Os Últimos Morgenstern escrita por Luna MM


Capítulo 9
Nelas não encontrará nada inteiro


Notas iniciais do capítulo

"Sim, apesar de Deus procurar com toda a cautela,
Não existe coisa sã em nada disso;
Apesar de vasculhar todas as minhas veias, examinando-as,
Nelas não encontrará nada inteiro, além de amor."
— Algernon Charles Swinburne, "Laus Veneris"



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Clary e Sebastian estavam sentados no sofá assistindo um filme de suspense que ela não lembrava o nome. Ele estava com o braço ao redor dela, que mantinha sua cabeça encostada ao ombro do irmão.

Sebastian tinha alguns negócios para tratar naquela noite chuvosa, mas havia decidido adiar o compromisso e ficar com a irmã. Quando Clary perguntou o que ele tinha para fazer de tão importante, ele apenas balançara a cabeça e dissera que não era da conta dela. Aparentemente, mesmo depois de tanto tempo, ela ainda não havia ganhado a confiança dele.

Dois meses haviam se passado desde que ela havia acordado e implorado para que eles saíssem de Paris. Desde então, já haviam passado por tantos países diferentes que Clary perdera a conta. Ela continuava a ter sonhos com seus amigos sempre dispostos a encontrá-la e então, Clary fugia com Sebastian, esperando que um dia a esperança morresse e eles desistissem de procurá-la.

Além disso, viver com Sebastian não estava sendo fácil. Ele até parecia outra pessoa quando estava de bom humor, e era isso que a fazia acreditar que ele realmente tinha uma chance de mudar. Porém, quando ele ficava nervoso, era como se a parte demoníaca tomasse conta dele. E ele não parecia fazer questão de impedir.

O filme era tão parado que Clary estava quase pegando no sono, mas despertou quando Sebastian a puxou para um beijo. Ela abriu a boca automaticamente quando ele aprofundou o beijo, empurrando-a lentamente até que estivesse em cima dela. Eles faziam isso todos os dias, então Clary já estava acostumada com os movimentos dele.

Quando ela já estava sem fôlego, Sebastian começou a beijar seu pescoço, deixando marcas que provavelmente estariam ali no dia seguinte. Ela podia sentir que ele a queria.

No entanto, Clary congelou quando Sebastian colocou as mãos dentro de sua blusa e a puxou para cima, na tentativa de tirá-la. Ela reagiu por impulso, abaixando a blusa e empurrando o irmão para que ele saísse de cima dela. Ela se levantou.

— O que aconteceu, Clarissa? — perguntou ele, impaciente.

— Aconteceu que você está indo rápido demais — ela respondeu, tentando não gaguejar. Ela não estava pronta para aquilo.

Clary mal terminou de falar e Sebastian já havia perdido o controle. Ele se levantou num salto e a empurrou na parede com tanta força que ela achou que sentiu seus ossos se quebrarem. Ele a pressionou contra a parede.

— Rápido demais? Há quase 2 meses que estamos nos beijando e você sempre fala a mesma coisa — ele berrou, fazendo Clary tremer — Eu estou perdendo a paciência, irmãzinha.

Clary não encontrou a própria voz quando ele agarrou seu braço, fazendo-a engolir a dor. Os olhos de Sebastian estavam completamente sombrios e ele ofegava. Finalmente, ela conseguiu pronunciar algumas palavras.

— Lute, Sebastian.

Ele ergueu as sobrancelhas, parecendo não ter entendido o que ela queria dizer.

— Lutar? Contra o quê? — ele perguntou, abaixando a voz.

Clary engoliu em seco. Ela respirava com dificuldade e suas costas doíam onde havia atingido a parede, mas incrivelmente, encontrou coragem para falar.

— Lute contra o seu demônio — ela murmurou, dessa vez, com firmeza na voz.

Sebastian, por um instante, ficou tão surpreso que diminuiu a força no braço de Clary. Ele a olhava como se nunca a tivesse visto antes. Em seguida, ele a jogou no sofá e saiu da sala.

— Não seja ridícula — sussurrou ele, antes de sair — Não posso lutar contra o que sou.

◌◌◌

Sebastian puxou o capuz de sua jaqueta, enquanto gotas de chuva caíam com força contra seu rosto. Em alguns minutos, ele já estava encharcado. Começou a correr, não para fugir da chuva, mas para fugir de si mesmo.

Ele não soube quanto tempo havia se passado, mas quando parou de correr, não estava cansado. Pelo contrário, ele sentia que apenas isso não era o suficiente para esquecer todo o ódio que sentia.

