Os Últimos Morgenstern escrita por Luna MM


Capítulo 8
Jazer e Arder


Notas iniciais do capítulo

"Agora eu o queimarei de volta, eu o queimarei inteiro,
Apesar de ser condenada por isso, nós dois iremos jazer
E arder."
— Charlotte Mew, "In Nynhead Cemetery"



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Enquanto Clary dormia tranquilamente, Sebastian travava uma batalha contra os próprios pensamentos.

Ele não conseguiu dormir. Passou a noite encarando o teto como se, a qualquer momento, tudo fosse desabar. Sebastian não entendia o que havia de errado com ele, porque nada nunca o fazia perder o sono. E ninguém nunca o fez se sentir daquele jeito.

Sebastian sorriu ao lembrar-se da noite passada; naquele momento, sob o olhar da Torre Eiffel, ele se sentiu outra pessoa. Por algum motivo, estar com Clary o fez ter vontade de ser outra pessoa. Alguém melhor.

Não havia como negar que ele havia se surpreendido quando ela não o rejeitou. Ele estava esperando que ela se debatesse e gritasse, mais uma vez, que eles eram irmãos e que aquilo era errado. Mas ela não o fez.

Sebastian ainda estava tentando entender o que havia acontecido com ele naquele momento; quando Clary retribuiu o beijo, pareceu que só existiam os dois ali, e que o resto do mundo não importava mais. Por um instante, ele simplesmente esqueceu-se de todas as pessoas que ele queria destruir e de todo o ódio que o consumia o tempo inteiro. E aquilo era o que ele mais temia que acontecesse.

Quanto mais ele ficava perto de Clary, mais sentimentos surgiam, deixando-o mais vulnerável. Mais fraco. Mas como ele evitaria que aquilo continuasse acontecendo? Ele não podia se afastar de Clary, principalmente agora que parecia que ela finalmente estava o aceitando.

Sebastian, sentado na cama, observou Clary dormir. Os cabelos ruivos colorindo o travesseiro branco, as maçãs do rosto avermelhadas e a boca curvada em um sorriso disfarçado, como se ela estivesse tendo um sonho bom. Ela parece um anjo, pensou Sebastian. Um anjo que ele nunca iria merecer.

◌◌◌

Clary estava de volta ao Instituto de Nova York. Ela caminhava pelos corredores, passando a mão nas paredes, como se não reconhecesse o lugar. Estava tudo estranhamente escuro. Quando Clary chegou no fim do corredor, conseguiu enxergar o único cômodo que, aparentemente, estava iluminado.

Quanto mais ela se aproximava da biblioteca, mais vozes ela escutava. Vozes familiares. Apressou os passos e, ao entrar na biblioteca, escondeu-se nas sombras de um canto lotado de livros. Clary sabia que estava sonhando e ninguém podia vê-la, mas ela não conseguia chegar perto das pessoas que estavam ali sem se sentir culpada.

— Agora que estamos todos reunidos como uma família feliz, Magnus — dizia Isabelle, encarando o feiticeiro com os braços cruzados — Você pode, por favor, explicar o que é tão importante à ponto de você tirar todos da cama?

Clary sorriu ao perceber que todos tinham acabado de acordar. Isabelle estava com um robe de seda preta, Alec estava com uma camisa vestida ao contrário e Jace estava com os cabelos bagunçados e o rosto vermelho. Magnus era o único que estava impecável.

Clary sentiu seu coração fraquejar ao ver Jace, tão perto dela. Ela mal conseguia olhar para ele sem se sentir péssima, porque enquanto ele estava ali, preocupado em saber o que havia acontecido com ela, ela estava do outro lado do mundo beijando o próprio irmão.

De repente, ela sentiu vontade de acordar. Não queria mais ficar sonhando com aquela cena, com todas as pessoas que ela amava preocupadas com ela. Era tão doloroso.

— Eu sei onde Clary está — murmurou Magnus, calmamente, arrancando a atenção de todos na sala.

Clary arregalou os olhos, esquecendo a vontade de acordar. Como aquilo era possível? Sebastian sempre teve o cuidado de se esconder de tudo e de todos. Pensar no simples fato de ele ter deixado alguma pista era tão possível quanto vê-lo cuidando de criancinhas.

— Como você descobriu? — perguntou Jace, aproximando-se. Ele até parecia mais acordado.

Magnus deu de ombros, como se tivesse sido a coisa mais fácil do mundo.

— Tenhos meus truques, Caçador.

Jace ergueu uma sobrancelha e Magnus suspirou.

— Tudo bem, vou explicar. Eu conheço uma velha feiticeira que é, na verdade, uma traíra. Então foi muito fácil para ela me dizer que Sebastian a chamou para cuidar de Clary depois que ela foi ferida.

Ao ouvir isso, Jace quase voou para cima de Magnus. Ele estava mais vermelho ainda, os punhos fechados e as veias do pescoço saltando para fora.

— O que Sebastian fez com ela?! — ele berrou.

Alec segurou o braço de Jace, que simplesmente o empurrou para o lado. Alec pareceu magoado, algo que Magnus percebeu.

— Vá com calma, Herondale. Ninguém aqui tem culpa — censurou Magnus, levantando as mãos em um gesto de rendição — Na verdade, não foi Sebastian que a machucou. Pelo o que a feiticeira me disse, Clary se envolveu em uma luta com outro Caçador de Sombras. Sebastian nem estava com ela.

Jace permaneceu quieto, mas a raiva ainda ardia em seus olhos. Isabelle foi quem falou.

— Mas Clary está bem?

