Depois de um tempo deitado, Gabriel desligou o computador e veio para perto de mim. Ficou de pé do meu lado.

Gabriel: Você ficaria comigo?

Eu: Não.

Gabriel: Por que não?

Eu: Porque amo o Felipe.

Gabriel: Nem um selinho?

Eu: Me deixa vai.

Gabriel: Eu estava só brincando.

Eu: Bom, vou voltar para casa.

Gabriel: Está cedo...

Eu: 18:00 Gabriel.

Gabriel: Já?!

Eu: Sim. 18:00. Vai até o portão comigo?

Gabriel: Vou sim.

Gabriel pegou a sua chave na cômoda e fomos até a porta de sua casa. Ele abriu a porta e eu sai. Na frente do portão ele me olhou por um tempo.

Gabriel: Mereço um abraço?...

Coloquei meus braços no pescoço dele e o abracei. Meu rosto ficou em seu ombro, já que ele era maior que eu. Senti sua tesão em mim. Admito, ele tem um troço bem grande. Depois de um tempo, eu o soltei e ele abriu o portão.

Voltei para casa, jantei e dormi.

Sábado. Minha mãe me acordou.

Eu: O que foi?

Mãe: Levante-se. Vamos ao parque.

Eu: Parque? Com quem?

Mãe: Vamos eu, você, seu primo Daniel e a tia Denisse.

Ri um pouco ao lembrar desse nome. Denisse. Era usado para falar do Felipe indiretamente com o Tonny.

Eu: Preguiça mãe...

Mãe: Levanta agora. Vamos lá, coragem.

Levantei, tomei banho, café da manhã e me arrumei. Vesti bermuda e uma camisa azul. Peguei meu patins na garagem e coloquei no carro.

Mãe: Eles vão estar lá já. Entre, coloque o cinto de segurança...

Eu: Mãe, eu sei como andar em um carro.

Entrei no banco do passageiro da frente, coloquei meu cinto e fiquei esperando ela. Chegando no parque, vesti os patis. Minha mãe pegou o skate dela. Pois é, minha mãe é skatista. Diferente não?

Vi Daniel e a tia Denisse de longe. Daniel estava com uma bermuda bege e uma camisa vermelha. Daniel é meu único primo. Ele conhece meus amigos já. De vez em quando eles se falam pela internet ou eu levo ele em alguma festa. Daniel tem pele morena, cabelo liso com franja. Seus olhos são da cor mel, bem claro. É da minha altura exata, tem a mesma idade que eu porém faz aniversário três meses antes. Ele estava com uma bicicleta.

Daniel: E ai Miguel!

Eu: E ai Daniel!

Denisse: Oii Miguel.

Eu: Oi tia.

Daniel: Vamos dar uma volta.

Mãe: Eiei, nós duas vamos ficar nesse circulo no meio do parque. Depois venham para cá.

Daniel: Pode deixar!!

Daniel saiu correndo na bicicleta. Eu fui atrás patinando.

Daniel: E ai, como vai a escola no primeiro médio?

Eu: Difícil... E a sua?

Daniel: Ah mó fácil!

Eu: Ah mas a sua é estadual.

Daniel: É... Mas ano que vem eu vou para uma particular também.

Eu: Quanto é a mensalidade?

Daniel: É uns 300 reais.

Eu: 300. Deve ser boa.

Daniel: A sua é dois mil não é?

Eu: Dois mil e quinhentos. O preço aumentou.

Daniel: Você é rico...

Eu: Nem sou.

Daniel: É sim.

Eu: Não sou.

Daniel: É sim.

Eu: Vamos parar de conversar sobre meu rendimento financeiro. Você ainda conversa com alguém da minha escola?

Daniel: Todo mundo. Diego, Tonny, Milena, Felipe, Rodrigo e Rafael.

Eu: Rodrigo... Nossa. Nem lembrava mais desse.

Daniel: Ele mudou de escola né?

Eu: Mudou. O que você conversa com o Felipe?

Daniel: Ah, as vezes eu chego pra ele e falo "Eai Felipão!" .

Eu: E ele?

Daniel: "Fala Dani!".

Eu: Não sabia que vocês conversavam.

Daniel: É só de vez em quando. Algum de seus amigos pode estar aqui no parque?

Eu: Talvez o Felipe ou o Gabriel.

Nessa hora, meus olhos arregalaram. No final da pista estava lá. Me

olhando e andando em seu skate. Não, não era Felipe. Era o Renan!! Ele me viu. Eu fiquei com um pouco de medo da gangue estar ali também.

Parei de andar. Ele deu meia volta também. Se a família estivesse com ele, ele não faria nada comigo. Mas se fosse os amigos, eu estaria fudido.

Daniel: Algum problema?

Eu: Vamos voltar.

Daniel: Voltar?

Eu: Sim. Estamos muito longe.

Dei meia volta e Daniel veio atrás. Comecei a andar um pouco rápido. Por que o Renan aqui? Justo hoje?! Eu já sabia que ele as vezes andava de skate mas por que tinha que ser hoje?

Voltamos para a minha mãe e para a tia Denisse. Ficamos lá um tempo conversando.

Mãe: Quem quer tomar sorvete?!

Estava calor então eu aceitei. Fomos até a barraca de sorvetes perto da entrada do parque. Estávamos eu, minha mãe e a tia na fila. Daniel estava olhando as bicicletas que tinhas para alugar. Eu não percebi na hora, mas chegou o Renan e disse para outros dois meninos "Olha quem eu achei". Quando ouvi essa frase, reconheci a voz e sai de perto. Minha mãe ficou falando meu nome mas eu nem quis saber. Sai de perto e fui para a direção de Daniel.

Daniel: O que foi?

Eu: Nada por que?

Daniel: É que você veio aqui. Olha essa bicicleta. Loca né?

Eu: Bonita.

Daniel: Quero uma dessa de aniversário.

Eu: 17 de setembro?

Daniel: Sim. Pedi para minha mãe comprar.

Eu: É bonita mesmo. Parece cara.

Daniel: Não faço ideia do preço...

Voltamos para a minha mãe.

Mãe: E aí? Desistiu do sorvete?

Eu: Não, por que?

Mãe: Você foi pra lá.

Eu: E dai? Ainda quero comer sorvete. Tem vezes que eu estou em casa e quero comer sorvete também. Preciso ficar aqui para você entender que eu ainda quero comer?

Os meninos ficaram na nossa frente bem quietinhos. Talvez com a minha família ali, eles não iam falar nada. Estavam Renan, Luiz e um outro que eu não conheço. Comemos sorvete e nos despedimos. Dei muita sorte de o Renan se comportar. Muita mesmo. Eu poderia estar fudido com a família...