Os Últimos Morgenstern escrita por Luna MM


Capítulo 19
Somente por isso


Notas iniciais do capítulo

"Somente por isso na Morte desafogo
A ira que se acumula em meu coração:
Ela separa tanto as nossas vidas
Que não conseguimos ouvir o que um diz ao outro."
— Alfred, Lord Tennyson, "In Memoriam A.H.H"



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/424253/chapter/19

Sebastian estava em pé ao lado da janela, encarando a cidade de Amsterdã com o pensamento distante, enquanto a luz do amanhecer iluminava o quarto. Na cama, Clary finalmente havia adormecido há pouco mais de uma hora, o ritmo de seu peito subindo e descendo conforme a respiração leve, os cabelos vermelhos ganhando mais destaque no lençol branco à medida que os ligeiros raios solares invadiam o cômodo. Ele percebera que havia algo incomodando a irmã, pelo modo como ela havia perguntado de seus amigos para ele na noite passada e como havia demorado tanto para dormir, como se estivesse assustada com a ideia de sequer fechar os olhos perto dele.

Apesar de não culpá-la, Sebastian não queria que Clary desconfiasse dele e de seus planos, mas sabia que, à essa altura do campeonato, ela tinha algumas expectativas em relação a ele. Provavelmente esperava que ele se transformasse magicamente em Jace ou qualquer outro anjo e, sobre isso, ele não podia fazer nada. Clary nunca entenderia, mesmo se ele tentasse explicar. Afastou-se da janela e se direcionou ao corredor que o levava à escada, descendo os degraus sem fazer muito barulho e adentrando na sala de estar, onde uma luz fraca refletia uma parede, mostrando a imagem de Amatis.

— Espero que tenha boas notícias — ele resmungou em um tom duro. Amatis se encolheu na imagem holográfica, mas manteve a cabeça erguida.

— Infelizmente, houve um atraso nas invasões dos Institutos. Os Crepusculares estavam enfrentando alguns problemas com suas armas e muitos entraram em conflito entre si, mas já estão sob controle — ela terminou a frase num sussurro, finalmente baixando a cabeça, provavelmente esperando pela ira de seu mestre.

Sebastian cerrou os punhos e soltou um suspiro.

— Ora, Amatis, me lembre o motivo de tê-la nomeado Primeira Tenente se mal consegue cumprir com as tarefas que ordeno? — Perguntou ele, num tom frio e sarcástico que a congelou no lugar.

— Me perdoe, Lorde Sebastian, mas posso garantir que nossas forças chegarão ao Instituto de Nova York até o fim do dia — ela assegurou.

— Tenho certeza que sim — murmurou de volta, distraidamente. Sebastian abriu um sorriso torto. — Na verdade, até que o atraso foi uma boa ideia, já que agora posso participar do ataque ao Instituto e garantir que a minha vingança contra os Caçadores de Sombras parta de minhas próprias mãos.

Amatis abriu a boca para responder, mas a atenção de Sebastian foi voltada para a escada no corredor ao lado, onde um par de olhos verdes o encaravam com surpresa, raiva e, principalmente, mágoa.

◌◌◌

Clary não queria acreditar no que estava acontecendo. De certa forma, ouvir de seu próprio irmão que ele planejava atacar o Instituto, o lugar que serviu como seu lar por tanto tempo, e matar seus amigos com as próprias mãos era algo tão doloroso que, por um momento, ela sentiu seus joelhos cederem ao chão. Ela não teria ficado tão surpresa se não estivesse tão convencida de que seu plano estava dando certo e que Sebastian tinha pelo menos uma chance de mudar. Mas agora sentia-se uma tola por acreditar nisso.

Desesperadamente, com as mãos tremendo, agarrou-se ao corrimão da escada para não se permitir escorregar pelos degraus, ao mesmo tempo em que Sebastian virava-se para encará-la, percebendo sua presença. Não havia arrependimento ou sequer um pedido de desculpas em seu olhar. Ele era indecifrável, como sempre fora. E naquele momento, parecia mais distante dela do que nunca. Ela engoliu em seco.

Respirando fundo e tentando apagar todos os pensamentos que invadiam sua mente, Clary agarrou-se a raiva que sentia e saltou da escada, indo para cima do irmão. Tentou socá-lo, mas sua mão parou no ar quando ele agarrou seu punho fechado, forçando-o para baixo e obrigando-a a olhar em seus olhos negros.