— Pelo o que eu sei, ela quase morreu. O Caçador enfiou uma adaga à poucos centímetros do coração dela.

Ninguém falou nada. Clary, involuntariamente, colocou a mão sob a cicatriz embaixo de seu coração.

— Mas o que eu não entendo é que se a feiticeira é uma traíra, por que Sebastian a chamou para cuidar de Clary? Ele é esperto, nunca deixaria que alguém descobrisse onde ele está — disse Alec, e Clary agradeceu-o mentalmente por perguntar algo que ela também queria saber.

— Clary estava gravemente ferida, Alec. Provavelmente Sebastian chamou a primeira feiticeira que encontrou para salvar a irmã.

Jace fez uma careta.

— Isso é ridículo — resmungou ele — Não é como se ele se importasse com ela.

Clary abaixou a cabeça. Ela sabia que Jace estava certo em pensar em Sebastian assim, depois de tudo que ele fez de ruim. Mas algo na noite passada, quando eles se beijaram em frente à Torre Eiffel, fez com que Clary mudasse seu pensamento.

É claro que ela ainda o odiava por tudo que ele havia feito, coisas que nunca seriam perdoadas ou esquecidas. Porém, nesse pouco tempo, ela começou a entender Sebastian. Entender o por quê dele agir daquele jeito, de ter feito tudo que fez e de sentir tanto ódio de tudo. Ela realmente estava começando a aceitá-lo.

— Mas afinal, onde Clary está? — questionou Isabelle, colocando as mãos na cintura.

— Em Paris — respondeu Magnus — Pelo menos, eu espero que ela ainda esteja lá.

— Provavelmente ela ainda está — murmurou Jace, um pouco mais calmo — Quando eu estava sendo controlado por Sebastian, ele passava dois ou três dias no mesmo lugar. Principalmente se ele tivesse algo importante para resolver lá.

Os olhos de gato de Magnus brilharam.

— Eu falei com a feiticeira ontem, então se você estiver certo, temos uma chance de encontrá-la.

Isabelle moveu-se apressadamente para a porta, passando ao lado de Clary. Ela resistiu ao impulso de ir abraçar Izzy, sabendo que não conseguiria tocá-la.

— Onde você está indo, Isabelle? — perguntou Alec.

— Vou me arrumar, é claro. Já que estamos indo para Paris — respondeu ela, animada — Vocês também deveriam pelo menos trocar de roupa! Exceto você, Magnus, que está sempre fabuloso.

Antes de Clary ser puxada pela escuridão, ela pôde jurar que escutou a risada do feiticeiro.

◌◌◌

Clary acordou, ofegando. Ela tinha certeza que aquele sonho era real e que seus amigos estavam indo encontrá-la. Por um instante, ela ficou feliz em pensar que finalmente poderia voltar para casa. Mas as palavras que haviam saído de sua boca quando ela procurou Sebastian estavam atormentando-a.

"Eu estou disposta a ir embora com você e em troca, você fica longe da minha família e dos meus amigos."

Ela não podia deixar que eles a encontrassem. Ela tinha feito um acordo com Sebastian, para a segurança deles. O que aconteceria se ela quebrasse o trato? Clary desconfiava que as consequências não seriam muito boas.

— Você está bem, irmãzinha? — perguntou Sebastian, trazendo Clary de volta à realidade. Uma realidade que a incluía na mesma cama que o irmão.

Ela quase sorriu quando lembrou-se do que havia acontecido entre eles; eles ficaram abraçados e ainda se beijando sob a Torre Eiffel até Clary deitar no ombro do irmão, cansada. Em seguida, eles haviam voltado para casa e depois de mais alguns beijos, deitaram-se na cama. É claro que Sebastian queria mais que aquilo, e ele realmente havia tentado várias vezes, mas Clary não deixou. Surpreendentemente, Sebastian se deu por vencido e os dois acabaram adormecendo abraçados.

Clary afastou as lembranças da mente, preocupada em decidir o que fazer depois daquele sonho. Se seus amigos a encontrassem, Sebastian ficaria furioso e alguém acabaria saindo ferido. E o motivo pelo qual ela estava fazendo tudo aquilo era justamente garantir que ninguém se ferisse.

Aliás, Clary também não estava pronta para deixar o irmão. É claro que desde o começo, o plano era achar um jeito de acabar com Sebastian e salvar todos. Mas Clary não conseguia tirar as palavras daquela Caçadora de Sombras da mente.

"...você é a única que pode mudar Jonathan Christopher Morgenstern, porque você é a única pessoa que ele se importa."

O plano havia mudado: ela não iria destruir Sebastian, ela iria salvá-lo.

— Temos que sair daqui — disse ela, assustando o irmão — Agora.

— Do que está falando? — ele perguntou.

— Apenas nos tire daqui. Escolha qualquer lugar: Veneza, Praga ou até outro planeta. O importante é sairmos de Paris — ela falou apressada, tentando não se atrapalhar nas palavras — Por favor, confie em mim.

Sebastian a observou por um tempo, confuso. Finalmente, ele assentiu.

— Tudo bem, eu vou cuidar disso.

Ela suspirou, aliviada. Em seguida, puxou o rosto de Sebastian para perto de si e o beijou. Um beijo rápido, apenas um toque de lábios.

— Obrigada — Clary sussurrou, sincera.

Sebastian não disse nada, apenas se levantou e se encaminhou para mudar o apartamento de local. Mas antes de seu irmão sair, Clary teve a certeza de tê-lo visto sorrir.


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Notas finais do capítulo

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