Não sou gay!! escrita por Signature Black


Capítulo 24
Briga de Amigos




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Sexta-Feira

Levantei, tomei banho, tomei café da manhã e fui para a escola. No corredor da secretária, Milena estava no colo de Tonny. Não quis dar um oi para ambos, pois eu ia acabar estragando o clima.

Felipe estava sentado na frente do mapa múndi, no corredor também. Me sentei ao lado dele.

Eu: Hoje é seu primeiro dia de 15 anos. Como se sente?

Felipe: É estranho. Estou com algumas sensações estranhas.

Eu: É ruim?

Felipe: Não é ruim e nem bom, é estranho. Diferente.

Eu: Você só deve estar crescendo.

Felipe: Aqueles dois ali estão namorando?

Felipe mexeu a cabeça, de modo que apontasse para Milena e Tonny.

Eu: Eu acho que sim. Eles estão com uns rolos aí.

Felipe: Fico feliz pelo Tonny.

Eu: Por que?

Felipe: Ele conseguiu namorar quem realmente queria.

Eu: Você se sente bem por isso?

Felipe: Sim.

Eu: Mas eles poderiam namorar antes. Isso é, depois que você ficou com a Milena, o Tonny teve menos chances.

Felipe: Eu não fiz aquilo por querer.

Eu: Você foi estuprado labialmente então?

Felipe: Não mano. Eu só não entendia o que Tonny sentia por ela.

Eu: Acho que até hoje você não entende alguns sentimentos...

Felipe: Por que está grosso comigo?

Eu: Algumas coisas que você fez lá atrás não me agradam.

Felipe ficou em silêncio.

Felipe: Daqui a um mês... Não vou estar na escola...

Ficamos os dois em silêncio. De cabeça abaixada, sem argumentos. Neste dia era 30 de outubro. As provas finais acabavam 22 de novembro, e as aulas acabariam 30 de novembro. Em um mês, Felipe teria seu último dia de aula.

Larissa chegou.

Larissa: Oi meninos.

Felipe: Sarah?

Larissa: Hahaha isso é passado. Oi Miguel.

Eu: E ai. Você ainda continua com os fakes?

Larissa: Não, isso é passado. Falando em fakes, você olhou a conversa do fake que eu te passei?

Eu: A do Luiz?

Larissa: Não, antes do Luiz.

Eu: Antes... Não lembro.

Larissa: Eu te passei um fake com algumas conversas dos alunos da nossa sala. Faz tempo. Se chama João Teixeira.

Felipe arregalou os olhos.

Felipe: Nem mexe com essas coisas de fake Miguel. Só vai foder com sua vida.

Eu: Relaxa, só vou ver as conversas.

Peguei meu celular.

Eu: Passa e-mail e senha.

Felipe: Miguel me ouve. Não mexe com fake.

Larissa: Tudo bem Felipe. É João Teixeira. Senha 123341.

Eu: Entrei.

Felipe: Miguel caramba! Me escuta!

Eu: Que foi Felipe?

Felipe: Fake só vai te atrapalhar! Quer ficar igual ela?

Larissa: Oi? Igual eu? E o que eu tenho demais?

Felipe: Rejeitada pela escola inteira.

Guardei o celular no bolso. Depois eu olharia as conversas.

Larissa: E isso é problema meu, certo?

Eu: Calma gente...

Felipe: Um dos seus grandes problemas.

Larissa: Pelo o menos eu peguei o Miguel.

Ficamos em silêncio por algumas minutos. Felipe não falava nada. Larissa ficou com um sentimento de culpa. Eu não quis perguntar " o que há demais em me pegar? ".

Larissa se levantou e retirou-se.

Eu: Tudo bem?

Felipe: Tô de boa.

Eu: Cara eu sei que você não está de boa...

Felipe: Estou sim. Eu não dou a mínima de ela fica te pegando.

Felipe falava em um tom de zoeira, mas dava pra ver em seu rosto que estava morrendo de raiva.

Eu: Felipe... Colabora.

Felipe virou para mim, arregalou com olhos e com um grande sorriso disse.

Felipe: Miguel eu já disse que estou de boa! Relaxa.

