertou- Vem, vem- ela falou quando a soltou. Seu cabelo estava arrumado por uma faixa grossa e vermelha que brilhava no topo de sua cabeça, e seus cachos estavam desarrumados de uma forma charmosa, caindo pela jaqueta quadriculada preto e vermelha Saint Laurent. Um colar em forma de coração de ouro branco Chanel pendia sobre o suéter listrado preto e branco Tommy Hilfiger- Eles vão anunciar a presidente daqui a pouco.

A garota de cabelo castanho agarrou a mão de CeCe e a levou para o outro lado do pátio, onde estava a maioria dos alunos, as duas correndo pelas gotas finas de chuva caindo em seus cabelos. Ela a guiou até uma mesa que estavam sentados Matt e Dylan, e C viu de relance Jéssica e suas seguidoras em outra mesa. Ta aí pessoas que ela definitivamente não sentiu saudades no período que estava sem ir à escola. Jill largou a bolsa azul marinho no banco da mesa e sentou na mesma, ao lado dos amigos. CeCe a imitou, e levantou a cabeça. Todos olhavam para ela, inclusive o sr. St. Jude, que estava de pé no centro do pátio, com um microfone na mão, e usando um terno cinza que parecia tão velho quanto ele. Matt abraçou a amiga que tinha chegado e Dylan a cumprimentou com um sorriso. Após um minuto de silêncio por causa da chegada da adolescente, o diretor ligou o microfone, que fez um barulho irritante por todo o lugar, e começou a falar.

–Bom dia a todos- ele falou- Antes de começar as aulas do dia, estou aqui para anunciar a presidente da escola St. Jude desse ano.

Jill prendeu a respiração. Estava frio naquele lugar, mas a atmosfera de nervosismo parecia apenas atingir aquela garota. E, é claro, Nikki Wayne, que estava sentada em outra mesa distante. J olhou para ela e analisou a roupa hedionda da garota, que incluía um enorme casaco cinza de lã, calças sociais pretas largas e botas sem graça Steve Madden. Nikki a encarou também, mas apenas por um segundo, antes do diretor pronunciar o nome da próxima líder do colégio.

–Jillian Johnson, meus parabéns- ele falou. Aplausos sem graça ecoaram pelo lugar, e a menina riu de alívio. CeCe a abraçou, lhe dando os parabéns, assim como Matt. Dylan apenas sorriu para ela, e lhe deu parabéns como os outros. Porém, secretamente, ele queria a abraçar apertado. E talvez beijá-la. E talvez algo mais. Mas ele não podia; claro. Queria dizer para ela que tinha sido ele que tinha a feito ganhar mas também não podia. Mesmo assim, se sentiu mais que feliz pela vitória da garota.

–Eu tenho que te agradecer- Jill disse para a garota ruiva na sua frente- Se não fosse por você eu não chegaria nem perto de vencer.

–Não é pra isso que servem os amigos?- CeCe rebateu, e elas se abraçaram novamente.

–Agora vão para dentro, as aulas começarão- disse o sr. St. Jude- E parabéns novamente à nova presidente.