Não sou gay!! escrita por Signature Black


Capítulo 27
A Bermuda de Felipe




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Em uma estação de metro, eu andava por uma espécie de ponte. Por baixo de mim, passava um metro amarelo. A estrutura do local me lembrava a linha amarela, de São Paulo. Encontrei Felipe no meio desta ponte. Ele estava com o cabelo cortado com maquininha 2 em tudo, mas ainda permaneciam alguns fios grandes. Bem feio, mas não reparei muito. Ele usava camisa branca e calça azul, como se fosse uniforme de alguma outra escola. Felipe disse que queria falar comigo. Me puxou para um canto e disse em melodia:

Felipe: Miguel... Eu voltei a ser... Gay!!

Não entendi muito. Ele falou essa frase cantando com uma felicidade que me impressionava.

Eu: Você sente tesão por homem?

Felipe: É... Mais ou menos... Naquelas.

Continuamos andando e conversando. Andando em apenas uma direção, entramos em um vagão de metro. Felipe sentou na primeira cadeira à direita. Eu me sentei na cadeira da frente.

Eu: Quando você descobriu isso?

Ele não soube responder. Sorriu para mim.

Saímos do metro pela porta automática. Andando mais um pouco, entramos no corredor de uma escola durante a aula de educação física. Eu não quis participar e me sentei no canto do corredor. Me encostei na parede branca e Felipe sentou do meu lado, com as pernas em cima das minhas. Puxei sua calça da perna direita, até a altura do joelho. Passei a mão por seus pelos da perna e perguntei:

Eu: Você sente tesão?

Ele sorriu mexendo a cabeça, dizendo que sim. Por mais que eu passasse a não, não sentia nada no que tocava.

Abri os olhos de respiração acelerada. Eu estava no meu quarto.

Eu: Foi... Só... Um sonho...

Segunda-Feira

Levantei da cama, tomei banho e café da manhã.

Me sentei na cama pensando no sonho que eu tive. Aquela escola seria o objetivo da outra rua? O uniforme é de lá? Mas o que o metro tem a ver? Olhei para minha janela. Eu não conseguia ver a casa de Felipe.

Fui para a escola com a minha mãe. Chegando lá, subi direto para a classe e esperei as pessoas chegarem também. Felipe e Tonny entraram juntos.

Felipe: Vamos de dupla hoje Tonny?

Tonny me olhou com uma cara de quem não sabia o que responder. Eu preferi ficar quieto.

Tonny: Não sei.

Felipe: Miguel, você vai com o Tonny hoje?

Eu: Não sei.

Felipe: Então bora Tonny!

Sentei na cadeira com um pouco de raiva. Ciúme, na verdade.

Felipe: Miguel, onde você estava nesse fim de semana?

Eu: Por que?

Felipe: Eu entrei no computador Sexta, Sábado e Domingo o dia inteiro pra falar com você.

Eu: Desculpa, eu fui na casa da minha vó.

Tivemos aula de informática até a hora do intervalo. Sim, do começo da aula até o intervalo. Um professor sofreu um acidente de carro enquanto vinha para a escola, então não tivemos aula dele.

Na sala de informática, Tonny ficou vendo algumas garotas do médio de biquini no computador. Eu fiquei jogando no computador com o Felipe. Fiquei feliz pelo jeito que ele falava comigo, não sei explicar. Até que...

Felipe: Nossa, quem é essa?!

Tonny: Delbek do médio.

Felipe: Maluco... Me manda essa foto depois.

Olhei para a bermuda do Felipe. Ele estava de tesão...

Ninguém percebeu eu olhando graças a Deus.

Felipe: Olha isso Miguel?

Eu fui ver a foto. Uma menina bonita, formosa, loira linda com olhos castanhos. Naquela hora me deu um sentimento que eu nunca senti antes. Não era ciúme, era algo puxado para tristeza.

Felipe: É meus jovens... Infelizmente esta é a nossa última semana juntos. Vou sentir sua falta Tonny.

Abaixei mais a cabeça.

Tonny: Só a minha?

Felipe: Sua, do Miguel e do Ken. E é claro, de perder a chance de conversar com essa gostosa.

Abaixei ainda mais a cabeça. Depois de dois anos descobri tudo. Felipe é hétero. Não conheço o mundo bissexual para dizer se ele é ou não, mas as minhas chances estavam completamente acabadas. Mesmo eu tendo alguma chance seria desperdiçada, pois ele só teria uma semana de aula.