Eu: Você que precisa relaxar. Olha Felipe, eu te conheço faz tempo cara.

Felipe: Tá bom, se você quer imaginar assim...

Felipe encostou na parede e cruzou os braços, fez bico.

Eu: HAHAHAHAHA ai meu Deus. Parece em bebê que não ganhou doces de sobremesa.

Felipe deu uma leve risadinha olhando para mim e depois voltou a encarar o chão, com bico.

Me deitei no ombro dele.

Eu: Bebezão.

Felipe colocou a cabeça sobre a minha. Apenas inclinou um pouco para o lado que eu me apoiei.

Felipe: Não sou.

Felipe... Tão lindo... Fofinho. Pra mim, aquele momento era simplesmente fantástico. Para ele era apenas um amigo apoiado em você.

Depois de um tempo subimos as escadas para a sala. Todos da sala subiram. Tonny sentou do meu lado. Felipe atrás de Tonny. Felipe de dupla com Ken.

Felipe: Iae Tonny!!

Felipe colocou as mãos nos ombros de Tonny, apertando como se estivesse fazendo massagem.

Olhei pra Tonny com uma cara que falava tudo. " Faz ele tirar as patas de você ".

Tonny: Sai daqui ô animal.

Felipe: Eita jovem, pra quê isso?

Tonny: Sai sai sai.

Tonny chegou perto de mim e cochichou.

Tonny: Ficou bravo?

Eu: O que você acha?!

Pensei comigo mesmo... Por que ciúmes? Felipe é hétero. Melhor dizendo, ele não é meu nem nunca será. Quem sou eu para limitar as ações dele? Ninguém. Exato, eu não sou ninguém.

Nessas horas vem aquela tristeza que mais parece ser infinita. Quando você não aceita sua sexualidade. Olha em volta e vê seus amigos com lindas garotas, mas você que cresceu junto com eles, acabou entrando para um caminho diferente. Um caminho que você não escolheu mas precisa conviver com ele, pois não tem volta.

Felipe começou a alizar Tonny.

Felipe: Calminho Tonny.

Tonny: Caralho mano que porra é essa?

Felipe: Hahahahaha.

Tonny: Que saco velho me larga.

Felipe: Relaxa ae ou. Estou só brincando.

Tonny: Ah tá tá.

Felipe pegou na orelha de Tonny.

Felipe: Tonninho, está bravo?

Tonny viu que eu não me sentia bem com aquilo. Levantou da cadeira e virou um soco no rosto de Felipe.

Felipe bateu a cabeça na parede, pois estava na última fileira. Sua boca começou a sangrar. Parecia que seus lábios haviam sido cortados. Felipe levantou na fúria e deu um soco forte na barriga de Tonny. Eu fingi que não vi nada. Sou amigo de Tonny, eu poderia protege-lo. Mas não sou nada demais do Felipe para ajudar. Na verdade um amigo ajudaria, mas eu queria ser mais que um amigo... Uma lágrima caiu do meu rosto. Peguei o material e sai da sala. Deixei os dois brigando na frente de todos.

Desci no pátio da escola. Peguei o caderno de desenho e comecei a desenhar. O tema do dia eram demônios. Sim, eu queria desenhar demônios de todos os tipos. Chifrudos, pequenos, de duas caudas, com foices ou lanças, tanto faz. Vários tipos diferentes do que eu acreditava ser um demônio. Criei vários. Desenhando o último, pequeno de chifres gordinhos, na qual ondulavam a sua cabeça, indo da testa até a nuca. Eu estava desenhando as perninhas mas fui interrompido por Diego.

Diego: Estudar que é bom nada né?

Eu: Está fazendo o que aqui?

Diego: Aula de reforço.

Eu: Você tem toda semana?

Diego: Não, só hoje. Por que está aqui?

Eu: Felipe e Tonny brigaram.

Diego: E porque você está aqui ao invés de ajudar eles?

Eu: A briga não é minha. Eles se resolvam.

Diego: O que?! Cara você deveria ajudar eles!

Eu: Já disse que a briga não é minha.