— Mentiroso — ela conseguiu dizer em meio a lágrimas, mas não passou de um sussurro fraco.

— Clarissa, fique quieta e controle-se — ele ordenou, apertando ainda mais seu punho. Havia impaciência em seu tom de voz.

Dando um giro rápido, ela conseguiu soltar-se de seu aperto e, antes que pudesse piscar, desferiu um golpe em seu estômago, fazendo-o arfar não de dor, mas de surpresa. Ele não imaginava que ela poderia atacá-lo, ela pensou. Mas ela também não imaginava que ele poderia atacar seus amigos, não depois de ter prometido que os deixaria em paz, por ela.

— Você me prometeu — ela disse e sua voz saiu ferida, traída. Lágrimas quentes embaçavam sua visão, enquanto imagens de Simon, Isabelle, Alec, Magnus e Jace feridos e o Instituto destruído e invadido pelo exército de Sebastian irrompiam em sua mente. — E sabe o que é o pior, irmãozinho?

Ela alcançou a bancada da cozinha com uma mão, agarrou uma faca pouco afiada que estava em cima e jogou contra Sebastian, que desviou com um olhar entretido enquanto a lâmina se cravava na parede a poucos centímetros dele. Inconscientemente, Clary desejou que todas as armas de luta não estivessem no andar de cima.

— Eu acreditei em você — Clary disse, no que pareceu um choramingo. E partiu para cima dele mais uma vez.

Tentou chutá-lo na barriga novamente, torcendo para que ainda estivesse dolorida, mas ele a agarrou antes que ela percebesse e a jogou no chão, prendendo seus braços e ficando em cima dela. Suas costas doíam onde havia batido no chão, mas ela tentou controlar a própria respiração. Levantou o joelho numa tentativa de atingi-lo, mas Sebastian a impediu, descendo o braço e dando um tapa forte em seu rosto. Ela sentiu o gosto metálico de sangue na boca.

— Você, você me bateu — ela falou num som quase inaudível. Suas lágrimas haviam secado.

— Bati e vou bater de novo se você continuar me atacando — ele rebateu, num tom frio. Levantou-se de cima de Clary, que se arrastou para longe, quieta. Sebastian colocou as mãos na cabeça e soltou um suspiro alto. Em seguida, virou-se para encarar a irmã. — O que você quer ouvir de mim, Clarissa?

Clary abriu a boca para responder, mas ele a interrompeu. Seus olhos estavam frios, congelados. Ele parecia perdido.

— Eu ainda sou ele — Sebastian disse, tirando os cabelos prateados de cima dos olhos num gesto de impaciência. — Ainda sou o mesmo assassino que levou dor a todas as pessoas que você conhece, inclusive a você. Ainda sou o monstro odiado por todos, o filho de Valentim que planeja incendiar o mundo. Então lamento desapontá-la, irmãzinha, mas você não pode mudar quem eu sou. Porque eu não estou disposto a deixar que isso aconteça.

Clary balançou a cabeça, mas não sabia o que dizer. Que estava tudo bem? Não estava. Sentia tanta raiva de Sebastian por tê-la feito dar as costas para seus amigos numa promessa que eles ficariam em segurança, para depois acabar com eles quando ela estava certa de que ele estava mudando. E, no meio de tudo isso, sentia raiva de si mesma por ter acreditado que ela estava conseguindo o que tanto havia planejado, que poderia finalmente estar mudando seu irmão e o destino dele. Ela respirou fundo, dando um passo para trás.

— Você tem razão, Sebastian — ela murmurou e, pela primeira vez durante tudo aquilo, sua voz saiu firme. — Talvez não exista salvação para você.

Clary não esperou para escutar sua resposta, se é que haveria uma. Enfiou a mão no bolso da calça e agarrou a estela que havia pegado antes de descer do quarto. Com a mão firme, encostou a ponta da estela na parede e desenhou rapidamente. Podia sentir Sebastian entrando em movimento atrás dela, mas não se virou para olhá-lo, enquanto pulava para fora do apartamento, fugindo dele.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Me perdoem pela demora :( Gente, não tentem me matar por causa da briga! Nenhum casal tá sempre em harmonia, né? heushus espero que tenham gostado!