Para não parecer derrotado, para não ficar com cara de quem perdeu o jogo eu sorri. Cada vez mais parecia mais alegre. Algumas pessoas não entendiam nada, mas o porquê.

Tonny só de olhar para mim entendeu que eu estava bravo com algo.

Depois do intervalo, voltamos para a classe. Era aula de português. Na última aula, o professor de português sismou com o Tonny e decidiu que ele só ficaria na fileira da frente caso conversasse.

Eu: Então Tonny... Português né?

Tonny olhou para mim com cara séria.

Tonny: Você vai falar para ele me deixar lá na frente... Por causa do Felipe né?...

Eu: Não! De onde tirou isso?!

A verdade é que sim, eu ia tirar o Tonny dali por puro ciúme. Mas deixei, para que Tonny não ficasse triste. Tonny me olhava as vezes com olhar de decepção.

Felipe: Tonny, vamos de dupla amanhã?

Eu fingi que não ouvi. Ficava difícil esconder minha tristeza a cada segundo que se passava. As coisas só pioravam mais e mais. Sem chances com o Felipe, Tonny bravo comigo, tantas coisas que me deixaram em depressão... Talvez eu estivesse realmente obcecado.

As aulas acabaram. Sai da escola sem se despedir. Não quis ver ninguém, falar com ninguém, não queria ver ninguém. Só entrar na minha casa e trancar no quarto. Sem ninguém pedindo explicação. Só eu, eu e eu.

No meu quarto, tranquei a porta sem almoçar. Me ajoelhei em um canto do quarto.

Eu: Felipe... Praticamente dois anos depois de pura bobeira. Brincadeiras que para mim eram grande coisa e para você... Meras brincadeiras... Ano que vem você vai para outra escola. Nem se eu quisesse ia conseguir ter você... Só para mim, sem ninguém para interferir. Depois de tanto tempo, aquela tesão que você sentiu pela menina semi-nua era a prova que faltava, para eu saber que você é hétero. Você poderia dizer o que quisesse. Sim, o que quisesse! Poderia dizer que transa com mulheres, poderia dizer que pegou AIDS em uma boate, poderia falar tudo, tudo!! Mas eu ia continuar te amando. Aquela tesão que você sentiu foi o suficiente para conseguir me acertar... E o que mais me incomoda, é que vou chegar na escola e ver seu sorriso. Vou sentir a imensa vontade de fazer tudo de novo. A vontade de passar mais dois anos com você, fazer bobagens.

Olhei para o colar que Tonny me deu no ano retrasado.

Eu: Tantas pessoas que eu decepcionei por você... Algumas pessoas que até hoje nem falam mais comigo. Quase perco a amizade de Tonny desta vez, por você.

Olhei para a janela.

Eu: Estou falando sozinho...

Deitei no chão. Todo encolhido e dormi. Na verdade eu quase dormi. Vi meu celular e liguei para Tonny.

Eu: Desculpa por hoje.

Tonny: O que você tinha cara?

Eu contei tudo. Hesitei um pouco mas no final contei sobre o dia, sobre o que me passava pela cabeça.

Tonny: Primeiro, enxugue as lágrimas.

Fiz como Tonny disse.

Eu: Pronto.

Tonny: Ok, segundo: Homem não chora.

Eu: Tonny...

Tonny: Não me venha com Tonny. Homem não chora. Você é homem. Pode ser gay, bi, estuprador, pode ser voador, marinho, verde, colorido, seja o que for, você é homem. Você tem pênis, e homens não choram. Eles encaram o problema de cabeça erguida.

Eu: ...

Tonny: Felipe pode ter ficado de tesão, mas isso não indica que ele não pode ser bissexual.

Eu: Tesão é a prova da sexualidade Tonny.

Tonny: Ele poderia estar com a cabeça em outra coisa. Se você desistir agora, digo, se você parar de acreditar agora, nunca vai realizar o que você quer. Felipe gosta de você de um modo especial. É algo que ninguém vai conseguir mudar entre vocês. Você pode dar os seus jeitos Miguel.

Eu: Que jeitos?...

Tonny: Você conhece os pais de Felipe. Tenta deixar ele na escola, eu não sei. Faça o jeito que você faz. Aquele jeito de conseguir tudo o que quer do modo Miguel.

Eu: Sim... Isso!!

Tonny: Boa sorte meu jovem.

Desliguei o celular.

Eu: Modo Miguel. Fazer as coisas do modo Miguel. Que jeito estranho de falar.


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