"Lute contra o seu demônio"

As palavras de Clary ecoavam em sua mente, deixando-o fora de controle. Como ela queria que ele lutasse contra si mesmo? Estava mais do que claro que ela ainda tinha esperança que ele mudasse, que se tornasse uma pessoa boa. Mas isso nunca aconteceria! Ele não era o herói dos sonhos de Clary. Ele era o vilão dos pesadelos dela.

Sebastian não conseguia arrancar a imagem de Clary o rejeitando de sua mente. Não era a primeira vez que ela fazia aquele teatro e ele tinha que ser paciente e esperar, mas estava cansado daquilo. Clary pertencia a ele, e ele a teria de todos os jeitos possíveis.

Seria muito fácil conseguir o que ele queria contra a vontade dela, algo que ele poderia ter feito há muito tempo. Mas assim não teria graça nenhuma. Ele a faria querê-lo, de um jeito que ela nunca quis ninguém. Nem mesmo Jace.

— Você está bem, moço? — perguntou uma voz feminina em um inglês apressado.

Sebastian percebeu que havia parado em um corredor entre dois prédios, onde a chuva não tinha alcance. Ele encarou a dona da voz. Era uma garota mundana, cabelos loiros e olhos castanhos. A menina havia exagerado na maquiagem e tinha dificuldade em se equilibrar nos saltos altos, mas mantinha um sorriso forçado para ele.

— Estou ótimo — respondeu ele, friamente. Ele esperava que ela percebesse que ele não estava com vontade de fazer amizade.

A menina não percebeu a frieza na voz de Sebastian e começou a tagarelar.

— Que bom! Eu estava aqui tentando não me molhar nessa chuva horrível e você apareceu se apoiando nas paredes, como se não estivesse bem — contou ela, alegremente — E decidi oferecer ajuda, porque você é tão bonitinho...

Em qualquer outra ocasião, Sebastian teria zombado da estupidez daquela mundana. Mas naquela noite, ele estava com a cabeça tão cheia de coisas e com tanto ódio que não conseguiu manter o controle.

Quando a loira se aproximou dele, já era tarde demais. Ele agarrou seus ombros e a jogou na parede com mais força do que deveria. A garota começou a gritar, algo que o incomodou mais ainda.

— Cale a boca — ordenou ele, encarando os olhos castanhos da menina — Hoje não é um dos meus melhores dias, então faça o favor de permanecer quieta. Será melhor para você assim.

A mundana não parecia ser muito inteligente, algo que ficou óbvio quando ela continuou a gritar. Sebastian balançou a cabeça em sinal de reprovação, ao mesmo tempo em que puxava uma faca do cinto e a enterrava no peito da garota.

— Não iríamos ter nada, de qualquer jeito — sussurrou Sebastian, enquanto a garota o encarava com a boca aberta — Eu prefiro as ruivas.

Ela parou de gritar e seus olhos castanhos se tornaram vazios, sem vida. Sebastian limpou o sangue da faca e das próprias mãos e jogou o corpo no chão. Respirou fundo e sentiu que, finalmente, havia descontado um pouco do ódio que sentia.

Provavelmente ele deveria cuidar de esconder o corpo para não chamar atenção, por isso já estava cuidando disso quando vozes familiares chamaram sua atenção.

— Nós realmente precisávamos sair procurando por Clary na chuva? — dizia Isabelle. Sebastian estreitou os olhos e conseguiu enxergar, ao longe, os Caçadores de Sombras que ele tanto odiava.

Os Lightwood, o Diurno, o feiticeiro e, é claro, Jace. Eles não podiam vê-lo porque estavam muito longe e ocupados numa conversa animada. Sebastian sentiu uma imensa vontade de ir até lá e provocar uma briga, só para ter o prazer de descontar o restante de sua raiva nele. Mas ao contrário de Jace, ele tinha Clary esperando-o no apartamento. Ela era dele, e Jace havia perdido.

Sebastian abriu um sorriso maléfico e deu as costas ao corpo da mundana. Já que os Caçadores de Sombras estavam ali, eles poderiam limpar a bagunça dele. Ele tinha coisa melhor para fazer.


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Notas finais do capítulo

Eu nunca fiz isso antes, mas quero dedicar este capítulo à 221b Baker Street, que além de ter feito uma recomendação e sempre escrever comentários enormes, ela também fez uma playlist incrível para a fanfic. Muito obrigada mesmo!