Diego: Se eles vierem te perguntar o porquê de você sair da sala?

Eu: Eu vou repetir o que te disse.

Diego: O que Felipe te fez?

Eu: Ficou paquerando o Tonny.

Diego: Tonny é hétero.

Eu: Não ligo. Se Felipe começar a gostar dele, ou se já gostar, quem se fode sou eu.

Diego: Miguel... Você nem sabe se Felipe é hétero também.

Eu: Sim eu sei, ele é hétero!!

Diego ficou quieto por um tempo.

Eu: Ele é hétero, eu sei que é.

Diego: E porque ficou com ciúme dele com Tonny?

Eu: Por que... Eu não sei...

Diego: Bom... Vou para a minha aula. Depois talvez eu te veja.

Eu: Até.

Diego: Até.

Continuei desenhando. Quando acabei, Tonny sentou ao meu lado.

Olhei para o seu rosto. Estava completamente inchado. Algumas partes roxas de socos fortes e sua gengiva totalmente avermelhada. Algumas partes sangrando. Dava aflição de ver.

Tonny: Está bravo comigo?

Apertei com força o lápis que eu usava para desenhar. Quebrou na minha mão.

Eu: Você está quase morto e ainda se preocupa com isso?!

Tonny: Desculpa... Você ficou com ciúme do Felipe? Digo, de ele fazendo aquelas coisas em mim.

Eu: Sim, fiquei.

Tonny: Ele não vai fazer de novo. Depois daquele soco ele não vai MESMO fazer de novo.

Tonny deu uma leve risada. Eu continuei sério, olhando para o pequeno demônio que eu desenhei.

Tonny: Belo desenho...

Eu: Tonny... Eu tenho chances com ele?

Tonny: Se você acreditar que sim...

Eu: Como assim?

Tonny: Eu não ficava com a Milena porque nunca acreditei que era possível. Mas depois de um tempo que ela me deu mais atenção eu acreditei que era possível. Todas as noites repetia para mim mesmo: Eu acredito que Milena me ama.

Eu: Mas...

Tonny: E deu certo. Tudo é questão de acreditar, Miguel. Se você não acredita que passa de ano, você não passa. Se você não crer em algo, ele não existe. Assim funciona com Deus. Ele existe para as pessoas que acreditam nele.

Eu: Mas Tonny, Felipe é hétero! Diferente de você com a Milena, eu não tenho nenhuma chance com ele.

Tonny: Felipe tem 15 anos. É a idade para descobrir sua sexualidade. Talvez se você acreditar que ele é gay, ele pode acabar sendo de verdade.

Eu: Eu odeio seu jeito de me convencer.

Tonny deu uma risadinha.

Tonny: Tudo é questão de acreditar. O seu sonho é namorar ele, então acredite no seu sonho. Sonhos se realizam quando se acredita nos próprios.

Virei a página do caderno. Comecei a desenhar uma macieira, cheira das maçãs.

Tonny: Então, você acredita que pode namorar ele?

Eu: Não...

Desenhei rapidamente, com a metade do lápis pois ele estava quebrado.

Tonny: Então acredite. Tudo é possível.

Tonny virou o meu desenho de ponta-cabeça. estava escrito Felipe na ordem das maçãs.

Eu ri sem graça e sem acreditar na incrível coincidência.

Tonny: Vou para casa. Depois a gente se vê.

Eu: Falou...

Tonny: Falou jovem. Acredite!

Tonny estava passando pelo portão de saída.

Eu: Ah, Tonny!!

Tonny: Fala!

Eu: Obrigado!

Tonny: Nada meu jovem!

Tonny saiu da escola.

Eu: Hehe, acreditar...

Não vi Felipe pelo resto do dia. Mais a noite, quis chamar ele para sair, ir no cinema assistir algum filme. Mas me lembrava que ele poderia estar com dores dos socos de Tonny.

Para quem não se lembra, Tonny é alto. Pouco menor que Felipe, porém pouca coisa. Seu braço era enorme, malhado. Seu cabelos loiros, longos mas não passavam da orelha, faziam uma curva para cima ao chegar nas pontas. Olhos negros um tanto claros.


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