Ela morava ali. Logo ali. Vê? Aquela casa azul, logo na frente da minha. Com um jardim que costumava ser bem cuidado pela mãe dela. Cheio de girassóis. O nome dela? Sunflower. Sim, girassol. Para mim, será sempre o nome mais belo de todos. Apelidada carinhosamente por mim de Sun, ela era realmente bonita. Tinha longos cabelos dourados que brilhavam á luz do sol, e olhos castanhos, grandes e sonhadores, que sempre acreditavam no bem.

Foi ironicamente na sua estação preferida, a primavera, que tudo aquilo aconteceu. Foi rápido demais. Ninguém esperava aquilo. A menina carinhosa, a menina que eu secretamente admirava, fora atingida em cheio por um carro desgovernado. O dono dele, maldito seja, fugiu sem prestar socorro, e nunca deu as caras.

E eu, Daniel, melhor amigo de Sun, ia visitá-la todos os dias no hospital da cidade. Mas ela não me respondia. Permanecia inconsciente, seu estado ia de mal a pior. Doía vê-la daquele jeito, ferida. Sem poder fazer absolutamente nada para ajudar, além de trazer girassóis para, quem sabe, deixá-la feliz quando ela despertasse de seu sono profundo. Desejava profundamente todas as vezes que fiquei ao lado de Sun, que ela abrisse seus olhos e dissesse: ‘’Dan, você trouxe girassóis! Você lembrou!’’. Tudo o que eu queria era ouvir novamente aquela doce voz chamando meu nome.

Mas era um sonho impossível. Nunca mais ouviria sua voz. Nunca mais almoçaria com ela no colégio, nem andaria com ela pela cidade, muito menos vê-la acordar. Pois o seu girassol havia finalmente encontrado a luz.

A mãe de Sun, uma senhora já de idade, mudou-se após o enterro. No evento, ela não parava de chorar. Quem sou eu pra dizer isso? Devo ter chorado mais do que qualquer um.

No caixão, o corpo ferido, porém em paz, de minha melhor amiga fora enfeitado com suas flores preferidas, combinando perfeitamente com seus trajes negros, que, por sua vez, não faziam a personalidade dela. Ela nunca gostou de preto. Como se esqueceram disso?!

Isso tudo aconteceu há um ano. Saio de casa, fecho a porta e me deparo com aquela casa azul, que costumava ser feliz. As flores que enfeitavam o jardim da frente já não estão mais ali. Não passa de um casarão abandonado, agora.

Sigo pela calçada em direção ao cemitério. Hoje é aniversário de Sun. Na primavera, sua estação preferida.

Coloco delicadamente em cima de seu túmulo o que ela mais amava no mundo.

Girassóis.